Páginas

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Documentário emocionante questiona qual é o significado da vida humana


O cineasta Yann Arthus-Bertrand passou três anos viajando o mundo e conversando com pessoas para entender qual é a essência e o significado da vida humana. Esses anos foram transformados em um documentário emocionante chamado “HUMAN”.

Por Márcia Garbin,
Yann percorreu 60 países diferentes e conseguiu registrar histórias de vida de 2 mil mulheres e homens. O curta é do tipo que te faz refletir e repensar a vida umas mil vezes.

“Eu sonhei com um filme em que a força das palavras ampliasse a beleza do mundo. As pessoas me falaram de tudo; das dificuldades de crescer, do amor e da felicidade. Toda essa riqueza é o centro do filme HUMAN”, afirma o cineasta no site do projeto.

“Esse filme representa todos os homens e mulheres que me confiaram suas histórias. O filme se tornou um mensageiro de todos eles”, completa.

O doc já tá disponível no Youtube, com direito a legenda em português!


Fonte: Virgula.

Negras em Marcha - Luana Hansen (part.Leci Brandão)










Negras em Marcha vem para mostrar as dificuldades e conquistas obtidas pelas mulheres negras ao longo do tempo na história do Brasil, com participação e colaboração de várias mulheres e coletivos de parceiras em Luta! Dia 18 de Novembro de 2015, vamos marchar contra o racismo, a violência e pelo bem viver!


Fonte: Luana Hansen.

Violência contra as mulheres na noite brasiliense será tema de debate

PIXELIZANDO/DIVULGAÇÃO

Produtores da cidade vão se reunir nesta sexta (2/10) para buscar formas de combater o mau comportamento de parte do público

A violência contra as mulheres nas baladas em Brasília será tema de uma importante roda de discussão marcada para esta sexta (2/10), na sede de uma produtora na Asa Norte. Produtores envolvidos em festas como Melanina, Arte Flow, Makossa e Funfarra vão se reunir para discutir formas de combater esse tipo de violência dentro dos espaços de festas na cidade. A comunidade também está convidada a participar do bate-papo.

Serão colocados em pauta alguns pontos importantes para discutir o tema, como possíveis campanhas de conscientização e as melhores formas de abordar o tema. O que fazer para melhorar a segurança e como a equipe de produção deve proceder em situações de assédio também serão alguns dos assuntos tratados. Promovido pelas produtoras Influenza, Headline, MOB e Barki, o encontro é destinado a todas as faixas de idade.

A discussão surge em um momento importante. Tem sido crescente o número de reclamações por parte de muitas mulheres que relatam ações machistas e violentas em festas na cidade. Tentativas de beijos à força, puxões e agressões verbais são alguns dos relatos mais frequentes.

Sexta (2/10), das 16h às 18h, na 203 Norte, Bloco D, Loja 73. 
Mais informações: 8175-4055.

________________________________________________________
GABRIELA DE ALMEIDA

Fonte: Metropoles

“Não aguento mais publicar matéria de criança morta”


Não aguento mais publicar matéria sobre criança morta

Por Artur Voltolini,
No último dia de dezembro fará dois anos que edito o Favela 247, e durante esse período já perdi a conta de quantas matérias de jovens e de crianças mortas pela polícia já publiquei. E o pior, devo ter perdido também a conta de quantas mortes de jovens em favelas já passaram por mim sem serem publicadas. É muito triste perceber o processo de naturalização dessa violência absurda dentro de você mesmo. Sou editor, curador de conteúdo, tenho limitações de pessoal e linhas editorias a seguir, este canal não é um folhetim policial. Segundo a Anistia Internacional, mais de 20 mil jovens negros e pobres são assassinados todos os anos no Brasil. A porcentagem desses crimes que viram matéria não chegam a uma casa decimal.

Ontem à noite recebi pelo Favela 247 uma mensagem de um perfil anônimo doFacebook com um vídeo horrível mostrando um menino morto na favela do Caju. Não sei se foi impressão minha, mas tive a impressão de ter visto ali seu último suspiro de vida. Eu ainda não tinha informações o suficiente para dar uma matéria, e fechei o expediente. A imagem do menino me acompanhou por toda a noite.

Hoje de manhã o menino morto já tinha nome: Herinaldo Vinicius de Santana, de 11 anos. Ele estava descendo correndo por um beco para comprar bolinhas de pingue-pongue quando um policial se “assustou” com a cena e deu um tiro de fuzil em seu peito. Recebi outro vídeo em que moradores, chorando de raiva e tristeza, apontavam quem era o policial acusado da barbárie. Não sei se o policial é um monstro, ou se do alto de seus seis meses (isso mesmo, seis meses) de formação para ser policial, armado com fuzil de guerra dentro de uma favela com UPP, ele pudesse estar realmente assustado.

É tudo triste demais, horrível demais e cínico demais. Dá raiva, porque eu sei que nada, mas absolutamente nada está sendo feito para mudar esse quadro. E eu sei que enquanto eu trabalhar aqui eu vou dar mais um monte de matéria sobre crianças mortas em favelas ocupadas por forças de segurança armadas para a guerra.

E enquanto isso o governador dessa bagunça diz que vai prender todo mundo que estiver de bermuda e sem camisa e nem dinheiro a caminho da praia. E o prefeito desse consórcio diz que jovens pobres fazerem arrastão na praia não é problema social. Quantos amigos do Herinaldo não foram pra praia no último fim de semana? Será que eles foram só “para curtir”? Ou foram pra “esculachar”? Não sei, mas a vontade que eu tenho agora é de sair por aí de bermuda, sem camisa e nem dinheiro, fazendo um arrastão triste e solitário em protesto a todas as crianças negras que ainda vão morrer dentro da favela em que o Estado as quer em cárcere, por serem “vulneráveis” demais para sair de lá.

_______________________________________________________
Artur Voltolini, editor do Favela 247, escreveu artigo lamentando o assassinato de Herinaldo Vinicius de Santana, de 11 anos, e a naturalização da violência no país: “Quantos amigos do Herinaldo não foram pra praia no último fim de semana? Será que eles foram só ‘para curtir’? Ou foram pra ‘esculachar’? Não sei, mas a vontade que eu tenho agora é de sair por aí de bermuda, sem camisa e nem dinheiro, fazendo um arrastão triste e solitário em protesto a todas as crianças negras que ainda vão morrer dentro da favela em que o Estado as quer em cárcere, por serem ‘vulneráveis’ demais para sair de lá”

Fonte: Favela 247

ECA do B


As crianças negras e pobres do Brasil só são achadas por bala perdida porque não sabem ler o verdadeiro Estatuto da Criança e do Adolescente

por Eliane Brum, 
Se as crianças negras e pobres tivessem aprendido a ler, não ficariam interrompendo o tráfego com seus corpinhos escuros. Mas vão para escolas públicas bem equipadas, em prédios planejados, cercados por jardins e quadras de esporte, com professores bem pagos e preparados, em tempo integral, alimentadas com comida nutritiva e balanceada, e nem assim conseguem ler direito. Só desperdiçam os impostos pagos por pessoas de bem, como eu. Preferem ficar em seus barracos sufocantes, em ruas esburacadas e sem árvores, por mau gosto. Impressionante o mau gosto das crianças pobres e negras, uma coisa que vem de berço, mesmo, basta ver como se vestem mal. Por isso, não compreendem o Estatuto da Criança e do Adolescente. Não a bobajada aprovada nos anos 90, por aquele monte de babacas que ficam choramingando até hoje porque a ditadura torturou e matou uns milhares de comunistas. Matou foi pouco! Estou falando do verdadeiro Estatuto da Criança e do Adolescente, o que não foi feito por gente que ficou desperdiçando anos estudando para proteger direitos humanos de bandidinhos. Como se crianças negras e pobres fossem humanas! Estou falando do ECA que vale, o das ruas, a lei na prática, mesmo.

