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quarta-feira, 30 de abril de 2014

Vítimas de racismo reconhecem avanço, mas querem punição maior ao agressor

"Os agressores precisam ter o entendimento do respeito ao próximo, mas em conjunto, têm que pagar pelo crime que cometeram", Kim Fortunato, contador

Segundo estudo da UnB, 95% de 12 mil casos analisados foram classificados como injúria racial, com pena muito mais branda

Descaso e exclusão são as palavras encontradas pelas vítimas de racismo para definir a incerteza que vivem depois de realizar a denúncia. Elas reconhecem que houve um grande avanço contra o preconceito, mas o processo até chegar a uma punição é longo e, em muitos casos, não satisfatório. Para especialistas, a questão é subjetiva e muito ainda precisa ser feito no país para quebrar a impunidade nos casos de racismo. As ocorrências de Brasília não são diferentes daquelas que tomam os noticiários internacionais. Eles lembram os recentes episódios no mundo do esporte, como o do jogador de futebol Daniel Alves e o do time de basquete da NBA Los Angeles Clippers (leia mais no caderno de Esportes, capa e página 2). A maior dificuldade é reconhecer o crime.

“Foi uma situação constrangedora e desagradável. Eu entrava para trabalhar (na padaria) e tinha a sensação de que aquela mulher (a qual a agrediu de forma racista durante um atendimento) estava ao meu lado. Não suportei”, relembra a nutricionista Elaine da Silva, 32 anos. Para priorizar sua liberdade e privacidade, a nutricionista, então funcionária de uma padaria na Asa Sul, optou por trocar de emprego. O fato ocorreu em junho de 2013, quando uma cliente do estabelecimento, depois de discordar do preço de um produto, reclamou com o gerente Antônio Nilberto Castro Santos, 28 anos, com xingamentos e atitudes racistas. Elaine tentou ajudar, mas também foi alvo da mulher. O caso foi registrado na 1ª Delegacia de Polícia e está parado no Ministério Público aguardando um laudo do Instituto Médico Legal (IML), pois a defesa da agressora alegou que a cliente sofre de insanidade mental.

O colega Antônio também decidiu buscar um novo emprego. “Foi algo que me marcou muito. Saí de lá para esquecer aquela situação”, relata Antônio. Ele destaca a necessidade de enquadrar as pessoas pelo crime de racismo e não por injúria racial (leia O que diz a lei). A questão também é levantada pelo professor Ivair Augusto Alves dos Santos, coordenador do Centro de Convivência Negra da Universidade de Brasília (UnB). Entre 2000 e 2007, Santos analisou 12 mil casos de discriminação registrados em sentenças judiciais, despachos, pareceres e inquéritos policiais coletados em tribunais de Justiça de todo o país para sua tese de pós-graduação em sociologia da UnB. Santos identificou que 95% dos processos judiciais acabam em injúria e não em racismo. 


"Foi uma situação constrangedora e desagradável. Eu entrava para trabalhar e tinha a sensação de que aquela mulher estava ao meu lado. Não suportei" Elaine da Silva, nutricionista e vítima de injúria, ao lado do colega Nilberto Castro


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