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sábado, 24 de setembro de 2016

MANIFESTO SOBRE A MEDIDA PROVISÓRIA (22/09/16) NÃO AO ESFACELAMENTO DO ENSINO MÉDIO


MANIFESTO SOBRE A MEDIDA PROVISÓRIA (22/09/16)
NÃO AO ESFACELAMENTO DO ENSINO MÉDIO
 
O Governo Federal anunciou hoje (22/09/2016), por meio de Medida Provisória, uma reforma no Ensino Médio Brasileiro. Consideramos ilegítimo o uso da Medida Provisória para esse fim, o que se institui como forma absolutamente antidemocrática de promover mudanças no campo da educação. O Ensino Médio tem sido alvo de preocupações por parte de gestores, professores, pesquisadores e várias entidades da área, o que, por si só, justifica a necessidade de uma ampla discussão na sociedade brasileira, desde que considere os interesses e necessidades de todos os envolvidos, em particular de estudantes. Quanto ao conteúdo em si da referida Medida Provisória ressaltamos seus limites ao considerar apenas parcialmente as necessidades de mudanças, além do que as medidas anunciadas carregam em si perigosas limitações, dentre elas: o fatiamento do currículo em cinco ênfases ou itinerários formativo implica na negação do direito a uma formação básica comum e resultará no reforço das desigualdades de oportunidades educacionais, já que serão as redes de ensino a decidir quais itinerários poderão ser cursados; o reconhecimento de “notório saber” com a permissão de que professores sem formação específica assumam disciplinas para as quais não foram preparados institucionaliza a precarização da docência e compromete a qualidade do ensino; o incentivo à ampliação da jornada (tempo integral) sem que se assegure investimentos de forma permanente resultará em oferta ainda mais precária, aumentará a evasão escolar e comprometerá o acesso de quase 2 milhões de jovens de 15 a 17 anos que estão fora da escola ou que trabalham e estudam; a profissionalização como uma das opções formativas resultará em uma forma indiscriminada e igualmente precária de formação técnico-profissional acentuada pela privatização por meio de parcerias; a retirada da obrigatoriedade de disciplinas como Filosofia, Sociologia, Artes e Educação Física é mais um aspecto da sonegação do direito ao conhecimento e compromete uma formação que deveria ser integral – científica, ética e estética. Entendemos que, para alterar de fato a qualidade do que é oferecido e ampliar as possibilidades de acesso, permanência e conclusão do Ensino Médio seria necessário um conjunto articulado de ações envolvendo, para sua execução, as redes de ensino e esferas de poder em torno de uma ação conjunta. Dentre as ações necessárias destacamos: induzir a uma organização curricular que respeite as diferenças e os interesses dos jovens mas ao mesmo tempo assegure a formação básica comum e de qualidade; a consolidação de uma forma de avaliação no Ensino Médio que possibilite o acompanhamento permanente pelas escolas do desempenho dos estudantes com vistas à contenção do abandono e do insucesso escolar; a ampliação dos recursos financeiros com vistas à reestruturação dos espaços físicos, das condições materiais, da melhoria salarial e das condições de trabalho dos educadores; construção de novas escolas específicas para atendimento do Ensino Médio em tempo integral; indução à formação de redes de pesquisa sobre o Ensino Médio com vistas a produzir conhecimento e realizar um amplo e qualificado diagnóstico nacional; articulação de uma rede de formação inicial e continuada de professores a partir de ações já existentes como PARFOR e PIBID; fomento a ações de assistência estudantil com vistas a ampliar a permanência do estudante na escola; atendimento diferenciado para o Ensino Médio noturno de modo a respeitar as características do público que o frequenta; elaboração e aquisição de materiais pedagógicos apropriados, incluindo os formatos digitais; criação de uma rede de discussões para reconfiguração dos cursos de formação inicial de professores, envolvendo as várias entidades representativas do campo educacional, estudantes, professores e gestores; Desse modo, nos posicionamos contrários ao teor da Medida Provisória e conclamamos pela sua não aprovação pelo Congresso Nacional e abertura imediata de um amplo diálogo nacional. Mudar sim, mas para melhor!
 
