O ministro da Saúde, Arthur Chioro, avaliou que o grande desafio da pasta é produzir igualdade em meio à diversidade Antônio Cruz/Agência Brasil
Paula Laboissière - Repórter da Agência Brasil
Edição: Valéria Aguiar
Edição: Valéria Aguiar
A condição de mulher negra com doença falciforme constantemente esbarra no desrespeito e no descaso quando Maria Zenó Soares procura atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS). “Os profissionais de saúde não acreditam na dor que a gente sente. Acham que é exagero”, conta, ao avaliar que a população negra, em sua maioria, sofre racismo institucional na rede pública sem sequer saber que é vítima. “O que queremos é ser respeitados enquanto seres humanos que somos”.
Diante de casos como o de Maria Zenó, o governo federal lançou hoje (25) a primeira campanha publicitária que busca envolver usuários do SUS e profissionais de saúde no enfrentamento ao racismo institucional. Com o slogan"Racismo faz mal à saúde. Denuncie!", a iniciativa visa a conscientizar a população de que a discriminação racial também se manifesta na saúde.
A campanha prevê ainda que, por meio do Disque Saúde 136, as pessoas possam denunciar qualquer situação de racismo que tenham presenciado, além de se informar sobre doenças mais comuns entre a população negra e que exigem maior acompanhamento, como a doença falciforme e o diabetes tipo 2.
Dados do Ministério da Saúde indicam que uma mulher negra recebe menos tempo de atendimento médico do que uma mulher branca. Os números mostram que, enquanto 46,2% das mulheres brancas tiveram acompanhante no parto, apenas 27% das negras utilizaram esse direito. Outro levantamento revela que 77,7% das mulheres brancas foram orientadas sobre a importância do aleitamento materno, enquanto 62,5% das mulheres negras receberam essa informação.
Segundo a pasta, as taxas de mortalidade materna infantil entre a população negra são superiores às registradas entre mulheres e crianças brancas. Os números mostram que 60% das mortes maternas ocorrem entre mulheres negras e 34% entre mulheres brancas. Já na primeira semana de vida, a maioria das mortes é registrada entre crianças negras (47%) entre as brancas, o índice é 36%.
O ministro da Saúde, Arthur Chioro, avaliou que o grande desafio da pasta é produzir igualdade em meio à diversidade. “Dados importantes mostram como a desigualdade e o preconceito produzem mais doença, mais morte, mais sofrimento”, disse. “O que mais pode justificar essa diferença [no atendimento a brancos e negros no SUS] que não seja o preconceito e o racismo institucional”, questionou.
Segundo Chioro, é preciso conscientizar os profissionais de saúde da rede pública sobre a existência do racismo institucional e a necessidade de combatê-lo, além de enfrentar mitos como o de que o negro é mais resistente à dor e, por isso, não precisa de medicação para aliviar o sofrimento. “Não podemos tolerar o preconceito ou nenhuma forma de racismo na saúde”, concluiu.
A campanha vai ser veiculada de 25 a 30 de novembro. Ao todo, 260 mil cartazes e 260 milfolders vão ser distribuídos nas unidades de saúde aos profissionais e à população em geral.
Campanha mobiliza população contra racismo na rede pública de saúde
Com o slogan Racismo faz mal à Saúde. Denuncie!, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) e o Ministério da Saúde lançaram, nesta terça-feira (25), uma campanha nacional para mobilizar os usuários e profissionais da rede pública de saúde contra a discriminação racial. Na solenidade de lançamento, a ministra dos Direitos Humanos, Ideli Salvatti, destacou que a campanha demonstra o empenho do Estado brasileiro em combater esta prática no país.
Do: SDH,
“O governo está cada vez mais imbuído da necessidade de ampliar as políticas públicas e a igualdade de oportunidades a todos os brasileiros e brasileiras, independentemente da raça, do local de nascimento e da condição econômica. Isto é uma questão central de fortalecimento da democracia”, afirmou. “Todos têm e precisam ter oportunidades e direitos iguais mesmo sendo absolutamente diferentes.”
A ministra lembrou a criação, no dia último dia 20, do Grupo de Trabalho Interministerial que deverá monitorar e mapear os crimes contra os direitos humanos em redes sociais, inclusive os casos de racismo. “Fizemos o lançamento do Grupo de Trabalho no Dia Nacional da Consciência Negra porque o racismo é um dos principais crimes de ódio colocados nas redes sociais. Vamos trabalhar muito atentamente para localizar a origem e quem dissemina essa prática dentro da lógica de que o crime virtual mata”, explicou.
Mobilização: A campanha foi motivada por relatos de discriminação e números que revelam a expressão do racismo no Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo dados do Ministério da Saúde, uma mulher negra recebe menos tempo de atendimento médico do que uma mulher branca. Enquanto 46,2% das pacientes brancas tiveram acompanhamento no parto, apenas 27% das negras utilizaram esse direito. Além disso, as taxas de mortalidade materna e infantil na população negra são muito acima das registradas entres as mulheres e crianças brancas.
Na avaliação do ministro da Saúde, Arthur Chioro, os números evidenciam o “racismo institucional” no âmbito do SUS. “Esses dados mostram que a discriminação e o preconceito produzem mais doença, morte e sofrimento. É uma dimensão de que ainda não temos um país igual”, concluiu.
Por meio do Disque Saúde 136 as pessoas poderão denunciar qualquer situação de racismo que tenha presenciado ou obter informações sobre doenças mais comuns entre a população negra e que exigem um maior acompanhamento.
Os profissionais do Disque Saúde passaram por treinamento para identificar as denúncias caracterizadas como racismo, que serão direcionadas aos órgãos competentes.
Fonte: Geledés