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terça-feira, 28 de julho de 2015

Todo PODER ao povo: precisamos falar sobre o genocídio dos negros nos Estados Unidos

“Pessoas que estão encarceradas dizem que um homem negro na Casa Branca não é suficiente para anular um milhão de homens negros na casa-grande, ou seja, no sistema carcerário” (Angela Davis)
No sábado de 18 de julho no Estado da Carolina do Sul centenas de pessoas participaram de atos a favor e contra a remoção da bandeira dos Estados Confederados em frente da Assembleia Legislativa. A bandeira em questão foi usada pelos Estados do sul do país que eram favoráveis ao sistema escravocrata durante a Guerra Civil no século XIX. A bandeira voltou a ser alvo de revoltadepois de aparecer em fotos do racista Dylann Roof, que matou no mês passado, 22 de junho, nove pessoas em uma igreja da comunidade negra na cidade de Charleston. Sobreviventes da chacina relataram à polícia que Roof proferiu insultos raciais durante o ataque, portanto trata-se de umcrime de ódio racial. O genocídio de negros nos Estados Unidos chamou atenção inclusive da ONU que se pronunciou pedindo às autoridades que atuem para dar resposta à crescente onda de assassinatos de negros por civis e policiais brancos.

Para não ficar no esquecimento, além da chacina em Charleston, em 2015 tiveram outros casos de genocídio do povo negro, como a morte de Tony Terrel Robinson, 19 anos, morto por um policial branco. O caso aconteceu na véspera do aniversário de 50 anos da marcha pelos direitos civis dos negros em Selma no Alabama. Na Geórgia, um policial branco matou Anthony Hill, 27 anos, um homem desarmado que sofria de problemas mentais. Já na Carolina do Sul, Michael Slager, 33 anos, também foi morto por um policial branco que deu oito tiros pelas costas de Michael que estava desarmado. Citei apenas alguns casos, entre diversos que ocorrem diariamente nos EUA. Segundo as publicações The Washington Post e The Guardian, mais de 300 pessoas morreram nas mãos da polícia desde o começo do ano. Dados não oficiais acreditam que esse número é bem maior, pois nos 50 estados do país, vigoram leis diferentes, o que torna o levantamento estatístico incompleto. Por isso, urge que as autoridades americanas examinem com precisão como os assuntos raciais estão afetando os sistemas de Justiça e de polícia no país.

O racismo norte-americano é estrutural e institucional, e mesmo após seis décadas do início dos movimentos pelos Direitos Civis, o país ainda é marcado pela violência e tensão racial. “Nós não estamos curados do racismo”, afirmou Barack Obama, presidente americano, sobre a segregação que ainda paira no país. É nítida ainda a segregação racial nos bairros e guetos. Para o especialista em demografia da Universidade de Michigan tem ocorrido uma suburbanização da população negra e muitos subúrbios que eram predominantemente branca agora são negras. As recentes pesquisas da Universidade de Brown, em Rhode Island, diz que bairros “tipicamente branco” são constituídos por 75% da população branca e 8% de população negra. Já os bairros típicos de negros são compostos por uma população de 45% negros contra 35% de brancos. San Luis, a maior cidade de Ferguson, é uma das áreas metropolitanas mais segregadas dos Estados Unidos.


Recentemente Obama falou em entrevista ao podcast ‘WTF com Marc Maron’ que ocorreram progressos entre as relações raciais no país, e acrescentou ainda que as oportunidades aumentaram para os negros, e as atitudes das pessoas mudaram. Estranho que a realidade vai de contramão à fala do presidente. O massacre de Charleston é um exemplo que chocou o mundo, reabrindo o debate em torno do racismo, da legislação das armas e a remoção da bandeira confederada do Sul que, enfim, foi tirada no último dia 10 de julho. Uma semana depois da remoção da bandeira Os Cavaleiros Leais Brancos, extensão da Ku Klux Kan protestaram contra, entrando assim em conflito com o Novo Partido dos Panteras Negras, favoráveis a extinção da bandeira que simboliza a supremacia branca. Durante a marcha o grupo racista mostrou faixas confederadas e outras com a suástica nazista no meio. A hostilidade se intensificou quando as duas marchas se encontraram. Agressões verbais passaram a serem desferidas aos negros que partiram para cima de diversos nazistas. O choque entre membros da organização supremacista e dos Panteras deixou vários feridos e dois foram presos.

As tentativas de incluir a população negra na sociedade norte-americana vem desde o século XIX, logo após a Guerra Civil e a abolição da escravidão, no entanto, o que ocorreu foi a intensificação da marginalização da comunidade negra, vista como cidadãos de segunda categoria.

Uma das grandes preocupações dos afro-americanos é inevitavelmente a violência policial. A quantidade de negros que morrem desarmados pela polícia é duas vezes maior que a de brancos. Assim como também é desproporcional o número de negros na prisão e condenados à morte.Angela Davis em visita ao Brasil afirmou que nos Estados Unidos há mais pretos nos presídios do que nas Universidades. Portanto temos que avaliar como um país que reelegeu Barack Obama se mantêm extremamente racista. E pelo panorama atual americano, ainda existem muitos desafios para que o sonho de Martin Luther King se concretize.

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Referências:

Sou de Porto Alegre-RS. Graduada em História e atualmente estou no 3 semestre de jornalismo na UFRGS.

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