O Movimento Nacional pelo Ensino Médio foi criado por dez entidades do campo educacional – ANPED (Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação), CEDES (Centro de Estudos Educação e Sociedade), FORUMDIR (Fórum Nacional de Diretores das Faculdades de Educação), ANFOPE (Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação), Sociedade Brasileira de Física, Ação Educativa, Campanha Nacional pelo Direito à Educação, ANPAE (Associação Nacional de Política e Administração da educação), CONIF (Conselho Nacional Das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional Científica e Tecnológica) e CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação) e foi criado no início de 2014 com vistas a intervir no sentido da não aprovação do Projeto de Lei nº 6.840/2013* . Para esse fim empreendeu um conjunto de ações junto ao Congresso Nacional e ao Ministério da Educação, além de criar uma petição pública. Destas ações resultou um Substitutivo por meio do qual, se não se logrou obter avanços, ao menos evitou-se o maior retrocesso. O Substitutivo ao PL 6.840/13 foi aprovado na Comissão Especial da Câmara dos Deputados em dezembro de 2014. Na atual conjuntura, diante da investida do Ministério da Educação em retomar a versão original do PL 6.840/2013, o Movimento Nacional em Defesa do Ensino Médio se vê mais uma vez convocado a se manifestar.

O Movimento Nacional em Defesa do Ensino Médio manifesta as razões pelas quais é contrário às proposições de reformulação presentes no PL 6.840/2013: A respeito da proposição de Ensino Médio diurno em jornada de 7 horas para todos, o Movimento Nacional pelo Ensino Médio entende que, em que pese a importância da oferta da jornada completa, a compulsoriedade fere o direito de acesso à educação básica para mais dois milhões de jovens de 15 a 17 anos que estudam e trabalham ou só trabalham (PNAD/IBGE 2011). Na mesma direção, a proibição de acesso ao ensino noturno para menores de 17 anos constitui-se em cerceamento de direitos além de configurar-se em uma superposição entre o Ensino Médio na modalidade de educação de jovens e adultos e o Ensino Médio noturno ‘regular’. A proposta para o Ensino Médio noturno com duração de quatro anos com a jornada diária mínima de três horas, contemplando o mesmo conteúdo curricular do ensino diurno desconsidera as especificidades dos sujeitos que estudam à noite, especificidades etárias, socioculturais e relativas à experiência escolar que culminam por destituir de sentido a escola para esses jovens e adultos. Do ponto de vista da organização curricular, a proposição de opções formativas em ênfases de escolha dos estudantes reforça a fragmentação e hierarquia do conhecimento escolar que as DCNEM lograram enfrentar. O PL nº 6.840/2013 retoma o modelo curricular dos tempos da ditadura militar, de viés eficienticista e mercadológico. A organização com ênfases de escolha para uma ou outra área contraria tanto a Constituição Federal quanto a LDB que asseguram o desenvolvimento pleno do educando e a formação comum como direito. A opção para o ensino superior vinculada à opção formativa do estudante retoma o modelo da reforma Capanema da década de 40 e se constitui em cerceamento do direito de escolha e mecanismo de exclusão. A proposta de opções formativas ou ênfases conduz à privação do acesso ao conhecimento bem como às formas de produção da ciência e suas implicações éticas, políticas e estéticas, acesso este considerado relevante neste momento histórico em que as fusões de campos disciplinares rompem velhas hierarquias e fragmentações. A proposta do PL nº 6.840/2013 de organização curricular com base em temas transversais às disciplinas retoma o formato experimentado em período recente da educação brasileira a partir das Diretrizes Curriculares Nacionais anteriores às que estão em vigência, e que se mostrou inócuo. As atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM) definem o currículo, em seu Art. 6º: “O currículo é conceituado como a proposta de ação educativa constituída pela seleção de conhecimentos construídos pela sociedade, expressando-se por práticas escolares que se desdobram em torno de conhecimentos relevantes e pertinentes, permeadas pelas relações sociais, articulando vivências e saberes dos estudantes e contribuindo para o desenvolvimento de suas identidades e condições cognitivas e sócio-afetivas”. (Resolução CNE/SEB 2/2012). Portanto, o currículo é visto como elemento organizador das experiências significativas que deve a escola propiciar. As atuais Diretrizes preconizam que haja uma estreita relação entre o conhecimento tratado na escola e sua relação com a sociedade que o produz. Desse modo, não cabe falar em “temas transversais”, posto que todo conhecimento, ao estar vinculado ao contexto social que o produziu adquire sentido e expressão na construção da autonomia intelectual e moral dos educandos. A inclusão no último ano do Ensino Médio da proposta de que o estudante possa fazer a opção por uma formação profissional contraria o disposto nos Artigo 35 da LDB 9.394/96 e desconsidera a modalidade de Ensino Médio Integrado à Educação Profissional, mais próxima da concepção proposta nas DCNEM e já em prática nas redes estaduais e federal. O PL 6.840/2013 desconsidera, ainda, pré-requisitos fundamentais para o aprimoramento da qualidade do Ensino Médio que vêm sendo indicados há décadas como necessários e urgentes e ainda não suficientemente enfrentados, tais como a sólida formação teórica e interdisciplinar dos profissionais da educação, em cursos superiores em contraposição às concepções “minimalistas” (Cf. Art 3º do PL 6.840 que altera o disposto no Art. 62 da LDB quanto às licenciaturas e propõe a formação por áreas do conhecimento).

