Quando me descobri mulher negra, uma das maiores dificuldades que enfrentei (e posso dizer que ainda enfrento) foi o reconhecimento da potência do meu corpo. Sempre tive problemas em me expôr e colocar o meu corpo à frente se encaixa nesse lugar de exposição. Ter sido criada no seio de uma família católica apostólica romana, embora não praticamente, me fez e ainda faz carregar em mim a chamada “culpa católica”: “não toque ai menina”, “tira a mão dai, isso é feio!”.
Por Karina Vieira,
Viver no corpo e não se sentir pertencente à ele, entender que existem cantos e recôncavos que você desconhece e que só começa a perceber que são seus ao se empoderar do seu corpo e de toda história que ele carrega. Posto isso, uma nova forma de vivência me foi apresentada esses dias. O aprendizado, o estudo, o (re)conhecimento daquele lugar que habito.
Me sentir, tocar, conhecer e começar a perceber o lugar que o meu corpo, esse corpo preto, ocupa. Explorar, conhecer os limites e não sentir vergonha dos movimentos, da fluidez e das possibilidades desse corpo. Esse descoberta se deu em Vivências do Balé – Resistência e Corpo Negro, atividade do Grupo Cultural Balé das Iyabas. Ocupar o mesmo espaço com outras mulheres pretas, trocar conhecimento, sentido de comunidade, identificação e sensação de pertencimento.
O corpo preto incomoda. Por isso somos tolhidas, apontadas e muitas vezes envergonhadas quando temos que nos fazer presentes. A corporalidade se dá na vivência com o outro, se dá no conhecimento do lugar histórico que esse corpo está. Visibilidade e representatividade são problematizações que permeiam e conduzem o meu lugar de fala, pois quanto mais eu me vejo, quanto mais eu me sinto representada, menos o meu corpo ocupa um lugar estranho pra mim.
Fonte: Meninas Black Power.
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