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sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Marighella (Filme 2012)


Carlos Marighella foi o maior inimigo da ditadura militar no Brasil. Este líder comunista e parlamentar foi preso e torturado, e tornou-se famoso por ter redigido o Manual do Guerrilheiro Urbano.Maior nome da militância de esquerda no Brasil dos anos 60, Carlos Marighella atuou nos principais acontecimentos políticos do Brasil entre os anos 1930 e 1969 e foi considerado o inimigo número 1 da ditadura militar brasileira. Líder comunista, vítima de prisões e tortura, parlamentar, autor do mundialmente traduzido "Manual do Guerrilheiro Urbano", sua vida foi um grande ato de resistência e coragem.

Dirigido por sua sobrinha Isa Grinspum Ferraz, o longa-metragem Marighella é uma construção histórica e afetiva desse homem que dedicou sua vida a pensar o Brasil e a transformá-lo através de sua ação. Assista:


Mês da Consciência Negra - Brasília 2013 | GOG


SÃO SEBASTIÃO
29 de novembro
Sexta-feira 
Local: Parque de Exposições Agropecuárias
17h - Shows com Timbalada, GOG e Alinea 11 e Som e Cidadania 
ENTRADA FRANCA!!!!!

Programação Completa Aqui - http://www.sepir.df.gov.br/

Fonte: SEPIR.

Rapper Dexter fala sobre o Dia da Consciência Negra

O rapper Dexter foi uma das atrações do evento Consciência Negra em São Paulo, no Vale do Anhangabaú




Por Natália Albertoni, de São Paulo,
"Como diz Jorge Ben, 'o negro é lindo'. Todos os pretos e pretas precisam saber disso. O Dia da Consciência Negra tem que ser todos os dias", diz o rapper Dexter em entrevista ao "Guia". O músico se apresentou no evento Consciência Negra em São Paulo, que recebeu shows e outras atividades no Vale do Anhangabaú, região central da cidade. 

Desde 1990 no cenário do hip-hop nacional, Dexter compôs seus primeiros trabalhos influenciado por nomes como Public Enemy, NWA, Kool Moe Dee e Racionais MC's. Depois de cometer o segundo assalto para levantar dinheiro para a gravação de um disco, ele foi preso. Em 1999, já no Carandiru, ele fundou o grupo 509-E e produziu "Provérbios 13" e "MMII DC (2002 Depois de Cristo)". Em carreira solo desde 2005, lançou "Exilado Sim, Preso Não", e, em 2009, "Dexter & Convidados". Abaixo, confira a entrevista com o rapper:

Guia - Poderia me falar os nomes de jovens rappers e onde eu poderia ouvi-los?
Dexter - Essa molecada nova faz rap há um certo tempo, mas não sai na mídia. O X da Questão, de Sorocaba, é muito bom. Tem letras politizadas. Você escuta mais em festas da periferia. No dia 19 de novembro vô tá lá em Sorocaba e eles tocam também. É uma oportunidade de ver. O grupo Pregadores do Gueto, da zona leste, tem uma veia gospel. Eles são crentes e as músicas falam muito do poder de Deus. Gosto bastante, tem um público específico.

E cinco lugares na periferia para fazer um rolê de São Paulo?
Dexter - Vamos lá.
1-Campo do Guaianases, na zona leste. Além de jogar uma bola lá, a gente reúne um pessoal que gosta de rap e de samba pra fazer um som. A gente tá lá todo domingo.

2- A padaria Pingo de Mel lá na Paulo Faccine, em Guarulhos. O dono curte rap lá. Gosto de colar.

3-Vila Fundão, no Capão Redondo, na zona sul. Tem a loja Fundão lá, onde a gente pode comprar uns panos, fazer o dinheiro circular entre a gente. Vou na loja da Fundão sempre que tenho tempo. É um ponto de cultura.

4-Casa do DJ Kaiki, em Santana, na zona norte. Eu gosto de colar para curtir um som. Lá ouvimos coisas novas. É a casa dele mesmo, mas é só procurar que ele recebe de braços abertos.

5-Casa Azul, no Capão Redondo, na zona sul. Fica na avenida Sabin. O [Mano] Brown sempre faz um som. Tem a loja do Ferrez, sempre olho pra ver a moda periférica, pra saber o que a rapaziada ta vestindo.

O que acha da "desmarginalização" do rap?
Dexter - Eu acho que chegou a hora de entenderem que o rap é musica boa. O rap tem que estar onde o povo está. Nossa música é boa, os playboy estão ouvindo também, os sociólogos... O rap é a música do povo.

Qual a importância de ter um dia da Consciência Negra?
Dexter - É importante. Acho que o Brasil deve isso ao nosso povo, que trabalhou pra construir esse pais. Zumbi é um grande herói, é simbólico. Porque o Dia da Consciência Negra tem que ser todos os dias. Todos têm que ter essa consciência da valorização do nosso povo. O negro tem que ser auto-valorizar. Como diz o Jorge Ben, "o negro é lindo". Todos os pretos e pretas precisam saber disso. Nossa história é repleta de reis e rainhas. Não é o que os livros didáticos mostram, nem a TV. Eu comemoro, não a consciência, mas imortalidade de um homem que morreu pelo seu povo. Eu comemoro a imortalidade Zumbi. Somos 70% nesse país. Por que somos minoria nos canais de TV, nas redações? Temos que valorizar o homem e a mulher negra. Não podemos aceitar o que o sistema nos colocou desde a libertação. Temos que contrariar a estatística.

Por que você foi preso? Li que tem algo a ver com 7 assaltos...
Dexter - 6 assaltos. Foi por amor que eu empunhei uma arma. Eu queria propagar minha ideia através da música. A gente recebeu o convite de uma gravadora e pouco depois, já em estúdio, um sócio roubou o outro. O cara que tinha contratado a gente disse que não ia mais poder gravar. Fiquei frustrado. Sempre tive disposição pra correr e pra trabalhar. Resolvi fazer minha própria corrida. Infelizmente, ou felizmente, porque Deus tem um caminho pra cada um de nós. Meu segundo assalto deu errado e daí em diante... fui preso, fugi, cometi mais quatro assaltos em dois dias. Quando voltei preso, decidi que não queria mais isso.

Mas quando você fala que foi por amor... está legitimando o que fez?
Dexter - Não de maneira nenhuma. Quando fui preso, eu era um jovem de 24 anos. Na minha mentalidade da época, eu precisava de dinheiro e precisava arrumar da maneira mais rápida. Era a maneira mais fácil. Hoje tenho 40. Não penso mais assim. Vi jovens morrendo cedo. A prisão é outro mundo, é outra coisa. O hip-hop me fez crescer.

Pq o grupo 509-E acabou?
Dexter - Não gosto muito de falar sobre isso. Cada um seguiu sua vida.. O grupo acabou e a decisão foi minha. O Afro X [membro da antiga banda] saiu da prisão e decidiu trilhar uma caminhada que não era a minha. Eu fui cuidar da minha vida. O hip-hop é uma cultura de transformação. E quem foge disso está fora do meu contexto...

E o projeto de ressocialização de sentenciados Como Vai Seu Mundo? Como vai funcionar?
Dexter - Trabalhamos dois anos e meio com esse projeto, mas por motivos burocráticos paramos. Estamos estudando a melhor forma de voltar, falando com a secretaria da Igualdade Racial.