A proposição recentemente anunciada pela Secretária Executiva do Ministério da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, de oferecer um Ensino Médio comum a todos por um ano ou no máximo um ano e meio, após o que se daria a partição em opções formativas ou ênfases como justificativa para um currículo “mais flexível” mutila e sonega o conhecimento escolar para a ampla maioria dos estudantes que se encontram no Ensino Médio público. Aliada à ideia de que a educação profissional possa ser uma das opções formativas e encaminhada à iniciativa privada, essas propostas configuram um aligeiramento ainda maior do que o proposto no PL original.

O Movimento Nacional se manifesta a favor de uma concepção de Ensino Médio como educação básica, como educação “de base”, e que, portanto, deve ser comum e de direito a todos e todas. Coloca-se, portanto, contrário às proposições que caracterizam um Ensino Médio em migalhas e configuram uma ameaça à educação básica pública e de qualidade para os filhos e filhas das classes trabalhadoras. O Movimento defende, amparado nas atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio que, sendo a última etapa da educação básica, se assegure a todos e todas, cidadãos e cidadãs brasileiras, o acesso a uma formação humana integral, entendida como aquela que busca garantir o pleno desenvolvimento intelectual, afetivo, físico, moral e social, com base em princípios ético-políticos que sustentem a autonomia intelectual e moral e que oportunizem a capacidade de análise e de crítica, tendo, enfim, a emancipação humana como princípio e finalidade. O Movimento Nacional pelo Ensino Médio propõe a organização de um currículo que integre de forma orgânica e consistente as dimensões da ciência, da tecnologia, da cultura e do trabalho, como formas de atribuir significado ao conhecimento escolar e, em uma abordagem integrada, produzir maior diálogo entre os componentes curriculares, estejam eles organizados na forma de disciplinas, áreas do conhecimento ou ainda outras formas previstas nas DCNEM. Por meio dessa perspectiva se é capaz de enfrentar a excessiva hierarquia e fragmentação do conhecimento escolar e contribuir com a superação das concepções reducionistas que ora entendem o Ensino Médio como preparatório para o ensino superior, ora o dirigem para a formação mais restrita para o mercado de trabalho. Na defesa do direito ao Ensino Médio como educação básica, o Movimento Nacional reitera o que consta nas DCNEM sobre a necessidade de conter o abandono e qualificar a permanência dos jovens na última etapa da educação básica. Nesse sentido, assegurar o direito à educação e caminhar em direção à universalização do Ensino Médio passa por reconhecer as múltiplas juventudes que estão na escola, sua diversidade, necessidades e direitos.