O outro, o oficial, é só pra botar na biblioteca daqueles intelectualoides de esquerda, pra encherem aquela boca mole de porcaria politicamente correta e se exibirem em reunião da ONU. Se os moleques soubessem ler e soubessem o seu lugar, estariam aí, vivos, pra ficar chapinhando no esgoto, como gostam. Como não tenho estômago pra sujeira na via pública, resolvi sistematizar a lei em vigor e fazer o manual de 2015, versão atualizada, para ver se param de emporcalhar o chão com seus miolos. Uma coisa bem didática, bem simples, pra que mesmo uma raça inferior consiga entender. Vou botar nome em cada uma delas, pra ver se fica mais fácil de entrar nessas cabecinhas cheias de maconha. Tipo, lembra do caso, associa com a lei, não faz merda, tudo resolvido. Como no ano que vem tem Olimpíada e não quero que os gringos pensem que aqui não tem lei, me restringi ao Rio de Janeiro. Se cada um fizer a sua parte pra higienizar a cidade, o Brasil ainda pode brilhar:

1) Lei Herinaldo: criança preta não pode correr na rua

Para que criança vai correr, me diz? Não tem nada que correr. Onze anos de idade e correndo? Vai trabalhar! O policial se assusta com aquele corpinho escuro e mirrado vindo na sua direção e atira. Pronto, a bala acha. Aconteceu agora, na semana passada, com o Herinaldo. Peraí, preciso rir um pouco. Ah, onde esses pobres acham esses nomes? Herinaldo, vê bem se alguém tem futuro com um nome desses. O Herinaldo correu, levou bala. Bum, um tiro no peito. Dizem que estava indo comprar uma bolinha de pingue-pongue. Sei! Desde quando preto sabe jogar pingue-pongue? Tava era indo comprar fumo na boca. Ou era aviãozinho. E eraviadinho o moleque. Em vez de lidar com a situação como homem, ficou gritando: “Quero a minha mãe!”. Afe. O que importa é que por causa dessa falta de atenção do Herinaldo, meu SUV ficou parado no trânsito. Favelado adora trancar rua, deve ser por inveja de quem tem carro. Em vez de ensinarem seus abortos que criança pobre não pode correr, fazem protesto. Brasileiro é muito subdesenvolvido, mesmo. Eita país que não vai pra frente. Por sorte a PM distribuiu umas bombas de gás e botou a macacada pra correr. Deu pra chegar pro jantar a tempo, mas foi por pouco. E a Rosinete faz uma comida muito boa, essa é uma negra de alma branca, praticamente da família. Depois vi no Balanço Geral o apresentador entrevistando a mãe do estropício. O jornalista foi na veia mesmo. Onde a senhora tava quando aconteceu? A mulher disse que tava cuidando de um idoso, vê bem. Em vez de cuidar do filho, mantê-lo em casa, tava batendo perna na casa dos outros. Disse que trabalhando, mas vá saber o que essa gente anda fazendo! Depois o repórter perguntou se o Herinaldo era metido com tráfico. A mãe negou, mas na cara que era. Se não fosse, tava correndo por quê? Por acaso criança de 11 anos corre na rua?

Uso: a aplicação mais recente da lei número 1 do ECA do B ocorreu em 23 de Setembro de 2015. Herinaldo Vinicius Santana, de 11 anos, levou um tiro no peito, no Caju, zona portuária do Rio de Janeiro.

Tá com pena? Leva pra casa!

2) Lei Cristian: adolescente preto não pode jogar futebol

Para que jogar futebol? Vê bem o que um sonso desses têm na cabeça. Se o moleque tem 13 anos e mora num favelão cheio de traficantes, vai fazer o quê? Jogar futebol? Não! Vai ficar trancado no barraco, sei lá, vendo Netflix na TV ou jogando no tablet, já que não gosta de estudar. Não se gabaram tanto que viraram Classe C, comprando TV de tela plana bem grande? Então, aproveita. Faz 40 graus dentro de casa? Toma um banho de hidromassagem pra baixar os hormônios! Mas não, o projeto de bandido pensa que é o Neymar e vai lá jogar futebol. Desde quando moleque joga futebol no Brasil? Aí a polícia tá lá, fazendo o seu serviço, atrás de um animal que tinha matado um PM, um pai de família, um trabalhador, e uma bala acaba achando o moleque. É culpa de quem? Da polícia? Só na cabeça de bagre desses direitos humanos. Se o moleque tivesse trabalhando numa hora dessas, não tinha acontecido nada. Mas não, tava lá, jogando futebol, antes do meio-dia. Tem deputado de esquerda aí dizendo que quando ouviu os tiros o moleque até parou pra ajudar uma idosa a se proteger. Ah, tá, agora virou santo. O fato é: como é que a polícia vai botar ordem na bagaça com esses vagabundos no meio do caminho? E a mãe do moleque? Fazendo teatro no enterro: “Meu filho, acorda, meu filho, acorda…”. Patético, por acaso a mulher não consegue juntar o tico e o teco e perceber que aquele ali já tava no inferno? É só um, pra que tanto escândalo? Do jeito que é esse povo deve ter mais uns 13 pretinhos em casa, tudo da mesma laia, que é pra ter bastante Bolsa Família. Mas aí a pobraiada protesta, mais confusão. Aquela Anistia Internacional, que deveria estar lá na Síria, cuidando daqueles meninos branquinhos, faz nota falando em “lógica de guerra”. Que guerra? É lei. ECA do B pra limpar o Brasil! Jogou futebol em hora errada, a bala acha. Simples assim. Quer que eu desenhe?

Uso: a aplicação conhecida mais recente da lei número 2 do ECA do B foi em 8 de Setembro de 2015.Cristian Soares Andrade, de 13 anos, foi baleado e morto na região de Manguinhos, no Rio de Janeiro.

Tá com pena? Leva pra casa!

