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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

"O Brasil tem que acabar com as PMs" por Luiz Eduardo Soares


Uma das maiores autoridades do País em segurança pública, o professor diz que a transição democrática precisa chegar à polícia

por Wilson Aquino e Michel Alecrim,

PESQUISA 
“A massa policial está insatisfeita. Mais de 70% das 
polícias consideram o modelo atual equivocado”, diz ele

     Doutor em antropologia, filosofia e ciências políticas, além de professor e autor de 20 livros, Luiz Eduardo Soares é conhecido, mesmo, por duas obras: “A Elite da Tropa 1 e 2”, que inspiraram dois dos maiores sucessos de bilheteria do cinema nacional: “Tropa de Elite 1 e 2”. Considerado um dos maiores especialistas brasileiros em segurança, Soares, 59 anos, travou polêmicas em suas experiências na administração pública. Foi coordenador estadual de Segurança, Justiça e Cidadania do Rio de Janeiro entre 1999 e 2000, no governo Antony Garotinho, e Secretário Nacional de Segurança do governo Lula, em 2003. Bateu de frente com os dois e foi demitido. Nos últimos 15 anos, dedicou-se, junto com outros cientistas sociais, à elaboração de um projeto para modificar a arquitetura institucional da segurança pública brasileira, que, no entender do professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), passa necessariamente pela desmilitarização das polícias e o fim da PM – como gritam manifestantes em passeatas. O trabalho virou a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 51, apresentada no Congresso Nacional pelo senador Lindbergh Faria (PT-RJ).

"A PM vê o manifestante como inimigo. Para a grande massa, a 
polícia tem um comportamento abusivo, violador, racista, brutal”


“A resistência de Geraldo Alckmin em enfrentar a brutalidade letal da
polícia está no coração da dinâmica terrível de ascensão do PCC" 

ISTOÉ - Por que o sr. defende a desmilitarização da polícia? 
LUIZ EDUARDO SOARES - Porque já passou da hora de estender a transição democrática à segurança pública. A Polícia Militar é mais do que uma herança da ditadura, é a pata da ditadura plantada com suas garras no coração da democracia. A polícia é uma instituição central para a democracia. E é preciso que haja um projeto democrático de reforma das polícias comprometido com o novo Brasil, com a nova etapa que a sociedade está vivendo. O Brasil tem que acabar com as PMs. 

ISTOÉ - Deixar de ser militar torna a polícia mais democrática? 
LUIZ EDUARDO SOARES - A cultura militar é muito problemática para a democracia porque ela traz consigo a ideia da guerra e do inimigo. A polícia, por definição, não faz a guerra e não defende a soberania nacional. O novo modelo de polícia tem que defender a cidadania e garantir direitos, impedindo que haja violações às leis. Ao atender à cidadania, a polícia se torna democrática. 

ISTOÉ - Mas o comportamento da polícia seria diferente nas manifestações se a polícia não fosse militar? 
LUIZ EDUARDO SOARES - Se a concepção policial não fosse a guerra, teríamos mais chances. Assim como a PM vê o manifestante como inimigo, a população vê o braço policial do Estado que lhe é mais próximo, porque está na esquina da sua casa, como grande fonte de ameaça. Então, esse colapso da representação política nas ruas não tem a ver apenas com corrupção política nem com incompetência política ou falta de compromisso dos políticos e autoridades com as grandes causas sociais. Tem a ver também com o cinismo que impera lá na base da relação do Estado com a sociedade, que se dá pelo policial uniformizado na esquina. É a face mais tangível do Estado para a grande massa da população e, em geral, tem um comportamento abusivo, violador, racista, preconceituoso, brutal.

ISTOÉ - Mas no confronto com traficantes, por exemplo, o policial se vê no meio de uma guerra, não é? 
LUIZ EDUARDO SOARES - Correto. Mas esses combates bélicos correspondem a 1% das ações policiais no Brasil. Não se pode organizar 99% de atividades para atender a 1% das ações. 

ISTOÉ - Como desmilitarizar uma instituição de 200 anos, como a PM do Rio? 
LUIZ EDUARDO SOARES - Setenta por cento dos soldados, cabos, sargentos e subtenentes querem a desmilitarização e a mudança de modelo. Entre os oficiais, o placar é mais apertado: 54%. Mas a desmilitarização não é instantânea. Precisa de um prazo que vai de cinco a seis anos e que depois pode se estender. É um processo muito longo, que exige muita cautela, evitando precipitações e preservando direitos. 

ISTOÉ - Como poderia ser organizada uma nova polícia? 
LUIZ EDUARDO SOARES - Os Estados é que vão decidir que tipos de polícia vão formar. A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 51 define dois critérios de organização: territorial e de tipo criminal. Isso porque a realidade do Brasil é muito diversa. O melhor modelo policial para o Amazonas não precisa ser o do Rio. São realidades demográficas, sociológicas, topográficas e geográficas distintas. 

ISTOÉ - Como funcionaria o modelo territorial? 
LUIZ EDUARDO SOARES - Seriam corporações com circunscrição dentro dos municípios, regiões metropolitanas, distritos e o próprio Estado. Poderíamos ter polícia municipal ou na capital, o Estado é que definirá. São Paulo, por exemplo, tem tantas regiões distintas, com características diversas, que poderia ter várias polícias. Essa seria uma possibilidade. Muitos países têm polícias pequenas a partir de certas circunscrições. Então poderíamos ter desde uma polícia só, porque a unificação das polícias é possível, até várias dentro do mesmo Estado. 

ISTOÉ - E o tipo criminal? 
LUIZ EDUARDO SOARES - Teríamos uma polícia só para crime organizado, outra só para delitos de pequeno potencial ofensivo. Mas todas são polícias de ciclo completo, fazem investigação e trabalho ostensivo. Poderia ter polícia esta-dual unificada para delitos mais graves, que não envolvam crime organizado. E pode ter uma polícia pequena só para crime organizado, como se fosse uma Polícia Federal do Estado. São muitas possibilidades. 

ISTOÉ - Como fica a União? 
LUIZ EDUARDO SOARES - Poderia ter atuação destacada na educação policial. No Rio, para ingressar na UPP o policial é treinado em um mês. Em outros Estados, são oito meses. O Brasil é uma babel. Tem algo errado. Tem que ter regras básicas universais. Na polícia, a bagunça, a desordem e a irresponsabilidade nacional, consagradas nesse modelo, são de tal ordem que formamos policiais em um mês, que têm o mesmo título de outro profissional formado em um ano. É necessário que haja um Conselho Federal de Educação Policial, como existe Conselho Federal de Educação. E o Conselho tinha que estar subordinado ao Ministério da Educação, não no da Justiça. 

ISTOÉ - Os policiais foram consultados sobre esses novos modelos? 
LUIZ EDUARDO SOARES - Fiz uma pesquisa sobre opinião policial, junto com os cientistas sociais Silvia Ramos e Marcos Rolim. Ouvimos 64.120 profissionais da segurança pública no Brasil todo. Policiais, guardas municipais, agentes penitenciários. A massa policial está insatisfeita, se sente alvo de discriminação, de preconceito, recebe salários indignos, se sente abusada, sente os direitos humanos desrespeitados. Mais de 70% de todas as polícias consideram esse modelo policial completamente equivocado, um obstáculo à eficiência. E os militares se sentem agredidos, humilhados, maltratados pelos oficiais. Acham que os regimentos disciplinares são inconstitucionais. Pode-se prender sem que haja direito à defesa, até por um coturno sujo! 

ISTOÉ - Mas isso não ajuda a manter a disciplina? 
LUIZ EDUARDO SOARES - De jeito nenhum. Mesmo com toda essa arbitrariedade não se evita a corrupção e a brutalidade. Estamos no pior dos mundos: policiais maltratados, mal pagos, se sentindo desrespeitados, não funcionando bem. E a população se sentindo mal com essa problemática toda. E os números são absurdos: 50 mil homicídios dolosos por ano e, desses, em média, apenas 8% de casos desvendados com sucesso. Ou seja: 92% dos crimes mais graves não são nem sequer investigados. 

ISTOÉ - É o país da impunidade? 
LUIZ EDUARDO SOARES - Somente em relação ao homicídio doloso. Estamos longe de ser o país da impunidade. O Brasil tem a quarta população carcerária do mundo. Temos 550 mil presos, eram 140 mil em 1995. 

