Grafiteiro Rafael Caldeira desenha em muro em Brasília
(Foto: Raph Odrus/ Arquivo Pessoal)
'Arte é uma forma de mostrar que existimos', diz artista brasiliense. Festival acontece na França, em julho; Rafael dará oficina a crianças e adolescentes com a deficiência.
(Foto: Raph Odrus/ Arquivo Pessoal)
'Arte é uma forma de mostrar que existimos', diz artista brasiliense. Festival acontece na França, em julho; Rafael dará oficina a crianças e adolescentes com a deficiência.
Por Yasmim Perna,
O grafiteiro brasiliense Rafael Caldeira dos Santos, de 34 anos, foi convidado para participar do Festival Internacional Clin d'Oeil – evento de artistas surdos que acontecerá em julho, na França. Rafael dará uma oficina de grafite para adultos e crianças surdas em Reims.
Animado, ele contou ao G1 que este não foi o primeiro convite internacional e que sonha em mostrar para o mundo a arte feita por surdos. Conhecido pelo nome Odrus (surdo de trás para frente), ele disse ter encontrado na arte e no grafite das ruas uma forma de inclusão.
“A nossa condição não nos define, podemos ser mais do que esperam de nós. A arte é uma forma de mostrar que existimos, que estamos aqui ao lado de vocês, ouvintes. Queremos nos expressar, nos comunicar e ser ouvidos.”
A trajetória difícil na periferia faz o artista, hoje, lutar pela valorização e apoio à comunidade surda. Nascido com surdez profunda e sem um diagnóstico preciso do que causou sua deficiência, Odrus teve dificuldades na infância por falta de intérpretes de libras nas escolas públicas do DF.
Morador de Planaltina, ele chegou a ser internado duas vezes em unidades socioeducativas durante a adolescência quando se envolveu com o crime, mas conta que o grafite o “fez mudar de vida”.
“Antes, eu não tinha muita perspectiva de futuro pelas escolhas que já tinha tomado na vida mas, ao conhecer o grafite, só conseguia pensar naquilo. Comecei a estudar os desenhos e focar na arte. Esqueci o passado e consegui mudar a minha história.”
Com 18 anos Rafael conheceu o grafite no Conic. "Vi um grupo vendo uma revista de grafite em uma loja de skates, fiquei curioso e fui ver. Não conhecia essa arte e me apaixonei”, diz. Desde então começou a se dedicar aos desenhos, pinturas e aprimorar a técnica.
Para isso, ele contou ter recebido algumas dicas de amigos grafiteiros, além de assistir a tutoriais na internet e treinar, por conta própria. Ele conta que, para "pagar o amor pela arte", precisou começar a trabalhar como auxiliar de limpeza em uma empresa terceirizada para comprar materiais como spray e tinta.
O grafiteiro brasiliense Rafael Caldeira dos Santos, de 34 anos, foi convidado para participar do Festival Internacional Clin d'Oeil – evento de artistas surdos que acontecerá em julho, na França. Rafael dará uma oficina de grafite para adultos e crianças surdas em Reims.
Animado, ele contou ao G1 que este não foi o primeiro convite internacional e que sonha em mostrar para o mundo a arte feita por surdos. Conhecido pelo nome Odrus (surdo de trás para frente), ele disse ter encontrado na arte e no grafite das ruas uma forma de inclusão.
“A nossa condição não nos define, podemos ser mais do que esperam de nós. A arte é uma forma de mostrar que existimos, que estamos aqui ao lado de vocês, ouvintes. Queremos nos expressar, nos comunicar e ser ouvidos.”
A trajetória difícil na periferia faz o artista, hoje, lutar pela valorização e apoio à comunidade surda. Nascido com surdez profunda e sem um diagnóstico preciso do que causou sua deficiência, Odrus teve dificuldades na infância por falta de intérpretes de libras nas escolas públicas do DF.
Morador de Planaltina, ele chegou a ser internado duas vezes em unidades socioeducativas durante a adolescência quando se envolveu com o crime, mas conta que o grafite o “fez mudar de vida”.