3) Lei Jesus: criança pobre não pode ficar sentada na frente de casa

O que é que um moleque de 10 anos tem na cabeça pra se sentar no batente da porta de casa se mora numa das favelas do Complexo do Alemão? Não, sério, me diz. Nada, não tem nada na cabeça. Ou melhor, não tinha. Agora tem uma bala. Os policiais lá, fazendo o seu trabalho, que é matar bandido, e o moleque lá, atrapalhando a operação. Aí a mãe, mais uma tipinha daquelas, começa a berrar com o policial. Se a mulher fica fazendo arruaça, o agente da lei tem mesmo é de apontar a arma pra ela. Vai aguentar calado, que nem mulherzinha? Aí a vagabunda grita: “Pode me matar! Pode me matar que você já acabou com a minha vida!”. Mulher é um bicho histérico mesmo, né? E essas aí, de favela, então, bem mostram que nasceram no esgoto. Sou eu, que tenho cabeça quente, já dou logo um tiro e aproveito pra enterrar mãe e filho na mesma cova, que o cemitério já não tá dando mais conta daquela plantação de pretos a meio palmo do chão. Se aquela uma não estivesse aboletada no sofá vendo televisão, tinha reparado que o filho tava sentado onde não devia. Ou porta de casa é lugar de uma criança se sentar pra brincar? Mas não, tá lá, distraída com novela ou alguma outra bobagem, e depois faz aquela choradeira. “Quando eu vi, uma parte do crânio do meu filho tava na sala”. Se tivesse cuidado, não estaria, simples assim. Disse que trabalha como doméstica…. Tava fazendo o que em casa num final de tarde, então? E mais pobre interrompendo o trânsito pra fazer protesto. Mais direitos humanos enchendo o saco. Esse país tá ficando inviável. Se eu não fosse tão patriota, ia logo pra Miami e até votava no Donald Trump, um homem que vai botar as coisas no lugar depois de desinfetar a Casa Branca daquela negrada. Mas, não, sou do Brasil, com muito orgulho, e vou fazer a minha parte pra varrer essa pretaiada daqui. Sem contar que, e eu não tenho medo de dizer, eu falo a verdade mesmo, na cara de quem precisar: se esse moleque não tivesse levado um tiro, mais dois anos e já era bandido. A mãe falou que queria ser bombeiro. Aham. Dois anos no máximo e já era aviãozinho. Se ia morrer de qualquer jeito, pelo menos morreu sem ter feito mal pra nenhum cidadão de bem. Nesse caso não é bala perdida nem achada: é bala preventiva.

Uso: A última aplicação conhecida da lei número 3 do ECA do B ocorreu em 2 de abril de 2015.Eduardo de Jesus Ferreira, de 10 anos, foi baleado na cabeça, na porta da sua casa, no conjunto de favelas do Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro.

Tá com pena? Leva pra casa!

4) Lei Alan: adolescente pobre não pode brincar com celular

Esse aí é outro caso de óbvio ululante. Mas como a gente precisa explicar tudo, vamos lá. Três moleques brincando com um celular numa favela, em cima de bicicletas. O que um policial pensa? Tão fazendo coisa errada, claro. Com certeza as bicicletas são roubadas e o celular também. Aí um deles corre. O que um policial bom faz? Atira, claro. E não vai atirar pra aleijar, que não é um homem cruel, atira logo pra matar, que o Estado não tá podendo arcar com tanto benefício por invalidez assim. Aliás, é o sonho dessa gente. Ter um filho aleijado pela polícia pra ficar mamando nas tetas do Estado sem precisar trabalhar. Aí o moleque cai. O policial, bem educado, pergunta pro amigo que ficou vivo: “Por que vocês estavam correndo?”. O moleque, um desses vendedores de chá mate que ficam assediando os turistas na praia, diz: “A gente tava brincando, senhor”. Pronto, os direitos humanos fazem um escarcéu com essa frase, vai até parar em jornal estrangeiro. Por isso que não pode ter celular na mão de preto. Começam a se achar gente e ficam gravando tudo. Tou aqui, pensando se não é melhor fazer logo um parágrafo extra pra essa lei, proibindo preto e pobre de usar celular. A ver.

Uso: A última aplicação conhecida da lei número 4 do ECA do B ocorreu em 20 de fevereiro de 2015.Alan de Souza Lima, de 15 anos, foi morto pela polícia na favela da Palmeirinha, em Honório Gurgel, subúrbio do Rio de Janeiro.

Tá com pena? Leva pra casa!

5) Lei de Circulação de PP: Pobre e Preto de menor não pode pegar ônibus para ir às praias da Zona Sul

Nessa aí nem botei um nome, porque os marginalzinhos são tantos que a lista ia ter quilômetros. Quem gosta de lei comprida é intelectual. O ECA do B é simples, branco no preto. Em cima do preto! Qualquer mané consegue entender. O cara entra num ônibus com nenhum dinheiro no bolso, mal vestido ou até sem camisa, o que calor nenhum justifica, lá na PQP onde ele mora, e quer ir pras praias da Zona Sul do Rio de Janeiro. Vai fazer o que lá? Arrastão, obviamente. Aí vem aquele papinho de que é uma minoria que faz arrastão, que o resto da pretaiada só quer se divertir na praia. Tenha dó. Mesmo que seja, como vai saber? Não dizem sempre que tem de prevenir o crime? Então, taí. Se não é a polícia, é pessoa de bem como eu que tem de fazer a justiça valer. Levo filho, sobrinho, tudo uns meninos fortes, de academia, menino bom, e tiro essa molecada pelo pescoço de dentro do coletivo. Jogamos tudo lá, de volta à cloaca de onde nunca deveriam ter saído. Depois tomamos um banho de álcool zulu pra descontaminar. O que é que preto tem pra fazer no Leblon, Ipanema, Copacabana, me diga? Nada! No máximo vender um coco, um biscoito Globo, mas assim, controlado, número restrito. Vai querer tomar banho de mar, jogar um vôlei, curtir? É muita falta de ferro no lombo. Desde quando a senzala pega praia? Mesmo que os moleques não assaltem, vão estragar o cartão-postal do Rio com aquelas caras achatadas. Gringo vem aqui gastar seus dólares pra ver garota de Ipanema, loirinha, olho azul. E as mulatas lá naquele outro lugar que a gente sabe bem onde é e pra que serve. Se cada um soubesse o seu lugar, aliás, tava tudo resolvido. O problema do Brasil hoje é que as criaturas não sabem mais o seu lugar. Mas a gente explica pra elas, bem direitinho, numa chave de pescoço, colaborando com o trabalho da polícia, que já não dá mais conta de tanto pobre querendo pegar praia. Preto sai, branco fica. Inverti o nome daquele filme! Pessoalmente, inclusive, eu faria um parágrafo único aqui nesta lei número 5: ônibus pra pobre sair da favela só se for pra trabalhar. O cara mostra a carteira de trabalho registrada pra um policial, na porta do 474, e pode embarcar, com carimbo pra sair e carimbo pra voltar, assinado pelo patrão. Horário determinado, tudo ali certinho, na ponta do lápis, como se diz. Fora daí, se o negão for pego zanzando na Zona Sul, cadeia nele. Nessa aí preciso tirar o chapéu pros paulistas. Não gosto muito de paulista, mas eles sabem fazer as coisas direito quando querem. Não teve lá aquele, como é o nome mesmo? Ah, sim, Rolezinho, só preto pra inventar um nome tão idiota. Então. A ralé queria passear no shopping. E em bando, como se fosse moda adolescente andar em grupo. Polícia neles! Mais de três moleques pretos num shopping é assalto e pronto. Volta pra favela! Vai querer usar grife? Te enxerga, mané! Não tem grife que limpe a tua cara preta, não tem tênis de marca que te faça ficar igual a nós. Repressão neles e tudo resolvido. No Rio o povo de bem também sabe resolver as coisas, esse final de semana foi uma beleza. Revista na pobraiada!

