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quinta-feira, 24 de abril de 2014

Polícia é acusada de assassinar dançarino Douglas Rafael

Tenho certeza que ele foi torturado', diz mãe de dançarino achado morto no Rio de Janeiro. Corpo de Douglas Rafael da Silva Pereira, foi encontrado em uma creche do Morro Pavão-Pavãozinho. Policiais são suspeitos do crime


Maria de Fátima Pereira, mãe de Douglas Rafael da Silva Pereira, o DG dançarino do programa "Esquenta", acredita que o filho encontrado morto nesta terça-feira em uma creche da comunidade do Morro Pavão-Pavaozinho, em Copacabana, na Zona Sul do Rio, foi torturado antes de morrer. "Tenho certeza que ele foi torturado. As pessoas dizem que ouviram gritos e muitos moradores da comunidade já falaram isso", declarou ela na manhã desta quarta-feira.

A dona de casa acredita que DG tenha sido torturado por policiais já que o rapaz foi encontrado com afundamento do lado direito do crânio, um corte no supercílio direito, machucado no nariz e marcas nas costas."Ele foi achado em posição como se tivesse lutando", disse. Maria também contou que DG foi encontrado sem os documentos e sem R$ 800. A carteira de identidade e o passaporte só apareceram na 13ª DP. "Os documentos dele estavam molhados assim como ele", falou.

Ainda de acordo com Maria de Fátima, há cerca de dois anos, quando ainda trabalhava como mototaxista, DG teve o veículo apreendido pelos PMs. "Os policiais encheram o tanque da moto dele de areia", contou a mãe. Dias depois, a moto foi furtada. Um morador contou à família que a moto foi levada numa picape pelos próprios policiais da UPP.

Para Maria de Fátima, a última imagem que vai ficar de seu filho é a lembrança dele vestido de coelho no especial de Páscoa do programa "Esquenta", onde Douglas distribuiu chocolate para as crianças e dançou alegremente. O corpo de DG será velado nesta quarta-feira, às 17h. O enterro está marcado para às 15h de amanhã, no cemitério João Batista, em Botafogo.
Protesto interditou a Avenida Nossa Senhora de Copacabana por mais de cinco horas

Revoltados com a morte do dançarino, moradores do Pavão-Pavãozinho, fecharam na última terça-feira, por volta das 17h, as principais ruas do bairro e fizeram barricadas ateando fogo em objetos. O medo se espalhou pelo bairro. A PM foi chamada, e houve tiroteio. Um homem de 30 anos foi encontrado morto num campo de futebol na favela, e um adolescente de 13 anos, identificado apenas como Mateus, baleado na cabeça. Centenas de pessoas ficaram na rua sem conseguir voltar para casa.

De acordo com a PM, o policiamento foi reforçado na favela com efetivo de diversas UPPs, do 23º BPM (Leblon), 19º BPM (Copacabana), batalhões de Operações Especiais (Bope) e de Choque. O acesso ao metrô pela Rua Sá Ferreira da Estação General Osório foi fechado, assim como o Túnel Sá Freire Alvim, que liga as ruas Raul Pompeia e Barata Ribeiro. O tráfego precisou ser desviado pela Rua Miguel Lemos. A Avenida Nossa Senhora de Copacabana só foi liberada por volta das 23h30.

A confusão começou logo depois que o corpo de Douglas foi encontrado dentro da creche Menino de Luz, na comunidade. Moradores acusam policiais de terem matado o dançarino. Segundo eles, houve um tiroteio na madrugada de ontem entre PMs e traficantes. Douglas teria pulado um muro da creche para fugir do confronto e despencado de uma altura de sete metros. Mas familiares acreditam que o dançarino tenha sido agredido por PMs durante a confusão.
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Em nota o deputado federal do Rio de Janeiro, Jean Wyllys, também se manifestou a acerca do caso:

Hoje, 23 de abril, o laudo do IML atestou que o dançarino Douglas Rafael da Silva Pereira, um rapaz de apenas 25 anos, dançarino do grupo Bonde da Madrugada, que faz parte do programa "Esquenta", morreu devido à hemorragia interna provocada por um objeto transfixante, que perfurou o seu pulmão, talvez um tiro. Ainda de acordo com o laudo, o rapaz sofreu corte no supercílio, afundamento no crânio e soco no nariz.

Até então, a versão oficial da polícia é que Douglas fora encontrado morto dentro de uma creche, após cair ao tentar pular o muro. A versão de alguns moradores já acusava a morte violenta por espancamento. Douglas engrossa o número de jovens negros da periferia, das comunidades, que são mortos e encontrados mortos dia após dia, em um Estado que negligencia parte de sua população. Jovens anônimos em sua quase totalidade, invisibilizados pelo senso comum que associa diretamente a pobreza à violência.

Um senso comum alimentado por uma política de guerra às drogas que atinge apenas os mais pobres, os mais jovens, e em especial, os jovens pobres e negros. Uma política que esconde execuções sumárias, como o caso de Amarildo, bastando apenas relatar tais mortes como "autos de resistência". Quem se preocupará em investigar?

Após a morte de Douglas, moradores foram às ruas em protesto e assistimos a mais violência: durante a manifestação um homem foi morto com um tiro na cabeça. As versões, como sempre, são conflitantes, o que fica realmente desta história é a lembrança diária e amarga do alijamento de tantas pessoas dos direitos civis básicos que deveriam ser garantidos a todos os cidadãos, como a segurança pública, por exemplo. O que fica é a perda. A perda de um jovem inocente, de um dançarino dedicado e sonhador, de um pai de uma menina de apenas 4 anos, do filho de uma mãe que terá de lidar com a dor da perda de seu filho, como tantas mães de tantos Douglas mortos, assassinados, anônimos.

Enquanto o Estado não assumir sua parcela de responsabilidade, se prestando à discussão séria e não-eleitoreira, que passa diretamente pela revisão da política de combate às drogas, do fim da marginalização, da presença real dos serviços do Estado nas comunidades, continuaremos presenciando massacres diários como este, seja por parte das polícias, seja por parte do crime organizado, que funciona com a conivência do próprio Estado às custas da corrupção de seus agentes públicos.

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