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sexta-feira, 24 de abril de 2015

O Afro Contemporâneo nas Artes Cênicas


Tendo como foco os fazeres e saberes vinculados à diáspora africana, o Instituto de Artes (IA) da Unesp, em São Paulo, realizou de 31 de março a 2 de abril o Colóquio Internacional: O Afro Contemporâneo nas Artes Cênicas – Perspectivas Teóricas, Poéticas e Pedagógicas, sob organização do Grupo de pesquisa Terreiro de Investigações Cênicas: Teatro, Brincadeiras, Rituais e Vadiagens, coordenado pela Profa. Dra. Marianna Monteiro.

“O evento foi um grande painel do que se tem realizado academicamente em diálogo com a cultura da diáspora negra no Brasil e internacionalmente”, explica o estudante de doutorado do IA-Unesp, Fernando Ferraz, que faz parte do Grupo Terreiro desde sua concepção. “O colóquio possibilitou uma interpenetração entre teoria e prática, retomando conceitos, apontando afetos, compartilhando impressões, compartilhando conhecimentos e fortalecendo a experiência como um todo.”, diz.

O evento contou com a participação de pesquisadores de universidades africanas, europeias, americanas e de diversos estados do Brasil. “O que se revelou foi a existência de uma demanda represada, tem muita gente pesquisando temáticas brasileiras e africanas e que não são contempladas por congressos ou colóquios”, conta a idealizadora do colóquio, Marianna Monteiro. “A grande surpresa foi essa: quando abrimos a porta, estava todo mundo na espera”, completa.

A programação do Colóquio Internacional O Afro Contemporâneo nas Artes Cênicas contou com mesas, oficinas, vivências, palestras e grupos de trabalho (GTS). Durante a organização do evento primeiramente foram selecionados os palestrantes, oficineiros e conferencistas, depois foram abertas as inscrições para proposta de GTs. “Os temas propostos nos GTs foram uma surpresa, sabíamos que receberíamos propostas sobre dança, teatro, pedagogia, porque esse era o desenho do colóquio, mas surgiram outros campos e intersecções inesperados”, conta Monteiro.

Inicialmente seria feita uma seleção das propostas de grupos de trabalhos, mas a comissão organizadora do colóquio decidiu aprovar todas as inscrições. A seleção dos comunicadores em cada grupo foi feita posteriormente pelo pesquisador propositor do GT. “Achamos que deveríamos aceitar todas as propostas de GTs, esse primeiro colóquio foi uma vitrine, qualquer proposta representaria, uma tribo, um grupo, uma identidade que merecia representada e bem vinda” explica Monteiro.

Os grupos de trabalho

Os oito grupos de trabalho que compuseram o colóquio foram: 1 Mito imagem e cena: experiências e reflexões afro contemporâneas; 2 O corpo na capoeira; 3 A experiência negra no teatro brasileiro; 4 Pedagogia e africanidades; 5 Dança e diáspora negra; 6 Literariedades sônicas e performáticas de culturas em diáspora; 7 Imagens em movimento, narrativas e performances negras; 8 Contemporaneidade e cultura popular: atravessamentos – dança, artes e educação.

Franciane Salgado de Paula (Kanzelumuka), é estudante de primeiro ano de mestrado em artes cênicas no IA-Unesp e participa do Grupo Terreiro há dois anos. No colóquio Franciane participou como comunicadora em um grupo de trabalho. “Além de poder saber o que há de pesquisas em artes cênicas semelhantes a minha”, diz a estudante. “Pude fazer algumas reflexões que me ajudarão no desenvolvimento do meu projeto atual no mestrado e fiquei bem empolgada para participar de mais encontros como este”, ela completa.

Convidados internacionais

Para realização das palestras, o encontro recebeu os convidados internacionais Thomas DeFrantz da Duke University (EUA) que realizou a palestra Beleza Negra: performance contemporânea, estética africana; Yvonne Daniel, Professora de dança e de estudos afro americanos da Smith College (EUA) que falou sobre O poder do corpo dançante africano; Sylvie Chalaye, professora PHD da Universidade de Paris, Sorbonne Nouvelle que apresentou O quilombolismo das dramaturgias afro-contemporâneas. Nefertiti Burton- Professora PhD Professora da Louisville University (EUA) ministrou a oficina Orikis: Dramaturgia e Encarnação da Tradição Yoruba no Teatro.

