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terça-feira, 31 de março de 2015

Médica sofre racismo por usar dreads


Boa noite coordenadores do Programa Mais Médicos

Sou médica brasileira formada no exterior e revalidada, alocada no município do Paraná, na cidade de Santa Helena na segunda chamada.

Hoje pela tarde, a Secretária municipal de saúde, Sra Teresinha Bottega e sua secretária, Cristiane, me chamaram para organizarmos as atividades a serem realizadas na estratégia de saúde da família. Porém ao entrar na sala da Secretária de saúde, a mesma verbalizou que sentia muito falar disso, porém havia um problema: meu cabelo. Que os pacientes estavam acostumados com um padrão de médicos, e que eu poderia encontrar dificuldades pelo preconceito que meus pacientes poderiam ter com meu cabelo. A Sra Cristiane perguntou se eu usava aplique, que meu cabelo exalava um cheiro forte, estranho, e a Sra Teresinha completou que parecia incenso. Eu falei que estamos dentro de uma sociedade onde 50% e mais da população é negra, e que o contexto sócio-histórico no qual estamos inseridos de racismo, discriminação e preconceito, faz com que as pessoas tenham reações racistas, discriminatórias e preconceituosas, porém que estes fatos não iriam influenciar na minha capacidade profissional e relação médico paciente. Que sim o racismo existe e que enquanto intelectual e profissional da saúde, não poderia responder de outra forma que não intelectualmente apenas emanando e demandando respeito enquanto ser humano e profissional, e que as diferenças existem para que sejam superadas da melhor forma possível. E que eu não gostaria de nenhum comentário a respeito do meu cabelo, simplesmente isso. Cada pessoa deve ser respeitada independentemente de seu cabelo, cor da pele, crenças ou escolhas pessoais, e que as mesmas não podem interferir na qualidade profissional, portanto nem deveria ser ponto de pauta de uma reunião para definição de trabalho.

Sinceramente me senti sim discriminada, posto que o que pensam a respeito da minha aparência, é pessoal de cada indivíduo, porém não necessariamente deve ser verbalizado sem saber que podem gerar consequências para além das legais, psicológicas, físicas, mentais e espirituais.

Sou preta, africana, mulher, de dreadlocks e médica. Quer queiram quer não.

Ao final desta pauta seguimos com as realmente relativas ao trabalho, sem nenhum tipo de retratação de ambas por conta de suas infelizes colocações.

Aguardando uma posição do Ministério da Saúde.

Att,
Thatiane Santos da Silva.
Médica Clínica Geral

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