Batendo de frente com a face da opressão
A Frente Nacional Contra a Redução da Maioridade Penal realizou o ato “13 de maio, abolição pra quem?”. A pergunta não ficou sem resposta: para protestar muito
Por: Lunde Braghini Júnior,
Em amplo movimento de protesto em frente ao Conic, para marcar a passagem do 13 de maio com a pauta e a poesia da militância negra, a Frente Nacional Contra a Redução da Maioridade Penal fez o busto de Zumbi sorrir. No breu de quatro postes mantidos apagados, cerca de cinquenta pessoas se aquilombaram e deram voz ao protesto contra alteração legal que só quer facilitar o extermínio da juventude negra.
Os cartazes do FOJUNE DFE, Coletivo de Entidades Negras/CEN, Coletivo da Cidade, MST, MTST, MPL, RENAJOC, Quilombo Estereótipo, Nosso Coletivo Negro, Movimento Hip Hop, ArtSam, MADEB, FOAFRO e Família Hip Hop, diziam de onde vinha boa parte dos negros que se aquilombaram naquele final da tarde e início de noite para fazer ecoar o protesto diante de cinco séculos de dores que em momento nenhum tiveram abolição.
Gente que passava em direção à Rodoviária momentaneamente parava de ser transeunte ou espectador na vida para ouvir o som e o brado dos irmãos e irmãs negros que se agigantavam quando tomavam a palavra para vocalizar o drama da juventude negra exterminada em escala genocida, mapeada e documentada estatisticamente.
Dhay Borges, Jô Serra, Leonardo Ortegal e Bebeth foram os primeiros a se revezar na denúncia do falacioso 13 de maio de 1888, marco das políticas de embranquecimento do país, e do 13 de maio de 2015, quando o genocídio da população negra se reforça com outros documentos legais, como as peças de ficção representadas pelos “autos de resistência” e o escárnio jurídico dos brancos que, sedentos de sangue negro mais jovem, batem de novo na tecla da redução da maioridade penal.
“Somos contra a redução da maioridade penal. O sistema é violento com a gente. Quem morre o tempo todo somos nós, nossos irmãos, nossas irmãs”, denunciou Dhay Borges, primeiro orador do protesto. “Há muito eles matam os jovens negros, a novidade é que a Câmara Federal quer ‘legalizar’ a morte do jovem negro”, disse a advogada Jô Serra, que foi a primeira Secretária de Estado da Igualdade Racial do Distrito Federal.
“O camburão do braço armado do Estado brasileiro se confunde com o porão do navio negreiro”, declamou Leonardo Ortegal, do Fórum de Justiça Juvenil, do Conselho de Serviço Social, que também integra a Frente. Poeta, Ortegal foi uma das vozes jovens da poesia negra brasiliense, como Bebeth, de Santa Maria, Fernando Borges, da Estrutural, Neemias (com CD recém-lançado), Beto Sdr do Quilombo Estereótipo, Ceilândia e o trio Júlia Nara, Pedro e Laís, presentes ao “13 de maio, abolição pra quem?”.
“Estou também aí na luta contra o genocídio da população negra”, disse Pedro. “Eu também fui vítima disso”, revelou. “No Maranhão, em Macabeira, um policial fardado me baleou no joelho esquerdo porque eu estava descalço na BR – só porque eu sou negro”, contou, antes de começar a entoar Negro Drama, com Júlia Nara e Laís, um panorama de pesadelos negros na cadeia e na favela.
Bebeth declamou “Vícios”, poema sobre como se formou como mulher negra e aprendeu a usar seu poder de mulher preta. “Eu aprendi a me amar, a me olhar no espelho, a exaltar minha negritude”, cantou Bebeth. “Na comunidade nós somos chamados de bandidos, mas aqui no Congresso eles são chamados de políticos”, cantou Fernando Borges, que veio ao ato para fortalecer o movimento contra a redução da maioridade penal.
Em meio a toda indignação carregada durante séculos de opressão, Gilza trouxe reflexões com suas interrogações, pois, num país de maioria negra, por que os negros ainda precisavam reivindicar cotas, por que a maioria da população de rua ainda era negra?
É importante ressaltar que a construção desse ato, foi feita pela Frente Nacional Contra Redução da Maioridade Penal DF, composta por: Domingos Olímpio, Lucélia Aguiar, Layla Maryzandra, Israel Victor, Dyarley Viana, Rita de Jesus, Júlio Lisboa, Arthur Antônio, Isís Taínah, Graça Santos, Neide Samíco além de outros nomes citados durante o texto.
A redução da maioridade e o auto de resistência são maneiras de exterminar o negro, disse Wilson Velecy, que vê no horizonte propostas piores. “Aqui no Brasil, vejam que interessante, os autos de resistências aqui no país, só morrem negros. Essa redução não vai reduzir nenhuma violência. O que vai acontecer então? Essa bancada branca vai sugerir pena de morte”, alertou.
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Texto: Lunde Braghini Júnior - Jornalista
Fonte: Forumdajuventudenegradf
Fonte: Forumdajuventudenegradf
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