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terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Maria Perifa - Feminismo Periférico e Negro


"Quem são essas Maria's?

Somos a Dona Maria que acorda as 5 da matina e pega o buzão lotado pra trabalhar durante o dia;
Somos aquelas que depois de 8 horas de trabalho diárias ainda enfrentam mais 4 horas dentro de um transporte público que nos humilha e nos oprime como cidadã, como mulher;
Somos a irmã mais velha que enquanto a mãe e o pai saem pro “ganha pão” diário, cuida dos irmãos mais novos;
Somos as chefes de família deixam as suas crianças aos cuidados de outras Marias pra garantir o sustento de suas crias;
Somos aquelas que as roupas novas de fim de ano são as roupas que os filhos das patroas já enjoaram;
Somos a negra que em pleno o século XXI passa por discriminação racial, pra nós isto é imoral;
Somos as nordestinas que viemos à Brasília almejando qualidade de vida;
Fomos jogadas as margens, e demos origem a Ceilândia, essa grande cidade;
Somos vítimas do Patriarcado, violentadas diariamente pelo machismo ultrapassado; 
Somos mulheres em busca de respeito e igualdade, queremos reconhecimento dentro da nossa comunidade; 
Somos aquelas que morrem violentadas quando estamos a caminho do trabalho às 5 da manhã (Kelly. Presente!);;
Somos a Maria que deseja não mais ser violentada e estuprada pelos próprios manos de nossa quebrada;
Somos aquelas que devido a exclusão socioeconômica, fomos condicionadas a traficar pra alimentar a nossa família;
Somos irmãs, mães, vizinhas daquele pretinho que foi assassinado antes mesmo de chegar aos 18...somos filhas, esposas de pais e maridos assassinados ou engolidos pelo vício;
Somos a Maria que está trancada num sistema prisional que não nos garante direito social;
Somos aquelas que acordam de madrugada pra enfrentar uma fila no posto de saúde pra marcar uma consulta pra daqui 6 meses;
Somos a vó, a mãe, a tia, a filha que não teve acesso a educação de qualidade devido a falta de compromisso daqueles que dizem que nos representam;
Somos aquelas que vivem três ou mais jornadas pra conseguir pagar o mínimo da mensalidade da faculdade ou do curso técnico. Isso quando conseguimos chegar lá;
Somos aquelas que além de sofrermos pelo fato de sermos mulheres, carregamos também a opressão em ser da periferia. Que tem que sobreviver com uma saúde precária, escola precária, transporte precário, moradia precária. Vida precária...sonhos precários;
Somos filhas de mulheres guerreiras, em sua maioria nordestinas, que trabalharam e trabalham nas casas da burguesia branca para nos garantir uma vida digna;
Somos as trabalhadoras domésticas que após várias lutas conquistamos os nossos direitos trabalhistas;
Somos a Maria que ao beijar outra Maria nos deparamos com olhares discriminatórios; 
Somos aquelas que ainda temos nossos espaços limitados e enfrentamos preconceitos, repressão por cantar rap, andar de skate, jogar futebol e exercer qualquer atividade cultural ou esportiva que foi designado ao universo masculino;
Somos filhas, esposas, mães, irmãs, primas, comadres, vizinhas. Somos Maioria. Somos minoria. Pobres , pretas, brancas, periféricas.
Nascemos da necessidade de se construir uma identidade, que através desse ambiente social repressor, se deturpa e se perde.
E lutamos contra a opressão de classe, por igualdade racial e de gênero dentro da periferia.
Nascemos dentro de um dos poucos espaços culturais da Ceilândia. Unidas pelas mesmas histórias e vivências e pela vontade de nos fortalecer e fortalecer as mulheres da nossa quebrada. 
Somos o Coletivo Maria Perifa!"

Vídeo realizado para o trabalho final da disciplina Pensamento Negro Contemporâneo da Universidade de Brasília. O filme conta a história de um coletivo de mulheres da periferia do Distrito Federal, Ceilândia. Assista:


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