A ideia é apresentar a arte como uma possibilidade, acender a chama de esperança dessas pessoas que deveriam ser assistidas pelo Estado. O hip-hop está inserido, oficinas de fotografia, de vídeo, de jornal também.

Vocês notaram mudanças no período que o projeto estava ativo?
Dexter - O sangue daqui a pouco não vai tá debaixo da ponte, vai tá jorrando. O crime está crescendo muito. Nos dois anos e meio que a gente produziu na penitenciária de Guarulhos, a gente viu pessoas que ficavam o dia inteiro jogando bola e fumando maconha, produzindo quadros, fazendo música. Elas precisam de uma nova chance. Não podem sair de lá e continuar sendo quem elas são. A gente tá cansado de ver o crime na TV e no jornal. Eu sou um rapper, eu faço parte da cultura do hip-hop, que me salvou e salvou um monte de gente da minha geração. Claro que ninguém é obrigado a nada. Estamos levando uma oportunidade de transformação, de sobrevivência. A ideia é retomar no ano que vem.

Tem alguma mudança?
Dexter - A gente trabalhava no semi-aberto, que é o período em que o reeducando tá com o pé na rua e outro na prisão. É um momento de muita importância, que ele vai decidir o que fazer. A gente também vai começar a atender pessoas em regime fechado. O que é muito bom. Passei 13 anos dentro da prisão. Foi com o hip-hop que eu consegui confiança. Mas é claro que hoje, somos só formiguinhas... A tendência é que lá na frente isso vire política pública, possa ser feito em outros presídios. A ideia é propagar a ressocialização. Porque é muito difícil falar de inserção para pessoas que nem sequer foram inseridas... Sempre vivemos à margem. A gente leva diversas atividades para que esses indivíduos se descubram. Se ele ficar nessa [no crime], ele vai morrer. Na mão da polícia ou na mão do crime.

Fonte: Folha.

A grande jogada da Nike contra o racismo

Vale a pena relembrar o caso que ajudou a marca a recuperar parte da reputação perdida após escândalos relacionados ao uso de trabalho infantil.


Na última quarta-feira (20) foi celebrado o Dia Nacional da Consciência Negra em algumas cidades brasileiras, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. O motivo é que nesta data, no ano de 1695, Zumbi dos Palmares, escravo que liderava a luta contra a escravidão, foi assassinado. Os anos se passaram e o mundo superou grande parte da questão da escravidão, mas o problema social do racismo continua e já invadiu inúmeras vezes o campo do esporte. No inicio deste ano, por exemplo, os jogadores do Milan (ITA) abandonaram uma partida amistosa por conta de ofensas racistas da torcida contra os jogadores negros no estádio.

Acontece que o esporte é uma maneira de unir as pessoas e não segrega-las. O trabalho mais marcante neste aspecto não foi da entidade máxima do futebol, a Fifa, mas sim da Nike, com uma brilhante #jogadadomarketing. Quem não se lembra da campanha "Stand Up Speak Up" protagonizada primeiramente pelo jogador francês Henry e depois por craques de várias nacionalidades? O símbolo da ação são as duas pulseiras interligadas, uma preta e a outra branca. Grandes jogadores começaram a utilizar o adorno em jogos oficiais, o que gerou uma mídia espontânea muito forte e evidente.

Cerca de 5 milhões dessas pulseiras foram vendidas em toda a Europa e outras milhões distribuídas por outros países do mundo. Todos os recursos arrecadados foram repassados para uma instituição "Stand Up Speak Up", que apoia iniciativas para combater o racismo no esporte.

O que muita gente não sabe é que a Nike já viveu uma crise de imagem muito forte, quando no fim de 1997 um relatório divulgado pelo Corpwatch mostrava trabalhadores submetidos a trabalhos escravos para produção de mercadorias da marca, e o pior, a maioria era composta por crianças com idades entre 12 a 14 anos. O que se sabe é que além de ser uma boa sacada e ter uma finalidade nobre, "Stand Up Speak Up" contribuiu para que parte da recuperação da imagem e reputação da marca fosse atingida.

Relembre um dos vídeos da campanha:


Fonte: Jogada do Marketing.

Livro retrata comunidades negras do Goiás

Valec conta a história dos quilombos Palmeiras e Vó Rita, que abrigarão em seu território trechos da Ferrovia Norte-Sul 








Com o apoio da Fundação Cultural Palmares (FCP), a empresa Valec Engenharia, Construções e Ferrovias S.A. lançou no dia 22 de novembro o livro Caminhos Tecem Sonhos. Duas histórias, uma herança: as comunidades negra de Palmeiras e Vó Rita, em Goiás. Pessoas que como Adão Lázaro Batista, também conhecido como seu Sara, Neide Alves de Oliveira e Luzia de Fátima Basílio resistem para preservar a história e a cultura de seu povo. A obra partiu de um diagnóstico solicitado pela FCP à empresa, como condicionante para o licenciamento à construção de um dos trechos da Ferrovia Norte-Sul. O documento deveria registrar de que forma as obras impactariam as comunidades. Porém, o levantamento ficou tão completo e interessante que a Valec decidiu revertê-lo em apoio aos quilombos por meio da divulgação de sua história. O material traz detalhes do cotidiano, dos costumes e tradições dos dois povos. Por exemplo, entre as memórias históricas dos quilombolas de Palmeiras de Goiás está um fato curioso: por se localizarem em uma área isolada, os negros da região não tomaram conhecimento da assinatura da Lei Áurea e permaneceram como escravos por muitos anos. Com tiragem de mil exemplares, ele será distribuído nas comunidades quilombolas e nas escolas e prefeituras municipais de toda a extensão sul da Ferrovia. 

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Era só dizer não: Sharon Menezes!


Por Arturo Bonandi, para CENPAH,
     Começo este breve artigo com duas premissas: Não sou brasileiro. Não sou negro. Em si, estas duas afirmações são suficientes para que alguém desqualifique o que vai ser colocado neste artigo. Mesmo assim, eu vou escrever, com ou sem erros de ortografia e sintaxe. Anteontem fui navegar no meu instagram. O que que eu encontro na pagina da Sharon Menezes, que admiro muito pela sua profissionalidade, beleza e coragem de estar trabalhando num canal da televisão como a Globo??? Vocês podem ver na foto a seguir.



     Fiquei de queixo caído, e não pelos traseiros em mostra, coisa que deve ter deixado muit@s babando, se não, pelo flash back de uma imagem como essa. Pode ser que a minha imaginação seja bem fervida, mas de repente me senti no meio de um mercado publico da época colonial. Mesmos sorriso, mesma carne em exposição, mesma linguagem desviante que só quer vender um produto, esta vez com o consenso da própria mercadoria. Tirando o fato que a Globo continua vendendo a imagem de que o carnaval não tem nada a ver com a discussão de temas, com o esforço de fazer memória da historia do mundo, com a afirmação da cultura negra e por isso todo ano coloca uma mulher pelada na telinha, reforçando a ideia de que as “mulatas” servem somente pra isso; fica a pergunta do porque isso acontece justamente no mês da consciência negra. Claro, entendo que aqueles que se revestem do machismo como arma para afirmar sua masculinidade acham isso “fantástico” e provavelmente adorariam ver mais. Porém, este artigo não quer falar deste assunto.

