Por Douglas Belchior
Às vésperas do aniversário de 126 anos da Lei da Abolição da Escravidão, de 13 de maio de 1888, o que não faltam no Brasil são valores, práticas e condições análogas à escravidão. Para perceber basta, como nos ensinou a professora Luh Souza, fazer o teste do pescoço.
A TV Senado promove há dois anos uma série de documentários que trata dos relatos de estrangeiros sobre o Brasil. Os dois últimos episódios são sobre o século XIX, quando o país recebe um grande número de viajantes e estes registram sua opinião sobre a escravidão. Alguns apontavam a péssima herança que a escravidão traria para o país, outros reafirmavam teorias de supremacia racial. Sem dúvida um bom material para aquecer as reflexões que se darão por toda semana de 13 de Maio, dia que o movimento negro brasileiro resignificou como Dia Nacional de Denúncia do Racismo ou, como prefiro, da abolição inacabada.
Terceiro episódio da série “Brasil no olhar dos Viajantes”
No dia 10 de maio, às 21h30, a TV Senado estreia o terceiro episódio da série Brasil no Olhar dos Viajantes. Às vésperas dos grandes eventos esportivos que atraem a atenção de milhões de pessoas para o Brasil e para os brasileiros, a série retoma a questão da identidade nacional a partir de relatos feitos por estrangeiros desde o descobrimento até as grandes expedições científicas do século XIX e revela a influência que esses relatos tiveram na construção da nossa imagem.
Nos dois primeiros episódios da série, os espectadores puderam assistir à transformação de um Brasil selvagem em uma colônia promissora de Portugal, fonte de ouro e riquezas naturais. Entre a chegada dos primeiros navegadores e as várias tentativas de colonização do território brasileiro por franceses, holandeses e outros estrangeiros, foram produzidos muitos registros sobre o Brasil. Cercado por mitos e lendas, os relatos narravam as aventuras daqueles que cruzaram o Atlântico em busca do “paraíso terrestre” e se depararam com essa terra exuberante, “cheia de todo gênero de feras” e habitada por homens que viviam “como animais irracionais”, sem nenhum traço de civilidade, como os próprios viajantes descreveram.
Mas foi no século XIX que as informações sobre esse lugar ainda tão pouco conhecido multiplicaram-se significativamente. Após 300 anos de isolamento, a vinda da família real para o Brasil, em 1808, trouxe, entre outras coisas, a abertura do país para o resto do mundo. As guerras napoleônicas e a curiosidade em torno das Américas provocaram uma invasão de estrangeiros nos portos da colônia. E são eles os protagonistas do terceiro episódio.
Diplomatas, comerciantes, curiosos, artistas independentes ou contratados pela coroa portuguesa e também naturalistas de várias partes do mundo percorreram regiões inexploradas do interior do Brasil e passaram longos meses nas principais cidades brasileiras. Com uma vasta coletânea de informações e materiais, muitos deles publicaram verdadeiros tratados sobre a vida na colônia. A natureza, as relações sociais fundadas no modelo escravagista, a diversidade de tipos humanos e seus hábitos “pouco civilizados” para o olhar europeu ocuparam páginas e páginas de seus registros. O Brasil tornou-se, então, cenário de incontáveis livros e quadros que apresentavam em detalhes essa terra agraciada por sua riqueza natural e pela beleza de suas paisagens, em contraste com os costumes de sua gente, “alegre”, “cortês”, porém muito “ignorante” e “rude”.
A partir da história desses personagens épicos, contada por meio de textos e imagens raras, o terceiro episódio da série Brasil no Olhar dos Viajantes permitirá ao espectador lançar o olhar sobre o passado e encontrar, muito além de fatos, datas e nomes, traços de sua própria identidade.
INFORMAÇÕES
- Brasil no Olhar dos Viajantes – Episódio 03 – século XIX
- Ano de Produção: 2014
- Estreia: dia 10 de maio, às 21h30
- Direção: João Carlos Fontoura
- Duração (episódio): 55 min
- Reprises: 11/05 – domingo – 12h30 / 17/05 – sábado – 3h30 / 18/05 – domingo – 20h30
- Episódio 04 (século XIX) - 07/06 às 21h30
Entrevistados: Jean Marcel de Carvalho, Ronaldo Vainfas, Carmem Lícia Palazzo, Pedro Alvim, Paulo Knauss, Pedro Corrêa do Lago, Carlos Martins, Victor Leonardi, Dirceu Franco, Karen Macknow Lisboa, Maria Angélica Madeira, Mariza Veloso.
Filmografia: João Carlos Fontoura é jornalista, produziu e dirigiu vários documentários pela TV Senado, entre eles: Caminho da Luz (2005), um diário de viagem sobre a subida ao Pico da Bandeira em Minas Gerais; Machado de Assis – A Crônica e a História (2006), que apresenta as crônicas do escritor na segunda metade do século XIX; A Constituição da Cidadania (2008), um documentário sobre a Assembleia Nacional Constituinte; De Batutas e Batucadas (2009), que resgata um importante trabalho do compositor Heitor Villa-Lobos; Nabuco.doc (2010), documentário sobre a vida e a obra de Joaquim Nabuco; e a série Brasil no Olhar dos Viajantes (2012), uma produção inédita a respeito dos relatos de estrangeiros sobre o Brasil.
Fonte: Negrobelchior
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