*O PL nº 6.840/2013 é resultado do Relatório da Comissão Especial destinada a promover Estudos e Proposições para a Reformulação do Ensino Médio – CEENSI e propõe alterar a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 com vistas a instituir a jornada em tempo integral no ensino médio, dispor sobre a organização dos currículos do ensino médio em áreas do conhecimento e dar outras providências.

POR UMA FORMAÇÃO HUMANA INTEGRAL – NÃO AO RETROCESSO NO ENSINO MÉDIO ( MAIO 2014)

Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação – ANPED, Centro de Estudos Educação e Sociedade – CEDES, Fórum Nacional de Diretores das Faculdades de Educação – FORUMDIR, Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação – ANFOPE, Sociedade Brasileira De Física, Ação Educativa, Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Grupo Interinstitucional de Pesquisa sobre o Ensino Médio EMpesquisa, Rede EMdiálogo – Rede de Universidades que mantém o Portal Diálogos com o Ensino Médio, APP Sindicato dos Professores do Paraná, Grupo These da UFF e UERJ.

A oposição com vistas à não aprovação do PL 6840/2013 se dá por meio de ações junto ao Congresso Nacional e ao Ministério da Educação, além da criação de uma petição pública. (http://peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=BR68899)

As propostas de reformulação do ensino médio em tramitação na Câmara dos Deputados (PL nº 6.840/2013) apresentam sérios equívocos e inconsistências. Parte da orientação dessas propostas deriva de uma visão catastrófica dessa etapa da educação básica, infelizmente compartilhada por muitos educadores e gestores da educação, para os quais expressões como “crise”, “fracasso”, “falta de identidade” têm sido as mais utilizadas para caracterizar o ensino médio brasileiro. Esse tipo de afirmação, que sempre recebe boa acolhida na mídia, ajuda a construir uma imagem de inutilidade do ensino médio, que em nada contribui para um debate construtivo. É lamentável que a Câmara dos Deputados vá pelo mesmo caminho.

De fato, o ensino médio é atualmente a etapa mais problemática da escolarização, a que tem mostrado maiores dificuldades em cumprir suas atribuições e garantir o direito à educação básica para todos os brasileiros, como previsto na Constituição Federal. As explicações para isso dependem do ideário, concepções e interesses de quem as formula. Vão desde a deficiência na infraestrutura até atributos negativos nos estudantes, passando pela escassez de recursos, a falta de professores capacitados, as propostas pedagógicas inadequadas etc, etc. Independente da pertinência, ou não, destas justificativas (e algumas realmente são procedentes), poucas vezes se considera a história de desigualdades sociais do Brasil e o projeto de sociedade excludente que está na raiz da nossa formação como país. E esses fatores são, de fato, determinantes na educação, em particular no ensino médio, como etapa decisiva da trajetória individual e da reprodução social.

Não obstante, a educação brasileira tem registrado alguns poucos avanços (fruto de lutas que vem sendo travadas desde os anos 70) e que agora estão sob ameaça de retrocesso. A Comissão Especial da Câmara Federal sobre Reformulação do Ensino Médio não considera esses avanços, não parte das experiências adquiridas, não preserva conquistas, preferindo adotar uma visão negativa e desqualificadora dessa etapa do ensino, como se fosse necessário começar tudo do zero.

O relatório final da Comissão confunde propositalmente educação integral com educação em tempo integral. Enquanto a primeira significa formação humana, ou seja, dotar os estudantes de uma base sólida de conhecimentos que lhes permita desenvolver-se plenamente, a segunda preocupa-se em estender o tempo que os estudantes passam na escola. E até mesmo no que se refere ao prolongamento da jornada, o PL 6840/2013 desconsidera prerrequisitos fundamentais, como infraestrutura adequada; professores com jornada completa, com salários e carreira compatíveis; novas metodologias e um currículo que integre de forma orgânica e consistente ciência, tecnologia, cultura e trabalho, sem o reducionismo geralmente proposto com vistas à formação estreita para o mercado de trabalho. Ou seja, com a compulsoriedade do tempo integral vai-se apenas submeter os alunos a uma cesta de atividades e conteúdos dispersos. Além disso, e igualmente importante, a proposta de compulsoriedade do Ensino Médio diurno em tempo integral promove a exclusão dessa etapa da educação básica de um amplo contingente de jovens que estudam e trabalham.

