COLABORAÇÃO ESPECIAL DE JOSIMAR NUNES
O Brasil entra em campo contra a Croácia. Na jogada que definiu o único gol croata no duelo a bola desviada por Jelavic tocou o pé do lateral Marcelo e foi direto para o fundo das redes. Neste momento, instantaneamente se iniciaram os insultos racistas contra o brasileiro no Twitter.
No dia seguinte, foi a vez da então campeã do Mundo, a Espanha, disputar seu primeiro jogo na competição. A mesma foi surpreendida ao sofrer uma expressiva goleada da Laranja Mecânica, a Holanda. De imediato, as críticas e brincadeiras dos brasileiros se proliferam. O que revoltou a torcida espanhola. Nas redes sociais, o primeiro argumento acionado pelos europeus para rebater as críticas foi proferir contra a torcida brasileira comentários racistas. Alguns destes narrados na reportagem do portal UOL, que noticiou o fato. Um exemplo marcante: “Esses macacos brasileiros, como sabem, não tem nada para fazer, se alegram com a derrota da Espanha e fazem ‘ola’. Pobres”.
Estes dois casos de racismo explícito são apenas alguns exemplos do que sempre aconteceu no futebol mundial. Quem não se lembra dos problemas enfrentados pelo Vasco da Gama devido ao fato de permitir que negros entrassem em campo para defender seu escudo em meados do século passado?
Infelizmente, não é preciso ir tão longe para identificarmos que esta prática ainda se mantém de forma extremamente enraizada no futebol. O ano de 2014, em especial, está sendo propício para proliferação de atos racistas que ocorrem de maneira mais evidente principalmente devido às denúncias que se propalam nas redes sociais. Em apenas seis meses, foram cinco casos muito emblemáticos de racismo no mundo da bola.
Em fevereiro, o meio-campista cruzeirense Tinga foi alvo de insultos racistas na partida contra o Real Garcilaso, da Bolívia. Durante o jogo em Huancayo, o jogador ouviu das arquibancadas imitações dos guinchos de macacos a cada vez que tocava na bola.
Semanas após este episódio, eis que o futebol mundial volta a protagonizar mais casos de racismo. O jogador do Daniel Alves, do Barcelona, foi vítima de ato semelhante em abril, durante o jogo contra o Villarreal. Na ocasião, torcedores do time adversário jogaram bananas no campo quando o atleta ia cobrar um escanteio. Rapidamente, Alves comeu a banana em resposta ao protesto.
Já em maio a bola da vez foi o atacante da Itália, Mario Balotelli. O atleta sofreu insultos racistas no centro de treinamento de Coverciano, em Florença, onde a seleção da Itália fazia sua preparação para a Copa do Mundo do Brasil. O italiano foi xingado por alguns torcedores enquanto fazia uma corrida no gramado.
Se observarmos os casos de racismo ocorridos nos últimos anos neste esporte, perceberemos que, assim como no cotidiano brasileiro, os alvos são sempre os negros. O que evidencia ainda hoje resquícios do período da escravidão muito enraizados na sociedade e no esporte. Isso nos leva a refletir sobre a importância de debater também no futebol formas de combate a esta prática perversa. Mas para que isso aconteça, temos primeiro que admitir que não #SomosTodosMacacos, mas sim racistas, e que debater e criar mecanismos de combate a esta prática também no futebol se mostra necessário e evidente!
Talvez a solução esteja em pensar à implementação da lei Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana nas redes públicas e particulares da educação, também nosso futebol.
Fonte: Leia-se
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