ISTOÉ - O que mais é necessário para democratizar a segurança pública? 
LUIZ EDUARDO SOARES - Precisamos de uma polícia de ciclo completo, que faça o patrulhamento ostensivo e o trabalho investigativo. Hoje temos duas polícias (civil e militar), e cada uma faz metade do serviço. Nosso modelo policial é uma invenção brasileira que não deu certo. Até porque quando você vai à rua só para prender no flagrante, talvez esteja perdendo o mais importante. Pega o peixe pequeno e perde o tubarão. Tem que ter integração. O policiamento ostensivo e a investigação se complementam. 

ISTOÉ - O que mais é importante? 
LUIZ EDUARDO SOARES - É fundamental o estabelecimento de carreira única. Em qualquer polícia do mundo, se você entra na porteira pode vir a comandar a instituição, menos no Brasil. Hoje temos nas instituições estaduais quatro polícias de verdade. Na PM são os praças e oficiais. Na civil, delegados e agentes. São mundos à parte. Você nunca vai ascender, mesmo que faça o melhor trabalho do mundo, sendo praça. Mas para quem entra na Escola de Oficiais, o céu é o limite. Isso gera animosidades internas. Isso separa, gera hostilidade. E esse modelo tem que acabar na polícia. Isso é o pleito da massa policial.

ISTOÉ - O sr. foi secretário de Segurança e não fez as reformas. Por quê? 
LUIZ EDUARDO SOARES - Por causa da camisa de força constitucional. Não podíamos mudar as polícias. Mas dentro dos arranjos possíveis fizemos o projeto das Delegacias Legais, que é uma das únicas políticas públicas do Brasil a atravessar governos de adversários políticos. São 15 anos desse projeto, apesar da resistência monstruosa que enfrentei. Fui demitido pelo (Anthony) Garotinho porque entrei em confronto com a banda podre da polícia. Após minha queda, policiais festejavam e o novo chefe de polícia dizia: agora estamos livres para trabalhar. Foi uma explosão de autos de resistência. 

ISTOÉ - O crescimento do PCC se deve ao modelo policial vigente? 
LUIZ EDUARDO SOARES - Acho que a resistência do governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) em enfrentar a brutalidade letal da polícia, sua dificuldade em enfrentar a banda podre, de confrontar a máquina de morte, com a bênção de setores da Justiça e do Ministério Público, está no coração da dinâmica terrível de ascensão do PCC. Durante os primeiros anos, o PCC foi um instrumento de defesa dos presos, de organização que falava em nome da legalidade que era desrespeitada pelo Estado. Depois se dissociou das finalidades iniciais. Como já existia como máquina, poderia servir a outros propósitos, inclusive criminais. E foi o que começou a acontecer. O PCC deixou de ser instrumento de defesa para ser de ataque. Aí eles começaram a funcionar como uma organização criminosa. 

A violência que tem idade e cor

Estudo mostra que homicídios no País atingem de forma mais cruel um segmento da sociedade que ainda sofre com a exclusão e a falta de políticas públicas 

Por Danillo Oliveira e Felipe Rousselet, 
     “Sensação de insegurança”. A expressão vem ganhando espaço no cotidiano dos brasileiros e reflete o fato de a violência ser hoje uma das principais preocupações de boa parte da população. De acordo com a Síntese de Indicadores Sociais 2012, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), somente 52,8% dos entrevistados se sentem seguros em suas cidades, índice que chega a 49,7% quando se restringe às re­giões urbanas. Mas um outro estudo, o Mapa da Violência 2012: A Cor dos Homicídios no Brasil, estudo realizado pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos e pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais – FLACSO Brasil, divulgado em dezembro de 2012, mostra que a violência atinge de forma mais significativa uma determinada parcela da população: os jovens negros.

     De uma forma geral, o número de homicídios de brancos passou de 18.867 em 2002 para 14.047 em 2010, uma queda de 25,5% no período. Já na população negra, os homicídios aumentaram, passando de 26.952 para 34.983, um incremento de 29,8%. Levando-se em conta apenas a população jovem – o estudo classificou as vítimas entre 12 e 21 anos nessa faixa – o número de homicídios entre brancos caiu 33%, enquanto entre os negros cresceu 23,4%.

     “A diferença existente em 2002, na qual temos dados mais ou menos fidedignos sobre homicídios de negros e brancos, foi ampliada. Se em 2002 essa distância já era grande – havia de 60% a 70% mais homicídios de negros que de brancos, proporcionalmente –, ela se ampliou ao longo do tempo. Hoje, está em torno de 150%. Ou seja, para cada branco que morre, morrem 2,5 negros no Brasil e a tendência é aumentar. É uma curva crescente, se nada for feito, irá aumentar”, explica Julio Jacobo Waiselfiz, sociólogo responsável pelo estudo.
Aregião com a maior diferença entre o nível de homicídios de brancos e a de negros é a Nordeste (Foto Reprodução / Agência Pública)

     O levantamento apontou que, entre 2002 e 2010, morreram 159.543 jovens negros vítimas de homicídios, contra 70.725 jovens brancos. Para Jacobo, estes números evidenciam o que ele classifica de “atentado contra a humanidade”. “Se a taxa de mortes por assassinato de negros fosse considerada a taxa média do país, colocaria o Brasil num dos dois ou três primeiros lugares internacionais no ranking de violência”, avalia.

     Os dados da violência variam conforme o local analisado. A região com o maior número de homicídios entre a população negra é a Norte, com 44,9 homicídios para cada 100 mil habitantes em 2010. Dentre a população branca, o número cai para 15,2. Contudo, a região com a maior diferença entre o nível de homicídios de brancos e a de negros é a Nordeste, onde a taxa entre os jovens negros chegou a 42,6 para cada 100 mil habitantes, enquanto entre brancos o índice é de apenas 8,8.

     Analisando a violência por estados, o contraste entre os homicídios de jovens negros e brancos é maior em Alagoas e na Paraíba. No primeiro estado, para cada jovem branco assassinado morrem proporcionalmente mais de 18 jovens negros. Na Paraíba, esta relação é ainda maior, chegando a 19 para um. O único estado da federação onde morrem, proporcionalmente, mais jovens brancos é o Paraná.

Pior nas capitais

     Se os dados gerais da violência contra o jovem negro na Paraíba e em Alagoas já são preocupantes, os dados referentes às suas respectivas capitais são ainda mais graves. João Pessoa apresenta uma taxa de homicídios de 140,7 para cada 100 mil negros, e a de Maceió é de 132,6. Na capital paraibana, para cada jovem branco assassinado morrem 29 negros pela mesma causa. Em Maceió, essa relação é de um para 26.

     Para Dalmo Oliveira, jornalista e integrante do Fórum Paraibano de Promoção da Igualdade Racial, o índice elevado de assassinatos de jovens negros está diretamente ligado à exclusão social desta população. “A gente imagina que esse número é consequência de um aumento mais ou menos proporcional da situação de exclusão da população negra na Paraíba. Isso reflete imediatamente na questão da violência”, analisa. “Existe um racismo institucional que explica o fato de a polícia atirar mais facilmente em jovens negros e do sistema de saúde não atender tão bem um cidadão negro quanto qualquer outro.”

     De acordo com Oliveira, o que também contribui para os índices que afetam a população jovem e negra do estado é uma possível negação da negritude por parte do paraibano em geral. “Nós temos uma dificuldade, que é o paraibano assumir sua herança afrodescendente. Existe uma negação da herança africana e isso altera inclusive o preenchimento do quesito raça/cor quando algum órgão público pede que o cidadão preencha este tipo de formulário.” Segundo ele, a razão desta negação é o racismo estrutural. “Na história da Paraíba não existe um registro fiel e positivo da participação negra na formação histórica e social do estado, e a população negra tem sua autoestima prejudicada”, avalia.

     A Secretaria da Segurança e da Defesa Social da Paraíba afirma, por meio da sua assessoria de imprensa, que tem no combate aos crimes contra a vida “em todas as faixas etárias, segmentos sociais e étnicos” sua prioridade. A assessoria informa ainda que diversas ações estão sendo implementadas desde o início de 2011 no sentido de reduzir o número de homicídios no estado, como a integração de esforços das polícias, Ministério Público e Judiciário, e a instalação das chamadas Unidades de Polícias Solidárias (UPSs) em locais com altos índices de criminalidade, fazendo com que a meta de reduzir em 10% os homicídios esteja próxima de ser alcançada. Até o momento, em 2012, o número de assassinatos diminuiu 9,69% em relação ao mesmo período de 2011.

