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terça-feira, 7 de abril de 2015

Assim a conta fica mais cara playboy*

Crédito foto: TV Carta

*Por Wander Filho Pavão,
O vídeo** da TV Carta mexeu comigo. Fui estudante da Universidade de Brasília no período em que o processo de ação afirmativa para estudantes negros e negras estava em discussão. Por falta de fatos ou por mera estratégia de sobrevivência em uma universidade hostil a pretos periféricos como eu, no início fui contra. Sabe, qualquer pessoa desinformada pode sustentar essa opinião por um tempo, mas não o tempo todo. Em um universo de quase 23 mil pessoas, jovens negros e negras não representavam mais de 1% do total de estudantes. E ficava mais dramático quando as pesquisas apontavam a inexistência de negros e negras em cursos tradicionais como direito, medicina, relações internacionais e economia. Minha opinião não demorou a mudar. Em menos de um mês passei de oposição a defensor aguerrido, com fatos, fotos, números, laudas e mais laudas de especialistas, pareceres e pesquisas. Professores, alunos, militantes, eu e meus companheiros e companheiras de coletivo travamos uma guerra na arguição e defesa da aprovação das cotas na Universidade de Brasília. Ouvimos e desconstruímos os argumentos mais reacionários e ignorantes de alunos e muitos professores contrários. Vencemos. Hoje a geografia humana da UnB é outra. O tempo passou, vieram os argumentos que tentariam desqualificar a política. Diminuição da qualidade do ensino, sugestão da incapacidade de alunos cotistas em acompanhar as disciplinas, entre outros argumentos medievais. Mais uma vez, vencemos. As pesquisas mostraram como eram vazias e maldosas as “preocupações” dos “defensores” da qualidade do ensino superior.

Com pouco mais de 15 anos de ações afirmativas para o povo negro em várias universidades brasileiras, me deparo com o vídeo da Faculdade de Economia e Administração da USP, com as mesmas falas insensatas que combatemos na UnB há 15 anos. É isso, a gente fortalece, aquilomba, luta, articula, vai pra rua, leva tapa da pm, vota, escreve, filma, desenha, canta, grafita, dança, grita, chuta, passa no vestibular, estuda, aprende, pesquisa, escreve de novo, fortalece e muda a estratégia de luta, articula, vai pra rua, leva tapa de novo, vota, escreve, filma, desenha, canta, grita e chuta de novo. Enquanto o vírus da indiferença é mais rápido e se dissemina com a eficiência dos cabos de fibra ótica e antenas de TV. Não termina nunca. A sensação de areia movediça só não é maior do que a indignação. E sabe, não é o cansaço da luta, não. É a frustração de ver gente que decreta a falência de enxergar o outro. É ver cada vez mais gente que se empenha no exercício contínuo, diário e incansável da negação da existência do outro e da outra. É o famoso “to me lixando, se vira negão”. Depois, não quer que entremos e interrompamos as aulas pra gritar verdades surdas que são ignoradas. Não quer ouvir 30 minutos da história alheia porque não lhe interessa.

Mas na conta da matemática básica, não é preciso ser gênio pra somar que um e mais uma que não são computados na equação da vida, vão cobrar o resultado em balas e outros dividendos. A essa altura, a conta fica mais cara playboy.

**Vídeo

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