A professora universitária, uma das principais vozes sobre colorismo e políticas globais, participou de conferência especial no Festival Latinidades
Por Adriana Izel,
A pesquisadora Yaba Blay pode não ser muito conhecida no Brasil, mas a professora universitária é referência internacional quando se trata de beleza negra e é uma das principais vozes sobre colorismo e políticas globais. Ela é autora de importantes estudos voltados para a questão da cor de pele e sobre o cabelo, com foco na estética cultural, como o livro Drop: Shifting the lens on race (Gota: Ajustar as lentes sobre as raças) e o projeto #Prettyperiod, em que fotografa diferentes belezas negras. Filha de mãe ganesa, ela vive nos Estados Unidos, onde se formou em psicologia na Universidade de Salisbury State, fez mestrado e doutorado em estudos americanos e africanos pela Universidade de Temple e pós-graduação em estudos da mulher. Na última semana, Yaba Blay desembarcou pela primeira vez no Brasil para participar do Festival Latinidades — Festival da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha —, no Cine Brasília (106/107 Sul). Na conferência especial, ela falou sobre colorismo, supremacia branca e beleza negra. Em entrevista ao Correio por Skype, Yaba Blay fala sobre cotas nas universidades, os jovens negros mortos pela polícia e a relação dos temas de pesquisas com a sua vida. “São problemas que eu mesma tive que lidar, como uma mulher africana morando nos Estados Unidos. Eu quis estudar algumas da causas, a história e os efeitos nas mulheres negras. Isso se tornou um estudo profissional”, afirmou.
Como surgiu o convite para participar do Festival Latinidades?
Uma das minhas amigas conhece as organizadoras do festival e é familiarizada com o trabalho delas. Por conta do tema, ela sugeriu meu nome. Fiquei muito honrada.
Você já havia visitado o Brasil?
Não, esta é a minha primeira vez. Me sinto honrada de estar no Brasil, que é um país que sempre quis visitar por conta do clima, dos lugares, da história e, depois, devido ao racismo. O mundo não sabe que muitos dos brasileiros se veem como africanos e valorizam essa descendência. Mostram-nos mulheres que não são negras como brasileiras, então temos a ideia de que não existem brancos e nem negros. E, se não há raça, não há racismo. Mas se não existe racismo, por que eu não sabia que havia mulheres negras no Brasil? O Brasil tem mais negros do que muitos lugares na África, ele só perde para a Nigéria em população.
Você tem vários estudos e artigos sobre a cor da pele e sobre cabelo. Por que decidiu falar sobre esses assuntos?
São problemas com que eu mesma tive que lidar, como uma mulher africana morando nos Estados Unidos. Isso é algo que muitas mulheres precisam lidar, porque é muito comum e porque dói demais, eu quis estudar algumas das causas, sobre a história e os efeitos nas mulheres negras. Isso se tornou um estudo profissional. A beleza negra é uma questão política. A beleza, em si, se traduz em poder. O dicionário a define como uma vantagem e isso reflete em nossa sociedade. O que eu vejo como belo não é o que o outro vê como belo. A beleza está nos olhos de quem vê. Mas quem é que está vendo? Os padrões são culturalmente definidos. Antigamente, se você era bronzeado queria dizer que você era pobre, porque tinha que estar exposto ao sol trabalhando.
Fonte: Correio Braziliense.
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