     Para Helcias Pereira, vice-presidente do Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô, os altos índices de homicídios entre jovens negros em Alagoas são uma consequência da ausência de políticas públicas para as comunidades pobres do estado. “Temos 55% da população que é negra ou parda, e a maioria desses jovens, mais de 90%, mora nas periferias, nas grotas, onde existem os maiores índices de agressões letais. A ausência do Estado nesses locais é o que causa, por exemplo, o aumento do tráfico de drogas, no qual os jovens perdem as suas vidas quando não pagam ou não acertam as contas do que venderam”, argumenta. “Discordo que esses jovens morram por causa da droga. O principal responsável é a falta de políticas públicas nestas comunidades, que colocariam os jovens em atividades esportivas, culturais e de lazer.”

     O secretário de Defesa Social de Alagoas, Dario Cesar, afirma que o estado está diminuindo os índices de criminalidade, investindo em inteligência e na polícia comunitária. “Em 2012, estamos reduzindo os crimes violentos da população, sendo a maior parte das vítimas jovens, desempregados, entre 16 e 18 anos e de cor parda”, conta. “Na parte de segurança pública, estamos colocando bases comunitárias de polícia em áreas violentas, onde a polícia comunitária interage com a comunidade e as pessoas têm reuniões constantes com o policiamento”, sustenta. Cesar também afirma que o governo busca conciliar políticas de segurança com políticas sociais. “O cerne da violência é sempre a falta de emprego, de renda, com famílias desagregadas e muitos jovens fora da escola, sem orientação. E a segurança pública é paliativa nisso”.

     De acordo com Jacobo, a principal razão para que a população jovem e negra seja o segmento que apresenta o maior número de homicídios no Brasil está ligada a uma cultura de violência. “No mês passado, o Conselho do Ministério Público divulgou um estudo para uma campanha que foi chamada de Conte até 10. Ou seja, o tipo de homicídio por impulso, por motivações fúteis e banais, crimes passionais, que se contrapõem ao crime profissional. Ele evidenciou que um número variável, de acordo com o estado, entre 20% e quase 100% dos crimes, são fúteis ou passionais, cometidos por um conhecido, amigo ou parente. Isso desvirtua uma teoria de setores de ideologia tradicional e regressiva de que tudo é problema da droga, que nosso problema é o crack, quando nosso problema é a cultura da violência”, acredita.

     Para ele, outras razões que contribuem para este quadro são a omissão do Estado e a impunidade. “Existe uma certa tolerância institucional que opera por vários mecanismos diferentes, mas, basicamente, culpando as vítimas dos homicídios. Quando se trata de mulher, é porque é uma vadia, estava vestida de maneira provocativa. Com as crianças, é a criança do crack, a criança da rua. Quando é com os negros, são os marginais, os arruaceiros, o ladrãozinho. O Estado passa uma mensagem de que é melhor que se arrumem entre eles, assim o Estado não gasta dinheiro, já que estão na droga”, acusa. “As estimativas que temos hoje dizem que entre 3% e 4% dos homicídios que temos no Brasil levam à condenação. Esse elevado nível de impunidade claro que gera altos níveis de violência”, comenta.

     O presidente da União de Negros pela Igualdade (Unegro), Edson França, afirma que jovens negros são vítimas de homicídios em maior número que jovens brancos por serem considerados como “suspeitos padrão”. “Morre mais negro porque o racismo transforma o negro em um suspeito padrão. O negro é quem morre mais pela ação do Estado, pela polícia, é a maior população nos cárceres e também a maior vítima dos criminosos pela situação de pobreza, de exposição”, acredita.

Educação e oportunidades

     Para França, ações voltadas para a educação são fundamentais para diminuir a mortalidade entre jovens, em especial entre a população negra. “Primeiro, precisamos de educação, que é um remédio para vários males, ela orienta o ser humano para boas práticas.” França acredita que o combate à impunidade e a oferta de oportunidades para a juventude negra são outras medidas para combater a violência que atinge essa população. “Tem que existir uma atuação muito grande contra a impunidade e contra o crime. Também é preciso abrir um campo de oportunidades. O jovem tem que trabalhar, tem que ir para o teatro, praticar esportes, tem que sonhar. Lamentavelmente, a população jovem não pode sonhar com o futuro. Precisamos de uma política mais virtuosa de oportunidades com foco na juventude, educação, emprego e o combate à impunidade e à violência”, acredita França.

Para Jacobo, os elevados índices de morte entre a população negra serão atenuados somente quando houver uma mudança de mentalidade nas instituições de proteção (polícias, Ministério Público e Poder Judiciário). “Não existe uma receita mágica. Primeiro, tem que existir uma mudança de mentalidade das próprias instituições encarregadas da proteção social, que assumam a sua responsabilidade. E é preciso criar um sistema que denuncie a impunidade que é favorecida pela lentidão do nosso aparelho de produção de justiça criminal”, disse. Ele também ressalta a importância da educação nesse processo. “Penso que a humanidade não inventou um mecanismo melhor para inclusão social e para frear a violência institucional que a educação da população”, defende o sociólogo.

     O problema parece começar a despertar a atenção do poder público. Para combater os altos índices de homicídios entre jovens, especialmente entre negros, o governo federal lançou, em setembro de 2012, o Plano Juventude Viva, iniciativa voltada para ações de prevenção nos estados mais violentos do Brasil. Contemplando 132 municípios, atualmente o plano está sendo executado em quatro cidades de Alagoas e deve chegar a outros cinco estados durante o primeiro semestre de 2013.

     Para o acompanhamento dos casos, juntamente com a população, a implementação será gradual. “A gente observa que é muito importante ter um diálogo com a sociedade civil diante da chegada do plano”, conta Fernanda Papa, coordenadora-geral de Políticas Setoriais da Secretaria Nacional da Juventude.

     Durante esta primeira fase, serão fomentadas ações voltadas à juventude nas áreas do trabalho, educação, saúde, acesso à justiça, cultura e esporte. “A gente quer se debruçar sobre o Plano Juventude Viva para tratar de todos esses problemas, promovendo campanhas públicas, debates com a sociedade, ações afirmativas, firmando acordos com o sistema de saúde e de educação e colocando a questão em pauta”, afirmou Severine Macedo, titular da Secretaria Nacional da Juventude.

     A meta é tornar prioridade na agenda de estados e municípios o combate à violência contra a juventude, sobretudo negra. “O plano existe para reconhecer os direitos da juventude e mostrar que o racismo provoca a maior vulnerabilidade da juventude negra, a exclusão e a não garantia do seu direito à vida. Para isso, esse compromisso tem que ser assumido por todos”, explica Fernanda Papa. 

Senado quer instalar CPI para investigar violência contra negros no país


No Brasil, a chance de um adolescente negro ser assassinado é 3,7 vezes maior que a de um jovem branco.

Por Karine Melo,
Brasília - O Senado quer instalar uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para apurar os casos de violência contra jovens negros no país. Até o início da tarde de sexta-feira 25, 30 assinaturas já haviam sido recolhidas para criar a comissão, três a mais que o número mínimo necessário. Como até a meia-noite desta sexta-feira os senadores ainda podem retirar ou acrescentar assinaturas, a proposta deve ser lida em plenário na semana que vem.

“De cada dez jovens assassinados, [quase] oito são negros! Nós não queremos que ninguém seja assassinado, é claro. Agora, em face desse número tão representativo negativamente, tem de haver uma investigação. Estão dizendo que, se nada for feito, rapidamente, de cada dez homicídios, nove serão de jovens negros. E nós temos de ir a fundo na questão, para combater todo tipo de crime contra a nossa gente, contra o nosso povo”, disse o senador Paulo Paim (PT-RS).

Paim – que já estava sendo cotado para presidir a CPI – recebeu hoje o apoio do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL). “É muito importante que nós possamos evoluir nessa conversação para que Vossa Excelência seja indicado, sim, para presidir essa comissão parlamentar de inquérito, porque, como todos sabem, as comissões parlamentares de Inquérito [CPIs], quando despolitizadas, costumam produzir resultados muito profícuos em termos dos aprimoramentos institucionais”, disse Renan ao fazer um apelo para que os líderes dos partidos, responsáveis pela indicação do presidente e do relator da comissão, apoiem o nome de Paim.