     Eu quero é falar, ou melhor, desabafar e questionar a escolha da Sharon Menezes. Sabemos que na historia dos negr@s brasileir@s sempre houve pessoas negr@as que se associaram ao poder dominante. Isso foi causa de traições, assassinatos, desgraças para muitos brasileir@s negr@s. Fazer que o mesmo negro assumisse o trabalho sujo do seu dominador foi uma estratégia que ainda hoje encontramos nas estruturas deste país. Negro matando negro, negro acusando negro. Agora, negro vendendo negro??? Achava que esta postura de sobrevivência dos afrodescendentes dentro da história brasileira tivesse diminuído, ou melhor, que a consciência da população afro-brasileira, especialmente aquela que tem um papel visível e de referência, tivesse suficiente força para dizer não. Mas eu estava errado, e como estou errado. Me pergunto: o que leva uma mulher negra já afirmada, já, imagino pelo cachê que recebem os atores, com uma certa segurança econômica, aceitar um papel no qual a sua própria “raça” vem sendo desvalorizada e, por cima, postar uma foto dessa num canal virtual acessado por milhões de pessoas (a fotografia já foi removida do instagram). E ainda tão importante aparecer na Globo as custas de milhões de mulheres negras que, no somente no Brasil, continuam sendo apresentadas como objetos de prazer e que são rebaixadas a serem usadas e desconsideradas nesta terra amaldiçoada pela racismo velado??? Um contrato coma GLOBO chega a comprar a consciência de qualquer um neste país???

     Talvez pelo fato dela ter a coragem de usar o cabelo cacheado deu me a impressão que ela era diferente e que podia fazer a diferença. Engano meu. E ai está ela com a cara no meio dos traseiros das “ mulatas”. E´ tão difícil dizer não Sharon Menezes??? Depois de tantas pessoas que lutaram para a igualdade neste país, é tão fácil deixar uma consciência ser comprada??? Ou talvez esteja escrevendo a mais uma consciência “embranquecida”.

A representação social da mulher negra nos programas de TV: do estereótipo à sexualização



Novembro Negro. Semana da Consciência Negra. Esse foi o advento que originou esse post.

Esse texto é uma versão revista e ampliada de uma palestra proferida por mim no dia 13 de novembro de 2013, na abertura da Semana da Consciência Negra da Escola Municipal da Palestina. Ao ver a imagem acima, pergunto: Qual mulher negra ao ver essa imagem consegue se identificar, ou melhor, quantas de nós, mulheres negras, olhamos no espelho e nos vemos desse jeito?

Imagino que a resposta das mulheres pretas que lerão esse post será negativa. Não. Eu não me identifico com essa imagem. Ou, não. Eu não sou o que vejo na imagem. Pois bem, é com essa enquete que levantarei alguns pontos pertinentes à representação social da mulher negra nos programas da televisão brasileira. Para tanto, farei uma breve digressão ao nosso passado escravista, a fim de compor o cabedal teórico suficiente para coadunar os pontos do que será apresentado adiante.

O Brasil viveu mais de trezentos anos, mais precisamente, trezentos e cinquenta oito anos de regime escravista negroafricana. A historiografia nos diz que homens, mulheres e crianças foram sequestradas de várias regiões de África e trazidas para o Brasil, a fim de servir o sistema comercial e exploratório que a escravidão perpetuou.

Mulheres africanas que aqui aportaram vilmente tiveram sua força de trabalho explorada, sua cultura expropriada, e sua sexualidade abusada.

Para atender as necessidades do regime em que foram postas, negras escravizadas desde muito cedo foram forçadas a trabalhar para garantir o conforto das mulheres brancas portuguesas – sinhás –, lavando, passando, cozinhando, cuidando dos filhos e servindo de ganhadeira (escrava de ganho; executavam atividades remuneradas, e entregavam a (o) senhor/senhora uma quota diária do pagamento recebido). E não somente isso, a escravizada também “servia” sexualmente ao seu senhor, que, por ser propriedade, era lhe dado o uso que fosse julgado conveniente, inclusive o de ser estuprada para satisfazer os impulsos sexuais dos senhores de engenho. E ainda há quem diga que as relações entre senhores brancos e escravizadas negras foram consensuais.

Para além da simples satisfação das taras sexuais dos senhores de engenho, dos filhos e dos cupinchas destes, muitas dessas mulheres eram engravidadas para gerar leite e servir de ama de leite aos filhos das sinhás, e seus filhos servirem de mão de obra escravizada para seu senhor. Ou seja, além de estupradas, seus filhos eram-lhe tirados do colo para servir de mercadoria, e produzir riqueza com sua força de trabalho. Ser escravizada a extrai do status de pessoa humana, e a condiciona ao papel social da bestial.

Ou seja, a violência sexual não era só uma questão de sadismo senhorial. Era uma prática inserida na ordem econômica da época.

Diante de todos esses destratos sociais pelos quais passavam as mulheres negras escravizadas durante os trezentos e cinquenta e oito anos de escravidão negroafricana no Brasil, o reforço à desintegração de sua identidade continua sendo veementemente incorporado no tecido da sociedade brasileira, e se ancora nas estruturas sociais que preconizam sua inferioridade.

No avançar dos anos, a concepção de mulher negra construída pela escravidão a confere toda sorte de desprezo e desmazelo estrutural. E por conta disso, toda sorte de preconceitos e discriminações nos são lançadas.

As heranças escravistas deixaram marcas tão densas quanto as marcas de ferro nos seus corpos que as identificavam com as iniciais dos nomes da família que pertenciam.

Deste modo, o preconceito contra a mulher negra a restringe aos porões sociais mais profundos, lhe dizendo que: sua força de trabalho é maior, e assim pode ser explorada (“as negras são fortes”); seu tipo físico não é o padrão ou o desejável, e suas características físicas se tornam motivo de piada, e então é degenerada; és produto de consumo, o que remete a imagem da mulher como fonte de sexo fácil.


Perante o exposto, a mulher negra ocupa o mais baixo nível da escala social. E isso se dá nos postos de trabalho, nas relações matrimoniais – prova disso é a clarividente escolha dos jogadores de futebol, não só eles, às mulheres brancas para constituir relação afetiva matrimonial –, nas peças publicitárias, nos programas de TV (ver A Negação do Brasil), nos espaços de poder, e tantos outros que seu acesso é restringido.




É com base nesse espectro que as grandes mídias reorganizam esses destratos sociais, e aloja-os no mote dos estereótipos. Nessa linha, a representação social da mulher negra ampara-se no esteio dos resquícios escravistas presentes na nossa sociedade.

Nas peças publicitárias, isto se faz notório nas imagens abaixo:




“É pelo corpo que se conhece a verdadeira negra”. Essa é a mensagem que a Brasil Kirin Indústria de Bebidas S.A., detentora do logotipo da cerveja Devassa nos diz. Que a mulher negra é identificada pela suntuosidade do seu corpo, que reiteradamente é remetida à fonte de sexo fácil. A mulata faceira, que tem o molejo na cintura e exala o “cheiro exótico” para conquista de um bom homem.

As reminiscências do passado escravista vêm à tona numa peça publicitária de uma cerveja, o que nos mostra que a condição atual da mulher negra não sofreu um avanço positivo a ponto de reverter seu sentido representativo nos espaços públicos.

