Por: Higor Faria,
No último domingo (27/04), durante o jogo entre Barcelona e Villarreal, jogaram uma banana no campo de futebol. Em uma atitude totalmente irônica, o jogador negro Daniel Alves a comeu.
Não é de hoje que negros e negras são chamados de macacos e que a banana se tornou, dentro ou fora dos campos, um símbolo desse tipo de agressão racial. Não é de hoje também negros jogadores de futebol são vítimas do racismo dos torcedores, dos patrocinadores, da FIFA e dos árbitros.
Daniel Alves sofreu uma agressão. Reagiu. Contudo, a atitude do jogador não neutralizou a violência racial a qual ele foi exposto, nem tirou a necessidade de se punir os agressores. O jogador sentiu aquilo que todos os negros e negras passam diariamente no esporte ou fora dele. Ser retirado da sua humanidade e colocado em condição de animal irracional é artifício secular do racismo reproduzido até hoje. A diferença no caso de Daniel é a sua visibilidade e o alcance da sua reação — diga-se de passagem: melhor que muito discurso por aí.
Todo o apoio a Daniel Alves.
A atitude de Daniel não faz dele um macaco. Não faz de nenhum negro ou negra macacos. Não faz de ninguém macaco. Neymar parece que não entendeu.
Num surto heroico anti-racista, Neymar, que até ontem não se identificava como negro, colocou uma foto no instagram dele acompanhado do filho, segurando cada um a sua respectiva banana, dizendo “Tomaaaaa bando de racistas. #Somostodosmacacos e daí?”. Em pouco tempo, famosos acompanharam o desserviço em forma de indignação do rapaz.
Toda a repulsa à campanha que Neymar emplacou.
Se Neymar começou a reconhecer e a assumir sua negritude agora, não se sabe. O que se tem é um homem negro com visibilidade dizendo que o discurso racista do opressor está certo e que somos macacos. Todo mundo deveria saber que ninguém é macaco — o problema é que alguns de nós, pretos e pretas, fomos e somos historicamente tratados como animais.
Neymar tá empurrando para o lixo anos e anos de luta anti-racista. E nem acho que ele esteja ligando muito para a merda que fez. O racismo nos campos de futebol sempre existiu e agora têm ganhado bastante espaço na mídia. Os veículos até então não tinham encontrado um rosto que estampasse a luta contra esse tipo de discriminação sem afetar seus interesses. Neymar percebeu a oportunidade, agarrou como a banana na foto e provavelmente será esse rosto: mais visibilidade para o afroconveniente de ouro.
E a merda não para por aí. Faça a pesquisa nas redes sociais com #Somostodosmacacos e você vai perceber a quantidade de fotos de pessoas brancas com suas respectivas bananas como se estivessem sob a ameaça de sofrer um ataque racista. Não faz sentido! Afinal, nenhuma banana, real ou não, foi jogada na cara delas.
Neymar não fala pela comunidade negra.
Eu não sou macaco.
Nenhum negro ou negra é macaco.
Ninguém é macaco.
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Higor Faria é preto, publicitário, estuda masculinidade negra e escreve no https://medium.com/@higorfaria
Fonte: Medium
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