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sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Sobre a Marcha das Mulheres Negras 2015 em Brasília!

Photo: Vinicius Carvalho

por *Júlio Lisboa,
Foi realmente lindo ver mulheres negras chegando de todas as regiões do país. Mais de 50 mil pessoas unidas contra o racismo, a violência e pelo bem viver. Sentir a vibração dos tambores. Comungar de espaços com meus ancestrais, meus irmãos e irmãs, e as novas gerações radiantes. Renova a esperança de um futuro de lutas com protagonistas negras presentes. Ver unidas as mulheres negras religiosas de todas as crenças. Conhecer mulheres incríveis de outros Estados que doaram suas vidas em prol de uma transformação sócio-política no Brasil. Poder compartilhar os conhecimentos e aprender muito com outras mulheres. Enfim, foi gratificante esta presente e compreender os espaços de representatividade e legitimidade do protagonismo de mulheres negras na luta contra o racismo, a violência e pelo bem viver.

Houve sim, o que seria um triste desfecho para uma Marcha tão linda... O principio de tumulto, estivadores infiltrados, disparos de arma de fogo e até mesmo agressões covardes em grande parte por "sujeitos" (senhores brancos) intolerantes e de caráter facista ligado ao acampamento do movimento MBL em frente ao Congresso Nacional e após isso, o despreparo da PMDF que chegou reprimindo quem via pela frente sem ao menos saber o porque forá acionada, assim resultando em um ambiente inóspito com direito a muito spray de pimenta e violência gratuita.

Photo: Rayane Noronha Oliveira

Seria sim um triste desfecho, mas neste exato momento vale ressaltar a resistência e a força da mulher negra, presenciei mulheres em ação, com destaque para 3 mulheres negras vestidas de preto (Black Panter's) do qual reconduziram todo povo preto presente a se retira da zona de perigo! "Admirável". Digno de admiração também foi a sabedoria das "ancestrais" (senhoras negras) que através do olhar e ditos "continuem marchando" evitaram o pior, ou um triste desfecho para a Marcha.

E assim as mulheres continuaram em marcha, sem retroceder apesar do cansaço, e com um impressionante entusiamos como se nada pudesse abalar os pilares da resistência e a força da mulher negra!

Sem dúvidas o dia 18 de setembro entrou para história, com um marco na luta de mulheres negras, marcharam com as armas que sempre tiveram e não demonstraram intimidação por opressores e o Estado que sempre foi omisso as suas causas.

Em particular acredito que a beleza da Marcha e os intempéries ocorridos não isenta de uma reflexão maior, principalmente no sentido evocado pelo mês da Consciência Negra no país. Repúdio a toda forma de intolerância, violência publica e gratuita por parte do Estado e os aparelhos repressores, a folclorização manifestação da população negra, a erotização de corpos negros, e por fim às agressões contras as mulheres na presente Marcha das Mulheres Negras.

Hoje sinto mais imbricado no veemente apoio a campanha Reaja ou será mort@, que é uma articulação de movimentos e comunidades de negros e negras da capital e interior do estado da Bahia, articulada nacionalmente e com organizações que lutam contra a brutalidade policial, pela causa antiprisional e pela reparação aos familiares de vítimas do Estado (execuções sumárias e extrajudiciais) e dos esquadrões da morte, milícias e grupos de extermínio. Com base principalmente na formação, na base estrutural, na mobilização consciente e afrocentrada.

Photo: Vinicius Carvalho

Finalmente A Marcha das Mulheres Negras foi linda! O objetivo, entre outros, é dar maior visibilidade a situação de opressão secular da mulher negra, homenagear nossas ancestrais e exigir do Estado brasileiro, bem como de todos os setores da nossa sociedade, respeito e compromisso com a promoção da equidade racial e de gênero, a fim de que possamos exercer plenamente os nossos direitos como cidadãos brasileiros e construtores históricos deste país chamado Brasil.

O DESAFIO É GRANDE, MAS, ENFRENTAR PROBLEMAS, ATÉ ENTÃO, SEMPRE FOI ESPECIALIDADE DE TODA MULHER NEGRA BRASILEIRA!

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Photos: Vinicius Carvalho e Rayane Noronha Oliveira


*Júlio Lisboa é, militante negro do Nosso Coletivo Negro, Assistente Social e Conselheiro do Conselho de Defesa dos Direitos dos Negros do DF – CDDN/DF.


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