Outras sugestões indicam que apesar do uso do termo “integral” a proposta em tramitação (PL 6840/2013) torna o ensino médio ainda mais parcial, incompleto, fragmentado, incapaz de realizar a formação integral. É o caso de organizar o currículo do terceiro ano diversificando as trajetórias de formação segundo áreas de conhecimento (ciências humanas, ciências naturais, formação profissional), que antecipa os processos de especialização para educação básica. Isso fere de morte a proposta de integração com base na qual estão estruturadas as atuais Diretrizes Curriculares Nacionais de Ensino Médio (DCNEM), cuja formulação foi resultado de lutas por uma educação democrática, travadas pela sociedade e suas entidades de educadores.

Esses anseios da sociedade estão expressos tanto na Constituição Federal como na LDB, respectivamente, em seus artigos 205 e 22, que asseguram o desenvolvimento pleno do educando e a formação comum como direito. A proposta desconsidera esses anseios, mesmo havendo base nacional comum, pois o fato de ser obrigatório realizar opções na terceira série estabelece uma diferenciação formativa no ensino médio e, portanto, na educação básica, ferindo o princípio constitucional de igualdade de acesso aos bens culturais.

Ao mesmo tempo, a proposta de formação profissional, como uma das opções formativas, nega a existência da modalidade de Ensino Médio Integrado à Educação Técnico Profissional, legalmente instituído e que ainda pelo seu incipiente processo de implantação não pode ser considerado suficientemente testado.

A proposta de inclusão de temas transversais para produzir uma “maior interação e articulação entre os diferentes componentes e conteúdos curriculares” não se sustenta na medida em que as atuais DCNEM entendem o currículo como elemento organizador das experiências significativas que a escola deve propiciar. Estas diretrizes preconizam que haja uma estreita relação entre conhecimento tratado na escola e sua relação com a sociedade que o produz. Deste modo, não cabe falar em “temas transversais” já que todo conhecimento, ao estar vinculado ao contexto social que o produziu, adquire sentido e expressão na construção da autonomia intelectual e moral dos educandos.

A proposta de eliminação do ensino noturno para menores de 18 anos desconhece que 78% da população economicamente ativa começa a trabalhar antes dos 18 anos de idade. (PNAD- DIEESE, 2008). Dados do IBGE de 2011 informam que 31,5% dos jovens de 15 a 17 anos trabalham e estudam, estudam e procuram emprego ou só trabalham. Isso significa que acabar com o ensino noturno para essa faixa de idade é, de fato, exclui-la do sistema de ensino. É negar o direito à educação básica já conquistado. Destinar o ensino médio noturno apenas à faixa etária dos 18 anos em diante significa duplicar uma política já existente, que é a EJA, ou em outros termos, a superposição de modalidades que cumprem a mesma atribuição.

A proposta de expansão de Educação Profissional Técnica através da ampliação dos acordos de gratuidade com o Sistema S e de crescimento do Pronatec, representa, como já sabido, uma manifestação aberta da subordinação da Educação Profissional aos interesses do mercado. Além disso, expressa claramente a atual tendência dominante nas políticas da área de favorecer o repasse governamental de vultuosos recursos à iniciativa privada, em particular ao sistema S, que já é sustentado com recursos públicos, apesar de ter gestão privada.

Com base no exposto, os signatários exortam os senhores congressistas e educadores de todo o país a rejeitar o PL, em defesa do pouco que até agora se conquistou em termos de uma educação integral.

