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segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Saúde e racismo: como fica a população?


por *Carla Akotirene,
A baixa capacitação dos servidores do SUS no tocante às demandas raciais e de gênero produz ferida nos direitos constitucionais do público usuário, em suma, negros e pobres. Essa ação antinegros disposta na inobservância às vulnerabilidades dos usuários cumpre o papel político de controle populacional, conforme Hamilton e Carmichael abordaram no movimento Black Power (EUA) quanto à missão das instituições.

Validamente, o enfrentamento do racismo institucionalizado demanda capacitações e releitura ético-profissional, com enfoque em contextos estruturantes na vida de homens e mulheres, forjados historicamente à base da negação da própria humanidade.

Ainda hoje, jovens baleados, por exemplo, quando buscam assistência nas unidades de pronto atendimento, têm como rotina a priorização da segurança pública em vez da saúde pública.

Ademais, os expedientes adotados para as mulheres das comunidades comportam a mesma discriminação. Ingressam nas unidades de saúde vítimas de violência doméstica, porém não recebem a devida atenção em segurança pública e assistência social, somente abordagem em saúde.

Não raro, os próprios agressores as conduzem até a porta de entrada, cientes da impunidade, viabilizada pelo pacto entre machos agressores e operadores de segurança pública. O viés médico constrói a finalidade dos hospitais e unidades de pronto atendimento, já que a intervenção institucional é paliativa. Não dispõem de prognóstico social favorável ao público atendido.

É comum meninas buscarem aconselhamento para a curetagem, após abortos clandestinos, e se depararem com profissionais cuja formação confessional prejudicará a abordagem de gênero. Preconceitos e omissões, por certo, perpetram os efeitos colaterais do racismo institucional, além de agravar as tensões psicossociais previstas no âmbito familiar das adolescentes.

Outro elemento pouco manejado pelos profissionais de saúde é a identidade religiosa das usuárias. Evangélicas, frequentemente, creem que a violência de gênero seja uma punição divina, decorrente da sua falta de sabedoria em converter o marido à religião.

Candomblecistas, em débito religioso, entendem o estupro e outras violências sofridas como consequências do afastamento de seus orixás. Pensam não estar devidamente protegidas por essas entidades de luz e, sim, sob a suposta influência negativa dos mensageiros exus.

Deste modo, se as assistentes sociais priorizam direcionar as vítimas às delegacias, notificação e encaminhamento para centros de referências, perdem a capacidade de colher os fenômenos em saúde, ou mesmo saber o quanto tais mulheres esvaziam a Lei Maria da Penha.

É preciso articular a assistência social, direitos humanos, educação e justiça, para que a prevenção e o combate à violência estejam associados à saúde. No momento em que os servidores públicos dispuserem de formação holística, atenta às problemáticas raciais e de gênero, a saúde terá alta social na vida da população pobre e negra deste país.

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Mestra em estudos sobre mulheres, gênero e feminismo pela Ufba, consultora em políticas públicas | karlaacotirene@yahoo.com.br


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