Sua sexualização se dá no sentido de conceder ao outro o direito de usufruir dos plenos poderes de usar e abusar do seu corpo como uma propriedade, e assim incidir nos pressupostos defendidos por Freyre (2006) quando definiu a serventia sexual da escravizada: (…) “Da que nos iniciou no amor físico e nos transmitiu, ao ranger da cama-de-vento, a primeira sensação completa de homem”.

Afinal de contas, como bem cantarolou Joaquim Silvério de Castro Barbosa, na marchinha de carnaval “O teu cabelo não nega”, sucesso do carnaval de 1932: “O teu cabelo não nega, mulata/Porque és mulata na cor/Mas como a cor não pega, mulata/Mulata eu quero o teu amor”.


Adiante, o grupo Bombril, numa campanha que visava “valorizar a mulher”, presenteou-nos com a peça “Mulheres que brilham”, e utilizou como imagem o estereótipo da mulher negra, e o seu cabelo crespo associado à lã de aço que vende no mercado.


Tão acintosa quanto a peça publicitária é tirar-nos o direito de reconhecimento de nossa identidade para aceitação e construção da autoestima da mulher negra que é tão destruída.

Afrontar-nos de modo tão vil. Essa foi a intenção do grupo Bombril ao criar a peça num país que é o segundo maior consumidor de cosméticos do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos. Pois os padrões de beleza construídos aqui nos diz que temos de ser branca, ter cabelos lisos e sedosos. Tão logo, ter cabelo crespo não significa estar dentro do padrão de beleza exigido.

Mas não foi só esse grupo que afirmou isso num comercial. A marca Dove também deu suas tacadas na divulgação de mais um produto da sua linha de cosméticos amplamente comercializados no mundo.




Na imagem exibida acima, a marca Dove afirma que seu produto detém o poder de deixar sua pele linda e macia. Na imagem uma mulher negra é utilizada para representar o antes, e a mulher branca o depois do produto. E no fundo da tela, duas superfícies que representam a pele antes e após o uso do produto (áspera e lisa).

Creio que não há forma mais explícita de subjugar a mulher negra como não-ideal, pois no sentido em que se toca, esta tem a pele áspera, escura e indesejável podendo ser comparada a uma lixa de construção. Em contraproposta, a mulher branca é símbolo da beleza ideal. Pele lisa, clara, quase um porcelanato de tão liso e espelhado que ele possa transparecer. Essa peça publicitária só contribui para reforçar a imagem da mulher negra como “antimusas da sociedade”, como disse Sueli Carneiro.


A ordem social que vigora não só infere, mas remete a todo o momento que a mulher negra está sujeita a qualquer valoração que lhe possa ser feita.

Sua condição de usufruto perpetua uma série de barbáries e atentados violentos, e isso nos mostra quão vil sua imagem foi incutida no imaginário popular, e tem ajudado a fomentar toda má sorte que lhe é lançada.

O desprezo, o despropósito e o descaso com que são tratadas as achacam no pré-sal da dignidade humana.

Desfigurar suas características físicas, bem como debochá-las é um forma encontrada de não assegurar um poder de decisão sobre si. Pois uma mulher negra “não serve para casar”, está fadada a servir como stepsexual de homens incontrolados instintiva e sexualmente, e por isso tem que aceitar o que Deus lhe reservou, ou seja, qualquer um bem intencionado, ainda que não seja do seu agrado. O que vem a justificar os estupros, pois mulher negra (e feia) não tem escolha, tem sorte.

* * *

A imagem que segue abaixo compõe a seara do que tomamos como humor racista. Para tanto, me utilizarei dos programas de TV, que tem se constituído um solo fértil no que tange às construções negativas da mulher negra.


Julgo a imagem acima clássica por exibir Billy Van, personagem interpretado pelo “humorista” William H. West (1853-1902), um ícone norteamericano que representava o blackface nos espetáculos de Minstrel Show no início dos anos de 1900 nos EUA, associado a imagem de Rodrigo Sant’anna que representa a personagem Adelaide em 2013.

Minstrel Show era um espetáculo realizado por companhias de teatro compostas exclusivamente por atores brancos que pintavam suas faces de preto e faziam todo tipo de deboche no palco para configurar a imagem do negro na sociedade americana.

Importado dos EUA, como quase tudo que consumimos na televisão brasileira, o blackface passa a ser encenado por Rodrigo Sant’anna em Adelaide, que se transfigura de mulher negra, descabelada, desdentada, suja e mal instruída.

Temos aí mais um reforço ao estereótipo negativo construído acerca da mulher negra no Brasil.

Adiante, temos a representação negra feminina como símbolo do exagero, da macaca de circo representada por Priscila Marinho, na personagem “gentilmente” apelidada de “Chocotona”, na novela Aquele Beijo, de autoria de Miguel Falabella (o mesmo que adorava esculachar os costumes da pobreza no Sai de Baixo através do seu alter-ego Caco Antibes), exibida pela Rede Globo nos idos de 2011/2012.


Em sequência, temos a negra servil, que se ajoelha e pede perdão e leva um tapa da sinhá, na cena que foi ao ar em 20 de novembro de 2010, em mais uma novela Global, Viver a Vida. Um tapa na cara do Movimento Negro, na data em que se comemora o Dia da Consciência Negra.


Para além da ridicularização da mulher negra na figura da Chocotona, ou da servidão de Helena, interpretada por Taís Araújo, há também a hipersexualização da Globeleza, a mulata suntuosa de todos os carnavais que a emissora transmite. Ou ainda, as musas do carnaval exibidas no Caldeirão do Huck.



O que me causa estranheza, é o fato de que mulheres negras antes tidas como antimusas, ganham notoriedade no carnaval e passam a ser musas, e tem sua sexualidade exacerbada pela mídia. A TV brasileira, de fato, tem se especializado em arremessar a mulher negra nos mais improváveis valões sociais existentes, e concomitantemente reforça sua hipersexualização na figura da mulata rebolativa dos eventos carnavalescos.

Quem não se lembra do “Pi pi pi pi pi, olha o recalque!”, de Maria Vanúbia, interpretada por Roberta Rodrigues, na novela Salve Jorge, ano passado? A mulata faceira que tomava banho de sol na laje e fazia a alegria da vizinhança?


As desfigurações da mulher negra nos espaços de mídia no Brasil se dão no mais amplo leque a que possa se estender o racismo sem ódio.

As nuances do racismo se fazem presentes em diversas plataformas de comunicação. E como diz que a vida imita a arte, a estrutura racial na qual está dividia o país não deixa de ser representada nos programas de TV, nas peças publicitárias ou qualquer outro espaço inserido no seio da sociedade, pois o racismo se perfaz do arcabouço sistêmico social – precedente histórico escravista – para agir de modo contundente e dissimulado.

Na imagem abaixo temos mais um reforço ao estereótipo negativo à mulher negra transfigurado em modelos que usam peruca de lã de aço num desfile de moda organizado por Ronaldo Fraga. O renomado estilista com a pretensão de fazer uma “singela” homenagem à cultura negra põe perucas de lã de aço nas modelos.

Devo pensar. Se ele queria mesmo homenagear a cultura negra, por que não fazer um desfile com temas da cultura negra ou com modelos exclusivamente negras? Fica a dúvida.


Quem não se lembra da polêmica em torno da marca Cadiveu, que exibiu cartazes com fotos de pessoas de peruca black, e a seguinte frase: “Eu preciso de Cadiveu”?