Uso: a mais recente aplicação da Lei de Circulação de PP foi nesse último final de semana, mas pode estar sendo usada agora mesmo. Lei que brasileiro concorda é que nem gripe, pega na hora e se espalha.

Tá com pena? Leva pra casa!

E aqui encerro o ECA do B, um conjunto de cinco leis simples, claras e objetivas. Espero ter colaborado para tranquilizar os turistas que virão para a Olimpíada 2016 ver nossas belezas, conhecer o nosso povo cordial e as maravilhas da nossa terra alegre e hospitaleira. Como é mesmo o lema da Olimpíada mesmo? “Somos Todos Brasil!!!” Uhú!

_____________

O texto acima foi escrito a partir dos fatos reais ocorridos neste ano no Rio de Janeiro e de uma pesquisa sobre os comentários postados nos sites e redes sociais sobre esses fatos, por aqueles que se apresentavam como “cidadãos de bem” ou termos similares. Criar esse texto na primeira pessoa, juntando numa só voz os principais argumentos em circulação, foi uma tentativa de tornar esse discurso de ódio visível. Não da forma habitual, já banalizada, mas a partir do seu deslocamento para um lugar onde ele é estranho. E, assim, produzir estranhamento e incômodo.

Ao deslocar esse discurso de ódio, colocando-o neste espaço, talvez se torne mais difícil banalizar o horror que sai da boca de brasileiros nas ruas virtuais e reais, com espantosa facilidade. Também fica mais complicado aceitar como liberdade de expressão um discurso que legitima um Estado que age acima da Lei, ao criminalizar pobres e negros, naturalizando as suas mortes e a violação de seus direitos pelas forças de segurança pública que também deveriam protegê-los. Enquanto o Estatuto da Criança e do Adolescente é a legislação criticada por setores da sociedade e nunca implementada por completo, o ECA do B é a lei não escrita, mas entranhada no sistema e assumida pelas polícias e por parte da população, a lei fora da lei que rege a prática cotidiana do país.

Dizem que anunciar a ironia estraga a ironia. Até um tempo atrás, eu concordaria de imediato com essa afirmação. Não mais. Hoje, é preciso avisar, porque como já aconteceu com outros colunistas, há quem se identifique tanto com esse discurso que vai fazer dele uma leitura literal e acreditar que eu finalmente “vi a luz”. Para essas pessoas, assim como para seus pares, o que é denúncia se converterá em defesa do ódio e do racismo e do linchamento e da execução. E assim será replicada. Não posso correr esse risco em tempos tão agudos. Usando os instrumentos da ironia e da paródia, busco denunciar quem acredita nesse discurso e o dissemina. Se você se identificou com o texto, é também você que estou denunciando. E talvez uma das frases seja a reprodução de um dos seus comentários na internet. Neste caso, espero que tenha restado algo vivo em você para que tenha a chance de se envergonhar.

Esses quatro meninos foram assassinados no Rio de Janeiro só neste ano de 2015: correndo, brincando, jogando futebol, sentado na porta da casa. E estes foram apenas os que viraram notícia na imprensa. Herinaldo, Alan, Cristian, Jesus. A imagem do corpinho do menino sírio carregado para a praia pelas ondas do Mediterrâneo obrigou a Europa a enxergar a tragédia daqueles que fugiam da guerra em busca de refúgio. E, ao enxergar, comprometer-se com essa dor. Implicar-se. O choque de humanidade teve impacto político.

A imagem do corpo arrebentado à bala de Herinaldo, Christian, Jesus e Alan, porém, parece não ter força para impedir a continuidade do genocídio das crianças e jovens negros e pobres no Brasil. Seus corpos são esvaziados de humanidade e viram objetos, restos cotidianos que já não provocam espanto, para além dos mesmos de sempre. No máximo protestos das comunidades, recebidos a bombas de gás pela polícia e com demonstrações de irritação pelos motoristas, que não querem corpos de criança atrapalhando o tráfego.

Fico pensando: em que praia os pequenos corpos desses brasileiros precisam chegar para serem vistos? Nas praias da Zona Sul carioca já sei que não adianta.

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Cotas Raciais na pós-graduação, sejam bem vindas


Uma nova questão se coloca para reflexão: a instituição de cotas étnicas e sociais para a pós-graduação. Democratizar o acesso significa assegurar mais perfis na pós-graduação brasileira. Não é tarefa fácil em um espaço onde a tal da “meritocracia” é a palavra mais valorizada –e garantir sua permanência também não é simples.

Estamos timidamente avançando, segundo dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE, recentemente divulgados: o número de estudantes negros (soma de pretos e pardos) no mestrado e no doutorado mais que duplicou de 2001 a 2013, passando de 48,5 mil para 112 mil, ainda.

Essa ampliação reflete um país que tem mudado, mas que ainda precisa avançar muito para a efetiva inclusão em variados níveis, os negros representem a maior parte da população (52,9%), já os pós-graduandos negros representam apenas 28,9% do total.

Ressalto ainda que esse aumento da participação de negros na pós reflete o crescimento da pós-graduação de modo geral. Ampliar a participação dos negros não significa apenas combater uma desigualdade e o racismo historicamente construídos e perpetuados ao longo da nossa história, mas também abrir a possibilidade para se combater de forma efetiva o racismo na academia, refletido, por exemplo, na limitação dos alcances das pesquisas realizadas.

Há também de se ampliar o alcance do conhecimento produzido, para que ele possa refletir a diversidade da nossa população e das nossas possibilidades de desenvolvimento.

A defesa de cotas étnicas e sociais na pós-graduação é uma defesa da Associação Nacional de Pós-graduandos, aprovada nas resoluções de seu 24°Congresso, já apresentada para o Governo Federal.

A iniciativa já está em curso em algumas localidades. O Rio de Janeiro destinou 12% para cotas étnicas e sociais, e a Universidade Federal de Goiás recentemente tornou-se a primeira instituição pública de ensino superior do país a aprovar as cotas de modo abrangente para toda a instituição. Serão ao menos 20% das vagas para negros e indígenas.

