Reaja ou será morta! Reaja ou será morto! - Nota da Quilombo Xis- Ação Cultural Comunitária Sobre os Recentes Casos de Intimidação, Violência e Perseguição a nossa militância.

Nota da Quilombo Xis- Ação Cultural Comunitária Sobre os Recentes Casos de Intimidação, Violência e Perseguição a nossa militância.

O caso de brutalidade policial envolvendo um militante da Quilombo Xis- Ação Cultural Comunitária- organização do movimento negro e de direitos humanos - que impulsiona a Campanha Reaja ou Será Morta, Reaja ou Será Morto, não é um caso isolado e dever ter uma atenção e tratamento coletivo por parte das organizações co-irmãs, as organizações parceiras e as instituições públicas do Estado objetivamente responsáveis por ação ou omissão de seus agentes. 

O Estado e o Governo são os principais violadores dos Direitos Humanos Fundamentais no Estado da Bahia. Ignorar esse fato significa não querer tocar fundo nas complexas redes de violência e genocídio que tem sido resguardada pela lógica em curso de segurança pública. Essas redes se materializam em símbolos que indicam uma escolha do governo por uma segurança pública belicista, racista, baseada em confronto e na militarização de bairros populares pobres (baralho do crime, política de pacificação de territórios, lei que institui um Sistema de Defesa Social, contêineres para aprisionar gente negra como mercadoria, gaiolas para prender pessoas no carnaval, cadeia construída em área reconhecida como comunidade quilombola). 

A Quilombo Xis/Campanha Reaja realizou no dia 22 de agosto deste ano uma marcha histórica Contra O Genocídio do Povo Negro e levou às ruas do país diversos militantes do movimento social com o protagonismo do Movimento Negro, afirmando a pauta da defesa da vida como a principal agenda política do Brasil e unificando os movimentos sociais numa agenda que é permanente. Instituindo esse dia 22 de agosto como dia de luta, sem qualquer tipo de tutela com governos que criam instituições inócuas para nossa defesa. Temos falados por nós mesmas e pelos nossos.

A Quilombo Xis/Campanha Reaja está criando Bases de Proteção Comunitárias (BPC) em Oposição às Bases de Segurança Comunitária, que só tem levado a morte e a violência para nossas comunidades, já há muito excluídas. São comunidades ocupadas militarmente que foram surpreendidas com o fracasso da promessa do Pacto Pela Vida (PPV) de garantir segurança e ofertas de serviços públicos que deveriam alcançar qualquer cidadão ou cidadã dentro da sociedade. Essas nossas Bases de Proteção Comunitárias são baseadas na solidariedade, na articulação comunitária, na autonomia política e na unidade dos movimentos sociais que se recusam a atuar a cada ciclo de ano eleitoral. 

Estamos em constante marcha e ação política, a Campanha Reaja é uma ferramenta concreta de luta pela desmilitarização, contra os grupos de extermínio e as execuções sumárias e extrajudiciais que não encontram qualquer resposta efetiva do governo, seminários pomposos, simpósios, apenas intermináveis reuniões, relatórios complexos e financiamentos de projetos que não tem nenhuma relação com o cotidiano, com as famílias e as comunidades atingidas pelo terror dos grupos paramilitares que preparam nas regiões pacificadas, deixando o ambiente propício para a instalação de grupos MILICIANOS articulados com os grandes negociantes do narcotráfico. Isso tem gerado um ódio de grupos políticos cúmplices dessas violações que querem blindar o Governo às custas da morte de jovens, mortes e sofrimentos extensivas aos familiares, sobretudo as mulheres. Basta ver nossas denúncias contra o Baralho do Crime, inspirado na Guerra ao Terror de George W. Bush, que a Secretaria de Segurança Pública ostenta no seu Site, sem nenhum pronunciamento das instituições de defesa de direitos humanos da Bahia e Instituições de Promoção da Igualdade. É um silêncio perturbador que nós rompemos nas ruas, nas vilas, nas favelas, prisões e acampamentos. POLITIZAMOS NOSSA MORTE através de nosso método político conhecido internacionalmente como Campanha Reaja ou Será Morta, Reaja Será Morto, não tutelado, baseado em nossa ancestralidade africana /indígena que se recusou a compactuar com o pacto covarde dos serviçais da Casa Grande. 

SOBRE AS INTIMIDAÇÕES E VIOLÊNCIAS À MILITÂNCIA DA QUILOMBO XIS/REAJA: 

1. Durante a construção da Marcha Contra o Genocídio do Povo Negro , uma militante que sofreu violência e se filiou à luta da Quilombo Xis – Campanha Reaja, foi chamada num quartel da Policia Militar e interrogada sobre sua filiação ela respondeu positivamente, “ sim, sou da Reaja” . O oficial disse a ela para “SAIR DESSA TAL DE REAJA, POIS O BICHO VAI PEGAR PRA ELES”; 

2. No Nordeste de Amaralina, policiais que invadiram a casa de uma mulher, deixando-a nua e humilhada, depois de quebrar sua casa e jogar bomba de gás na comunidade souberam que a acompanhamos até as autoridades e, junto ao MPL e OAB, fizemos uma denúncia conseguindo a retirada da equipe criminosa do local. Eles voltaram, prenderam o marido da denunciante e mandaram que ela se afastasse e retirasse as denúncias. 