Por que precisaríamos de Cadiveu para alisar nossos cabelos quando na verdade o que queremos é ser respeitada como somos: mulheres negras, de cabelos crespos e volumosos?


Até aqui foram elencadas uma série de situações envolvendo ataques à mulher negra. Seja quanto ao seu físico, ou até mesmo à sua sexualidade, e os fatores intrínsecos que acometem. Mas devo dizer que na tentativa de contrariar o que é dito, algumas mulheres seguem na contramão do preconceito e mostram que é possível reverter o cenário atual no que tange a representação social da mulher negra.

As mulheres negras têm contornado esse cenário, e desfeito sua objetificação no sentido de propor debates e trazer à tona uma ressignificação de sua imagem. 

Sendo assim...


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REFERÊNCIAS:
CARNEIRO, Sueli. Liberdade de Expressão e Diversidade de Gênero. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=IwdVISYxoSc. Acessado em 11/11/2013

CONCEIÇÃO, Fernando. Como fazer amor com o negro sem se cansar e outros textos para o debate contemporâneo da luta anti-racista no Brasil. São Paulo: Terceira Margem, 2005.

FREYRE, Gilberto. Casa grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. 51ª ed. São Paulo:Global, 2006.

GONÇALVES, Ana Maria. Carta aberta ao Ziraldo. Disponível emhttp://www.idelberavelar.com/archives/2011/02/carta_aberta_ao_ziraldo_por_ana_maria_goncalves.phpAcessado em 22/11/2013
Um defeito de cor. 6ªed. Rio de Janeiro:Record, 2010.

JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. 9ª ed. São Paulo:Ática, 2007.

LIBENCE, Paula. A vênus negra, a mulata exportação e o corpo da mulher negra na sociedade do espetáculo. Disponível em: http://escrevivencia.wordpress.com/2013/01/11/a-venus-negra-a-mulata-exportacao-e-o-corpo-da-mulher-negra-na-sociedade-do-espetaculo/. Acessado em 12/11/2013
Bonde das Maravilhas, a sexualidade da mulher negra e a hipocrisia nossa de cada dia. Disponível em: http://escrevivencia.wordpress.com/2013/05/17/bonde-das-maravilhas-a-sexualidade-da-mulher-negra-e-a-hipocrisia-nossa-de-cada-dia/. Acessado em 12/11/2013

SANTOS, Rogério. Racismo é engraçado? Disponível em: http://efemeridesbaianas.blogspot.com.br/search?q=racismo+%C3%A9+engra%C3%A7ado. Acessado em 12/11/2013
O sapatinho da Cinderela, o alisamento de cabelo e a opressão racista. Disponível emhttp://efemeridesbaianas.blogspot.com.br/2010/12/o-sapatinho-da-cinderela-o-alisamento.html. Acessado em 22/11/2013

Fonte: Escrevivência.

A cor do SUS


por LIGIA BAHIA,
Basta dizer com convicção que recurso público deveria ser usado para atender o público para ouvir a advertência: Está querendo nivelar por baixo. O sentido unívoco da chamada à conservação da ordem é o de que a coexistência entre a alta qualidade e a seleção dos que podem acessá-la é inevitável. É como se o progresso, a excelência, fossem devidos a conquistas pessoais e dedicação dos bons, e cobrassem o sacrifício dos médios e ruins. A transposição desse darwinismo social para a saúde justifica-se pela ideia de que de pouquinho em pouquinho os pobres sobem degraus de acesso a serviços de saúde progressivamente melhores. Mas o padrão assistencial dos ricos, que fica no topo da escada e a todos enche de orgulho, mesmo àqueles que nem em sonho poderão utilizá-lo, não é estático, não fica parado à espera dos passos rápidos ou lentos de melhoria das condições gerais de consumo.

O modelo 3 Cs (cartão de crédito, computador e carro) e outros bens e serviços não vale para a saúde. Sintomas e doenças podem ser agravados pela restrição de assistência ou pelo atendimento medíocre ou ruim. A alta qualidade para poucos combinada com a inferiorização ou invisibilização de grupos humanos trava avanços sociais. Os indígenas, pardos e negros que representam a maioria da população brasileira adoecem mais e morrem antes dos brancos. No entanto, a cor da minoria predomina nos considerados melhores estabelecimentos de saúde, que, não por acaso, são de direito ou de fato privados. Obviamente, o fenômeno não começa nem acaba em hospitais ou clínicas. Bairros, escolas, restaurantes e bares excelentes, nos quais inexiste placa vedando a entrada de todo e qualquer brasileiro, também são monocromáticos. A objeção às inespecificidades dos males do racismo é que a importância do reconhecimento de nossa humanidade comum e de diferenças culturais é condição essencial para conseguir viver a vida agora, já.

Discriminação, preconceito e estigmas são causas objetivas de adoecimento e morte. A mortalidade infantil de negros caiu drasticamente no sul rural após a aprovação da legislação sobre os direitos civis nos EUA em 1964. Mas as desigualdades na saúde entre brancos e negros americanos retornaram aos níveis anteriores nos anos 1980, com as políticas estigmatizantes de aprisionamento e guerra contra as drogas. Estudos recentes da Organização Mundial de Saúde evidenciaram que os diferenciais de depressão entre mulheres e homens são menores em países onde existem políticas de controle dos efeitos deletérios da ideologia de gênero.

Em 2011, quando foi instituído o Dia da Consciência Negra, o Brasil foi condenado pela Organização das Nações Unidas (ONU) por violar direitos humanos de grávidas. O fato que gerou a decisão foi a morte de Alyne Silva Pimentel, de 28 anos, negra, moradora da Baixada Fluminense, que faleceu em 2002, no sexto mês de gestação, por falta de atendimento apropriado pela rede pública. O tempo passou e as desigualdades na saúde não desapareceram. Recentemente, a Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial apresentou uma síntese das desvantagens dos negros em relação à saúde. Existe simultaneamente déficit e sobreuso de ações e serviços de saúde pela população negra (mais de 40% das negras nunca realizaram mamografia e 70% dos usuários do SUS são negros). A divulgação de denúncias e estatísticas sobre as desigualdades raciais é um passo essencial para reduzir e superar disparidades não econômicas na saúde. O que ainda não ficou claro no idioma governamental é como continuar a caminhada.

As concepções que consideram que somos iguais apesar das diferenças ou diferentes originam políticas públicas de saúde distintas. A diferença entre as tradições democráticas e liberais não é semântica. Um SUS exclusivamente ou predominantemente negro é uma solução ou um sintoma de discriminação? Os valores culturais que inferiorizam e impedem a paridade de participação na sociedade tais como leis matrimoniais que excluem a união entre pessoas do mesmo sexo, a rotulação de mães solteiras como irresponsáveis e associação entre raça negra e criminalidade afetam a saúde de todos.

Elizabeth Travassos, branca, doutora em antropologia, moradora de um bairro de classe média no Rio de Janeiro morreu em outubro de 2013 em decorrência de sequelas deixadas por uma simples cirurgia, para retirar um nódulo do útero, realizada em um hospital privado. As circunstâncias das mortes de Alyne e Elizabeth não são comparáveis. Entretanto, em ambos os casos, como em tantos outros, foram fornecidas informações imprecisas às famílias e houve uma demora injustificável para transferi-las para unidades de saúde mais bem equipadas. Um não está situado em uma escala evolutiva acima do outro. Uma hipótese que não pode ser descartada é que a segregação reduz a qualidade do sistema de saúde tanto de seu componente público quanto privado. Portanto, a identidade singular que nega a complexidade das interseções culturais e a ausência de validade biológica da noção de diversidade racial não tem sido tomada como parâmetro à organização de sistemas de saúde. O modelo dos EUA de escolas e universidades para negros não foi transposto a outras políticas sociais.