A partir das lutas do movimento negro, dos movimentos sociais de forma geral, dos acadêmicos, das reflexões e debates levantados sobre a temática, a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial deve apresentar uma proposta de cotas raciais para a pós-graduação ainda este semestre, com o intuito de que as instituições federais brasileiras garantam não apenas o ingresso, mas também o estudo de temas diversificados.

A proposta se baseia na Lei 12.711/12, conhecida como Lei de Cotas da graduação. Até 2016, 50% das vagas de universidades federais e instituições federais de ensino técnico de nível médio devem ser destinados à estudantes de escolas públicas, garantindo, também, reserva de vagas para negros.

A pós-graduação é por excelência um lugar de produção do conhecimento, de ciência, um lugar que se propõe a pesquisar, a se inquietar, a propor questões e soluções para a sociedade. Esse lugar, para se manter saudável, deve estar livre de certezas absolutas e verdades eternas, deve ambicionar o novo, valorizar a diversidade e todas as possibilidades que ela traz.

Desse modo, o estabelecimento das cotas na pós-graduação representa um grande avanço na luta por justiça social e por reparação em nosso país. Mas não apenas isso, significa a compreensão de que a Universidade é um local que deve refletir a sociedade nova que pretendemos construir, e não a manutenção das desigualdades que se perpetuam.

Significa ter na universidade gente diferente, que olha a sociedade de forma complexa, problematiza questões variadas e pensa soluções não óbvias, a partir de múltiplos olhares. Significa lançar mão de uma infinidade de futuros possíveis. Significa a ampliação e a ressignificação dos horizontes formativos. Significa abrir lugar para a inquietação, para o olhar curioso e transformador de quem acaba de chegar e traz um mundo de possibilidades.

Cotas, sejam bem vindas à pós-graduação!


________________________________________________________
 Tamara Naíz – Presidente da ANPG (Vermelho)
*Associação Nacional dos Pós-Graduandos (ANPG)

Fonte: Negrobelchior

Mulheres Negras do umbigo para o mundo


por Emanuelle Goes*
Resolvi escrever sobre algumas jovens negras que estão fazendo a luta do seu jeito, trilhando caminhos e fazendo a sua parte.

Em tempo de preparatórios para a Marcha dasMulheres Negras que logo se aproxima (18 de novembro), a marcha que para mim reorientará caminhos para o Movimento Negro e de Mulheres Negras, a marcha que atinge as mulheres negras de todo o País, que se reconhece nela, por um Brasil sem racismo e sem violência e pelo bem viver, uma marcha que segue na contramão do Estado Brasileiro que sempre nos colocou a margem, as invisíveis.

É importante destacar que as mulheres negras sempre estiveram à frente na luta por oportunidades de direitos para a comunidade negra, nas agendas de políticas publicas, na participação de espaço de controle social, construção e implementação de políticas e por muitas vezes fazendo o papel do Estado.

Mas, vim neste texto falar das mulheres, das jovens negras, que já estão em marcha no cotidiano de suas militâncias, sei que tem varias de nós por ai fazendo o seu pedaço, mas sigo aqui encantada com quatro de nós, que nos representa bem.


Começo com a iniciativa maravilhosa da soteropolitana Monique Evelle, que em 2011 criou o Desabafo Social que nasceu do desejo de transformar a realidade através de ações estruturadas e intencionais, sempre trabalhando na área dos Direitos Humanos da Infância e Juventude, Comunicação e Educação.


Monique ficou entre as 25 negras mais influentes da internet brasileira, pelo site Blogueiras Negras e saiu na lista das 30 mulheres com futuro promissor, pela Revista Cláudia e Portal MdeMulher, da Editora Abril. E, em março de 2014 o Desabafo levou o Prêmio de Protagonismo Juvenil pela Associação Brasileira de Magistrados, Promotores de Justiça e Defensores Públicos da Infância e da Juventude. 


O trabalho, o engajamento e a arte da Cordelista e escritora Jarid Arraes que nos presenteia e nos alegra o coração sempre com a sua coluna Questão de Gênero na Revista Fórum e principalmente com os seus cordéis que tem como temáticas centrais as questões de gênero e raciais (Dandara dos Palmares, Luísa Mahin, Carolina Maria de Jesus, Aqualtune, Tereza de Benguela) esses são os títulos de alguns dos seus cordéis.




Foto: Ytana Mayanne
Cetilá Itas, estudante de Ciências Sociais juntamente com a historiadora Maria da Conceição Freitas criaram o Vidas Negras Importam que é uma iniciativa do Projeto Itinerante Próxima Parada, do qual ela também é a idealizadora, que tem como objetivo promover ações ressignificando o olhar da sociedade sobre a importância da vida, principalmente das vidas negras ceifadas em nome do mito da igualdade racial, que caracteriza pela inexistência de racismo no Brasil, logo mais negros estão em condição desigual, fora dos espaços de poder por que são maioria, refutando a perspectiva de uma política genocida da população negra.

Vidas Negras Importam é inspirado no Movimento Americano “Black Lives Matter”, o Projeto Itinerante Próxima Parada decidiu promover intervenções em pontos de paradas de ônibus e nas praças públicas agregando diferentes linguagens concomitantemente, levando os sujeitos a protagonizarem suas histórias e novas histórias na rua, dialogando entre pares sobre a necessidade de nos importarmos com a outra pessoa, mesmo que seja diferente, mas que traz em si as marcas de ser uma vida negra na sociedade.


E para finalizar trago para vocês a iniciativa de Mafá Santos graduanda no curso de Gênero e Diversidade da Universidade Federal da Bahia, o projeto Som da Calçada que surgiu a partir do seu contato com a População em Situação de Rua desde o inicio de 2014 com estagio na Defensoria Pública do Estado da Bahia. E que tem como objetivo promover o empoderamento das mulheres em situação de rua através da arte por meio de aulas de teatro, música, artes plásticas e diálogos sobre saúde da mulher, gênero e empreendedorismo.

Todo engajamento nosso individual é coletivo, porque nós mulheres negras nos construirmos na coletividade. Bem, as iniciativas acima citadas precisa de colaborações das mais diversas formas, então sintam-se a vontade.

Um sobe e puxa a outra!

___________________________________________________
*Blogueira, Enfermeira, Militante do Movimento de Mulheres Negras, Pesquisadora em Saúde das Mulheres Negras, Doutoranda em Saude Pública ISC/UFBA

Estrutural sob novo olhar, muito além do Lixão

FILME "SETOR COMPLEMENTAR" FILMADO NA ESTRUTURAL 
FOTO: DIEGO TORRÃO / DIVULGAÇÃO

Cidade atrai cineastas, que utilizam as câmeras para misturar ficção e realidade, elevando autoestima dos moradores da região

Numa tentativa de escapar dos clichês e estereótipos, cada vez mais chegam aos cinemas novos olhares sobre a Cidade Estrutural. Neste ano, o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro selecionou o curta-metragem “Setor Complementar”, dirigido por Tiago Rocha. Entre outras coisas, o filme busca discutir as limitações da mobilidade urbana no Distrito Federal. Nas últimas edições do evento, a presença de produções filmadas na cidade, popularmente conhecida por abrigar o maior lixão da América Latina, tem sido praticamente constante. À exceção de 2013, há pelo menos cinco anos todos os festivais têm reunido obras sobre as mais diversas temáticas locais.

