Páginas

terça-feira, 15 de abril de 2014

O racismo camuflado no Brasil


por ROSANA GUIMARÃES NAVES,
O Brasil sempre procurou sustentar a imagem de um país cordial, caracterizado pela presença de um povo pacífico, sem preconceito de raça e religião. Durante anos alimentamos a ideia que vivíamos uma verdadeira democracia racial, apesar das visíveis desigualdades e limites de oportunidades oferecidas aos negros, mulatos, índios e ciganos. Sempre interessou ao homem branco a preservação do mito de que o Brasil é um paraíso racial, como forma de absorver as tenções sociais e mascarar os mecanismos de exploração e de subordinação do outro, do diferente. Mas, será que esse paraíso racial realmente existe?

Procure olhar à sua volta. Como vivem, onde e em que trabalham os brancos, os negros, os mulatos e os indígenas brasileiros? Quantos médicos, professores universitários, padres, engenheiros, gerentes de banco, militares, industriais, políticos e apresentadores de televisão você conhece que sejam negros, mulatos ou indígenas? Ligue a televisão no horário nobre e assista à novela das oito. Preste atenção aos comerciais. Folheie uma revista. Ao sair de casa, observe com atenção os outdoors fixados ao longo das grandes avenidas.

Quantos personagens das novelas ou anúncios não são brancos? Qual o papel que, na maioria das vezes, os negros ou mulatos assumem? Ou ainda: quem consome aquele iogurte tão saudável ou aquela nova margarina que dá água na boca? Quem é que fuma aquele cigarro que transforma todos os homens em seres corajosos, ricos, elegantes, vencedores? E aquela mulher sensual, independente, livre, que sempre usa modernos absorventes – é uma negra? Ou ainda, será que a jovem irresistível que usa aquele xampu ou jeans da moda, é negra, mulata ou índia? Você já viu alguma propaganda do carro do ano na qual o elegante proprietário ou comprador seja um negro?

No Brasil há um racismo camuflado, disfarçado de democracia racial. Tal mentalidade, se pensarmos bem, é tão perigosa quanto aquela que é assumida, declarada. O racismo camuflado é traiçoeiro: não se sabe exatamente de onde vem. Tanto pode se manifestar nos regimes autoritários quanto nas democracias.

Se fizermos um balanço de algumas passagens da nossa história, verificaremos que, por tradição, o brasileiro tem uma mentalidade racista. Esse aspecto está oculto na chamada história oficial, em que certos assuntos são evitados para não ferir a memória de algumas instituições e personalidades.

Dessa forma, persistem os mitos, que alimentam falsas realidades. Muitos necessitam deles para conseguir enfrentar o cotidiano, a fome, a miséria, o caos político. Mas alguns desses mitos agem negativamente, favorecendo determinados grupos sociais, em prejuízo de outros. O Brasil da democracia racial, ou do brasileiro homem cordial não existe. Senão, como explicar a situação marginal em que vivem os negros, mulatos e indígenas.

Por que e como os mitos se sustentam? Talvez porque não convenha à maioria branca mudar uma situação de fato a apontar os verdadeiros interesses mantidos por trás da constante marginalização do negro, mulato ou indígena. Talvez não interesse a certas instituições oficiais trazer a público documentos que venham manchar a imagem de homens, muitos dos quais ministros, políticos, militares ou intelectuais apresentados até hoje como grandes heróis nacionais.

___________________________________________________
(Rosana Guimarães Naves, bacharel em Direito pela PUC-Goiás, pós- graduanda em Direito Penal pela UFG e assessora parlamentar da Câmara Municipal de Goiânia - E-mail: Rosanaejosé@hotmail.com)

Fonte: DM.

Nenhum comentário:

Postar um comentário