3. Um advogado, presente em um curso de Direitos Humanos para Policiais Militares ouviu de um grupo a seguinte declaração: “CURSO DE DIREITO NÃO VALE MAIS NADA ATÉ LADRÃO ESTUDA DIREITO, NÃO TÁ VENDO ESSE HAMILTON BORGES?”. 

4. O líder Comunitário Tom Nascimento tem sofrido várias ameaças, com carros da polícia rondando sua casa pela madrugada, invasão de quintal com lanternas, tudo isso depois que Tom, membro da Campanha Reaja, denunciou o assassinato de jovens por parte de policiais da Base Comunitária, os mesmos que recolheram as balas na frente das câmeras - que agora dizem estar quebrada. A investigação está parada e a delegada responsável diz temer pelo depoimento da testemunha, para não ser morta. Perguntamos à delegada se ela tinha medo da polícia, ela se irritou e nós nos retiramos. 

5. Hamilton Borges e Dra. Andreia Beatriz, membros da Quilombo Xis- Ação Cultural Comunitária, foram seguidos da Avenida Bonocô até a sua residência por um carro de cor preta, dirigido por um homem que depois disse se tratar de um engano: "Foi uma arranhão no meu carro, pensei que era o cara que o arranhou”, ele disse. Detalhe: a condutora do veículo por ele perseguido era uma mulher, Dra. Andreia. 

6. Militantes da Quilombo Xis/ Reaja em Fazenda Coutos, Peri Peri, Alto de Coutos tem sido vitimas de ameaças, intimidações e temem por suas vidas, pararam sua atividades e não circulam mais a noite: "Nossos familiares estão com medo", eles dizem. 

7. Hamilton Borges, militante que tem falado em fóruns, locais, nacionais e internacionais, batido de frente com a politica de segurança, entrando em comunidades no momento do conflito com policiais violentos, sofreu uma intimidação, que ligou o alerta vermelho de nossa militância em todo Brasil. No dia 30 de setembro, estando em casa, esperando sua esposa, com o filho de 07 anos na sala assistindo televisão, por volta das 23 horas , policias esmurraram a porta de sua casa. O garoto abriu o portão pensando tratar-se da mãe, Hamilton Borges teve que falar com os policiais que estavam munidos de metralhadoras e uma policial mulher com uma pistola engatilhada. O militante ligou para uma advogada, em viva voz, pediu que acionasse diversas autoridades e militantes para inibir a ação dos policias. Eles avisaram que entrariam na residência, Hamilton Borges exigiu um mandado e alertou que, caso estivessem com o documento, poderiam cumpri-lo na hora permitida por lei (durante a luz do dia). Eles pediram insistentemente o nome do militante que se recusou uma vez que não existia motivo fundado para tal identificação. Eles insistiram e Hamilton Borges disse que poderia falar mediante a presença de uma autoridade policial. A policial mulher disse irritada: “EU SOU PALAHAÇA É? EU SOU AUTORIDADE!” Hamilton respondeu: “ENTÃO ESTÁ EM DESVIO DE FUNÇÃO SENHORA, POIS AUTORIDADE POLICIAL É DELEGADA(O) DE POLICIA E A SENHORA É UMA POLICIAL MILITAR” .Com isso, Hamilton Borges fechou o portão de sua residência, entrou, trancou a porta e foi para o ultimo cômodo da casa. 

Tememos pela segurança de todas e todos militantes da Quilombo Xis e da Campanha Reaja ou Será Morta em Salvador, Núcleo Akofena em Cachoeira, Casa de Bonecos em Itacaré. 

Chamamos o movimento social em geral e o movimento negro em particular para agirmos conforme uma lógica contra-hegemônica, não tutelada, independente, que permita uma mudança de fato de nossa situação de genocídio e fascismo instalada em nossos locais de moradia.

*EXIGIMOS O FORTALECIMENTO DOS PROGRAMAS DE PROTEÇÃO DE TESTEMUNHAS E DEFENSORES DE DIREITOS HUMANOS E A INCLUSÃO DE ALGUNS DOS NOSSOS AO PROGRAMA DE DEFENSORES!!!!! Nos manteremos em luta de forma permanente e autônoma. 

Agradecemos comovidas e comovidos as lutadoras e aos lutadores do povo que deram uma demonstração imediata de solidariedade e compromisso com o verdadeiro movimento negro de lutas sem concessão e sem dúvidas de qual é o seu lugar na luta cotidiana por um outro modelo de Estado. 

Quilombo Xis- Ação Cultural Comunitária 

2 de Outubro de 2013, 21 anos do Massacre do Carandirú

Contra a Democracia dos Massacres!!!!

CONTRA O GENOCIDIO DO POVO NEGRO NENHUM PASSO ATRÁS!!!