A partir do olhar de crianças e adolescentes da cidade, “Setor Complementar” mistura ficção e documentário para retratar as contradições de uma região que reúne, ao mesmo tempo, o maior polo de vendas de automóveis da América Latina e a cidade com uma das maiores concentrações de bicicletas por habitante do DF. “Aí, eu passava sempre pelas duas cidades: a do Automóvel e a Estrutural. E era muito visível essa discrepância”, conta o diretor, que antes do filme não sabia que as duas cidades tinham um só nome: Setor Complementar de Indústria e Abastecimento (SCIA).
"Mesmo sendo retratada quase sempre como um lugar violento, de forma marginalizada, a Estrutural é um lugar onde as pessoas andam na rua, ocupam as esquinas, têm um senso de comunidade e usam muito a bicicleta – uma coisa que sempre me chamou muito a atenção."
Tiago Rocha, produtor de Setor Complementar
Filmagens de “Setor Complementar” na Estrutural envolveram moradores

Pelas telas do Cine Brasília, espectadores também conheceram os bastidores dos concursos de miss no Distrito Federal, no documentário “O Entorno da Beleza” (2012), de Dácia Ibiapina.

Além disso, no mesmo cinema, foi possível se aproximar da realidade dos catadores que trabalham no Lixão da Estrutural, pelas lentes de Webson Dias, no documentário “Cata(Dores)”, de 2011, e acompanhar as aventuras do adolescente Lucas ao encontrar, no mesmo lixão, um exemplar do livro “Assim Falou Zaratustra”, de Nietzsche, apresentadas pelo cineasta Fáuston da Silva no curta “Meu Amigo Nietzsche”, também de 2012.


Estereótipos
Na opinião de Webson Dias, é preciso haver um cuidado na hora de discutir estereótipos. “Muitas vezes, as pessoas se sentem ofendidas ao ver aquele retrato da cidade e reclamam do olhar de fora. Mas você tem que ficar com raiva da foto ou da realidade? A gente procura sempre mostrar o desafio de se filmar de forma respeitosa, mas crítica, só que sem ser fatalista”, diz.
Quase sempre, se você der um equipamento para esses jovens da cidade mostrarem a visão que eles têm dessa periferia, eles vão reproduzir uma visão estereotipada, porque é como eles se veem representados."
Webson Dias, diretor de Cata(dores)

Fáuston gosta de falar de
 superação e esperança

De acordo com Fáuston, uma de suas bandeiras é filmar na periferia sem reforçar estereótipos de violência e criminalidade geralmente associados às cidades. “Você pega Cidade de Deus, por exemplo. É um filme muito forte, que o mundo inteiro gosta, mas do qual a cidade não se orgulha. Nos filmes que eu faço, espero que as pessoas se orgulhem. São filmes que falam sobre superação, sobre esperança”, explica o cineasta, que é morador de Ceilândia.

Em “Ácido Acético” (2014), Fáuston se aproveita do estigma de cidade violenta associado à Estrutural para brincar com a quebra de expectativas e surpreender o espectador.

Quando escrevi ‘Meu Amigo Nietzsche’, queria que pela primeira vez a cidade fosse filmada com uma abordagem que tivesse poesia, valorização, respeito. No meio da filmagem, veio uma pessoa saber o que a gente estava fazendo e, quando ouviu o nome do filme, perguntou quem era esse tal de Nietzsche, se era um traficante. Ou seja, tem um problema de autoestima, e em como as pessoas se enxergam, muito grande. A gente não pode reforçar isso."
Fáuston da Silva, cineasta.

Filmografia da Estrutural
  • “Cata(dores)” (2011): Webson Dias
  • “O Entorno da Beleza” (2012): Dácia Ibiapina
  • “Meu Amigo Nietzsche” (2012) e “Ácido Acético” (2014): Fáuston Silva
  • “Agindo sem Pensar” (2012) e “Marcas da Dor” (2014): Ronaldo Rocha
  • “Meu nome é Johnny” (2013): Ivan Viana Costa, Petronio Neto e Tiago Rocha
  • “Restrutural” (2014): Marcelo Díaz
  • “Setor Complementar” (2015): Tiago Rocha

_________________________________________________________
MEL BLEIL GALLO



Fonte: Metropoles

Ceilândia é a cidade com mais registros de violência doméstica no DF em 2014


Levantamento realizado pelo MPDFT reúne dados de inquéritos policiais e denúncias de violência contra mulheres

Em 2014, mais da metade dos casos de violência doméstica no Distrito Federal se concentraram em apenas cinco regiões. De um total de 12.866 registros, as áreas com mais ocorrências, 62% do total, foram Ceilândia, com 2.077; seguida por Brasília, com 2.028; Taguatinga, com 1.381; Samambaia, com 1.346; e Planaltina, que totalizou 1.185. Os dados são resultado de um levantamento que contabilizou os inquéritos policiais (IPs) e os termos circunstanciados (TCs) recebidos pelo Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) nos últimos nove anos.


Segundo o coordenador do Núcleo de Gênero Pró-Mulher, promotor de Justiça Thiago Pierobom, é a primeira vez que esse mapeamento anual do MPDFT é realizado com estatísticas por circunscrições. No levantamento, chama a atenção o elevado quantitativo em Brasília. “As pessoas têm uma visão equivocada de que na área central não há grande incidência de violência doméstica. Além disso, a circunscrição de Brasília contempla não só o Plano Piloto, mas também Cruzeiro, Lago Sul, Lago Norte, Sudoeste/Octogonal, Varjão, Jardim Botânico, Setor de Indústria e Estrutural”, explicou.

Denúncias oferecidas

O levantamento consolidou também as denúncias oferecidas pelo MPDFT de 2006 a 2014. Nos últimos nove anos, os números saltaram de 113, em 2006, para 5.683, em 2014, um aumento superior a 5.000%. Apesar da expressiva diferença ao longo dos anos, entre 2013 e 2014 verificou-se um pequeno aumento de 5.651 para 5.683 denúncias ajuizadas. Atualmente, o MPDFT possui 40 Promotorias de Justiça especializadas no enfrentamento à violência doméstica. Segundo Pierobom, o DF é a Unidade da Federação com o maior número de promotorias especializadas e varas especializadas por habitante.


“Nesses nove anos, é notório o crescimento de inquéritos policiais instaurados e de denúncias oferecidas. Antes da Lei Maria da Penha eram incipientes as estatísticas sobre violência doméstica. O aumento de denúncias não representa, necessariamente, um aumento dos casos no DF, mas uma disposição maior das mulheres em denunciar, procurar ajuda. Já a relativa estabilização dos últimos dois anos precisa ser acompanhada ao longo do tempo antes de se chegar a uma conclusão sobre o motivo”, explica o promotor de Justiça.