Segundo a autora da proposta, senadora Lídice da Mata (PSB-BA), dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que, a cada três assassinatos no país, dois se referem a negros. Segundo a senadora, a chance de um adolescente negro ser assassinado é 3,7 vezes maior que a de um adolescente branco.

Para a senadora, o abandono da escola e a baixa inserção no mercado de trabalho são alguns dos fatores que deixam os jovens mais vulneráveis à violência.

Com onze membros titulares e sete suplentes, depois de criada, a CPI funcionará por um período de 180 dias, prazo que pode ser prorrogado pelo mesmo período.

Fonte: Carta Capital.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Lançamento oficial do Núcleo DF da RENAFRO em Brasília


Lançamento oficial do Núcleo DF da RENAFRO em Brasília e ações do Dia de Mobilização Nacional Pró-Saúde da População Negra

     Como os terreiros desempenham importante papel de promoção da saúde, de acolhimento e cuidado das pessoas, a RENAFRO em parceria com a SEPPIR-DF e o Ministério da Saúde realizaram uma atividade para lembrar o Dia de Mobilização Nacional Pró-Saúde da População Negra. O evento aconteceu durante todo o dia 27 de outubro no Terreiro de Mãe Baiana que junto com Tata Wanderson foram oficialmente apresentados como coordenadores da RENAFRO-DF.

Fonte: SEPIR/DF.



Racismo ainda está presente na vida de muitos brasilienses


     Racismo ainda está presente na vida de muitos brasilienses, em reportagem na rede SBT aborda o racismo presente na vida dos brasilienses, acesse o link abaixo e confira a reportagem: 

Ouvidoria da Igualdade Racial altera endereço eletrônico para facilitar contato com o cidadão



A partir de agora as mensagens devem ser encaminhadas para ouvidoria@seppir.gov.br. A Ouvidoria faz parte da estrutura da SEPPIR e tem como função receber denúncias de racismo e de discriminação racial e encaminhá-las aos órgãos responsáveis.

A Ouvidoria Nacional da Igualdade Racial da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), está com um novo endereço eletrônico: ouvidoria@seppir.gov.br. A alteração foi feita com o objetivo de facilitar o contato do cidadão na hora de denunciar situações de racismo e de discriminação racial.

De acordo com o ouvidor Carlos Alberto Júnior, o contato mais direto (o anterior era seppir.ouvidoria) facilita o acesso e otimiza o uso do canal de interlocução com o cidadão. O número de telefone, entretanto, continua sendo (61) 2025-7001

Órgão da estrutura da SEPPIR, a Ouvidoria Nacional da Igualdade Racial tem a função básica de receber denúncias de racismo e discriminação racial e encaminhá-las aos órgãos responsáveis nas esferas federal, estaduais e municipais. O ouvidor está ainda encarregado de receber observações, críticas ou sugestões relacionadas ao trabalho da própria SEPPIR.

Coordenação de Comunicação da SEPPIR.

II Festival Internacional da Diversidade Cultural


Durante todo o mês de novembro acontece o II Festival OMI - O Festival Internacional da Diversidade Cultural, em comemoração ao Mês da Consciência Negra.

As atividades do evento estão distribuídas em diversos horários e locais da capital mineira. Toda a programação, que inclui diversas intervenções culturais, mesas-redondas, oficinas, exposições artísticas, mostra de filmes africanos e shows é gratuita e as inscrições podem ser feitas pelo site www.insod.org.

O II Festival OMI - O Festival Internacional da Diversidade Cultural acontece a partir do dia 01 e seguirá até o dia 30 de novembro de 2013 em Belo Horizonte/MG.

Participe!

Fonte: SEPPIR.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Em memória de Douglas Rodrigues, eternamente Presente em nossa Luta! por Mães de Maio.


Em memória da morte do jovem Douglas Rodrigues, de apenas 17 anos, assassinado por Policiais Militares no ultimo domingo no Jaçanã (Zona Norte de SP)

     O estudante baleado por um policial militar na Vila Medeiros, na Zona Norte de São Paulo, chegou a perguntar qual o motivo de ter sido atingido, segundo relato de Rossana de Souza, mãe da vítima. “Por que o senhor atirou em mim?”, perguntou o adolescente ao policial, de acordo com a mãe. O estudante Douglas Rodrigues, de 17 anos, foi morto na tarde de domingo (27). 

     A Polícia Militar afirma que o disparo feito pelo soldado Luciano Pinheiro, de 31 anos, foi acidental. Ele foi preso administrativamente e o caso será investigado. Revoltados com a atuação da polícia, moradores protestaram durante a noite: três ônibus foram queimados e bancos depredados.

     De acordo com o boletim de ocorrência, os policiais averiguavam uma denúncia de "pertubação de sossego" porque o som de um carro tocava funk em um volume muito alto na Rua Bacurizinho, esquina com a Avenida Mendes da Rocha.

     O estudante passava com o irmão de 13 anos em frente a um bar quando houve a aproximação dos policiais. Foi nesse momento que o disparo ocorreu. “Nem ele sabe por que tomou um tiro”, disse Rossana de Souza ao Bom Dia São Paulo, nesta segunda-feira (28).

     Douglas, que foi atingido no peito, foi levado a um hospital da região, mas não resistiu. “Ele deu o tiro dentro do carro. Não falou nada, não teve nem reação”, disse uma testemunha.

Autuado em flagrante

     O soldado Pinheiro afirmou que o tiro foi acidental. Ele foi autuado em flagrante por homicídio culposo, quando não há intenção de matar, e permanecia preso na tarde desta segunda-feira, no presídio militar Romão Gomes, na Zona Norte da capital.

     Em protesto pelo assassinato, moradores colocaram fogo em ônibus e em lixeiras e agências bancárias foram danificadas. A Tropa de Choque interveio para conter os manifestantes.

     Segundo a família, o estudante trabalhava em uma lanchonete. “Ele não tinha preguiça de trabalhar. Ele estudava. Estava no 3º ano”, disse a mãe.

NOSSOS SENTIMENTOS E TOTAL SOLIDARIEDADE À FAMÍLIA, AMIG@S E A TODA COMUNIDADE DA VILA MEDEIROS - JAÇANÃ (Z/N)!

O jovem guerrêro Douglas Rodrigues seguirá eternamente Presente em seus Corações, e em Nossa Luta Comum! 

Força, Justiça e Paz!


Fonte: G1, Mães de Maio.

O Retrato das desigualdades de gênero e raça


     O Retrato das desigualdades de gênero e raça tem por objetivo disponibilizar informações sobre a situação de mulheres, homens, negros e brancos em nosso país. Para tanto, apresenta indicadores oriundos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE, sobre diferentes campos da vida social, de forma a disponibilizar para pesquisadores/as, estudantes, ativistas dos movimentos sociais e gestores/as públicos um panorama atual das desigualdades de gênero e de raça no Brasil, bem como de suas interseccionalidades. Os indicadores são apresentados tanto para mulheres e homens, negros e brancos, quanto para mulheres brancas, mulheres negras, homens brancos e homens negros.


Fonte: SEPPIR.

Repórter Justiça - Discriminação racial (exibido em 23/03/13)


     Num país de tanta diversidade, a discriminação ainda é uma luta a ser vencida. Um problema que começou no passado e ainda não foi apagado. No mês que marca a luta contra a discriminação racial, o Repórter Justiça mostra que essa prática criminosa é cometida com mais frequência do que se imagina. "A diferença básica entre uma injúria discriminatória e o crime de racismo é que a injúria discriminatória ofende a honra subjetiva de uma pessoa individualizada utilizando-se de expressões discriminatórias contra aquela pessoa, enquanto o crime de racismo é dirigido contra uma comunidade indeterminada de pessoas", explica o promotor de Justiça Thiago Pierobom.

Fonte: SEPPIR.

Jornalistas já podem se cadastrar para cobertura da III Conferência da Igualdade Racial


Credenciamento pode ser feito até o próximo dia 30/10 (quarta-feira), por meio do link "Sala de imprensa - Cadastro Imprensa", disponível no endereço eletrônico da III CONAPIR.

