Por Douglas Belchior,
Ainda há pouco publiquei um texto sobre a tragédia que, há tempos, faz do mar mediterrâneo um verdadeiro cemitério de corpos negros. Hoje replico, a partir de uma postagem do companheiro Cleyton Borges, uma provocação pertinente: Somos meros expectadores?
“Fechar fronteiras não diminui e nunca será capaz de conter o fenômeno da imigração internacional. Ao contrário, impele as pessoas às rotas clandestinas e favorece o crime, o tráfico o trabalho escravo. Assim como entender essa temática (politicamente) somente pela ótica do combate a crimes, é ineficaz, para não falar um ato tão irresponsável como fechar fronteiras.
Tentar impedir o ingresso de refugiado, dificultando seu acesso, não faz cessar as guerras, conflitos, desastres ou qualquer outro mal que leve as pessoas a necessitar de proteção e um novo lugar para viver. São males inerentes ao Capitalismo. Enquanto isso, tentamos entender que relação há entre os fatos que vemos nos mares que dividem Europa e África, como nossa realidade daqui.”
Abaixo, texto da Anistia Internacional ajuda a entender a tragédia e orienta como podemos ajudar.
Sete perguntas sobre os refugiados e migrantes que estão morrendo no Mediterrâneo
Com a morte por afogamento de aproximadamente 1.700 refugiados e migrantes somente este ano (2015), uma emergência humanitária está se expandindo no Mediterrâneo. Enquanto os líderes da União Europeia determinam como abordá-la, analisaremos por que isso está ocorrendo e o que podemos fazer para ajudar.
1. Por que tantas pessoas estão se afogando no Mediterrâneo?
Durante este ano, um número sem precedentes de refugiados e migrantes está tentando chegar à Europa em embarcações superlotadas e perigosas, controladas por traficantes de pessoas.
Quando seus barcos viram ou apresentam problemas, nem sempre há ajuda por perto. No final de 2014, a Itália e a UE decidiram pôr fim à Mare Nostrum, a operação humanitária da marinha italiana que resgatou mais de 166.000 pessoas em apenas um ano.
A UE substituiu esta operação por outra muito menor denominada Triton, que patrulha principalmente as fronteiras perto da terra firme, em vez de salvar vidas em mar aberto. Além disso, conta com barcos menores e menos aviões, helicópteros e pessoal.
Como consequência, a busca e salvamento das pessoas depende novamente, em sua maior parte, das guardas-costeiras e dos navios comerciais.
2. Por que as pessoas viajam na rota migratória mais fatal do mundo?
A Europa se converteu em uma fortaleza quase impenetrável, e os refugiados têm enormes dificuldades de chegar sem riscos e legalmente a um país da UE.
Muitas pessoas fogem do conflito, da violência e da perseguição. Para elas, pagar milhares de dólares a um traficante para atravessar o mar em uma barca frágil é quase a única opção que lhes resta.
Tomar esta decisão diz muito sobre as circunstâncias das quais fogem. Jean é um dos 88 sobreviventes de um barco resgatado perto de Malta, em janeiro. Cerca de 35 de seus companheiros morreram de hipotermia e desidratação. Jean nos contou que havia fugido da Costa do Marfim quando sua família o ameaçou porque não quis submeter sua filha à mutilação genital feminina.
Quando chegou à Líbia, “os traficantes estavam armados. Alguns de nós tínhamos medo e não queríamos ir, mas ninguém pôde voltar atrás. Não nos deram mapas, nada. Só disseram: ‘siga reto até adiante e estará na Itália’”.
Não fazer o suficiente para ajudar agora mesmo é desumano e indefensável, equivalente a içar a ponte levadiça enquanto crianças, homens e mulheres morrem fora de nossas muralhas.
3. De onde exatamente vêm todas essas pessoas?
Muitas, incluindo famílias com crianças pequenas, fugiram de países arrasados pela guerra, como Síria, Afeganistão, Sudão e Iraque. Outras foram perseguidas por suas opiniões políticas, torturadas e, inclusive, ameaçadas de morte se ficassem [em seus países].
Em 2014, as pessoas procedentes da Síria e Eritréia representavam quase a metade das aproximadamente 170.000 pessoas que chegaram à Itália de barco. Mas há mais que chegam da África Subsaariana fugindo das penúrias e pobreza.
4. Por que a Europa deveria ajudar?
Os governos europeus enfrentam um tremendo dilema de vida ou morte. Não fazer o suficiente para ajudar agora mesmo é desumano e indefensável, equivalente a içar a ponte levadiça enquanto crianças, homens e mulheres morrem fora de nossas muralhas.
Pedir asilo é um direito humano, uma parte essencial dos acordos internacionais sobre refugiados que quase todos os governos assinaram depois da II Guerra Mundial.
Mas os governos europeus estão colocando enormes obstáculos para as pessoas que suportaram tanta coisa. Por exemplo, ofereceram um total de apenas 40.137 lugares de reassentamento para refugiados sírios, 30.000 deles somente na Alemanha. Em compensação, somente cinco países vizinhos da Síria acolheram 3.9 milhões de refugiados.
5. O que a UE pode fazer agora mesmo para impedir estas mortes?
Todos os países europeus necessitam trabalhar juntos urgentemente para lançar uma operação humanitária de salvamento de pessoas no mar. Isso significa compartilhar o custo de barcos, aviões, helicópteros e pessoal suficientes para resgatar as pessoas que cruzam o Mediterrâneo a partir de agora.
Enquanto se organiza esta operação, devem dar à Itália e Malta suficiente apoio econômico e logístico para redobrar o trabalho de busca e salvamento que suas guardas costeiras realizam.
6. O que deveria ocorrer em longo prazo?
As pessoas não deixarão de fugir da guerra, da perseguição e da pobreza. Quando a UE estabelecer sua nova agenda sobre migração em maio, terá que oferecer-lhes vias para pedir asilo na Europa sem riscos e legalmente, sem pôr a vida em risco.
Além disso, os governos da UE devem dar a mais refugiados a oportunidade de mudar de vida e reassentá-los em seus países.
7. O que eu posso fazer para ajudar?
Assine a petição aos governos da UE, em inglês, e divulgue amplamente entre seus conhecidos. Acesse o site, clique em Sign e preencha seus dados: nome, sobrenome, e-mail e país.
Juntos podemos demonstrar que não toleramos que o Mediterrâneo se converta em um cemitério.
Fonte: Negrobelchior.
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