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sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Afreaka: um novo olhar sobre o continente africano






Por Douglas Belchior e Flora Pereira,
Jornalistas brasileiros que descreveram continente além dos estereótipos preparam nova viagem, por outros países, e buscam apoio colaborativo no crowdfunding para concretizar projeto .

Uma plantação de esculturas, semeada por uma comunidade de artistas? A história de uma mulher que plantou mais de 51 milhões de árvores, mobilizando 400 comunidades do Quênia? A Constituição de um país reescrita por seu povo? Estas são apenas algumas das pautas trazidas pelo projeto Afreaka.

O Afreaka é um site de jornalismo independente, fotografia e design que traz um lado pouco conhecido do continente africano no Brasil, fugindo dos estereótipos como fome, pobreza e passividade, e cobrindo as expressões coletivas e individuais das culturas locais – tendências, música, literatura, arte, culinária, arquitetura etc.

Para concretizar o site, que hoje traz mais de 90 reportagens, 100 ilustrações inéditas, inúmeros vídeos e fotografias e ainda uma seção de dicas para o turismo local, a jornalista Flora Pereira, formada pela UFSC, e o designer Natan de Aquino realizaram uma viagem de transporte público durante sete meses por oito países do sul e leste da África que revelou um continente descolado e protagonista.

O projeto, que já alcançou mais de 24 mil fãs nas redes sociais, utilizou uma maneira de financiamento que está ganhando força na rede: o crowdfunding, também conhecido como financiamento coletivo. O Afreaka está organizando agora um segundo financiamento coletivo (http://catarse.me/pt/afreaka2), para dar continuidade ao trabalho, desta vez para descobrir o que o lado oeste africano tem de bom para contar ao mundo. Serão mais seis meses de apuração, trazendo a África para ainda mais próxima do Brasil.

Para que o site não pare, é possível contribuir com qualquer quantidade e, em troca, ainda ganhar recompensas do projeto: fotografias, livro digital, posteres, palestras, vaga em workshop e muito mais.

Para doar qualquer quantia, acesse: http://catarse.me/pt/afreaka2


Afreaka e o impacto social do projeto

Olhar horizontal

Em termos sociais, o Afreaka está embasado em duas linhas de atuação. A primeira é a comunicação para o desenvolvimento, uma abordagem para pensar em como se comunicar para o desenvolvimento social. Acreditam que o desenvolvimento, para ser real, deve ser endógeno e participativo. E levam isso para os textos, fotografias e para toda a linha de pesquisa do site, selecionando como pauta apenas projetos que se encaixam nisso. Assim, vem o esforço para ter um olhar horizontal. Enxergar um continente, um país, ou uma população, como um lugar passivo é ter um olhar vertical. Assim, o olhar horizontal vem do bom uso da alteridade. Mais do que entender o outro é aprender sobre si ao conhecer o outro. Além de abrir porta para o turismo local, falar sobre o lado positivo desfaz a imagem passiva atribuída ao continente, visto internacionalmente como aquele que recebe e não como aquele que faz. Acreditam que protagonismo constrói, uma vez que o desenvolvimento não vem somente de projetos sociais, da economia ou do governo, pode vir também da comunicação. 

Afreaka como conteúdo didático 

Assim, chegamos a segunda linha de atuação, que é o olhar do brasileiro sobre si mesmo e a ligação do país com o continente africano. Somente no nosso vocabulário são mais de 1500 palavras de origem africana. Além de nossos costumes, linha de pensamento, higiene, tradições, culinária etc. que são intrinsecamente ligados a cultura do continente irmão. No entanto, pouco sabemos sobre isso. Apesar de existir uma lei vigente desde 2003 (10639) que obriga o ensino da história e da cultura afro no sistema de educação brasileiro, ela ainda não foi implementada de maneira integral. Falta conteúdo, principalmente sobre a contribuição histórico-social e cultural dos descendentes de africanos ao país. Em geral, a conclusão é que a imagem do negro no Brasil e da sua história também é enxergada de maneira passiva. Os conteúdos visuais são quase sempre referentes à escravidão. Esse tipo de abordagem constrói uma percepção problemática e racista no imaginário coletivo do próprio brasileiro, que não enxerga desde o começo do seu processo de educação, a cultura negra como protagonista e formadora da sociedade atual. Afreaka quebra esse fluxo e amplia a imagem que temos do continente e apresentando tendências, música, arte, pessoas, projetos sociais, tradições e diversidade que a mídia tradicional não mostra. 





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