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sexta-feira, 25 de abril de 2014

Nota urgente das(os) estudantes negras(os) da Universidade de Brasília - UnB: ENEGRECER A UNIVERSIDADE CONTRA O RACISMO!

Enegrecer a universidade contra o racismo!


Universidade de Brasília, abril de 2014.


Em 03 de abril de 2014 um grupo político chamado Aliança pela Liberdade (gestão do DCE-UnB nos dois últimos mandatos e com cadeiras enquanto Representantes Discentes) foi a única corrente de representação estudantil a votar contra a proposta de manutenção da política de cotas étnico-raciais irrestritas para acesso à Universidade de Brasília. Na votação realizada no Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão felizmente foram derrotados enquanto posição, uma vez que a manutenção do sistema de cotas irrestritas para negrxs foi aprovada.

Passado este episódio, queremos porém fazer um breve retrospecto das posições da Aliança pela Liberdade sobre a questão:

- Alguns de seus fundadores e membros mais ativos sempre se colocaram pessoalmente contrários às Ações Afirmativas Étnico-Raciais. Fizeram afirmações públicas sobre o tema, participaram de produções audiovisuais e assinaram abaixo-assinados demonstrando esta posição.


- Quase de forma desdenhosa em indiferença inaceitável para com um tema tão central à questão social brasileira, o grupo nunca afirmou publicamente sua postura sobre o assunto. Porém, sempre que teve de se manifestar (em votações, em entrevistas, em debates públicos) sobre questões específicas relativas às Ações Afirmativas, posicionou-se de forma contrária e reacionária. Só recordando, afirmar ser favorável ao cumprimento de uma lei não é determinar sua posição acerca das ações afirmativas.

- Em sua campanha para as eleições para o DCE no final de 2012, citaram inverdades sobre xs estudantes negrxs da UnB. Em resposta, a comunidade organizada dessxs estudantes apoiada por diversos entes, inclusive docentes, lançou a nota: 'JAMAIS EM NOSSO NOME!', que o grupo solenemente ignorou e mais uma vez não respondeu nem se retratou.

- Para justificar sua posição no último CEPE, alegaram estar sob a resposta de uma suposta maioria de estudantes da Universidade de Brasília que se colocaram através de uma 'enquete virtual' (!!!), meio bastante duvidoso e descuidado para se tratar de tema tão complexo.

Para um grupo que diz pautar suas decisões em aspectos técnicos em detrimento aos aspectos políticos, o voto da Aliança pela Liberdade foi um voto extremamente político, pois ignorou um aspecto técnico de suma importância: ao questionarem em sua enquete se os estudantes da UnB concordariam com a manutenção da política de cotas raciais da UnB com a porcentagem de 5% não foi informado que esta posição havia sido proposta em um estudo realizado por uma comissão constituída por professorxs da UnB que analisaram os resultados da aplicação da política de cotas raciais ao longo dos últimos dez anos. Este estudo discute, entre muitas outras coisas, que o percentual de 20% das vagas que deveriam ter sido destinadas aos negros não havia sido atingido por conta de um erro técnico, no qual apenas o Vestibular ofertou vagas de cotas raciais. Como o PAS não reservou suas vagas às cotas raciais, ao final dos dez anos, apenas 15% das vagas totais foram ofertadas para as cotas. Desta forma, o estudo desta comissão concluiu que a UnB deveria manter ao menos o percentual de 5% para repor a porcentagem deficitária. Desta forma, o grupo Aliança pela Liberdade omitiu esta informação dos estudantes que votaram em sua enquete de modo a legitimar sua posição política contrária às políticas afirmativas.

