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quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Consciência negra, consciência humana ou falta de consciência? Onze motivos pra desacreditar no mito da democracia racial


Novembro: o mês em que muita gente mal informada, com preguiça de pensar e ausente de empatia vai compartilhar uma enxurrada de conteúdo questionável sobre a consciência negra, ou melhor, humana. Porque somos todos iguais, só que não.

É fato que as pessoas negras, nos últimos anos, estão mais conscientes dos seus direitos. Quem é militante se sente cada vez mais empoderado. E vem, mesmo que não tão rápido quanto deveria, conquistando voz e espaço. E por esse motivo, é inaceitável aceitar a mentira propagada na sociedade de que não existe mais preconceito racial. Como brilhantemente disse Gabriel, o Pensador: o racismo é burrice, mas o mais burro não é o racista. É o que pensa que o racismo não existe.

O dia 20 está próximo. Nada mais apropriado então, do que elencar onze motivos pelos quais sim, é necessário não somente um dia, mas muita conscientização e reflexão a respeito do tema. Pois a escravidão acabou, mas o estigma permanece.

  • A disparidade no mercado de trabalho: quase não vemos negros trabalhando em eventos e lojas de grife. Em contrapartida, em funções de baixa instrução eles são maioria. Por trás de requisitos como boa aparência (no qual os recrutadores estabelecem um tipo de corpo, cabelo e cor dos olhos, por exemplo) existe um preconceito mascarado;
  • As mulheres negras estão mais propícias ao celibato involuntário (vulgo solteirice). Nossa cultura machista as coloca como frutas exóticas para mera apreciação. São objetificadas e animalizadas. Elas são as mulheres pra comer, mas as pra casar são as que possuem traços eurocêntricos. E pra piorar, muitos homens negros, ao ascenderem socialmente, optam por parceiras de pele mais clara. A quantidade de jogadores de futebol casados com mulheres loiras é um bom exemplo disso. É como se a mulher fosse um troféu e uma forma de se afirmar socialmente, principalmente no meio elitizado;
  • A falta de representação na mídia: quase não se vê personagens negros na TV (jornais, novelas, séries e afins). E quando há, geralmente ocupam papéis de empregadas, trabalhadores braçais ou personagens caricatos. Crianças crescem sem nenhum modelo de representatividade que possam admirar, o que afeta diretamente a autoestima delas;
  • Somos minoria nos espaços públicos, principalmente os “elitizados”: a não ser em cargos em que estamos pura e simplesmente servindo os outros, é perceptível a quase ausência de negros em shoppings, restaurantes mais caros e baladas em geral. E as pessoas estão acostumadas com essa invisibilidade. Quase ninguém olha em volta e se questiona: aqui não tem preto, pô! Apesar de sermos mais de 50% da população do país, a maioria de nós não tem condições financeiras e acesso a lazer e entretenimento;
  • As ações afirmativas são motivo de chacota por grande parte da população: algumas dessas ações, como por exemplo, as cotas raciais e sociais em universidades, têm como objetivo reduzir o abismo existente entre o negro pobre e a instituição. O que muita gente não entende é que isso não é privilégio, mas sim uma forma de ampliar o acesso a quem sequer tinha perspectiva de melhoria social. A educação superior ainda é elitista e tem muito a melhorar. Menos de 3% dos formandos em Medicina são negros, e ainda há pessoas que acham que queremos roubar a vaga de alguém;
  • Somos desrespeitados como consumidores: quem aqui é negro e nunca foi maltratado, seguido num shopping ou deixou de ser atendido por vendedores em lojas levante a mão. O negro, lamentavelmente, é associado à pobreza, ao roubo, à falta de condições. Certa vez, fui a uma loja de sapatos mais cara e fui totalmente ignorada pelas vendedoras, enquanto as outras pessoas que chegavam eram prontamente atendidas. Precisei chamar o gerente para que ele pedisse a uma das vendedoras que cumprisse o seu ofício. Nem preciso dizer o quão péssimo foi esse atendimento;
  • Temos inúmeros problemas de autoimagem: desde cedo somos condicionados a achar que existe algo errado conosco, e que temos que corrigir através da automutilação. Nossos cabelos (apelidados de ruins, duros) são submetidos a químicas degradantes e algumas até cancerígenas, nossa pele é “clareada”, as mulheres se maquiam de modo a disfarçar seus traços naturais e torná-los mais “finos” (leia-se: como os de uma pessoa branca), dentre outros muitos exemplos de violência à nossa naturalidade. Tudo para se equiparar a um modelo eurocêntrico de beleza. E muitas vezes essa busca pela perfeição semelhante à da beleza branca traz inúmeros prejuízos emocionais aos negros; 
  • Somos 71,6% do número de analfabetos do país: além desse dado, a evasão escolar é muito maior entre crianças e jovens pretos. Por causa da pobreza, grande parte deles precisa trabalhar para ajudar no sustento da casa. Quando o trabalho é excessivamente extenuante, ininterrupto, com carga horária abusiva (normalmente em funções operacionais, como limpeza, jardinagem ou outros serviços pesados), muitos não resistem e abandonam a escola; 

Existem inúmeros outros motivos que comprovam o quão presente é o racismo é na nossa sociedade, mas citar todos tornaria o texto muito longo, ou até mesmo um livro. É inconcebível que mesmo sendo a segunda população negra do mundo – o que prova que de “minoria” não temos nada – ainda sejamos tão subjugados como se fôssemos inferiores aos demais.

Enquanto formos estereotipados e associados unicamente a samba, pagode, sexo fácil, bandidagem, ignorância e falta de instrução o cenário não mudará. A luta é longa. E a representatividade e o respeito são imprescindíveis.

Pra encerrar, cito uma frase que li na Internet, de autoria desconhecida, porém muito válida para esse momento: “TODA CONSCIÊNCIA SERÁ NECESSÁRIA, ENQUANTO A CONSCIÊNCIA HUMANA FOR PRECONCEITUOSA E RACISTA”.

Fonte: alinexavier

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