Por Mateus Calheiros - mateus@brasileirissimos.com,
O professor pernambucano Bruno Véras e outros 2 pesquisadores, com o apoio do Ministério da Cultura e do Consulado do Canadá, traduziram para o português a autobiografia de Mahommah Gardo Baquaqua, que nasceu no norte do atual Benin e fugiu para Nova York, onde publicou o livro.
Segundo Bruno Véras, em entrevista ao oglobo.globo.com, é a única autobiografia de um escravo do período escravista brasileiro: “Baquaqua sempre foi um personagem que me intrigou. Ele escreveu a única autobiografia de um africano escravizado em terras brasileiras. Nos EUA e na Inglaterra existem vários desses relatos, que tinham uma função abolicionista. No Brasil, só um e, apesar disso, Baquaqua não é conhecido em nossa história nem em nossos livros didáticos”.
O livro conta com diversos relatos. Em um trecho, Baquaqua conta como foi o embarque e como era no navio negreiro: “Quando estávamos prontos para embarcar (para as Américas), fomos acorrentados uns aos outros e amarrados com cordas pelo pescoço e, assim, arrastados para a beira-mar. Uma espécie de festa foi realizada em terra firme naquele dia. Não estava ciente de que essa seria minha última festa na África. Feliz de mim que não sabia”/”Fomos arremessados, nus, porão adentro, os homens apinhados de um lado, e as mulheres de outro. O porão era tão baixo que não podíamos ficar de pé, éramos obrigados a nos agachar ou nos sentar no chão. Noite e dia eram iguais para nós, o sono nos sendo negado devido ao confinamento de nossos corpos”/“Houve um pobre companheiro que ficou tão desesperado pela sede que tentou apanhar a faca do homem que nos trazia água. Foi levado ao convés, e eu nunca mais soube o que lhe aconteceu. Suponho que tenha sido jogado ao mar”.
Por causa de seu grande conhecimento em literatura e matemática, o escravo atuava dentro de um navio que realizava o comércio de Charque. Porém, foi através de uma encomenda para Nova York que que Baquaqua conseguiu a liberdade. Ele fugiu do navio na chegada aos Estados Unidos, foi preso, mas foi libertado por abolicionistas locais: “A primeira palavra que meus dois companheiros e eu aprendemos em inglês foi F-R-E-E (L-I-V-R-E); ela nos foi ensinada por um inglês a bordo e, oh!, quantas e quantas vezes eu a repeti.”.
Depois, o africano foi morar no Haiti e passou por outras diversas cidades. A última que se tem notícia, é Liverpool, ontem supostamente faleceu.
Fonte: brasileirissimos
Nenhum comentário:
Postar um comentário