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segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Nós e o espaço acadêmico


Quando entrei nesta universidade para fazer letras, aos 17 anos e um bebê de 3 meses no colo, não sabia que a minha vida ia mudar tanto. Graduação, Mestrado, Doutorado e, atualmente, professora substituta da casa, percebo o quanto a minha vida jovem-adulta está intimamente atrelada àquele espaço e que lhe devo respeito e agradecimento. Entretanto, vale atentar para o fato de não haver neste momento, entre os meus pares, professores negros. Digo agora, porque já tive professoras negras, mas assim como eu, substitutas, que após dois anos, retiram-se da casa.

Posso afirmar que nunca ninguém duvidou das minhas capacidades por motivos relacionados à cor de pele ou fenótipo. Talvez porque tenha sido blindada pela áurea da “jovem mãe lutadora”, ou porque sempre meti o pé na porta e mostrei minhas capacidades sem humilhar, baixar a bola ou puxar o tapete de ninguém. E que na verdade, sempre fui eu, a obrigada a estar sempre reafirmando meu lugar naquele espaço, por me sentir mais atrasada porque tinha ter estudar, trabalhar, ser mãe, ajudar uma mãe cadeirante, ler livros, ser um bom ser humano e tentar viver.

Mas o fato de nunca ter sofrido diretamente o preconceito não me faz fechar os olhos para a existência dele dentro desse espaço que se quer pensar o mundo. Não foi comigo, mas meus olhos já presenciaram professores importantes humilhando alunos porque vinham da periferia e tinham um conhecimento específico inferior. Digo conhecimento específico, porque o que estão lhe cobrando é algo objetivo, você sabe, ou não. Mas isso não te define como ser humano.

Venho de uma formação de humanas, mas percebo que dentro do espaço de transito desde o início dos anos 2000 ainda não está acostumado a ver e conviver com uma professora doutora negra que dá aulas para as turmas de graduação de uma importante universidade federal do país. Diante do constrangimento que me encontro quando, diversas vezes, com cara de espanto, as pessoas me olham incrédulas ao saberem que estou ali, naquele espaço, como professora e portadora de algum tipo de saber específico – repito –, e não como alguma função que envolva a vassoura na mão ou, para os mais otimistas, que eu seja aluna ou técnica administrativa. Junto com o sorriso amarelo, ouço: “tão novinha… você tem cara de aluna!” Mas seus olhos são de confusão… ela não deveria estar limpando ou servindo?

Lendo Frantz Fanon percebi que há muitas máscaras brancas para derrubar, há muitos espaços para conquistar. Estou feliz em fazer parte desta mudança. Vamos em frente! #ubuntu

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Doutora em Literaturas Africanas, professora substituta UFRJ, professora da Universidade Geraldo Di Biase (UGB). Mãe, filha, mulher negra, feminista, leitora.




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