As tentativas de enfrentar a negação da humanidade comum que justificou a escravidão e se renova em novos formatos de apartheid na atenção à saúde requerem a afirmação da cidadania universal e necessidades especificas. O reconhecimento das necessidades comuns e específicas de saúde não é cortesia, privilégio ou benevolência. Não é razoável que os hospitais assassinem seus pacientes, sejam os mais ou menos abastados, e nem que o confinamento de conhecidos ou desconhecidos em um regime prisional ameace a integridade física de doentes graves. A saúde requer políticas baseadas na construção de uma humanidade compartilhada porque as pessoas não escolhem e tampouco são escolhidas, de modo meritocrático, para ficar doente, sofrer, sentir dor.

Fonte: Globo.

Presidenta Dilma Rousseff assina decreto que regulamenta SINAPIR


O Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial constitui uma forma de organização e de articulação voltadas à implementação do conjunto de políticas e serviços destinados a superar as desigualdades raciais existentes no País. Sinapir constitui uma forma de organização e de articulação voltadas à implementação do conjunto de políticas e serviços destinados a superar as desigualdades raciais existentes no País

A presidenta da República, Dilma Rousseff assinou, na abertura da III Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (III Conapir), o Decreto 8136/2013, que aprova o regulamento do Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial - Sinapir, instituído pela Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010. Agora, a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) finaliza as normas que serão publicadas em portaria da ministra Luiza Bairros, definindo os procedimentos e modalidades de gestão para que estados e municípios possam aderir ao Sistema.

“Com a publicação da portaria teremos todas as condições necessárias para que as adesões tenham início, considerando que são fundamentais para a institucionalização da política de promoção da igualdade racial em todos os entes federados, bem como para a efetividade das políticas e dos resultados previstos”, explica o assessor da SEPPIR, Marcos Willian Bezerra. 

De acordo com o gestor, a adesão ao Sinapir vai contribuir nos processos de criação ou fortalecimento de organismos de promoção da igualdade racial em âmbito municipal e estadual, levando a uma gestão democrática da política em nível nacional. Para tanto, ele destaca que o papel da SEPPIR no processo é apoiar as iniciativas locais, para que estejam em sinergia com a política nacional, “dentro de uma lógica sistêmica de funcionamento”, completa. 

Organização - O Sinapir representa uma forma de organização e articulação voltadas à implementação do conjunto de políticas e serviços para superar as desigualdades raciais no Brasil, com objetivo de promover a igualdade racial e combater as desigualdades sociais resultantes do racismo, inclusive mediante adoção de ações afirmativas. Além de formular políticas destinadas a combater os fatores de marginalização e promover a integração social da população negra; descentralizar a implementação de ações afirmativas pelos governos estaduais, distrital e municipais; articular planos, ações e mecanismos voltados à promoção da igualdade racial e garantir a eficácia dos meios e dos instrumentos criados para a implementação das ações afirmativas e o cumprimento das metas a serem estabelecidas.

Consulta Pública – O texto-base do Sinapir foi construído a partir de ampla participação da sociedade. Além de uma Consulta Popular, a proposta acatou sugestões do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR), e de gestores(as) de promoção da igualdade racial de Estados, DF e Municípios. Realizada através do site do Governo Eletrônico, entre os meses de abril e maio de 2013, a Consulta Pública resultou em 86 contribuições, sendo que 79% delas foram feitas por pessoa física. Bahia (18%), São Paulo (15%), Distrito Federal (11%), Maranhão (10%) e Rio Grande do Sul (10%), foram as unidades da Federação que mais enviaram propostas. As mulheres (67%) foram maioria entre os participantes. O gráfico por divisão de cor ou raça aponta que 20,69% dos que opinaram são brancos, 27,59% são pardos e 51,72% são negros. A Consulta foi autorizada pela Portaria 17, publicada em 28 de fevereiro no Diário Oficial da União.


Coordenação de Comunicação da SEPPIR

Fonte: Seppir.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Fifa, sem racismo no Brasil, ok?

A chefe do futebol mundial, a Fifa, mandou avisar/ Que a música-tema da Copa do Mundo no Brasil será interpretada pelo porto-riquenho Ricky Martin. A chefe do futebol mundial, a Fifa, mandou avisar/ Que o casal negro Lázaro Ramos e Camila Pitanga não participará do sorteio de seleções. Ai, ai, ai…

Emicida – Foto: Divulgação

Segundo coluna Radar, da revista Veja, a Fifa rejeitou a sugestão da Rede Globo de usar Lázaro e Camila, preferindo o casal branco-loiro Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert. O sorteio das chaves da Copa ocorrerá em 6 de dezembro, na Costa do Sauípe, Bahia, o Estado mais negro do Brasil.



A poderosa organizadora do Mundial demonstra uma leitura muito particular da cultura e da história brasileiras. Ao mesmo tempo, é incapaz de combater o preconceito que reina nos estádios. No domingo (25), o zagueiro brasileiro Paulão, do Bétis, saiu chorando de campo após ser expulso do clássico contra o Sevilla, pelo Campeonato Espanhol. Os torcedores imitavam macacos para o brasileiro.

Por que em vez de combater a discriminação no reino em que manda, a Fifa prefere alimentá-la ou, no mínimo, silenciar sobre ela? De que adianta erguer faixas nos estádios com dizeres como “Fair Play”, “Say No To Racism”, se a prática fora do campo é outra? São questões em aberto. FAROFAFÁ defende a mistureba geral e espera que músicos de todas as cores, estilos e gêneros, estejam representados durante o Mundial da Fifa. Abaixo, uma pequena e singela lista de artistas negros, pra lá de representativos de nossa cultura:

Emicida:

Gaby Amarantos:

Edi Rock e Seu Jorge:

Mart’Nália:

Jorge Ben Jor:

Karol Conka:

Gilberto Gil:

Thiaguinho:

Mumuzinho:

Gang do Eletro:

Ellen Oléria:

Fifa, já deu para entender o recado, certo?

Fonte: Farofafa.

Zagueiro brasileiro do Bétis chora após ofensas racistas da própria torcida



O zagueiro brasileiro Paulão, do Bétis, foi alvo de ofensas racistas vindas da própria torcida após ser expulso do clássico contra o Sevilla na noite deste domingo. Ao ver os torcedores imitando macacos, o jogador não segurou o choro na saída do gramado. Paulão foi expulso ainda na primeira etapa do clássico, uma das maiores rivalidades do futebol espanhol, e as ofensas aconteceram na saída do gramado, quando é possível ver um grupo de torcedores imitando macacos e ofendendo com gestos e gritos o jogador.

Em abril, também em um clássico contra o Sevilla, a torcida do Bétis ofendeu o nigeriano Nosa Igiebor durante o aquecimento. Durante o jogo, o atleta marcou um dos gols do empate por 3 a 3. Veja o vídeo:


Fonte: UOL.

