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terça-feira, 21 de julho de 2015

A Naturalização: estupro e pedofilia na mídia


Apesar de o tema implorar por um textão, com muitas estatísticas e depoimentos e manifestações e relatos, eu vou fazer diferente. Vou citar três exemplos e serei breve na introdução.

Agressões sexuais nos cercam diariamente. Pode acontecer com você, comigo e com qualquer outra pessoa, independente de sexo ou idade. Mas é necessário sim um recorte para tudo, inclusive para isso. Estas agressões – tais como domésticas – atingem uma classe, um gênero e uma etnia, em especial, com maior vigor no Brasil. Hoje, mulheres negras de periferia estão mais vulneráveis a esse tipo de agressão, tanto na rua quanto em casa.

Feito o recorte, sigo.

Tais agressões acontecem, na maioria dos casos, com pessoas próximas (“amigos”, vizinhos e parentes) e tem como cúmplice, o silêncio das vítimas, principalmente quando menores. O que devemos entender com precisão é que a naturalização dessa violência coloca a vítima em uma dupla agressão. Fora a romantização do aliciamento na mídia que, pelo olhar dos reais aliciadores, acaba por soar como “sugestão” e ameniza os crimes.

Vamos aos três exemplos (se quiserem acrescentar mais exemplos nos comentários, fiquem à vontade):

1° Exemplo: o que vemos em “Verdades Secretas” – telenovela da Rede Globo – é um bom exemplo do que o tema propõe.

A menor procura uma agência de modelos e é aliciada pela dona dessa agência a realizar a tão conhecida “ficha rosa” – prostituição entre modelos – colorindo um mundo sujo e cinza. Ela se apaixona pelo cliente e eles ficam juntos. Nesse caso ambos aliciaram, e não, não é moralismo da minha parte, é como você naturaliza* pedofilia seguida de prostituição ao seu redor! É isso que está acontecendo: uma menina aliciada para a prostituição aos 16 anos e para se envolver com um cara que tem basicamente o dobro de sua idade. (vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=D_FaD-ByR0s)

Será que ninguém percebe o quão isso naturaliza e estimula os pedófilos a aliciarem menores? Digamos que esse tipo de romantização (estupro, pedofilia e prostituição) na mídia, é um aliciamento escancarado e ousado e você é conivente e presente. Poderia até falar como a prostituição não é legal, dentre muitos relatos e acontecimentos com menores no Piauí e em todo mundo. Masssss… na tv tudo é bonito, tudo é glamourizado e gourmetizado.

2° Exemplo: No programa “Agora é tarde”, com Rafael Bastos, vimos a chocante entrevista de Alexandre Frota na qual ele conta e encena (com uma mulher da plateia) detalhes do estupro que cometeu com uma Mãe de Santo. Não satisfeito, ainda transveste a história de uma religião de matriz africana, regando de estereótipos. No final de tudo, todos da plateia aplaudiram e riram, inclusive o apresentador. Sequer uma contestação ao vivo, de ninguém, NINGUÉM. (vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=n1IINXC1P0I) 9:57″

3° Exemplo: A campanha publicitária do apresentador Luciano Hulk para o carnaval do ano passado que apresentava uma linha infantil e a criança USADA para divulgação da linha vestia uma das peças (camisa) que dizia: “vem ni mim que eu tô facin”. Se não é naturalização, o que é?

É muito comum ver também materiais pornográficos – com muito acesso inclusive – de título: “estupro da novinha”, “estupro na casa do irmão”, “estupro da menor” e por aí vai. E livres de qualquer controle jurídico (pasmem).

Já vi também no cinema, em mais de um filme (não me recordo nomes), cenas que simulam estupro e queria muito que entendessem o quanto isso é totalmente desnecessário.

Quero chamar a atenção de todos, quero mesmo que muitos coloquem “óculos 3D de crítica” toda vez que ligarem suas TV’s e tiverem acesso a todo esse lixo.

Você que está lendo esse texto, se um dia já foi vítima de estupro, pedofilia ou aliciamento ou ambos, espero ter representado algo para você com essas palavras.

Você que esta lendo esse texto e não achou nada de estranho nessa mídia, busque ajuda.

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Imagem destacada: print de cena da novela Verdades Secretas e da campanha da grife de Luciano Huck.

Elisangela Limaé estudante e faz parte da coordenação estadual de SP do Fórum Nacional de Juventude Negra.

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