     III CONAPIR reunirá cerca de 1,4 pessoas, de 5 a 7 de novembro, no Centro de Eventos e Convenções Brasil 21, em Brasília/DF.

     Estão abertas as inscrições para os veículos e profissionais de imprensa interessados em fazer a cobertura da III Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (III CONAPIR), que acontece de 5 a 7 de novembro, no Centro de Eventos e Convenções Brasil 21, em Brasília/DF. O credenciamento pode ser feito até o próximo dia 30/10 (quarta-feira), por meio do link “Sala de imprensa – Cadastro Imprensa”, disponível no endereço eletrônico http://iiiconapir.seppir.gov.br

Crachás – Para se inscrever, basta informar o nome do veículo, site, nome completo do(da) profissional, e-mail, telefone e localidade. Os crachás deverão ser retirados a partir do primeiro dia da Conferência, no local do Credenciamento, localizado no foyer do Brasil 21.

Objetivo – Cerca de 1,4 mil pessoas participarão da III CONAPIR, que tem o objetivo principal de reafirmar e ampliar o compromisso governamental e da sociedade brasileira com políticas de enfrentamento ao racismo e de promoção da igualdade racial como fatores essenciais à democracia plena e ao desenvolvimento com justiça social no Brasil. A Conferência propõe ainda, avaliar os avanços obtidos e os desafios a serem enfrentados após dez anos de implementação da Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial.

Tema – Nesta terceira edição, o tema da Conapir é “Democracia e desenvolvimento sem racismo: por um Brasil afirmativo”, que norteia o debate sobre quatro subtemas: Estratégias para o desenvolvimento e o enfrentamento ao racismo; Políticas de igualdade racial no Brasil: avanços e desafios; Arranjos Institucionais para assegurar a sustentabilidade das políticas de igualdade racial: Sinapir, órgãos de promoção da igualdade racial, fórum de gestores, conselhos e ouvidorias; e Participação política e controle social: igualdade racial nos espaços de decisão e mecanismos de participação da sociedade civil no monitoramento das políticas de igualdade racial.

Coordenação de Comunicação da SEPPIR.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Está no ar a Fanpage do NOSSO COLETIVO NEGRO (NCN)



"Contra séculos de negação, um presente vívido de afirmação!"


Descrição

     O Nosso Coletivo Negro (NCN-DF) é fruto da articulação antirracista que alguns estudantes negras e negros da Universidade de Brasília iniciaram, em 2009, em razão da Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 186, impetrada pelo Partido DEMOCRATAS contra a Universidade de Brasília. 

     A ação que questionava a constitucionalidade do Sistema de Reserva de Vagas para Afrodescendentes em vigor naquela instituição, não se constituiu apenas como um ato jurídico contra uma medida administrativa da Universidade, mas principalmente como um grande golpe ao histórico de lutas dos movimentos negros por ampliação e consolidação dos direitos humanos, civis e sociais da população afro-brasileira. 

     Na época, o então “Coletivo de Articulação em Defesa das Cotas Raciais”, primeiro nome do Nosso Coletivo Negro, se organizou para expressar seu apoio à Universidade e dar vazão as vozes e perspectivas dos principais afetados pela política: xs estudantes cotistas. 

     Como consequência, aquele grupo de alunxs mobilizadxs organizou um folhetim, chamado Nosso Jornal, que tinha – e tem – por objetivo veicular as notícias do cotidiano de estudante negrx no espaço da UnB, promover maior integração e aproximação entre os estudantes negrxs da Universidade e travar discussões conceitualmente embasadas sobre a política de ações afirmativas em vigor, fugindo do senso comum sempre abordado pela grande mídia. 

     Também, buscando maior efetividade na interlocução com os magistrados do STF, o NCN adentrou a ADPF 186 como Amicus Curiae a favor da ré UnB, apresentando uma Peça Jurídica que expunha a fundo os impactos práticos e simbólicos da implementação do Sistema de Cotas na vida dos estudantes cotistas e suas famílias, na proporção racial do ambiente acadêmico, no convívio entre pessoas de diferentes origens etnicorraciais e sociais e, por fim, nas reivindicações históricas dos movimentos negros, que pediam políticas públicas de reparação e inclusão dos povos negrxs do Brasil. 

     Em 27 de abril de 2012, o NCN defendeu, em plenário, seu posicionamento no julgamento da ADPF 186, contribuindo para a legitimação jurídica dos sistemas de reservas de vagas para negrxs, não apenas na Universidade de Brasília, mas em todo o país. 

     Atualmente, o Nosso Coletivo Negro atua na sensibilização da temática racial dentro e fora da Universidade, realizando ações pedagógicas em Escolas Públicas do DF, formulando materiais e ações de formação e informação, textos acadêmicos, grupos de estudos e debates e colaborando em intervenções culturais em comunidades brasilienses. 

     O grupo que inicialmente era composto apenas por alunxs e ex-alunxs negrxs da UnB, hoje conta com a presença de jovens negrxs não universitários, provenientes de outras origens de formação escolar e intelectual, que objetivam se somar às lutas antirracistas e por empoderamento dx individux afrodescendente na sociedade brasileira. 

     O NCN entende que a mobilização social e estratégica dos desmerecidos pelos processos de exclusões raciais e socioeconômicas que a sociedade brasileira – racista – imprime, é uma das chaves para a extinção de tais fenômenos de segregação.

Seminários de Pesquisa IV: Desafios da Literatura Contemporânea com a Professora Conceição Evaristo (01/11)



     O Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea (UnB/CNPq) convida para os Seminários de Pesquisa IV: Desafios da Literatura Contemporânea. Nesta edição, serão oferecidas conferências de escritores e de professores de universidades do Brasil e do exterior, que irão abordar alguns dos desafios da literatura contemporânea: o surgimento de novas vozes discursivas, o descentramento de identidades, os trânsitos migratórios, as questões de gênero e as relações raciais.

SERVIÇO
Período: de 13 de setembro a 14 de dezembro
Carga horária: 12 horas 
Haverá certificado. Vagas limitadas
Faça sua inscrição, preencha o formulário em: http://goo.gl/WmZLyn

Obs.: as conferências acontecerão em datas e horários variados. Os inscritos receberão a programação por e-mail.

Dia 1º/11 - Escritora Conceição Evaristo
Hora: 14h30
Local: BSA, Sala B1 - 11/10 - UnB, Campus Darcy Ribeiro
Mais informações: Seminários de Pesquisa IV.

Dia 6/11 – Prof. Idelber Avelar, da Universidade de Tulane 
Hora: 18h
Local: a definir

Informações: seminariosgelbc@gmail.com 
Coordenação: Regina Dalcastagnè e Laeticia Jensen Eble

4ª Edição do Nosso Jornal



     Está nas ruas a 4ª Edição do Nosso Jornal, parceria da Campanha A Cor da Marcha e com diversos coletivos negros do DF e Entorno. Que estiveram presente na Câmara dos Deputados no ultima dia 23/10, pela mobilização em continuidade pela aprovação do #PL4471 #FimDosAutosDeResistencia.

     No ato, convocado pela Frente Parlamentar de Direitos Humanos, compareceram diversos apoiadores e apoiadoras da aprovação do PL, dentre eles a Ministra da SEPPIR, Luiza Bairros, E diversos deputados e deputadas, dentre eles Érica Kokay, Jean Willis, Ivan Valente, Chico Alencar, dentre outros. 


     Também no ato distribuímos a 4ª Edição do Nosso Jornal e estaremos sempre mobilizados pela aprovação do #PL4471 #FimDosAutosDeResistencia.

     E logo mais disponibilizaremos uma versão eletrônica da 4ª Edição do “Nosso Jornal”. Foi suado, mas está aí, impresso e circulando! Viva às causas independentes!

     Criado em 2009 pelo Nosso Coletivo Negro, o “Nosso Jornal” se constitui como um veículo juventude negra do Distrito Federal para comunicação independente que prioritariamente objetiva promover a discussão da temática étnico-racial no Brasil. Em suas 4 edições procurou discutir os problemas e soluções para as desigualdades nas mais variadas esferas, entre etnias/raças, dentre a diversidade sexual e de gênero, classe social, geração, religiosidade, nacionalidade, constituição física, etc.

