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segunda-feira, 5 de maio de 2014

Plataformas de futuro










A redução da desigualdade veio para ficar, tem provocado profundas modificações, mas ainda não foi absorvida pela elite

Por Renato Meirelles,
Conhecer o futuro sempre foi um dos maiores desejos do homem. Ainda não chegamos lá, mas podemos vislumbrar cenários. Há transformações que, a partir do momento em que ocorrem, dificilmente podem ser interrompidas. É o que chamo de fatos portadores de futuro – ou “plataformas de futuro”. São acontecimentos que impactam o presente de forma decisiva e que, por se sustentarem em bases sólidas, têm potencial para estender seus efeitos também sobre o amanhã. Não se trata de fazer previsões e muito menos de apoiar algum determinismo social ou econômico. Esses fatos carregam consigo um poder de transformação para o qual devemos estar atentos. É preciso dar visibilidade a eles. Esse é o objetivo deste novo espaço da Brasileiros.

O primeiro fato de que vamos tratar é a redução da desigualdade no Brasil, processo que se sustenta a partir de um conjunto de transformações estruturais – ou seja, que dificilmente serão revertidas no médio prazo. Controle da inflação, ampliação de programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, aumento do salário mínimo e da remuneração nas ocupações que requerem menos qualificação são avanços que boa parte da população brasileira sentiu na pele – e não está disposta a abrir mão. Esse conjunto de fatores levou a uma forte e contínua queda do fosso social entre ricos e pobres, historicamente uma das maiores do mundo. A redução da desigualdade foi acompanhada pelo aumento generalizado da renda. Todos ganharam. Mas os menos favorecidos ganharam mais. Na última década, a renda per capita dos 10% mais pobres cresceu três vezes mais que a dos 10% mais ricos.

A primeira e mais evidente consequência desse fenômeno é a queda da pobreza. Em uma década, a parcela da população brasileira pertencente às classes D e E caiu de 49% para 24%. Mas o ritmo dessa transformação variou. Áreas historicamente mais pobres – o Nordeste, o interior e as favelas – apresentaram desempenho acima da média nacional.

Os reflexos desse movimento também podem ser sentidos no mercado interno. Nos últimos dez anos, a taxa de consumo das famílias teve crescimento médio maior que o PIB. A incorporação de novos consumidores ao mercado, além de dinamizar o varejo e o setor de serviços, impulsionou a geração de empregos. Emprego formal significa poupança, férias e 13o salário, mas antes de tudo, oferece estabilidade para que o indivíduo se planeje, pense a longo prazo.

Com menos pobreza, maior qualificação e aumento da oferta de empregos formais, diminuiu a aceitação do trabalho precário, principalmente entre os mais jovens. Das mulheres de 48 a 60 anos ocupadas, 16% são trabalhadoras domésticas, número que cai pela metade entre as mais jovens.

A democratização dos espaços de consumo, decorrência direta da redução da desigualdade, tem incomodado a elite. Acostumada à exclusividade, parcela significativa da classe alta considera que a ascensão social restringiu alguns de seus privilégios. Quem nunca ouviu a frase “Este aeroporto virou uma rodoviária” ou ignora a história da turma que foi contra a construção de uma estação de metrô no bairro para evitar o trânsito de pessoas “diferenciadas”?

Apesar da resistência, a redução da desigualdade veio para ficar. Entender suas consequências para o Brasil e para a vida dos brasileiros é fundamental para aproveitar as oportunidades que se abrem.

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