A todxs Cláudias, Amarildos, e muitos outros irmãos que não deixaremos ser esquecidos.
Quando falamos do genocídio da população negra no Brasil, muitas vezes o assunto pode parecer uma pauta “geral” da sociedade, mas a verdade é que a luta pela preservação da vida e manutenção do povo negro mais do que nunca precisa ser uma pauta de nós feministas negras. Quando digo que o genocídio é da população negra e não o coloco de forma restrita apenas a juventude, embora reconheça que essa faixa etária é mais atingida por essa tragédia, o faço, pois cada vez que um jovem negro é morto pelo aparato social do Estado e seu braço armado uma mãe, uma irmã, uma companheira, uma comunidade morre também por dentro.
Quanto ao nosso feminismo negro, creio que este não pode perder a dimensão da importância da família, da vida em comunidade como pontos extremamente importantes para a população negra, já que é nesses espaços onde muitas vezes encontramos o único refúgio para almas e corações negros feridos pela total exclusão de outros setores da sociedade. É com essa perspectiva que afirmo que genocídio da população negra é sim uma pauta indispensável do nosso feminismo, embora o protagonismo nessa luta seja nosso como mulheres negras, essa luta não exclui a luta pela vida dos nossos homens negros, antes tenta incorporá-los a ela na tentativa de juntos combatermos o machismo também reproduzido por eles.
Quando falo do genocídio enxergo esse fenômeno como um último ponto de uma escala de dor que atinge mais diretamente os homens negros, e digo que de forma estratégica, mas que influi de forma direta em nossas vidas, como mulheres negras a possibilidade de estarmos em uma fila de visita no presídio ou reconhecendo o corpo de um irmão, amigo, pai, companheiro ou filho é aterrorizante e ao mesmo tempo real a cada dia que acordamos.
Somos irmãs, mães, companheiras de homens e mulheres de um povo que nasce com uma marca na pele que aumenta as chances de morrer precocemente.
Quando digo que o feminismo negro deve adotar como pauta o genocídio da população negra estou longe de transferir a nós mulheres toda a responsabilidade de preservação da vida e da cultura de nosso povo, acredito que se faz urgente o companheirismo e o fortalecimento dos irmãos negros a nossa luta diária. Acredito que assumirmos que esse genocídio é uma pauta geral e assim deve ser tratada é retirar do assunto à dimensão política dessa tragédia e a quem ela possa interessar, genocídio da população negra no Brasil tem gênero, raça e classe e sem assim não for percebido perdemos força contra o grande aparato estatal criado pra nos exterminar.
Reaja ou será morta, mulher negra essa luta é sua também!
Axé.
Imagem – Página Reaja ou será morto, Reaja ou será morta. Créditos: Fafá M. Araújo.Acompanhe nossas atividades, participe de nossas discussões e escreva com a gente.
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Nzinga Mbandi mestranda em Estudos Interdisciplinares em Genêro, Mulheres e Feminsmo-UFBA. Uma guerreira negra em busca da emancipação e empoderamento das mulheres até que todas sejamos livres.
Fonte: Blogueirasnegras
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