Paim conclama negros a conhecer direitos previstos no Estatuto da Igualdade Racial


Em discurso na ultima sexta-feira (22), o senador Paulo Paim (PT-RS) fez uma análise do Estatuto da Igualdade Racial - um marco na política brasileira, em sua opinião. Eleitores o questionaram sobre como o texto legal efetivamente auxilia os negros no combate à discriminação e na igualdade de oportunidades. Ele citou algumas vitórias obtidas a partir da aprovação, em 2010, mas incitou os beneficiários a conhecer seus direitos.

- A principal estratégia para que o Estatuto seja ferramenta efetiva é empoderar-se do seu texto, perceber como ele é importante e pode ser eficaz na construção de políticas públicas – disse.

O parlamentar apontou a legitimidade concedida pelo Estatuto à constitucionalidade das cotas nas universidades e como seu texto estimulou várias políticas de inclusão. Uma das pautas ainda latentes, mencionou, é a instituição de cotas para o serviço público. Ele também citou alguns projetos de sua autoria que aumentam as oportunidades para os negros e se coadunam com o Estatuto, como o PLS 214/2010, que cria o bolsa permanência, para auxiliar negros e brancos pobres a se manter enquanto estudam nas universidades, e o PLS 113/2008, para levar aos quilombolas saúde, educação, esporte e lazer.

Agricultura familiar

Paim lembrou ainda que 2014 será, de acordo com a Organização das Nações Unidas, o Ano Internacional da Agricultura Familiar. Ele destacou a importância dessa atividade para o alívio da fome e pobreza, provisão de segurança alimentar e nutrição, melhoria dos meios de subsistência, gestão dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e obtenção do desenvolvimento sustentável, particularmente nas áreas rurais.

Segundo afirmou, o objetivo da celebração é reposicionar a agricultura familiar no centro das políticas agrícolas, ambientais e sociais nas agendas nacionais, identificando lacunas e oportunidades para promover uma mudança rumo a um desenvolvimento mais equitativo e equilibrado. O parlamentar apresentou requerimento para realização de sessão especial do Senado sobre o tema.

Contag

Paim também celebrou os 50 anos da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), a ser completados em 22 de dezembro. A entidade, disse ele, é essencial para a garantia de direitos dos trabalhadores rurais e atuou durante a Constituinte para tornar efetiva a aposentadoria rural, inserindo os trabalhadores do setor na Previdência Social.

O parlamentar lembrou declaração do ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, durante a Expointer, realizada em agosto, no Rio Grande do Sul, quando destacou a importância dos recursos da Previdência Rural, somados ao crédito para a agricultura familiar, para movimentar a economia local e geraremprego e renda no comércio, na indústria e no setor de serviços.

Fonte: Jornal O Nortão.

Guia de Implementação do Estatuto da Igualdade Racial


Publicação lista medidas necessárias para abordagem da questão racial na implementação dos programas, políticas e ações nas diferentes áreas de atuação dos governos, e foi lançada durante a III Conferência da Igualdade Racial


O Guia de Implementação do Estatuto da Igualdade Racial para Estados, Distrito Federal e Municípios foi lançado na III Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (III Conapir) em Brasília-DF, entre 5 a 7 de novembro de 2013. A publicação, elaborada pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), é direcionada a gestores(as) de todo o país.

A obra traduz a principal recomendação do Grupo de Trabalho Estatuto da Igualdade Racial (GT-EIR), criado para analisar e propor caminhos para a efetivação da Lei 12.888, de 20 de julho de 2010, que institui o Estatuto da Igualdade Racial, destinado a garantir à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica.

Direcionada a técnicos, gestores e ativistas, o guia pode ser utilizado como subsídio para reuniões de grupos intersetoriais, conselhos e fóruns intergovernamentais de promoção da igualdade racial.

Os capítulos tratam sobre competências gerais dos três níveis de governo no contexto do Estatuto; primeiros passos para a implementação; ações estratégicas por área de políticas públicas – ações afirmativas, saúde, educação, cultura, esporte e lazer; liberdade de consciência e de crença e livre exercício e cultos religiosos; acesso – à terra; moradia; trabalho; meios de comunicação; ouvidorias permanentes e acesso à justiça e à segurança; juventude; financiamento das iniciativas e promoção da igualdade racial.

Boas práticas - Permeando o texto, exemplos de boas práticas e, como anexos, modelos de regulamentação e o Calendário da igualdade racial, com datas significativas para a população negra no Brasil e no mundo.

De acordo com a apresentação, “o Guia busca traduzir preceitos em medidas efetivas e ações específicas e, descreve providências obrigatórias, mas também sugere e dá abertura para que os gestores inovem e criem novas formas de promover a igualdade racial”.

GTI – O Guia responde ao desafio lançado pela ministra da Igualdade Racial, Luiza Bairros, quando instituiu o Grupo de Trabalho Estatuto da Igualdade Racial (GT-EIR), através da Portaria 79, com o objetivo de assegurar a efetividade da Lei 12.288/2010, que cria o Estatuto, a partir da consolidação e ampliação das políticas governamentais destinadas à promoção da igualdade racial.

O objetivo do grupo foi avaliar as normas do Estatuto e propor as medidas necessárias à sua efetividade; identificar as ações que demandam regulamentação e apresentar proposta em parceria com as áreas temáticas responsáveis; identificar as ações prioritárias; e propor ações de articulação institucional e interministerial para implementação do Estatuto.

A composição do GT contemplou as principais áreas temáticas previstas no Estatuto, a exemplo de saúde, educação e trabalho, reforçando o processo de articulação com os órgãos responsáveis por cada tema.

III Conapir - A III Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (III CONAPIR) é realizada pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) e pelo Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR).

Em 2013, discutiu o tema "Democracia e Desenvolvimento Sem Racismo: por um Brasil Afirmativo" e os subtemas: estratégias para o desenvolvimento e o enfrentamento ao racismo; políticas de igualdade racial no Brasil – avanços e desafios; arranjos institucionais para assegurar a sustentabilidade das políticas de igualdade racial e; participação política e controle social.

Fonte: Seppir.

Conheça o Sistema de Monitoramento das Políticas de Promoção da Igualdade Racial - SMPPIR



Acesse no link a seguir informações de diagnóstico e monitoramento de duas políticas estratégicas para a promoção da igualdade racial no Brasil.


Fonte: Seppir.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Sou mulher negra o ano inteiro


Por Jarid Arraes,
O Dia 20 de Novembro já passou e é provável que, para muitos, com ele tenha se esvaido toda a memória da importância que a Consciência Negra carrega consigo. A reflexão sobre o racismo e o combate ao preconceito racial estão além das expectativas por uma data, mesmo que seu simbolismo seja necessário e profundamente importante. No entanto, um questionamento surge: as vozes negras estão sendo verdadeiramente ouvidas? De quem são essas vozes?

Indo além das limitações impostas por uma mentalidade extremamente centralizada no sudeste do Brasil e trazendo fortes provocações dentro de um Feminismo Negro e nordestino, Karla Alves fala – em vídeo – sobre a vivência do ativismo negro no interior do Ceará e os incômodos com o Feminismo que ignora recortes de raça. É tempo de dar a palavra para mulheres que possuem muito a dizer e ensinar, mas que são barradas por uma cultura que pretere o Nordeste e sua importância política. Fiquem com o depoimento abaixo, gravado de forma amadora, mas repleto de assertividade:


Fonte: Revista Fórum.

