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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Branquitude, negritude, privilégios e segregações



por *Vinicius Dias,
Estava eu conversando com uma amiga branca que estava muito chateada com a onda internética que diz que branco faz isso, branco faz aquilo, e que quando branco dá mole a negrada vai lá e manda: “Branco fazendo branquice”. Um daqueles papos tensos em que a pessoa se sente profundamente estigmatizada. Se fosse preta já teria cometido suicídio, com certeza! Tentando desenhar esse emaranhado racial de ditos, não-ditos, lá fui eu educar branco. (quando vou parar de gastar minha energia com isso, o Google ta aí)

Quando a gente fala de racismo, estamos falando de um fenômeno social, que existe em diversas partes do mundo e cada uma parte com suas peculiaridades dadas pela cultura local, a economia, povos originários, resistência e outras coisas mais. Fato é que em todas as culturas a luta negra tem sido colocada de forma manipulada pelos detentores do poder (não negros). Se isso é difícil de imaginar, veja o caso dos países africanos colonizados, onde nem a sua língua foi preservada, sendo imposta a língua do colonizador. No Brasil, talvez, seja o lugar mais complexo de se detectar o racismo, pois tivemos diversas formas de vender umacerta democracia racial, escondendo o jogo sujo, dizendo que por aqui negros e negras, brancos e brancas viviam muito bem um com os outros, misturados, com acessos democratizados, etc, etc. E até hoje o povo de fora acredita nessa fita! Bulshit rapaziada! O lance é que em diversos espaços você vê negros e negras e brancos e brancas convivendo aparentemente de boa, escondendo uma tensão que se disfarça de tensão social, sem os aspectos raciais sendo levados em conta. Os brancos e brancas frequentam espaços negros, da cultura negra, usam acessórios da cultura negra e em relação a isso pouco se fala. Ta tudo certo né? Porem quando o jogo se inverte tem treta! E quando eu falo de se inverter não to falando de usar coisas de branco, porque afinal, na inventividade deste povo a gente dá de dez a zero. Mas estou falando de ter direitos reconhecidos e adquiridos. Dignidade social, humana, leis que criminalizem a perseguição ao povo negro brasileiro. Veja as cotas, que nada mais são que uma tentativa de oportunizar que negros/negras cheguem a espaços historicamente negados. Espaços de poder! Isso da uma discussão tão longa, que já ouvi branco teorizar uma longa tese que as cotas retirariam a vaga de seu filho que é mediano na capacidade intelectual e que não tiraria a vaga de um branco/branca que realmente é muito inteligente e rico. Uma baboseira de dar raiva! (esse homem é funcionário público em Brasília e ganha seus 18.000 reais, mais os benefícios que lhe são “de direito”, e estava preocupado com os pretos que irão tirar seus privilégios) . Veja o carnaval do Rio e da Bahia. Festas com muito conteúdo negro na composição. Escolas de samba e batuques do axé. Camarotes e Trios elétricos. No rio os negros e negras quase se estapeiam por ingressos mais baratos para ver as escolas de samba enquanto nos camarotes que a Globo mostra estão em sua maioria pessoas mais claras, desgutando um espumante. Na Bahia talvez a situação seja pior, porque a polícia é mais violenta. E policia no carnaval prende … (complete a frase ). Vocês realmente acham que a mulata do Góis de 2016 (da um Google aí) sobe a favela durante o ano pra dar aula de jongo pros meninos e meninas da Serrinha, em Madureira? Que está preocupada com educação dos pretinhos e pretinhas estudante das escolas públicas do Rio de Janeiro. Para de caô que tá feio demais!

É importante pensar que existem diversas estratégias de lutas negras, atuais! A internet está modificando o cenário! As minas estão trocando ideias sobre seus cabelos. Temos acesso a leituras africanas que nem por encomenda se consegue. A informação compartilhada, em rede, vem trazendo desafios as empresas de comunicação dos …(compelete a frase). Vale exaltar até Beyonce (porque foi destruição meeshxmo o que ela fez no superbowl e no vídeo Formation) porque em alguns pontos as lutas intercontinentais de negros e negras tem um ponto em comum àqueles e àquelas que tem a consciência negra: segregação de uma raça e a necessidade de um retorno à África. Mesmo nossa realidade sendo bem diferente da cantora rica. Mas em muitos pontos somos parecido. A frase que aparece em formation “Stop Shotting us” pichada em um muro periférico norte americano caberia muito bem em uma quebrada carioca ou baiana.

Pra chamar a atenção a tudo isso que o racismo causa no Brasil, é importante apontar pros privilégios que uma galera não compreende ter na pirâmide social (q alguns dizem q nem é mais uma pirâmide, pois o bagulho ta mais concentrado pra riqueza e virou uma outra figura geométrica). Os privilegiados são em sua grande maioria…(complete a frase). Mas cuidado! Porque nessa teia entra a confusão entre racismo e condição social, mais uma vez tentando desfazer a luta negra. Logo, quando você ouvir que branco é isso e branco é aquilo, coloque a mão na consciência e veja seu papel dentro dessa luta por uma sociedade mais justa que esta aí. E se vc não compactua, ta tudo certo! E se vc compactua, se liga e não explana, porque racismo é crime! Estamos de olho!

A imposição de um monte de pejorativos pra classificar negros (o IBGE conta mais de 130 categorias ) foi uma imposição branca, uma tentativa de amenizar a situação. Nós somos negros e negras, e não moreninhos e moreninhas. E você é branco e branca. Porque chamar alguém de branco e branca virou humilhação? Se liga no processo complexo e racista! Se olhe e se perceba. E se vc não é racista pare de bla bla bla se defendendo.

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*Vinicius Dias é Psicólogo, pós graduando pela Universidade de Brasília.

Fonte: favelapotente.

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