A performance das três autoras citadas, reconhecidas por seu trabalho como escritoras e poetas, sinaliza um tempo novo que não nos encarcera em cercadinhos de fazeres possíveis às mulheres negras. É a consolidação de um caminho sem volta que aponta para nossa chegada a lugares que nos pertencem
Por Cidinha da Silva*. Ilustração de Helô D’Angelo,
Aquela segunda quinzena de outubro entrou para a História. O rosa se transformou em negra. Três escritoras estiveram em destaque. Era a consolidação de um caminho sem volta que aponta para nossa chegada a lugares que nos pertencem.
Elisa Lucinda, poeta consagrada, em sua estreia como romancista tornou-se finalista do Prêmio São Paulo de Literatura na categoria “Autor estreante com mais de 40 anos”. O romance Fernando Pessoa, o Cavaleiro de Nada (Record), muito elogiado e lido, cria uma biografia do poeta português a partir de uma leitora que conhece profundamente a obra e o autor, Elisa Lucinda.
Conceição Evaristo, decana da Literatura Negra no Brasil, recebeu o reconhecimento do cânone por meio da indicação do esperado livro de contos, Olhos d’Água (Pallas), ao Prêmio Jabuti na categoria “Contos e Crônicas”. No livro constam os melhores e mais conhecidos textos da autora publicados na série Cadernos Negros do Quilombhoje, iniciativa de 37 anos de vida ininterrupta na Cidade de São Paulo.
Lívia Natália, poeta e teórica de literatura, teve participação antológica na Festa Literária de Cachoeira, FLICA, ao lado de Sapphire, autora do premiado romance Preciosa (Record). Lívia desfilou e destilou conhecimento, sagacidade, ironia, posicionamento político. Beleza e apuro de linguagem deram a tônica dos versos do livro novo, Correntezas e outros estudos marinhos (Ogum’s Toques Negros) e de sua intervenção como um todo, puxando para cima todas nós que sonhamos escrever com a mesma desenvoltura.
A performance das três autoras sinaliza um tempo novo que não nos encarcere em cercadinhos de fazeres possíveis às mulheres negras. De horizontes amplos, de machados e perfume, de canetas de ferro e melaço na tinta. Tempo de plenitude nas polifonias, policromias, ressignificações. Tempo da divindade Tempo e seu movimento de fazer dançar a memória, de ir e vir em curvas, do devir e das encruzilhadas.
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*Cidinha da Silva é escritora. Publicou, entre outros, Racismo no Brasil e afetos correlatos (Conversê, 2013) eAfricanidades e relações raciais: insumos para políticas públicas na área do livro, leitura, literatura e bibliotecas no Brasil (FCP, 2014). Despacha diariamente em sua fanpage
Fonte: revistaforum
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