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sexta-feira, 2 de junho de 2017

Afroflix: plataforma gratuita dá visibilidade a produções de pessoas negras

Em um debate após a estreia do filme KBELA* em Salvador, uma menina disse que “nunca esperou ouvir o som de um cabelo sendo penteado reproduzido no cinema”. Aquela reflexão, unida a questionamentos de outras rodas de conversa, fez a diretora e roteirista Yasmin Thayná perceber que era necessário criar mais do que as narrativas de seus filme. Com isso, nasceu a plataforma Afroflix.


Por Ana Elisa Santana,
“Nosso objetivo é gerar mais visibilidade para esses realizadores, porque de alguma forma a gente está silenciado, escondido no Brasil, então o Afroflix cria essa referência para a gente saber que há um monte de cineastas negros, mulheres (…). A gente precisava criar essa plataforma para saber que eles existem”, explica Yasmin.

Em 10 dias após o lançamento, a página da Afroflix no Facebook já conquistou mais de 8 mil seguidores. O site é independente – não recebe nenhum tipo de apoio financeiro -, tem atualmente 100 títulos e em breve receberá mais conteúdo. São oito categorias, entre filmes de ficção, documentários, séries, videoclipes e até vlogs. Muitos espectadores têm enviado, de suas casas, fotos dos momentos em que estão utilizando a plataforma:

Internauta envia imagem da plataforma Afloflix projetada na parede de sua casa. 
Foto: Safira Moreira/Afroflix/fFacebook
Representação

Pesquisa realizada pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (Gemaa), da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, revela baixa participação de mulheres e negros nas funções de atuação, direção e roteirização de produções do cinema brasileiro que tiveram maior bilheteria entre 2002 e 2012: 84% dos diretores eram homens de cor branca, 13% mulheres brancas, apenas 2% eram homens negros e não havia, entre os pesquisados, nenhuma mulher negra.

“Se a gente tem uma população que é maioria negra e a gente não vê isso no cinema, levando em consideração que o cinema brasileiro é financiado com dinheiro público, significa que tem alguma coisa errada”, afirma Yasmin.

Segundo ela, algumas políticas públicas e editais lançados nos últimos anos têm contribuído para que novos realizadores negros ganhem seus espaços. “Há muitas pessoas querendo registrar histórias que estão na oralidade, por exemplo, registrar cultura tradicional, religião, essas coisas, mas também tem gente querendo fazer ficção científica, é um campo muito múltiplo”, diz.

Cena de KBELA, filme de Yasmin Thayná. Foto: Divulgação

Segundo a cineasta, a Afroflix busca ser uma referência para que a sociedade consiga enxergar essas produções. “As redes sociais são muito importantes (para distribuição) mas a gente precisa dar conta de organizar essa produção porque a gente tá o tempo todo produzindo informação, sentido, imagem, e às vezes essas coisas se perdem na lógica de linha do tempo”, explica.
Como participar

A exigência para cadastrar uma produção no catálogo da Afroflix segue duas linhas de critérios. Na primeira, é avaliado se o produto tem pelo menos uma pessoa negra entre as funções da equipe técnica ou artística; e na segunda, são valorizadas características mais técnicas do filme, como o roteiro, a linguagem, a experimentação e a criatividade. “Não tem problema se o filme não fala da questão étnico-racial. Pode ser qualquer conteúdo audiovisual, mas a pessoa negra precisa estar entre os realizadores”, explica Thayná.

Realizadores podem inscrever suas produções na plataforma, assim como espectadores podem indicar, por meio de link, filmes que considerem interessantes para a Afroflix. Yasmin ressalta que o site apenas reúne os conteúdos, mas a hospedagem continua sendo dos produtores; ou seja, o acesso é redirecionado, dando visibilidade aos artistas e cineastas.
Produções originais

Mais do que reunir contéudo do cinema brasileiro produzido por pessoas negras, a plataforma também será um espaço para apresentar novidades do cenário. No dia 14 de junho, será lançado o filme Batalhas, que é o primeiro filme “original Afroflix”, orgulha-se Yasmin.

O filme relata o dia em que o Teatro Municipal do Rio de Janeiro recebeu um espetáculo de funk montado e apresentado pela Companhia Na Batalha. Assista ao trailer:


*KBELA: descrito como “uma experiência audiovisual sobre ser mulher e tornar-se negra”, o filme de Yasmin Thayná mostra o processo de transição pelo qual passam meninas da periferia ao se descobrirem e passarem a se enxergar como mulheres negras. Já exibido em diversos estados do Brasil, foi eleito Melhor Filme do MOV Festival Internacional de Cinema Universitário de Pernambuco em 2015.

Fonte: EBC.

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