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terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Pesquisador denuncia abordagem racista da polícia no DF: "Não sou Amarildo"


Segundo ele, a truculência com que foi imobilizado, revistado e algemado teria fortes componentes racistas. Sob a mira de armas, ele foi abordado após não ter cedido passagem aos policiais durante um engarrafamento no Lago Sul

O pesquisador Carlos Alberto Santos de Paulo, de 52 anos, vai denunciar ao Ministério Público a violência na abordagem policial – da qual diz ter sido vítima, durante uma confusão no trânsito em Brasília. Segundo Santos, a truculência com que foi imobilizado, revistado e algemado, na última sexta-feira (12/12) teria fortes componentes racistas. Sob a mira de armas, ele foi abordado após não ter cedido passagem aos policiais durante um engarrafamento no Lago Sul. De acordo com o técnico do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), os quatro policiais civis não apresentaram justificativas para a arbitrariedade.

“Saí às 18h45 da Uiversidade de Brasília (UnB), e estava a caminho de casa. Ao chegar à QI 23 do Lago Sul, peguei um congestionamento e não conseguia passar dos 10km/h. Quando passava por uma rotatória, uma viatura descaracterizada ficou forçando a passagem, mas eu não conseguia sair do lugar. Foi quando entrei no acostamento para liberar a via e eles ligaram a sirene para depois me abordar com arma em punho”, relata Carlos.

Uma vez liberado, o técnico foi para a 30ª Delegacia de Polícia (São Sebastião), para registrar ocorrência sobre a violência da polícia. "No estacionamento da DP, reencontrei os policiais e tive o braço torcido, sofri um “mata leão” e fui algemado por mais de uma hora", diz o pesquisador.

“Somente quando liguei para um coronel da Polícia Militar - porque faço parte de um grupo de trabalho que combate o racismo na corporação -, o delegado da Civil me soltou”, desabafa. Apesar disso, Carlos foi acusado por direção perigosa e desobediência e não conseguiu registrar ocorrência. Quando encaminhado para o Instituto Médico Legal, também não realizou exame de corpo e delito porque não apresentava hematomas.

Carlos relata que não houve agressão verbal racista direta, mas não haveria, segundo ele, justificativa para o comportamento senão o preconceito: “O racismo no Brasil é, infelizmente, uma cultura. As estatísticas são evidentes. Os números de autuação, prisão e homicídios perpetrados pela policia contra negros são indiscutíveis. A sociedade brasileira sofre de uma esquizofrenia que nega as práticas racistas, mas eu disse para os policiais, não sou Amarildo”.

A assessoria da Polícia Civil do Distrito Federal não comentou a denúncia de racismo e limitou-se a informar que Carlos foi flagrado desobedecendo regras de trânsito e ultrapassando pelo acostamento. Além disso, os policiais constataram que a carteira de habilitação de Carlos estava vencida – o técnico, por sua vez, diz que a CNH venceu no último dia 28 de novembro. De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) estará cometendo infração, o condutor que estiver dirigindo veículo com a CNH vencida há mais de 30 dias.


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