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sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Padre negro sofre racismo e é transferido após contrariar “fiéis” ricos e conservadores

Transferência de padre negro causa revolta na cidade de Adamantina, interior de São Paulo. Wilson Luís Ramos enfrentou preconceito racial e resistência de fiéis ricos e conservadores, que não concordam com o fato de pobres e excluídos terem sido atraídos para a sua Paróquia

Comunidade se mobiliza para que Padre Wílson, afastado e vítima de racismo, permaneça em Paróquia (divulgação)

Moradores de Adamantina, de 35 mil habitantes, no interior de São Paulo, se revoltaram com a decisão da Igreja Católica de substituir um padre negro, vítima de preconceito racial e de fieis insatisfeitos com sua forma de administrar a Paróquia Santo Antônio, a principal da cidade.

Além do preconceito, o padre Wilson Luís Ramos enfrenta a resistência de fieis conservadores e ricos, que discordam do seu jeito simples e do fato de ter atraído pessoas pobres e excluídas –além de muitos jovens, entre eles usuários de drogas– para dentro da Matriz da cidade, onde chegou em 2012.

Incomodados com o padre, um grupo de fieis reclamou com o bispo que, depois de fazer uma consulta na cidade, decidiu pela troca de padre, alegando que ele dividiu a paróquia. Mas a decisão do bispo de Marília, Dom Luiz Antônio Cipolini, tomada em 28 de novembro, revoltou os moradores, que foram às redes sociais e às ruas fazer manifestações para tentar manter Ramos na cidade.

A situação gerou uma onda de protestos em toda a cidade. Um abaixo-assinado de apoio ao padre recebeu 5 mil assinaturas em dois dias; na Câmara Municipal, todos vereadores declararam apoio ao padre, na última sessão, segunda-feira; e até pastores da Igreja Evangélica declaram apoio e criticaram abertamente a decisão do bispo.

Os jovens ligados à igreja — que já tinham feito um abraço simbólico na igreja matriz e escrito frases de apoio nos vidros dos carros–, lançaram o abaixo-assinado na segunda-feira para coletar 20 mil assinaturas. “Já estamos com 5 mil assinaturas, em dois dias”, festejou nesta quarta-feira, José Lúcio Mantovani, um dos líderes do movimento de apoio ao padre. Segundo ele, as manifestações vão continuar nos próximos dias e documentos sobre o caso estão sendo reunidos para ser enviados ao superior do bispo.

“O que existe é um grupo de poucos fieis insatisfeitos com o padre. O bispo deveria atender o desejo da maioria, que quer a manutenção do padre na cidade. Mas acho que há forças ocultas que impedem que ele fique com nós e continue o trabalho maravilhoso que vem fazendo”, declarou Mantovani.

As forças ocultas poderiam ser interesses políticos da própria igreja em trazer de volta um padre que ficou na cidade por 13 anos e que foi substituído por Ramos pelo bispo anterior. Dom Luiz, que está na região há apenas um ano, gostaria de trazê-lo de volta, dizem os jovens. Outro motivo também seria o fato de o padre ser negro.

“Passei por diversos momentos de preconceito, que me causaram humilhação e sofrimento. Ainda outro dia flagrei duas senhoras na frente da igreja comentando que deveriam trocar o galo que está lá em cima, na cúpula, por um urubu”, contou padre Wilson.

O bispo também tem conhecimento do preconceito sofrido pelo padre. “Sabemos que ele tem sido vítima de preconceito por parte de fieis, mas sabemos que ele tem vencido esse preconceito, que não é a principal causa de sua saída”, afirmou Dom Luiz Cipolini. “O verdadeiro motivo é a divisão que ele causou na paróquia. É isso. E não podemos deixar que isso ocorra”, completou o bispo.

Dom Luiz contou que, ao tomar conhecimento das reclamações, pediu ao padre que escolhesse outra paróquia, o que foi negado por padre Wilson, mas que, para apurar melhor o que estava acontecendo em Adamantina, pediu ao Conselho de Presbíteros que fizesse uma consulta popular. “Após essa consulta, o padre decidiu por deixar a paróquia. Foi ele quem pediu”, afirmou o bispo. “Não é uma divisão qualquer, há uma parte muito grande da paróquia que é pela sua saída”, disse.

Padre Wilson diz que não é bem assim. “Depois de ser humilhado e passar por muito sofrimento por conta do preconceito e de sofrer muita pressão por parte do bispo para deixar a paróquia, eu não tive escolhe a não aceitar essa saída”, contou à reportagem. “Essa divisão que ele fala, não existe. O que existe é um pequeno grupo de fieis que é contra meu trabalho, pessoas que estavam havia 13 anos na coordenação das pastorais que não gostaram de ser substituídas”, contou. “Mas sempre defendi o entendimento como saída para este problema e há possibilidade de entendimento”, afirmou.

No entanto, para jovens que fazem parte dos grupos da paróquia, a realidade é que o bispo quer ver de volta o antigo padre. “Sabemos que há outros interesses, também. O bispo sabe que até na consulta feita na cidade, apenas algumas das 71 pessoas ouvidas foram contra o padre. E todas as 680 pessoas que se inscreveram para serem ouvidas na consulta enviaram cartas ao bispado manifestando apoio ao padre”, contou Ivanete Sylvestrino. “Há outros interesses, pois se o bispo fosse ouvir mesmo a maioria, ele decidiria em favor, não de meia dúzia de insatisfeitos, mas sim da grande maioria da população, que está se manifestando em apoio ao padre”, completou.

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