O local usado por cultos afro descendentes foi fechado para a realização de uma festa particular e o acesso para religiosos não foi permitido
Cerca na Prainha - Brasília
por Lucas Lyra,
Em meio a muita polêmica após a decisão de um Juiz da 17ª vara Federal do Rio de Janeiro, que dizia que manifestações religiosas afro-brasileiras não podiam ser consideradas religiões, o acesso a Praça dos Orixás, na prainha próxima a ponte Costa e Silva, foi fechado para a realização de uma festa particular.
Ricardo Padue/BrasilNotícia
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O espaço, que segundo denúncias ficou inacessível por vários dias, é um dos mais frequentados pontos de encontro de religiões afro-brasileiras do DF. Muitos religiosos tentaram levar oferendas as estátuas representando Orixás existentes no local, mas foram barrados por seguranças contratados pela organização.
Moradores de rua que moram próximo ao local confirmaram que religiosos tiveram o acesso vetado ao local. Além disso, denunciam que foram agredidos pelos seguranças ao tentar entrar no espaço delimitado para a festa. “O espaço é público, é meu, seu, de todos nós. Por causa disso pulei o muro na hora do evento, estava no meu direito. Quando me viram lá dentro os seguranças me deram vários socos e me levaram para fora do cercado. Vi até um revólver na mão de um deles”, disse um dos moradores de rua.
A festa, embalada por musica baiana, disponibilizou ingressos de R$80 a R$200, com bebida liberada. Os responsáveis pela organização do evento alegam que os tapumes só foram colocados na quarta-feira (4/6), e que o acesso ao local não foi restringido aos religiosos, somente durante a realização da festa, entre 20 horas de domingo e 1 da manhã de segunda feira. Porém, os anúncios do evento diziam que a festa começaria às 17 horas, e o encerramento seria às 2 horas da manhã de segunda-feira. Além disso, os organizadores alegam ter feito um acordo com a Federação de Umbanda e Candomblé de Brasília e Entorno, além de é claro, terem obtido alvará junto ao GDF para realização da festa. A assessoria de imprensa da Administração do GDF não atendeu as ligações do Brasil Notícia para comentar o caso.
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Já o presidente da Federação de Umbanda e Candomblé de Brasília e Entorno, Rafael Moreira, disse que de fato houveram várias discussões internas sobre a realização da festa, mas que a rigor, a Federação nada pôde fazer contra a realização da mesma. “Nós ficamos sabendo do evento através da imprensa, poucos dias antes. Já estava tudo autorizado, fazendo as ultimas vistorias na estrutura”, disse o presidente. Ainda segundo ele, a partir daí a ação da Federação foi se aproximar da organização do evento, para pelo menos assegurar que as estátuas e estruturas da praça não fossem danificadas. “Em reunião com os produtores da festa, ficou acordado que nós fiscalizaríamos todas as etapas do processo de montagem da festa, fazendo filmagens minuciosas do local antes, durante e depois da evento”. Rafael disse também que foram colocadas cercas em volta das estátuas dos Orixás, para evitar qualquer proximidade do público com as imagens.
O presidente também declarou que houve grande preocupação para que os religiosos pudessem ter acesso ao local sagrado. “Eu estive lá fiscalizando a montagem da festa e vi pessoas entrando para fazer suas oferendas. O acesso só foi bloqueado entre às 16 horas de domingo e 7 ou 8 da manhã de segunda, período em que a festa estava acontecendo e posteriormente sendo desmontada”.
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Ainda assim, Rafael não está satisfeito com a realização do evento na prainha. Ele alega que sendo o espaço de uso quase exclusivo de integrantes de religiões afro-brasileiras, a Federação deveria ter sido consultada sobre a realização da festa. O presidente diz também que o problema não é a realização de eventos no local, até porque a própria Federação organiza eventos religiosos na prainha. O problema, segundo ele, é a festa ser paga. “Não apoiamos quem queira lucrar com eventos realizados em terreno sagrado. Não é para isso que o lugar está lá. A única coisa que fizemos foi nos certificar que mesmo com a festa sendo realizada, não teríamos depredação do patrimônio”.
Alessandra Vieira, “mãe pequena” da casa Ilê Axé Orixá Furun do Candomblé, também é contra a realização de festas alheias a religião no espaço, uma vez que o local é considerado sagrado para as religiões afro-brasileiras. “Nós não vemos shows e festas sendo realizados na Catedral, em Mesquitas ou Templos. Então pra mim, deixarem fazer eventos no local que é sagrado para minha religião, é desrespeito, é fazer com as religiões afro-brasileiras o que não faz com as outras”, disse ela.
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Para Rafael, a solução do problema é ocupar a prainha efetivamente, com eventos e festas regularmente, como a Federação fez em 2013. “Ano passado fizemos um evento a cada dois meses no local. Resultado? Ninguém teve a ousadia de utilizar o espaço com outros fins.” E finaliza: “O problema é que em 2014 começamos a receber sondagens de políticos querendo se promover com nossos eventos. E como a última coisa que queremos é misturar os dois campos, preferimos diminuir o ritmo dos eventos neste ano de eleição, com medo que ficasse parecendo que apoiamos esse ou aquele candidato.”
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Fonte: Brasilnoticia
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