Negras são vítimas de mais de 60% dos assassinatos de mulheres no país

Mônica Oliveira Gomes, Maria do Carmo Alves e Bruna Cristina Pereira ouvem Sílvia Oddone, das Relações Públicas do Senado Foto: José Cruz.

Violência contra a mulher negra é tema de debate no Projeto Quintas Femininas, da Procuradoria Especial da Mulher do Senado

Mais de 60% das mulheres assassinadas no Brasil entre 2001 e 2011 eram negras. O dado, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), foi citado por Maria do Carmo Alves (DEM-SE) ao abrir ontem debate sobre a violência contra a mulher negra. O evento foi promovido pela Procuradoria Especial da Mulher do Senado e pela Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados como parte do Projeto Quintas Femininas.

Mônica de Oliveira Gomes, que representou a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), destacou os obstáculos no acesso a postos profissionais e à renda igualitária. Ela citou discriminação até nos serviços públicos, a seu ver um problema que revela a existência de racismo institucional no país.

Sobre o estudo do Ipea segundo o qual negros ganham 36% menos que brancos, Mônica ressaltou que, no caso das mulheres, a diferença sobe para 40%. Segundo ela, as negras permanecem na base da pirâmide, mesmo possuindo mais estudo e qualificação.

— Quanto mais a mulher se qualifica, mais difícil será encontrar uma posição que corresponda ao investimento que fez a vida inteira.

Na opinião da representante da Seppir, o termo “violência simbólica” é insuficiente para traduzir situações vividas pelas mulheres negras que as levam a adoecer, quando não é o caso de morte. Ela salientou o que chamou de “tríplice discriminação”, quando se trata de mulheres negras e pobres.

Como exemplo, destacou o pior acesso aos serviços públicos de saúde, o que explicaria a maior taxa de óbitos entre as negras, especialmente a mortalidade materna. Até as consultas são mais curtas, de acordo com Mônica. Ela disse que o racismo institucional ocorre em órgãos públicos e instituições privadas.

Bruna Cristina Pereira, pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher (Nepem) da Universidade de Brasília (UnB), apresentou estudo que resultou de sua dissertação de mestrado: depoimentos de 14 negras de diferentes níveis sociais mostram que a cor da pele interfere no relacionamento com o parceiro, com a família e gera situações de violência.

— O poder disciplinador, que na nossa sociedade, patriarcal é essencialmente masculino, tem também uma cor, e ela é branca — afirmou.

“Essa sua neguinha”

Bruna exemplificou com o caso de uma das entrevistadas, identificada como Manoela (nome fictício), que já sofria discriminação quando ainda morava com os pais, por ser a mais escura entre as irmãs. Em casa, o pai a obrigava a executar tarefas domésticas, mas as irmãs tinham outros deveres. Quando se referia a Manoela em conversa com a mulher, o pai a chamava de “essa sua neguinha”.

A pesquisadora citou ainda o caso de Emília (nome também fictício), ativista do movimento negro que, em determinado momento, foi confrontada pelo companheiro com a afirmação de que “sabia que não deveria ter se casado com uma negra, porque negras são vagabundas, são prostitutas”.

Bruna ressaltou um ponto que a surpreendeu na pesquisa: a visão de que a “virtude” das mulheres pretas, diferentemente das mulatas, está relacionada ao trabalho.

Para a pesquisadora, o governo e os militantes contra a violência ainda não foram capazes de criar instrumentos para perceber e combater o racismo nos relacionamentos.

— Ainda que não se tenham vastos estudos ou vastas ligações entre a violência racial e o maior homicídio das mulheres negras, não tem como pensar que essas formas de violência não estejam conectadas.

IPEA: Pesquisa apresenta dados sobre violência contra negros


Alagoas, Espírito Santo e Paraíba concentram maior número de negros vítimas de homicídio.

Em Alagoas, os homicídios reduziram em quatro anos a expectativa de vida de homens negros. Entre não negros, a perda é de apenas três meses e meio. O estado nordestino apresentou o pior resultado entre todas as Unidades da Federação, de acordo com um estudo divulgado pelo Ipea nesta terça-feira, 19, véspera do Dia Nacional da Consciência Negra. A Nota Técnica Vidas Perdidas e Racismo no Brasil calculou, para cada estado do país, os impactos de mortes violentas (acidentes de trânsito, homicídio, suicídio, entre outros) na expectativa de vida de negro e não negros, com base no Sistema de informações sobre Mortalidade (SIM/MS) e no Censo Demográfico do IBGE de 2010.

“Enquanto a simples contagem da taxa de mortos por ações violentas não leva em conta o momento em que se deu a vitimização, a perda de expectativa de vida é tanto maior quanto mais jovem for a vítima. Em segundo lugar, a expectativa de vida ao nascer é um dos principais indicadores associados ao desenvolvimento socioeconômico dos países”, explica o texto da pesquisa.

O estudo, de autoria do diretor de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e Democracia (Ipea), Daniel Cerqueira, e de Rodrigo Leandro de Moura, da Fundação Getulio Vargas (IBRE/FGV), analisou ainda em que medida as diferenças nos índices de mortes violentas podem estar relacionadas a disparidades econômicas, demográficas, e ao racismo. De acordo com os autores, “o componente de racismo não pode ser rejeitado para explicar o diferencial de vitimização por homicídios entre homens negros e não negros no país”. 

Taxa de homicídio
Considerando apenas o universo dos indivíduos que sofreram morte violenta no país entre 1996 e 2010, constatou-se que, para além das características socioeconômicas – como escolaridade, gênero, idade e estado civil –, a cor da pele da vítima, quando preta ou parda, faz aumentar a probabilidade do mesmo ter sofrido homicídio em cerca de oito pontos percentuais.

Novamente Alagoas é o local onde a diferença entre negros e não negros é mais acentuada – a taxa de homicídio para população negra atingiu, em 2010, 80 a cada 100 mil indivíduos. No estado, morrem assassinados 17,4 negros para cada vítima de outra cor. Espírito Santo e Paraíba também são destaques negativos no ranking elaborado pelo Ipea, com, respectivamente, 65 e 60 homicídios de negros a cada 100 mil habitantes (no Espírito Santo os assassinatos diminuem a expectativa de vida dos homens negros em 2,97 anos; na Paraíba, em 2,81 anos).

“O negro é duplamente discriminado no Brasil, por sua situação socioeconômica e por sua cor de pele. Tais discriminações combinadas podem explicar a maior prevalência de homicídios de negros vis-à-vis o resto da população”, afirma o documento.

Fonte: IPEA.

Seguridade debate políticas para moradores de rua (DF)


     A Comissão de Seguridade Social e Família promove audiência pública nesta quinta-feira (28) para discutir a implementação da Política Nacional para a População em Situação de Rua, instituída pelo Decreto 7.053/09. De acordo com a deputada Érika Kokay (PT-DF), que propôs o debate, o objetivo é discutir como será a implantação de ações de saúde dentro da política voltada para a população em situação de rua.

Convidados
Foram convidados para discutir o tema com os deputados:

- a representante do Movimento Nacional da População de Rua, Maria Lúcia dos Santos Pereira;
- a pesquisadora Maria Lúcia Lopes da Silva, doutora em Política Social da Universidade de Brasília (UnB); e
- representantes da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

A audiência será realizada no Plenário 7, às 9h30.