O aumento de denúncias oferecidas pelo MPDFT acompanha o crescimento do volume de inquéritos policiais (IPs) e termos circunstanciados (TCs) recebidos pelo órgão. Se em 2006 foram apenas 10 novos IPs, o número cresceu ano após ano. Em 2007, foram 349; saltando para 3.497 em 2008; 4.389 em 2009; 6.390 em 2010; 8.386 em 2011; 10.635 em 2012; 11.675 em 2013 e, finalmente, 12.312 novos inquéritos recebidos pelas Promotorias de Justiça em 2014. Totalizando, nos últimos nove anos mais de 57 mil novos processos. No último ano, 2014, os crimes mais registrados foram de ameaça (7.188); injúria (6.213); lesão corporal (4.155); via de fato (1.659) e perturbação da tranquilidade (659).


“Existe uma discrepância entre o total de inquéritos e as denúncias ajuizadas pelo fato de a legislação permitir, em determinados casos, a desistência da vítima em prosseguir com o processo, como nos casos de ameça ou injúria, apesar de o Ministério Público sempre incentivar a devida responsabilização pelo crime. Pode haver também o arquivamento por falta de provas”, explica Pierobom. O promotor de Justiça acrescenta ainda que apesar dos avanços obtidos pelas mulheres na defesa de seus direitos, a violência ainda é um grave problema social. “Muitas vezes, por medo ou por intimidações diversas, as vítimas de violência doméstica continuam sem denunciar os agressores ou deixam de colaborar ao longo do processo. Compreender o ciclo da violência doméstica é essencial”.

Ligue 180

De acordo com o Balanço 2014 realizado pela Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, o Distrito Federal foi o que mais procurou o Ligue 180, seguido de Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Amapá. No ano passado, a Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 realizou 485.105 atendimentos, uma média de 40.425 atendimentos ao mês e 1.348 ao dia. Desde a criação do serviço em 2005, foram mais de 4 milhões de atendimentos.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Campanha arrecada livros e faz batalha de poesias com presas da Colmeia

COLETIVO EXPRESSÃO/FESTIVAL LATINIDADES

Doações para internas do presídio podem ser feitas até segunda-feira (21/9)

por MEL GALLO*,
Na próxima terça-feira (22/9), uma batalha de poesias tomará conta da Colmeia, a Penitenciária Feminina do Distrito Federal. No dia, também serão doados livros em prosa e verso – ficção, não-ficção e poesia – que estão sendo arrecadados pelo Projeto Asas, da Secretaria de Cultura do DF (Secult), em parceria com o movimento Slam das Minas.

A atriz e poetisa Meimei Bastos, de 24 anos, é uma das que visitarão o presídio. Moradora de Samambaia, ela explica que o slam é uma batalha de poesias de origem periférica. “Mas não é uma batalha contra, é uma batalha junto. Da forma como eu vejo, essa é uma forma de fortalecer as mulheres que estão ali dentro. Por mais que elas estejam na condição de encarceradas, como se o Estado quisesse esquecê-las, quando você leva um livro, uma poesia, você liberta não só o indivíduo, você liberta a mente.”

Batalha de poesias realizada pelo Slam das Minas,
 no Festival Latinidades 2015
Na opinião de Meimei, a atividade é uma maneira de dar visibilidade ao que acontece na Colmeia. “Não que eu saiba ou sinta na pele como é. Mas participar do slam dentro de uma penitenciária, para mim, é muito especial. São as mulheres da minha quebrada que estão lá. São minhas amigas de infância, minhas parceiras”, conta.

Segundo a coordenadora da iniciativa, a subsecretaria de Cidadania e Diversidade Cultural da Secult, Jaqueline Fernandes, havia um receio inicial de que o projeto enfrentaria resistência entre as mulheres em situação prisional. Ela afirma, entretanto, que as quatro primeiras edições do projeto provaram o contrário.

“Acho que as idas têm funcionado como um estímulo, sempre. Isso fica nítido nos depoimentos delas, na troca, na generosidade de participação em todas as atividades”, conta Jaqueline. “Não é um projeto de inclusão cultural, como dizem, porque a gente tem consciência de que todas as pessoas produzem cultura e de que, na penitenciária, existem muitas mulheres artistas. Nós queremos levar momentos de entretenimento e troca cultural.”

A subsecretaria de Cidadania e Diversidade Cultural do DF,
 Jaqueline Fernandes
De acordo com a subsecretaria, esta fase do projeto ainda é uma versão piloto. No futuro, a intenção é estruturar um programa de capacitação profissional nas áreas de cultura, economia criativa e acessibilidade cultural.

“Acho que a arte, ali, tem um significado mais profundo de transformação. É uma realidade muito pesada. São mais de 700 internas em uma penitenciária que tem capacidade para metade disso”, diz Jaqueline. Em dezembro, a ideia é encerrar a fase piloto da iniciativa com uma apresentação da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro, para todas as mulheres da Colmeia.

Serviço
Doação de livros à Colmeia – Penitenciária Feminina do DF
O quê? Livros diversos, com preferência para romance e poesia
Prazo: Segunda-feira (21/9)
Pontos de entrega: É possível deixar os livros na Secretaria de Cultura (Teatro Nacional) ou com alguma das organizadoras.
Contato: 8216-7310

Fonte: Metropoles

Política nacional para saúde da população negra traz avanços, porém precisa ser mais divulgada


Política nacional para saúde da população negra traz avanços, porém precisa ser mais divulgada

Por Emídia Felipe, 
Há seis anos, a questão racial tem recebido mais atenção quando se fala em saúde. Desde 2009, quando o Ministério da Saúde começou a implementar a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN), diversos avanços foram alcançados, como campanhas focadas nos profissionais e coleta de dados específicos. No entanto, para representantes de movimentos sociais e pesquisadores, é preciso maior divulgação e consistência nas ações para que o preconceito pare de afetar o atendimento e o tratamento de pacientes.

Kátia Souto, do Ministério da Saúde, afirma que tema foi melhor
 pautado em 2014  (Imagem: Karina Zambrana/SGEP-MS)
Com gestão compartilhada entre os municípios e os governos Federal e Estadual, a PNSIPN tem como meta principal o esforço para “reverter as desigualdades étnico-raciais e o racismo institucional que funcionam como determinantes sociais das condições de saúde dessa população”, como esclarece o Ministério da Saúde (MS).“O Ministério da Saúde compreende que o racismo esta presente na sociedade brasileira como um todo e, por tanto também está presente no SUS. Sendo o racismo institucional diretamente ligado à forma como a sociedade está estruturada e com a falta de reconhecimento da cidadania plena da população negra, impedindo-a de acessar integralmente bens e serviços, sendo que essa realidade também se expressa na saúde” diz a coordenadora do Departamento de Apoio à Gestão Participativa (Dagep), do MS, Kátia Souto.

