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segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Servidores do Ipea protestam contra show de mulatas em congresso acadêmico


Manifesto relaciona imagens ao turismo sexual e à violência contra a mulher

Sexismo “está no olhar de quem vê”, reage Marcelo Neri, ex-presidente do órgão

por Bruno Lupion,
Imagens de mulatas de uma escola de samba interagindo com professores estrangeiros em um congresso organizado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) provocaram incômodo entre os funcionários do órgão, vinculado ao governo federal.

Cinco servidores divulgaram uma carta aberta na última 3ª feira (30.set.2014) em protesto contra a iniciativa de contratar a apresentação das mulatas, considerada por eles “racista” e “sexista”.

O fato ocorreu no 6º Fórum Acadêmico dos Brics, organizado pelo Ipea e a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), no Rio de Janeiro, em março deste ano. As fotos começaram a circular há poucos dias.

Show de mulatas em congresso organizado pelo Ipea

Passistas de escola de samba foram contratadas para o jantar de encerramento do 6º Fórum Acadêmico dos Brics, no Rio de Janeiro, com pesquisadores estrangeiros.Divulgação

Os servidores Natália de Oliveira Fontoura, Luana Simões Pinheiro, Antonio Teixeira Lima Júnior, Leila Posenato Garcia e Fernanda Lira Góes redigiram a carta e a divulgaram para os colegas. Eles afirmam que as imagens contradizem o esforço do governo federal para combater o turismo sexual e a violência contra as mulheres.

Para os funcionários, o show das mulatas no congresso evoca a “suposta sensualidade e disponibilidade dos corpos femininos negros (…) a serviço dos homens brancos”. A carta cita o episódio de camisetas lançadas pela Adidas na Copa do Mundo que representavam o Brasil como uma bunda usando biquini fio dental, retiradas do mercado após pressão do governo.

Marcelo Neri, hoje ministro da SAE, presidia o Ipea na época do congresso e aparece em uma das imagens. Ele minimiza as críticas dos servidores e afirma que as passistas representam uma manifestação cultural típica do Brasil.

“Aquilo era absolutamente normal dentro do Rio de Janeiro. Elas estavam exercendo seu trabalho”, diz Neri. A crítica de racismo e sexismo, diz, “está no olhar de quem vê”. “Estamos no Brasil, não estamos na Rússia”.


O Ipea é uma fundação criada em 1967 para dar suporte técnico ao governo na formulação de políticas públicas e programas de desenvolvimento. O órgão se envolveu em outra polêmica recente, em abril, quando divulgou que 65% dos brasileiros apoiavam ataques a mulheres que mostram o corpo. O dado alarmante provocou enorme repercussão no país. Uma semana depois, o Ipea divulgou uma errata informando que o percentual correto era de 26% e o diretor responsável pela pesquisa, Rafael Guerreiro Osorio, pediu exoneração.

O Ipea, por meio de nota, informou que o show das passistas foi oferecido pela Prefeitura do Rio de Janeiro, co-organizadora do evento. Segundo o site do congresso, o Fórum Acadêmico dos Brics tem por objetivo estabelecer redes acadêmicas entre pesquisadores dos cinco países que integram o bloco.

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P.S. 1: Depois da publicação deste post, o Blog recebeu mensagem de parte dos signatários informando que a carta de protesto divulgada está ‘em vias de conclusão’ e recebeu a adesão de dezenas de novos servidores. Os signatários também manifestaram preocupação com a exposição dos servidores e das passistas. Como se trata de instituição pública (Ipea) e de um assunto que tem relevância jornalística, o Blog considera que o correto foi publicar o documento de protesto –até porque o texto (com as fotos) estava sendo enviado para inúmeras pessoas e não era, nem de longe, algo reservado nem muito menos secreto.

P.S. 2: O Ipea divulgou uma segunda nota, na noite de 6ª feira (3.out.2014), informando ser “costume'' nos Fóruns Acadêmicos dos Brics oferecer uma apresentação de grupo cultural típico do país anfitrião. A organização do evento contratou o grupo de passistas da escola Acadêmicos do Grande Rio pelo valor de R$ 5.500. Na nota, o Ipea diz reiterar seu compromisso com “o combate à discriminação de gênero e raça no Brasil'' e seu apoio à cultura popular.

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