     Também, falamos sobre Ações Afirmativas em Universidades e em outros espaços, sobre comunidades negras rurais e comunidades tradicionais, Direitos Humanos e muitos outros assuntos que se transversalizam às diversas realidades de exclusão dos povos negros no país.

Tendo tiragem média de 7.000 exemplares por edição, é voltado principalmente ao público jovem universitário e secundarista, e amplamente distribuído, de maneira gratuita, em Universidades, Faculdades, Escolas da rede pública do DF, organizações comunitárias, comunidades de Tradicionais de Terreiro e remanescentes de Quilombos e alguns estabelecimentos comerciais dentro e fora do Distrito Federal.

FORUM DE JUVENTUDE NEGRA - DF


     Se você participa de algum coletivo e quer ser o representante dele no FOJUNE. Se você não participa de nenhum coletivo mais gostaria de integrar em algum grupo negro que discuta sobre militância racial, seja bem vindo a conhecer e participar do Fórum de Juventude Negra DF. Acesse o FORUM DE JUVENTUDE NEGRA - DF e se aquilombe!

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Onomollywood: E se os seus filmes favoritos de Hollywood fossem feitos no Senegal?

Mena Suvari dar um mergulho em uma cama de rosas vermelhas, Keanu Reeves invadir um backbend impressionante para desviar de balas - tais momentos cinematográficos icônicos têm sido permanentemente enraizado na psique americana.


Baseado em " Beleza Americana ".

Mas o artista senegalês Omar Victor Diop procurou explorar o que Hollywood blockbusters como estes que parecem que tinha sido filmado em outro lugar - mais especificamente, na África. Então, Diop se uniram com o fotógrafo franco-americano Antoine Tempé reformular nossos stills tela favoritas com um elenco senegalês.

Baseado em "Bonequinha de Luxo".

Sua série deslumbrante, chamado de "Onomollywood", faz parte Hollywood homenagem, parte experimento sociológico, o produto de 33 anos de idade, fotógrafo amador Diop, que só recentemente entraram em cena as artes e cultura do Senegal.Ele, junto com artes cênicas especialista Tempe, voltar a escutar o ato de infância de momentos emblemáticos filmes personificando, ilustrando a influência de longo alcance da forma de arte mais universal conhecido como filme.

Baseado em "The Matrix".

"Começamos a trabalhar com os filmes que gostamos, os filmes que nos influenciaram", Diop explicou em entrevista à CNN. "Eu lembro de assistir na década de 1980 os mesmos filmes que os jovens de Paris e Nova York e, talvez, Bangkok. Ao final do dia somos todos os mesmos jovens, independentemente de onde você nasceu e onde você foi criado e de alguma forma Eu queria mostrar isso também através da escolha dos filmes da série. "

Baseado em " Frida ", embora mais se assemelha a pintura de Kahlo "Duas Fridas".

Renova o filme de Diop são instantaneamente reconhecíveis, ainda conter torções memoráveis ​​sobre os originais. Por exemplo, enquanto Audrey Hepburn veste um vestidinho preto icónica como Holly Golightly, mas sua Onomollywood doppleganger se veste de branco. E enquanto Mena Suvari banha em rosas, seu sósia toma um mergulho nu na folha de vez.

Baseado em "Thelma e Louise".

Deixe-nos saber seus pensamentos sobre o projeto ousado nos comentários.

Baseado em "Blow Up".

Good Hair (Documentário Legendado)



Documentário de 2009 criado pelo comediante Chris Rock. 

"Good Hair" mostra como age a indústria de produtos para cabelos voltada aos negros, bem como a ausência quase que total de personalidades negras que assumem os fios crespos. Da cantora Beyoncé à modelo Naomi Campbell, passando até mesmo pela primeira-dama dos Estados Unidos Michelle Obama, a imagem que se firmou da mulher negra entre os americanos é, tal como por aqui, a de alguém com cabelos lisos. E para conseguir isso, elas não medem esforços apelando para todo o tipo de técnica ou produto.

Em sua saga, Chris Rock visita uma fábrica que faz de cremes para cabelos negros e chega ao ponto de chamar um químico para testar a composição de alguns produtos (e descobrir que eles podem corroer até uma latinha de refrigerante feita de alumínio). O apresentador também entrevista diversas mulheres, iniciando o papo com uma simples pergunta: "o que é cabelo bom para você?". É dessa forma que a produção pretende revelar o que realmente passa pela cabeça (literalmente) de quem se vê obrigada a fazer alisamentos para entrar na moda.

O elenco conta com várias pessoas famosas como Meagan Good, T-Pain, Raven-Symoné, Ice-T, Nia Long, KRS-One e grande elenco.

Assista:

O Renascimento do Parto (Filme)








O filme "O Renascimento do Parto" retrata a grave realidade obstétrica mundial e sobretudo brasileira, que se caracteriza por um número alarmante de cesarianas ou de partos com intervenções traumáticas e desnecessárias, em contraponto com o que é sabido e recomendado hoje pela ciência. Tal situação apresenta sérias conseqüências perinatais, psicológicas, sociais, antropológicas e financeiras. Através dos relatos de alguns dos maiores especialistas na área e das mais recentes descobertas científicas, questiona-se o modelo obstétrico atual, promove-se uma reflexão acerca do novo paradigma do século XXI e sobre o futuro de uma civilização nascida sem os chamados "hormônios do amor", liberados apenas em condições específicas de trabalho de parto. 

Com a participação especial do cientista francês Michel Odent, da antropóloga norte-americana Robbie Davis-Floyd, da parteira mexicana Naoli Vinaver, do ator e diretor de cinema Márcio Garcia e sua esposa, a nutricionista Andréa Santa Rosa.

Asista o trailer oficial:

Fonte: MasterBrasil10.


quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Luciana Oliveira - Fé Menina









     Nascida em Brasília, Luciana Oliveira iniciou sua jornada musical, cantando com a banda de reggae e Ska Mal de Família e em 2000 estreou o espetáculo cênico-musical Cântico Negro. Em 2006, passou a integrar a banda Natiruts, acompanhando o grupo em turnês pelo Brasil e pela Europa. Também participou dos CDs e DVDs Natiruts Reggae Power e Raçaman. Em 2008, lançou seu primeiro álbum solo – O verde do Mar. Produzido por João Ferreira o álbum traz uma harmoniosa mistura de samba, ijexá e funk, em regravações de João Doanto, Jackson do Pandeiro, músicas de novos compositores e de autoria de Luciana Oliveira.

     Vivendo em São Paulo desde 2009, Luciana se apresentou em casas de destaque como SESC Pinheiros, SESC Vila Mariana, Sesi e Centro Cultural Rio Verde. Foi ainda idealizadora do Vozes do Atlântico, projeto que reúne cantoras brasileiras e africanas, com patrocínio da Caixa Cultural. Dentre as parcerias da cantora, destacam-se gravações com Mad Professor – ícone do Dub, no lendário estúdio Ariwa, em Londres –, com o rapper Gog e o com o flautista Altamiro Carrilho. Em 2012, lançou seu primeiro clipe, Flor e Flora e está finalizando seu segundo álbum, Pura, com produção musical de Alê Siqueira, considerado um dos maiores produtores da atualidade. O disco traz músicas de sua autoria junto a compositores da nova geração e conta com a participação especial da cantora Elza Soares.
     A cantora ainda integra a banda de Guilherme Arantes, acompanhando o pianista, cantor e compositor na turnê de seu novo álbum. Confira agora a música "Fé Menina" do seu mais novo albúm Pura:


Outubro Rosa



O movimento popular internacionalmente conhecido como Outubro Rosa é comemorado em todo o mundo. O nome remete à cor do laço rosa que simboliza, mundialmente, a luta contra o câncer de mama e estimula a participação da população, empresas e entidades. Este movimento começou nos Estados Unidos, onde vários Estados tinham ações isoladas referente ao câncer de mama e ou mamografia no mês de outubro, posteriormente com a aprovação do Congresso Americano o mês de Outubro se tornou o mês nacional (americano) de prevenção do câncer de mama.

A história do Outubro Rosa remonta à última década do século 20, quando o laço cor-de-rosa, foi lançado pela Fundação Susan G. Komen for the Cure e distribuído aos participantes da primeira Corrida pela Cura, realizada em Nova York, em 1990 e, desde então, promovida anualmente na cidade (www.komen.org). 