Para ela, entre as principais conquistas da política estão a criação de uma capítulo dedicado à saúde dentro do Estatuto da Igualdade Racial; a pactuação do 2º Plano Operativo na Comissão de Intergestores Tripartite, que tem por objetivo estabelecer estratégias de aplicação desta política; e a campanha Não fique em silêncio – Racismo faz mal à saúde. “O Ministério teve a coragem de pautar esse tema em 2014, ano em que ocorreram vários casos de racismo no País e no mundo, especialmente no esporte”, destaca Kátia Souto. Ela lembra que campanha sensibiliza profissionais e usuários do SUS e faz o alerta de que a discriminação racial muitas vezes contribui para o processo de adoecimento, e que ela também se reproduz nos espaços de saúde do SUS.

Além da questão do preconceito, a população negra tem necessidades especiais de saúde. Doenças como diabetes, hipertensão arterial e miomas são mais comuns entre negros. Por isso, outros aspectos da PNSIPN são importantes, como o incentivo à pesquisa e à coleta de dados que possam basear novas ações. Informações da Secretaria de Vigilância em Saúde, por exemplo, mostram que em 2013, o coeficiente de detecção de casos novos de hanseníase na população negra (pretos e pardos) foi de 20,6/100 mil habitantes, representando um total de 21.645 casos novos. Já entre os não negros (brancos, amarelos e indígenas) foi de 17,8/100 mil habitantes (8.711 casos novos).

Para Ângela Brito, da Faculdade de Medicina de Alagoas,
 é preciso dar mais visibilidade à política de saúde da população negra

Ajustes necessários

A professora Ângela Maria Benedita Bahia de Brito, da Faculdade de Medicina de Alagoas reafirma o papel importante da PNSIPN. No entanto, para ela, é preciso dar maior visibilidade às mensagens e às ações dessa política. “Essas abordagens necessitam ser mais eficientes, firmes e constantes. O racismo está presente todos os dias, todas as horas”, lembra a pesquisadora e militante. 

Entre outras experiências com a difusão desse conhecimento entre profissionais de saúde, Ângela Brito exemplifica com um caso que ocorreu na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Alagoas, onde é oferecida a disciplina eletiva no Mestrado profissional Raça, racismo institucional, ensino a práticas na saúde. “Apresentei a PNSIPN e durante a discussão citei a campanha do SUS com a visualização do cartaz. A turma composta de enfermeiras, assistentes sociais e outras ocupações profissionais, inclusive lotadas no hospital universitário, não tinham conhecimento do fato”, conta.

Posição semelhante à da pesquisadora, militante e editora do blog População Negra e Saúde, a enfermeira Emanuelle Góes. Ela também acompanha a PNSIPN e concorda com o impacto benéfico, afirmando que os movimentos sociais têm sido incluídos nas discussões. “O que observo que há uma oscilação da implementação da política”, explica. O exemplo que ela dá é de um caso que considera emblemático: “Em um município como Salvador, onde a política parecia consolidada (foi o primeiro município a implementar e produzir ações com resultados de impacto), hoje parece que nem existe, parece que se esvaiu”, revela. Em contrapartida, relata a enfermeira, em estados do Sul do Brasil os ganhos têm sido mais constantes.

Setor privado

Outro desafio, que vai além da PNSIPN no âmbito do SUS, é a rede privada. Para Ângela Brito, nesse ambiente a população negra é ainda mais afetada, seja com o preconceito ou com omissão de dados importantes para mapeamento das doenças que afetam mais a raça. “Nas unidades particulares o racismo se apresenta mais cruel e discriminatório”, ressalta a pesquisadora, que fala sobre outra situação, desta vez no Projeto Glaucoma, desenvolvido pelo SUS em clinicas oftalmológicas. “Embora a doença seja prevalente da população negra, o projeto não é voltado, especificamente, para ela. O que mais chama atenção é a não declaração do quesito cor. Como faço parte desse projeto, questionei a atendente, ao preencher a ficha, e ela disse ‘não ser necessário, porque ele sabem que a maioria é negra’. Acredito que esses ‘pequenos’ detalhes irão fazer a diferença nos dados estatísticos”.


No serviço de saúde particular, as questões questões 
discriminatórias ligadas à raça são ainda mais complexas,
 segundo Emanuelle Góes
Emanuelle Góes diz que ainda é complicado ter acesso e identificar questões discriminatórias ligadas à raça em um serviço privado, por isso as informações sobre este assunto são de difícil acesso. Contudo, também chama a atenção para a não determinação da cor do paciente na rede particular. 

Para ela, esse comportamento também está ligado a uma desconexão entre público e privado na saúde. “A questão são os limites e os interesses primeiro da negação do racismo, tanto no espaço público ou privado, e segundo a esfera privada não se sente parte do SUS e não se sente obrigada a seguir as políticas do SUS, a não ser quando tem a ver com financiamento/recurso. Pelo menos essa é a minha sensação”, opina a pesquisadora.

Para ambas as militantes, em todas as questões envolvidas é necessário que a PNSIPN chegue de modo mais amplo e claro aos profissionais e aos pacientes. “A política ainda precisa alcançar a ponta, as pessoas, as comunidades de forma efetiva. Precisa descer e chegar e fazer parte da rotina do atendimento e do cuidado”, comenta Emanuelle Góes. “O que realmente nos falta é a divulgação dessa política para a população, de forma geral, nos meios de comunicação. Não só na mídia especializada, mas em meios mais populares. Sei que é difícil tarefa, mas é necessário que o assunto seja “popularizado” e, aí sim, discutido”, completa Ângela Brito.

Confira o vídeo oficial da campanha de enfrentamento de racismo no SUS:

Defesa Civil declara estado de emergência no DF; umidade chegou a 11%

Para esta segunda-feira (21/9), a previsão é de umidade também a 15% e temperatura máxima de 34ºC

A Defesa Civil declarou neste domingo (20/9) estado de emergência no Distrito Federal por causa do tempo seco e úmido registrado durante o fim de semana. O órgão divulgou nota em que afirma que a umidade relativa do ar atingiu o índice mínimo de 11% em dois dias consecutivos. No início de setembro, o órgão havia decretado estado de alerta na capital federal também por causa da baixa umidade do ar.

No entanto, os dados da Defesa Civil e do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) apresentaram diferenças. Para o Inmet a taxa caiu a 15%, no sábado, e a 14%, hoje. Para esta segunda-feira (21/9), segundo o instituto, a previsão é de umidade também a 15% e temperatura máxima de 34ºC.

O clima seco favorece ainda as queimadas. Na primeira semana de setembro, a capital federal registrou mais áreas destruídas pelo fogo do que em todo o ano passado. Desde o começo de 2015 até o dia 3, o Corpo de Bombeiros combateu 7.522,24 hectares de regiões atingidas pelas chamas. O valor supera em 12 hectares o ano de 2014, quando o total foi de 7.414,47. Em agosto, foram registrados uma média de 49 casos por dia.