Por Elisangela Lima,
Não é utopia, é como caminha a humanidade. E por essa realidade me descabelo dia e noite, não pude deixar de fazer minha contribuição ao tema.
Cada vez mais me convenço do quão árdua a luta contra o racismo é, o quão estruturais e raivosos são os métodos separatistas e principalmente o quanto nós, negros e negras estamos individuais nas lutas.
Aqui esta nossos dilemas ancestrais e contemporâneos: Vamos classificar a extinção relembrando um pouco do passado!
Antigamente, quando princesa Isabel cedeu ao capitalismo e suas definições passando assim a corrente do escravo ao trabalhador, legitimou uma classe trabalhadora negra e indígena no Brasil, que mesmo após a abolição se viu totalmente dependente. “Curiosamente” são as classes menos favorecidas e mais marginalizadas pela sociedade até o presente.
Deste ponto sabemos quem precisa de quem e quem engana quem pra isso. É importante ressaltar o quanto a história de um modo geral é desfocada e superficial ao tratar desses assuntos. Falo de uma época onde se matava ou prendia negros com qualquer tipo de livro em mãos.
Desde seu encarceramento, o negro no Brasil, de um modo geral, teve sua inteligência subestimada e seu passado escondido, deixando para seus ascendentes uma grande curiosidade em tratar de origens e um complexo inferior por “pertencimento étnico”. Muita gente se encontra com dificuldade pra entende que o passado tem forte influência em nosso presente, que o que fazemos hoje estrutura o caminho de amanha, é o ditado batido de “hoje, reflexo de ontem”. Pra entender esse texto, é indispensável entender essa imagem:
Todo momento nos ocupam a cabeça com interesses vazios para que sequer pensemos em buscar ou curiar algo que nos remeta a origens. Mas é natural querer sabe de onde veio e pra onde vai, né? Isso é filosofia pura. Dentro muitos esse foi mais um direito negado e roubado, fomos e somos condicionados por uma cultura eurocêntrica a não pensa melhor quando o assunto é passado. Pois sim, a chave se identifica como ANCESTRALIDADE.
Não existe uma preocupação sadia em dar continuidade ao negro.
A comunidade negra tá careca de saber das mortes nos morros cariocas, favelas nordestinas, impunidade nas ruas, feminicídio, aborto clandestino, crack etc e ainda lutamos pelo direito mínimo de saber estatisticamente quantos de nós enterramos por dia, mas hein? Como somos pacientes!
Cada vez mais temos a morte de jovens negros, a qual apontamos diversas medidas para o fim dessa guerra, ainda permeia pelo país uma onda fundamentalista que prioriza o capital e não quem o sustenta. Aí vai uma pergunta que muito me entristece: Como teremos futuro se já morremos jovens? Pois é, olhando para o passado, a sensação é de que trocaram apenas os nomes.
Outro método de extermínio étnico utilizado no passado e que ainda reverbera hoje, são os relacionamentos inter-raciais e a sequência familiar dada a partir de tal união. Assunto espinhoso, porém necessário.
Relacionamentos inter-raciais também se encaixam nesse viés de extinção, com critérios elaborados por esse sistema em uma época onde o negro livre no Brasil poderia resultar em maioria populacional (séc XX), e a preocupação dos sinhozinhos era obvia. Na maioria das vezes a mulher negra e indígena atraia em apenas um sentido: o sexual.
Antigamente estupradas por imigrantes (que tiveram acesso livre as colônias no Brasil, facilitando o processo de branqueamento).
Hoje em dia, ainda reproduzimos alguns desses comportamentos, como bem aborda o escritor Gilberto Freyre (sic), em seu livro Casa grande e Senzala: “branca para casa, mulata para foder, negra para trabalhar”. É importante ressaltar que esse ditado foi retratado depois de uma geração, menos de cem anos depois da abolição e também foi a primeira geração de miscigenação do país. Coincidência? Não! Estratégia.
Esse ditado originário dos anos 30 é uma herança praticada (in)conscientemente até hoje.
A peça do joguete foi/é o homem negro para a tão criticada e ao mesmo tempo elogiada miscigenação, intitulada por muitos da época como “processo de pureza”.
Mulheres negras são marginalizadas, são associadas ao impróprio. Para o homem negro, uma mulher branca representa um convite a viver com dignidade nessa sociedade, e é assim que eles planejaram mesmo. Dessa forma não damos continuidade em nossa ancestralidade por motivos racistas que perseguem nossa auto-estima.
Esse processo é classificado por muitos como uma medida genocida, pois foi estrategicamente pensado com essa finalidade. E de tão silencioso parece inofensivo, me lembra do “parecia inofensivo, mas te dominou”, pois é e isso resultou no Brasil uma perda de identidade por etnia, uma confusão individual de pertencimento onde ser negro é mais uma questão política e de afirmação de quem é “confundido” ou “camuflado” como branco na sociedade.
Assim como esse processo de branqueamento foi implantado na sociedade (mais conhecido como miscigenação), o machismo patriarcal branco também.
Willy Lynch, um senhor de escravos do Caribe no séc XVIII, foi um dos mais requisitados por outros senhores e teve suas “habilidades psicológicas” propagada, que se baseava em separar, dividir e dominar. Lynch usou de métodos eficazes nos quais a desunião entre os negros fortificava a relação fiel de escravo e senhor, dando privilégios aos homens (por ser homem), aos mais novos (pela sua condição), aos que se aproximavam de uma beleza europeia (por classificar essa uma beleza superior) e dessa forma criou-se uma cultura separatista e segregatória entre os negros e negras da época.
Todo esse processo, resultou hoje em grande escala numa cultura conflituosa e separatista, onde o maior vilão de todo movimento e fora ele é a superioridade e ignorância perante as diferenças.
O culto ao cristianismo nos trouxe a cultura machista patriarcal e demais costumes até então desconhecidos e reforçou ainda mais o que já estava semeado.
Esses exemplos e outros não citados aqui, simplificam o título desse texto.
Nossas culturas quilombolas, ainda vivas por diversos estados do país (Asè), nos mandam uma escura mensagem: A de que o negro é negro ajudando outro negro. A união ainda é a principal chave de toda a problemática. Não precisamos trazer pra dentro do movimento ou de nossos lares negro as inquietudes branquicistas, não precisamos dos critérios racistas de avaliação deles para o tratamento entre nós, enfrentemos juntxs.
Não sei enquanto a vocês, mas não quero parar e esperar a conclusão de toda essa raiva estrutural. Não deixem acabar com nossa etnia!
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Elisângela Lima é estudante e faz parte da coordenação estadual de SP do Fórum Nacional de Juventude Negra.
Fonte: Blogueirasnegras
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