Em 1997, entidades das cidades de Yuba e Lodi nos Estados Unidos, começaram efetivamente a comemorar e fomentar ações voltadas a prevenção do câncer de mama, denominando como Outubro Rosa. Todas ações eram e são até hoje direcionadas a conscientização da prevenção pelo diagnóstico precoce. Para sensibilizar a população inicialmente as cidades se enfeitavam com os laços rosas, principalmente nos locais públicos, depois surgiram outras ações como corridas, desfile de modas com sobreviventes (de câncer de mama), partidas de boliche e etc. (www.pink-october.org).




A ação de iluminar de rosa monumentos, prédios públicos, pontes, teatros e etc. surgiu posteriormente, e não há uma informação oficial, de como, quando e onde foi efetuada a primeira iluminação. O importante é que foi uma forma prática para que o Outubro Rosa tivesse uma expansão cada vez mais abrangente para a população e que, principalmente, pudesse ser replicada em qualquer lugar, bastando apenas adequar a iluminação já existente.




A popularidade do Outubro Rosa alcançou o mundo de forma bonita, elegante e feminina, motivando e unindo diversos povos em em torno de tão nobre causa. Isso faz que a iluminação em rosa assuma importante papel, pois tornou-se uma leitura visual, compreendida em qualquer lugar no mundo.

Fonte: komen


Política e afetividade: a importância das relações de irmandade na sobrevivência das mulheres negras

Foto ilustrativa.

Por Raíssa Gomes para as Blogueiras Negras,
Existir coletivamente dentro de espaços políticos é uma necessidade dentro dos espaços de militância dos mais diversos segmentos. A máxima de que não se faz nada sozinho é verdadeira dentro dos espaços de luta social. No entanto, algumas separações entre o pessoal e o coletivo tornam difícil a coexistência da intimidade e a sororidade nas lutas. O pensamento liberal de que o “pessoal e profissional não se misturam” muitas vezes é realocado para os grupos de resistência, mas como podemos resistir enquanto grupo se não pudermos existir enquanto pessoas?

Se é verdadeiro que nada fazemos sós, qual é o papel dos grupos e coletivos na manutenção da existência saudável e verdadeira de suas/seus componentes? Penso que, se é necessário que se pense e atue em grupo para a existência dos coletivos, é também função coletiva apoiar, dar suporte e encorajamento às diversas necessidades pessoais apresentadas pelas pessoas que constroem e compõem essa coletividade. Vou me ater especificamente à necessidade de apoio afetivo nas relações de construção política entre mulheres negras.

O mundo todo passa, nos últimos anos, por discussões relacionadas à chamada humanização das relações. Isso passa pelo atendimento em Saúde, Educação, pelas relações de trabalho e tantas outras. Humanizar é, como o próprio nome diz, enxergar o paciente, cliente, colega de trabalho, estudante e professor como ser humano, carregado de todas as suas humanidades.

Como se humanizar e humanizar a outra coletivamente quando temos nossa humanidade negada e renegada diariamente pelo racismo e pelo sexismo? Mais do que um desafio, essa me parece uma necessidade premente para a nossa sobrevivência. Amar e enxergar como irmã e humana outra mulher negra é a corrida em busca da reconquista da nossa própria autoestima e amor.

O afeto e, principalmente, as relações de amizade não me parecem coisas postas e dadas a priori. Suavizar diante das demandas diárias, das lutas, dores e dissabores da existência enquanto mulher negra é necessário. Não como uma forma de entrar num mundo de Poliana que não nos coube nem cabe, mas como uma forma de construir uma outra realidade propositiva, positiva e plural, que tanto queremos e desejamos. Deste modo, existir enquanto grupo afetivo é resistir politicamente.

O aquilombamento de mulheres negras não é novidade. Desde que nos constituímos nas mais diversas sociedades, boa parte delas com atribuições definidas a partir do sexo feminino ou masculino, a união entre mulheres existe.

Como estamos ou não estamos transferindo essa prática para a realidade de agora? A partir de quais pressupostos? Ainda carregamos conosco o apreço pela existência plena e feliz das nossas companheiras de caminhada?

Sou feliz em dizer que ainda que sejamos poucas, espalhadas e muitas vezes não saibamos da existência de todas nós, de grão em grão, de espaço em espaço estamos caminhando na construção de uma coletividade feminina, negra e afetiva.

Meu agradecimento às Pretas Candangas, que me abrem, diariamente, a perspectiva de sermos mais por sermos juntas.


Ubuntu!


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Por Raíssa Gomes, integrante do Pretas Candangas, coletivo de mulheres negras do DF.


Uma carta de amor aberta para o meu filho: sobre luto, amor e maternidade negra



Por Christen Smith,
Criar os filhos Preto - feminino e masculino - na boca de um racista, sexista, dragão suicida é Criar e educar crianças negras – de sexo masculino e feminino – na boca de um dragão racista, sexista e suicidaé perigoso e incerto. Se eles/as não podem amar e resistir ao mesmo tempo, eles/as provavelmente não sobreviverão. E em ordem de sobreviver eles devem se desprender/liberar. Isto é o que mães ensinam – amor, sobrevivência… (Audre Lorde, “Man Child” in Sister Outsider, 1984)

Quando eu estava grávida de você, eu tinha certeza de que você era uma menina. Mesmo quando um/a sábio/a atrás do/a outro/a olhava diretamente para a minha barriga enorme e redonda, balançava a cabeça e me dizia: “Não, isso é um menino”, eu não acreditava neles. Eu não poderia me imaginar tendo um menino. Menininhos nunca foram uma parte das minhas fantasias de maternidade. Eu sempre me imaginei como mãe de menina. Uma menina para ser exata: exatamente como minha mãe, a mãe da minha mãe e a maioria das minhas tias. Então, quando seu pai e eu fomos fazer nosso ultrassom de cinco meses de gravidez para descobrir o seu sexo e ter certeza de que você estava bem, eu estava numa jornada de confirmação e não de descoberta.

Eu deitei naquela conhecida mesa de falso couro do médico. Levantei minha camisa e esperei para que a geleia gelada fosse aplicada. Nós dois estávamos tontos de ansiedade. Nas nossas mentes, nós não nos importávamos se você era um menino ou uma menina. Era a excitação de atingir outro marco na gravidez que era eufórico. O médico começou a descrever seu batimento cardíaco, sinais vitais, contar dedos dos pés e das mãos, tudo enquanto nós observávamos você, nadando pacificamente, na tela de projeção. Já treinado na teatralização do processo, o médico esperou até o finalzinho da consulta para perguntar se nós queríamos saber o seu sexo. Nós inspiramos e dissemos: “Sim”. Com olhos brilhantes da certeza de nosso entusiasmo, ele disse: “Tá vendo isso aqui, isso é um pênis, e ali está o escroto dele, você está gerando um menino!” Minha respiração parou momentaneamente e calafrios percorreram meu corpo. Eu forcei um sorriso. Eu já amava você profundamente, mas saber que você era um menino e não uma menina me paralizou de medo.

Quando estávamos saindo do consultório do médico, seu pai olhou para mim e perguntou: ”Você está bem?”, como se ele soubesse que minha cabeça estava girando com as emoções que eu estava apenas começando a entender. Eu forcei um outro sorriso, respondi: “Sim, eu estou bem”, e fui ao banheiro para me recompor. Eu lavei meu rosto e tentei sair dessa sensação de vertigem que eu estava sentindo. Mas eu não podia afastar a dor surda de tristeza que eu sentia e não podia entende o porquê. A boa feminista em mim repreendia: “Sexo é uma construção social. Recomponha-se.” Mas a sensação fria permanecia. Quando eu estava saindo da clínica para a calçada ensolarada, a sensação fria se transformou em pânico. Envergonhada, eu tentei esconder isso de todo mundo: seu pai, seus avós e meus amigos. Eu não queria que ninguémsoubesse que saber que você era um menino me deu uma sensação de pavor que eu não podia entender ou explicar. Eu comecei a fazer pequenos comentários para a nossa família que davam uma pista do meu sofrimento emocional. Eu poderia dizer coisas como: “Eu não tenho a menor idéia sobre o que fazer com um menino”, ou “Nós apenas não temos nenhum menino em nossa família”, mas minha mente não podia ou não permitia que eu colocasse em palavras o indizível terror que eu sentia.

