Por Douglas Belchior,
Tenho a grande honra de ter construído nesses anos de luta social, amizades com muitas pessoas que admiro, que são espelho e inspiração para seguir lutando.
Um desses é o consagrado cartunista e ativista de esquerda Carlos Latuff
Sua arte, sempre a serviço das lutas sociais, sintetizam sentimentos e reivindicações dos movimentos e dos seguimentos historicamente oprimidos.
Em uma de nossas conversas, falávamos sobre a questão da tomada da consciência negra, sobre o que seria essa tal consciência. Avançamos madrugada a dentro refletindo sobre a dificuldade da tomada da consciência da própria classe trabalhadora e quanto podem estar – e de fato estão – entrelaçadas, no caso brasileiro, os elementos de classe, raça e gênero também.
E eis que ao raiar do sol, surge o resultado de sua inspiração.
Genial como sempre, mesmo sem precisar de nenhuma palavra a mais, me inspirou os versos que publico aqui, neste 20 de novembro de 2014
Sobre o poder da Consciência Negra
Rei, Rainha, África
Sequestrado, morri travessia
Sequestrada, sobrevivi travessia
388 anos, escravidão, corpo, jamais dobrei joelhos da mente
Muitas vezes libertava corpo
Na colônia
No império
Rebeliões, insurreições, levantes
Filho ventre, sangue mãos
Liderança, bucha, canhão
Quilombo, quilombagem, quilombismo eternizei
Estuprada, envenenei
Açoitado, levantei, teimei recusar calvário
Abolicionista, época, revolucionário
Abolição, no papel lição, continuado padrão
República, democracia, direitos, cidadania
Vagabundo, capoeira, vadiagem, camburão
Batuque, vela vermelha, preconceito, desemprego,
Letras? Entende palavra não!
Gravadora, rádio, televisão, dinheiro, só gente boa
Cadeia, cemitério, cota pra gente a toa
Desigualdade pecado? Mas Deus – que é branco – perdoa!
Mas
Resisti e estou aqui
Zumbi, Dandara, Acotirene, Aqualtune
Descobri razão
Força ancestral que reúne
A consciência negra que torna imune
A força da opressão
Fonte: negrobelchior
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