“Antes, eu não tinha muita perspectiva de futuro pelas escolhas que já tinha tomado na vida mas, ao conhecer o grafite, só conseguia pensar naquilo. Comecei a estudar os desenhos e focar na arte. Esqueci o passado e consegui mudar a minha história.”
Com 18 anos Rafael conheceu o grafite no Conic. "Vi um grupo vendo uma revista de grafite em uma loja de skates, fiquei curioso e fui ver. Não conhecia essa arte e me apaixonei”, diz. Desde então começou a se dedicar aos desenhos, pinturas e aprimorar a técnica.
Para isso, ele contou ter recebido algumas dicas de amigos grafiteiros, além de assistir a tutoriais na internet e treinar, por conta própria. Ele conta que, para "pagar o amor pela arte", precisou começar a trabalhar como auxiliar de limpeza em uma empresa terceirizada para comprar materiais como spray e tinta.
Grafiteiro faz workshop para crianças em são Paulo (Foto: Raph Odrus/ Divulgação)
Para Odrus, a arte pode ser uma cúmplice na inclusão de muitos jovens como ele. “Pessoas surdas hoje trabalham na maioria em subempregos, assim como eu, e são marginalizadas da sociedade no Brasil. Estamos lutando por inclusão e melhorias”.
A arte saiu das ruas e chegou ao Museu Nacional, em uma exposição que aconteceu em abril deste ano. Odrus diz se sentir orgulhoso de onde está chegando, pois o grafite é uma arte que ainda sofre preconceito na sociedade. Para ele, apesar da presença em espaços ditos conceituados, “o lugar do grafite é nas ruas com a periferia”.
“Espero ensinar grafite para crianças surdas, e que elas possam ver na arte uma forma de comunicação e expressão. Espero que possa ajudar jovens surdos e jovens periféricos a encontrarem na arte perspectivas de futuro e de vida.”
Repercussão Internacional
O artista participou do evento “Meeting of styles” que aconteceu nos Estados Unidos, em setembro de 2016. Ele foi um dos representantes do Brasil convidados pela empresa Eskis, dona de marcas de sprays. Rafael viajou sozinho e afirma que, apesar da dificuldade de comunicação, conseguiu fazer alguns passeios na cidade de São Francisco por conta própria.
Neste ano, ele recebeu o convite para participar de uma exposição na Galeria de Nuhremberg, na Alemanha. A inscrição exigia uma taxa de R$ 2 mil, que Rafael não conseguiu pagar. Ele contou ter entrado com pedido de apoio na Secretaria de Cultura do DF, mas disse ter perdido os prazos por causa da burocracia.
“A maioria dos artistas surdos não possuem recursos, e têm dificuldade em conseguir financiamento. Não somos bons com português, e na maioria dos editais precisamos fazer textos e propostas, e eles não analisam isso. Eu já me inscrevi em uns quatro editais da Secretaria de Cultura, mas não consegui apoio nenhum. Já perdi muitas oportunidades por isso”
Para o Festival Internacional Clin d'Oeil, Rafael receberá da produção passagem, hospedagem e alimentação. Para ajudar com os custos extras de viagem, ele está vendendo rifa e iniciou uma campanha de doação online.
Grafiteiro Rafael Caldeira desenha em automóvel em Brasília (Foto: Raph Odrus/ Arquivo Pessoal)
O Festival
Em 2017 acontecerá a 8ª edição do Festival Clin d'Oeil, o Festival Internacional de Arte em Linguagem de Sinais. O evento acontece pela primeira vez em 2003 e desde então tem edições a cada dois anos. O objetivo do festival é introduzir a linguagem de sinais em diversas formas artísticas. Na programação, a oferta é variada e oferece desde competição de cinema até performances artísticas.
Quem participa do evento pode conferir rodas de conversas de profissionais de diferentes temas como cinema e teatro. Além de passeios turísticos guiados com linguagem de sinais. Um workshop é destinado para juventude, com um programa educativo para jovens de 6 a 17 anos.
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*sob orientação de Maria Helena Martinho
Fonte: g1
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