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quarta-feira, 14 de maio de 2014

Rappers do DF filtram das mazelas sociais os motivos de seus versos

No limite da exclusão social, artistas da periferia do Distrito Federal recorrem ao hip-hop como elemento de sobrevivência e expressão. Em meio à violência cotidiana, preferem produzir e consumir arte


"Indiscutivelmente, o rap tem sido fundamental na propagação do cotidiano das periferias", atesta o rapper Criolo, um dos responsáveis pela promoção nacional do gênero que, aos poucos, transgride os limites periféricos.

Para muitos, no entanto, o rap permanece restrito aos guetos e ao preconceito. Mas nem por isso perde a sua força. Pelo contrário: cumpre o papel primordial que lhe é atribuído. "Os rappers acabam atuando como porta-vozes da periferia. Recriam, poeticamente, o cotidiano da comunidade, registrando o que se vive, no que diz respeito ao preconceito, à violência, à segregação socioespacial, à dificuldade de acesso a direitos básicos, como saúde e educação", explica a doutoranda Laetícia Jensen Eble, que desenvolve, na Universidade de Brasília (UnB), uma densa pesquisa sobre literatura marginal e periférica, com ênfase nos autores do movimento hip-hop.

Em um segundo momento, segundo ela, "eles são representantes do mundo, oferecendo uma perspectiva singular sobre o que ocorre ao seu redor, diferente daquela versão reproduzida pelo discurso dominante". Os relatos desta página ilustram as enfermidades sociais listadas. Mas, igualmente, sugerem a possibilidade de prevenção e, quem sabe, de cura.

Sonho de uma menina de 15 anos

Ela ainda beira os 20 anos, mas já é conhecida como uma das promessas do rap de Brasília. Como acontece na vida da maioria que vive em regiões periféricas marcadas pelo abandono público e pela violência, a jovem Layla Moreno encara um cotidiano repleto de dificuldades no Varjão.

"Nosso barraco foi derrubado recentemente. Tivemos que pedir ajuda para uma amiga", relata a rapper, que hoje divide um quarto com a mãe. O irmão mora com a avó, no terreno ao lado. "Levou quatro tiros um tempo atrás, quando foi confundido com um marginal. Quer ir embora agora".

Layla conheceu o rap por meio de um amigo e encontrou no gênero uma válvula de escape para uma realidade tão atroz. "Foi logo depois que meu pai morreu. Foi a maneira que encontrei de lidar com aquilo tudo". O pai de Layla faleceu na prisão, onde cumpria pena por tráfico de drogas. "Felizmente, eu nunca me envolvi com nada disso. Meu único vício é o rap".

Como a carreira ainda não paga as contas, a artista trabalha em um salão afro e frequenta a faculdade de enfermagem, à noite. "Um investimento para que eu possa seguir no caminho da música, minha prioridade", decreta. A trajetória de Layla mal começou, mas ela já se mostra grata: "Pode não parecer muito, mas jamais achei que pudesse conhecer algumas pessoas que admiro e subir em tantos palcos".

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