- Apesar da alta representação no CEPE e da responsabilidade como representantes dos estudantes, esse grupo não promoveu nenhum debate profundo e qualitativo dentro da universidade sobre o assunto antes de se posicionar, o que mais uma vez denunciou a indiferença. A carta manifesto EM PROL DE CONTINUAÇÃO E FORTALECIMENTO DAS COTAS NAS UNIVERSIDADES PARA A POPULAÇÃO NEGRA E INDÍGENA!, produzida por articulação negra/indígena da UnB e assinada por centenas de pessoas e entidades do DF e do pais, que foi distribuída e lida durante o CEPE do dia 03, não foi sequer apreciada, citada ou considerada'.- Em nota pública, ao repudiar algumas intervenções diretas de estudantes negrxs que escreveram nas paredes da frente do prédio do DCE UnB apontamentos anti-racismo direcionados à Aliança, com discurso esquivante e indiferente, esta fez apenas colocações generalizantes mais uma vez tratando à base de indiferença o tema do racismo nas gravidades e responsabilidades políticas que evoca ou, evocaria caso houvesse de fato compromisso desse grupo com os Direitos Humanos e Sociais. Mesmo nos compromissos assumidos pelo Brasil em diversos âmbitos legais e técnico-políticos nacionais e internacionalmente, o que assinala a total centralidade do tema, sobre acusações públicas de 'racismo' o grupo não procurou nem ao menos se defender, assim sendo, calando, consentiu e reforçou seu posicionamento. Para completar, agora ameaça criminalizar as intervenções diretas dxs oponentes, punindo-xs com jubilação. Xs estudantes que protestaram com veemência em resposta indignada ante a postura de descaso da 'Aliança' para com o tema da inclusão étnico-racial no Ensino Superior demonstrada na votação do CEPE, não podem ser estigmatizadxs e criminalizadxs, pois: "não se confunde a reação do oprimido com a violência do opressor"!!!!

Compreendemos que um grupo de poder, quando age, demonstra seus valores e crenças. Quando um grupo sistematicamente usa de suas ferramentas de poder apoiando medidas em ataque à população negra através da negação de suas demandas históricas e vivências concretas, este grupo está sendo racista. Quando um coletivo à frente do Diretório Central dos Estudantes não debate publicamente as relações raciais na universidade nem estimula o debate anti-racista, este grupo está sendo conivente com o racismo. Por isso cremos que a "Aliança" atua em contrariedade com o avanço e inclusão da população negra brasileira, e deve ser combatida. Não pode seguir à frente do Diretório Central dos/das Estudantes nem ter tantas cadeiras na representação discente. Suas posições conservadoras devem ser contra-argumentadas, e este grupo deve ser chamado ao debate público e responsabilizado pelas consequências do que assume e deixa de assumir.

Nós, diversxs estudantes negros e negras organizadxs da UnB, compromissadxs e devidamente embasadxs, repudiamos atitudes racistas por ação ou por omissão, sejam atitudes declaradas e/ou veladas. Nossos corpos, memória e comunidades percebem e recebem ataques deste tipo a todo instante e isso não é abstrato, é fatal. Quando avançamos, é comum sermos chamadxs de exageradxs, paranóicxs, caluniadorxs. Sabemos, com serenidade, que o resultado concreto de nossa luta é nossa liberdade, e nada mais. Seguiremos em luta contra todas as formas de racismo em nosso meio. Seguiremos em marcha para tornar a universidade brasileira cada dia mais negra, indígena, popular. Verdadeiramente diversa por incluir e afirmar o que e quem sempre foi injustamente negado, nós. Justiça Histórica! Universidade do povo! Tanto em seu público como em sua forma de pensar, agir e se organizar.


Carta-manifesto da parte de estudantes negrxs organizadxs da UnB ante às posturas do grupo Aliança Pela Liberdade. 

Subescrevem esta carta:

· Círculo Palmarino - RJ

· Frente de Negritude Coletivo Maracatu Atômico - DF

· Coletivo Negro João Cândido - BR

· Quilombo Cultural Malunguinho - PE

· NJAMBA - Coletiva Popular de Mulheres Negras

· Nosso Coletivo Negro - DF

· Rede Mocambos - BR

· Fórum de Juventude Negra - FOJUNE DF

· Casa das Matas do Reis Malunguinho – PE.




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