Eu estava em estado de choque e demorou muito para que eu entendesse o porquê. Foi somente em fevereiro de 2012, depois que você nasceu, essa bela e extraordinária pessoa que você é, e já estava nesse mundo por quase um ano, que eu comecei a confrontar meu segredo vergonhoso. Esse foi o dia em que eu soube que Trayvon Martin tinha sido baleado e assassinado, e ouvi sobre as circunstâncias da morte dele. Quando eu ouvi essas notícias, eu sentei e chorei. Eu chorei por ele. Eu chorei pela família dele. Eu chorei pelas pessoas negras em todos os lugares. Mas, acima de tudo, eu chorei por você.

Eu, uma mãe negra de um menino negro, entendia e conhecia a dor que Sybrina Fulton (a mãe de Trayvon Martin) estava experienciando através de um intenso sentido de empatia diaspórica que atravessava/cruzava o tempo e o espaço. E eu estava petrificada pelo pensamento de perder você, ou ser mais uma mulher negra perdendo mais um filho negro. Novamente, outro assassinato de outra criança negra mal interpretado como um homicídio justificável me forçou a a confrontar o pânico secreto e tendencioso com relação ao gênero sobre maternidade negra que eu tinha carregado comigo desde que eu era uma criança. Por mais irracional que isso pareça, a descoberta de que você era um menino me fez sentir como se você estivesse recebendo uma sentença de morte. Eu sabia naquela época, como eu sei agora, que meninas negras também são desproporcionalmente impactadas pela violência policial, e eu também sabia, como JamilaAisha Brown observa, que essa realidade é invisível e silenciada. Nós nunca devemos esquecer Ayana Stanley-Jones, Reika Boyd, Malaika Brooks, Jaisha Akins e Frankie Perkins, mulheres negras assassinadas e imencionavelmente prejudicadas pela polícia, cujas vidas relembram a sempre tão frequente realidade de violência estatal contra as mulheres negras nos Estados Unidos. E a realidade da violência policial contra pessoas transgênero/a é literalmente inconcebível na nossa socieade, onipresente, mas invisível para a maioria dos que não são parte dessa comunidade.

Entendendo tudo isso, e reconhecendo as óbvias contradições inerentes ao meu medo, eu ainda não conseguia afastar o sentimento de tristeza e desamparo associados ao fato de trazer você a este mundo. Na minha mente traumatizada e irracional, maternar meninos negros era um luto iminente e a empatia que eu sentia por mulheres como Sybrina Fulton, Mammie Till e Laura Nelson tornou isso ainda mais nítido. Mas meus sentimentos não se originaram/nasceram apenas no/do silêncio hegemônico que blinda a real letalidade da supremacia heterrosexista e patriarcal contra mulheres negras e pessoas negras transgêneras. Eles também se originavam dos crus e dolorosos sentimentos de amor que eu tenho por você.

Silenciosamente e quase inconscientemente, por anos, eu tinha desenvolvido um senso de vida e amor que estava sendo moldado por minhas preocupacões com os assassinatos sem sentido de crianças negras que acontecem diariamente nos nossos dois lares: Os Estados Unidos e o Brasil. Entendendo, pesquisando e escrevendo sobre a morte negra, eu me vi paralisada com o medo da perda. Antes de eu me tornar a mãe, eu podia compartimentalizar aquele sentimento e distanciá-lo. Porém, depois que eu me tornei mãe, eu não podia mais distanciar as realidades de violência com as quais eu tinha começado a viver nos meus pensamentos e reflexões diárias. Mesmoquando você crescia no meu útero, eu incoscientemente comecei a tritutar estatísticas na minha mente, numa tentativa de criar um cenário que de algum modo pudesse fazer sua sobrevivência mais provável. Fundamentalmente, eu amava tanto você que eu não podia suportar a ideia de você possivelmente ser tomado de mim pelo “dragão suicida” que é o nosso mundo. Minha esperança de que você fosse uma menina era meu desespero em acreditar que, de algum modo, existiria uma maneira de bater as probabilidades do jogo de roleta russa que é a vida de pessoas negras nas Américas.

Depois de dedicar anos me posicionando pessoalmente e politicamente contra a violência policial (e seu parente próximo, o vigilantismo) contra pessoas negras nos Estados Unidos e no Brasil e traçando a genealogia da tortura e da morte da população negra a partir da escravidão no hemisfério americano até linchamentos, grupos de extermínio e policiamento nas duas nações, eu passei a aceitar que o mundo toma meninos negros de suas mães, frequentemente na frente dos olhos delas, sem nenhum motivo, sem razão, ao caso e ainda assim com uma intenção cruel.

Eu conheci as mães de Canabrava no I Encontro Popular pela Vida e um Outro Modelo de Segurança Pública em Salvador, Bahia, em 2009, após uma centena de policiais civis e militares do batalhão de operações especiais terem invadido o bairro delas e executado sumariamente cinco jovens homens daquela comunidade. Três dos jovens, Edmilson Ferreira dos Anjos (22), Rogério Ferreira (24) e Manoel Ferreira (23) eram irmãos. De acordo com a irmã deles, a polícia invadiu a casa deles, puxaram a mãe deles pra fora e atirou nos meninos enquanto eles estavam assistindo televisão, no sofá e dormindo no quarto. Eu conheci Debora Silva, das Mães de Maio, cujo filho foi uma das 493 pessoas que a polícia matou em São Paulo em 1996, em retaliação às revoltas do PCC. Eu conheci Deise, uma das milhares ( sim, milhares) de mães negras cujos filhos foram assassinados pela polícia no Rio de Janeiro nos últimos dez anos, que teve que contratar um investigador particular para encontrar o corpo mutilado de seu filho após ele ter sido assassinado. Nos olhos delas, eu vi a morte em vida que acontece quando a alegria de sua vida ésugada pela supremacia branca. O mesmo olhar eu já tinha visto nos olhos de Sybrina Fulton, nos olhos de Mamie Till e nas fotos de mães, irmãs, filhas e parceiras, longe, nas sombras dos linchamentos nos Estados Unidos, esperando para recolher os restos mortais dos seus entes queridos. Eu lembrei da tia que você nunca conheceu, que perdeu seus meninos para a violência policial e a violência das ruas, mas que tinha mantido suas meninas. Porque eu conhecia mais mulheres negras que tinham sobrevivido à violência policial (mesmo que as suas vidas tenham se tornado uma morte em vida), eu ansiava que você fosse uma menina.

Desde que você nasceu, eu tenho lutado com o terror que eu senti naquele dia em que eu descobri que você era um menino e agora que seu irmãozinho está aqui, minha jornada para superar esse terror tem se tornado mais intensa. Ainda assim, lindamente, misticamente, você tem me ensinado a desmentir os meus medos e apenas amar você, reconhecendo o que Audre Lorde disse muitos anos atrás: “Se [você] não pode amar e resistir ao mesmo tempo, [você] provavelmente não sobreviverá… Para sobreviver, crianças negras na América, devem ser criados para ser guerreiros”(1984:74-75). Então, minha promessa a você é criar você como um guerreiro, porque essa é a única coisa que eu posso fazer. E entender que este é o meu jeito de amar você em cada passo do caminho. Cada dia que você vive e ama, sorri e gargalha, ri e chora, nos seus olhos brilhantes, você carrega a felicidade de Olorum; e eu sou relembrada de que você voltou para lutar mais um dia. Você e seu irmão não são meus, mas um dia vocês vão crescer e se tornar ferozes guerreiros por verdade e justiça.

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Christen Smith é uma mãe, escritor e pesquisador que trabalha atualmente como professor assistente de antropologia e estudos da diáspora africana e Africano da Universidade do Texas em Austin. Seu trabalho explora a política de desempenho, a raça, a violência, eo corpo nas Américas. Ela publicou ensaios sobre performatividade e formação racial no Brasil, a violência policial e as políticas de geografia em Salvador, e do corpo feminino negro coletiva transnacional. Desde 2001 que tem vindo a colaborar com os ativistas negros em Salvador, Bahia em torno da luta para denunciar a violência policial e as ações de esquadrões da morte contra a comunidade negra no Brasil. Ela é um membro da comunidade transnacional de base acção organização Quilombo X.

Tradução por Viviane Santiago da Silva para o blog Pretas Candangas, publicado em 23 de julho de 2013.