Oficinas

Além da oficina ministrada por Nefertiti, O bailarino e coreógrafo, mineiro, Rui Moreno, propôs a oficina Si ocê quizé vem. Para o doutorando Fernando Ferraz: “Embora algumas atividades, como os Grupos de Trabalho, puderam apresentar demonstrações de processo prático seguido de reflexão, as oficinas vieram dar o contrapeso dos primeiros dias do evento, realizados num formato mais teórico”, explica.

Mesas

Durante o colóquio foram realizadas três mesas, seus temas foram: Pedagogia: fazeres e saberes em diálogo, desafios político-institucionais. Afrocentrismo, diáspora, políticas e identidades: estratégias para enegrecer a teoria, e Performance Negra: mediações entre a cultura tradicional e a criação cênica contemporânea. Cada mesa recebeu quatro convidados e foi mediada por um integrante do Grupo de Pesquisa organizador do colóquio.

Yaskara Manzini é pesquisadora e integrante do Grupo Terreiro, ela foi mediadora da mesa Pedagogia: fazeres e saberes em diálogo, desafios político-institucionais, que debatia as possibilidades abertas pela lei 10.639/2003, a qual assegura a obrigatoriedade do Ensino da História e Cultura Afro Brasileira na educação básica, para ela: “Apesar da existência da lei pouco se discute quando se fala da aplicação dela com um olhar mais voltado às artes cênicas, seja a partir de uma perspectiva tradicional ou da reelaboração das culturas tradicionais”, explica. A mesa abordou maneiras como a Arte, em especial as artes do corpo, podem contribuir para potencialização da execução da lei nas escolas.

Exibições de filmes

Dentre as exibições de filmes que aconteceram durante o evento estão as obras Movement (R)evolution África – A Story of an Art Form in Four Acts- direção e realização de Joan Frosch. (65 min), Balé de Pé no Chão – A Dança Afro de Mercedes Baptista – direção e realização de Marianna F. M. Monteiro e Lilian Solá Santiago (53min), e também a obra Um Filme de Dança – direção e realização de Carmen Luz (30 min. Ao final das exibições de filmes aconteceu uma palestra com cada um dos seus realizadores.

Continuidade

“Ninguém pensa que isso possa acabar aqui, todo mundo acha que se criou uma nova veia Pensamos em realizar outros colóquios, proponho que eles sejam bianuais.”, conta a professora Mariana Monteiro. Na discussão final, sobre as perspectivas futuras do colóquio, surgiu uma vertente para abordarmos, em próximas edições, trabalhos de fora da universidade. “Creio que seja importante consolidar um espaço no universo acadêmico, que é a marca registrada do colóquio, contudo pensamos sim em fazer conexões e novas aberturas nos próximos encontros, mantendo esse eixo central”, explica Marianna Monteiro.

O Grupo Terreiro 

– Criado pela professora Mariana Monteiro em 2008, o grupo começou com a organização dos eventos anuais Tradição e Treinamento do Ator que abordava as contribuições das teatralidades brasileiras para o treinamento atoral.

– Em 2011 o grupo é oficializado no CNPQ

– Dos encontros Tradição e Ttreinamento do Ator surge um projeto de extensão que estuda a brincadeira tradicional do Cavalo Marinho da Zona da Mata Norte de Pernambuco , no IA-Unesp.

– Em 2012, algumas integrantes do grupo se reúnem na montagem de uma peça teatral inspirada na obra Homens e Caranguejos, de Josué de Castro.

– Em 2014 o grupo participa da realização de um encontro de capoeira, no IA-Unesp.

– Em 2015 Acontece o primeiro Colóquio Internacional O afro contemporâneo nas artes cênicas. 

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UNESP/Felipe Jara

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