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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Quem é a ministra que renunciou em protesto contra a lei antiterror da França

FOTO: CHRISTIAN HARTMANN/REUTERS

Líder negra, anticolonialista, independentista e feminista deixa o Ministério da Justiça e abandona Hollande para se manter fiel a uma trajetória de 40 anos de ativismo

Por João Paulo Charleaux,
Ao renunciar na última quarta-feira (27) ao cargo de ministra da Justiça da França, Christiane Taubira se manteve fiel a uma trajetória de 40 anos em defesa de causas minoritárias e, muitas vezes, impopulares.

A ministra deixou um dos postos mais importantes da França por princípio. Taubira discorda da proposta governista de cassar a cidadania francesa de terroristas que possuam dupla nacionalidade.

A decisão não surpreende os que conhecem a trajetória da ministra, que lutou contra o colonialismo francês, viveu na clandestinidade, defendeu a união homoafetiva e o direito dos negros. A ministra, que já foi retratada como uma macaca pelo jornal satírico francês “Charlie Hebdo”, abriu mão da pasta da Justiça por considerar injustas as medidas antiterror do presidente François Hollande.

O atual governo endureceu sua política depois dos ataques terroristas que deixaram ao menos 130 mortos no dia 13 de novembro, em Paris. Hollande ordenou bombardeios contra o Estado Islâmico – grupo autor dos atentados – na Síria e deu início a uma política linha-dura no interior do país, para prevenir novos ataques.

A proposta de cassar a cidadania de criminosos tocou num ponto especialmente sensível para Taubira, que nasceu em Caiena, capital do departamento ultramarino francês da Guiana, em 1952, e chegou a viver escondida de casa em casa por se opôr ao colonialismo da França.

Logo após renunciar, Taubira postou em sua conta pessoal no Twitter a seguinte mensagem: “Em alguns casos, resistir é ficar, em algumas ocasiões resistir é ir. Por fidelidade a si mesmo, a nós. Que a última palavra seja a ética e o direito.”

Clandestinidade e luta contra a França colonial

Sua estreia na política se deu em 1978, num contexto de luta contra a própria França e sua dominação colonial sobre os departamentos ultramarinos.

Depois de deixar sua terra natal, a Guiana Francesa, para estudar etnologia afro-americana na França, Taubira voltou a Caiena e passou a integrar o Moguyde – sigla em francês do Movimento Guianense de Descolonização.

Na época, a ativista vivia na clandestinidade, mudando de casa a cada dois dias, com um bebê de 3 meses no colo. Hoje, com 63 anos, ela é mãe de quatro filhos.

A ex-ministra foi casada com Roland Dellannon, histórico líder da luta anticolonial na Guiana, que passou 18 meses na prisão por atacar instalações petrolíferas da França.

Ao lado de Dellannon,Taubira fundou o Walwari (“alcance”, no idioma crioulo da Guiana Francesa) em 1992, para defender a descolonização. Depois de 20 anos de casamento, os dois se separaram, mas Taubira continuou falando com afeto e saudade do ex-marido, com o qual desenvolveu uma relação de proximidade emocional, mas de disputa política dada a expressão própria que Taubira tomou com o passar do tempo, se descolando da liderança de Dellannon.

Taubira se mudou definitivamente para a França no início dos anos 2000, onde assumiu seu primeiro mandato como parlamentar, conseguindo a aprovação da lei nº 2001/434, de 10 de maio de 2001, que diz que o tráfico negreiro é crime contra a humanidade. A lei é batizada com seu nome.

Ela escreveu dois livros sobre a questão negra: “Negros das Ilhas”, pela editora Gallimard e “A escravidão contada a minha filha”, pela Bibliophane.

Em 2002, foi a primeira candidata ultramarina a se apresentar para concorrer à Presidência na história da França, mas obteve apenas 2,32% dos votos no primeiro turno. Ela concorreu pelo PGR (Partido Radical de Esquerda, na sigla em francês), mesmo sem ser membro formal do partido. Taubira se declarava “independentista anti-eleitorialista”.

Em 2006, ela ensaiou nova tentativa de concorrer à Presidência, mas o PGR decidiu apoiar a candidatura do Partido Socialista. A ex-ministra acabou apoiando internamente Hollande, até assumir o ministério da Justiça em 2012, onde manteve perfil discreto.

FOTO: JACKY NAEGELEN/REUTERS
Hollande linha-dura

A saída de Taubira se dá num momento em que o presidente francês aposta no endurecimento das medidas de combate ao terror. A estratégia de Hollande tem – além da decretada finalidade securitária – um forte apelo popular.

Com a economia francesa em crise, o presidente vê crescer sua popularidade toda vez que anuncia medidas duras contra o terrorismo.

Antes dos atentados, em outubro, o presidente francês tinha 20% de aprovação. Após anunciar ataques aéreos contra o Estado Islâmico, em novembro, o índice saltou para 27%. Em setembro, a aprovação ao seu governo chegou a ser de apenas 13%, pior nível entre todos os líderes europeus.

Fonte: Nexo Jornal.

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