Movimento Nacional pelo Ensino Médio. Em defesa do direito à Educação Básica. Em defesa de um Ensino Médio que integre de forma orgânica e consistente Ciência, Cultura, Trabalho e Tecnologia. Em defesa de uma formação integrada e integral.
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49º FESTIVAL DE BRASÍLIA DO CINEMA BRASILEIRO - Exibição do documentário Estrutural na Mostra Brasília 2016


Exibição do documentário Estrutural na Mostra Brasília 2016 no 49º FESTIVAL DE BRASÍLIA DO CINEMA BRASILEIRO.

ESTRUTURAL
Direção Webson Dias
documentário, 80min, 2016, DF

Fruto de uma pesquisa de mais de dez anos em uma área que surgiu nos arredores do que é hoje o maior lixão a céu aberto da América Latina, o documentário captura as imagens e as memórias de um conturbado período político, no qual seus habitantes se viram entre a total ilegalidade e a regularização. Imagens de arquivo feitas pelos próprios moradores e depoimentos dos protagonistas dessa história constroem o passado e o presente da urbanização do Distrito Federal.

Serviço
Exibição do documentário Estrutural na Mostra Brasília 2016
Data: 24/209 - Sábado
Hora: 14:00hrs.
Local: Cine Brasília - EQS 106/107, 70345-400 Brasília

Seminário Internacional: Decolonialidade e Perspectiva Negra (05, 06 e 07/10)

 
No Seminário Internacional: Decolonialidade e Perspectiva Negra estarão presentes alguns/algumas pesquisadores/as nacionais e internacionais que estão envidando esforços para pensar a partir de outras localizações epistêmicas, tais como: Nelson Maldonado-Torres, Shirley Tate, Oyeronke Oyewumi, Nilma Lino Gomes, Valter Silvério, Wilson Mattos, José Jorge de Carvalho. Confiram a programação e compareçam!

Programação:
 

Quarta-feira, dia 05 de outubro
Das 9h às 10h15

Abertura:
Profa. Christiane Girard (Vice-Diretora do ICS)
Profa. Lourdes Bandeira (Chefe do Departamento de Sociologia)
Prof. Fabrício Monteiro Neves (Coordenador do PPG-SOL)
Prof. Joaze Bernardino-Costa (Organizador do Seminário)

Das 10h30 às 12h30
Conferência: Fanon e Foucault sobre Modernidade, Poder, Conhecimento, e a Zona do Não Ser
Prof. Nelson Maldonado-Torres (Rutgers University)
Coordenador: Prof. Joaze Bernardino-Costa (UnB)

Almoço

Das 14h15 às 15h45
Mesa Redonda: Movimento Negro e Ações Afirmativas.
Quem Negro foi, Quem Negro É? Movimentos sociais e a reivindicação por identidade africana
Prof. Valter Silverio (UFSCar)

Ubuntu: Por um Conceito Inovador de Ações Afirmativas
Prof. Wilson Mattos (Uneb)
Coordenadora: Profa. Edileuza Penha de Souza (UnB)

Das 16h às 18h

Mesa Redonda: Descolonizando o Olhar: Améfrica e África
Pensamento Decolonial, Lugares Epistêmicos Outros e Diálogos em Afroamérica
Prof. Claudia Miranda (Unirio)
Por uma Teoria Amefricana dos Direitos Humanos
Prof. Thula Rafaela de Oliveira Pires (PUC/RJ)

Mulheres Negras: de eternas ‘vitimas’ a intelectuais
Bruna Jaquetto Pereira (Doutoranda/UnB)
Descolonizando a Terra: o racismo e suas implicações epistemológicas a partir da África do Sul
Prof. Marcelo Carvalho Rosa (UnB)
Coordenadora: Profa. Tânia Mara Campos de Almeida (UnB)
 
 

Quinta-feira, dia 06 de outubro
 Das 9h às 10h15
Mesa Redonda: Decolonialidade, Migração e Juventude
“Invasoras” do Reino Unido: reenquadrando discursos de colonialidade nas vozes de mulheres negras brasileiras imigrantes
Katucha Bento (Leeds University)

Culturas Juvenis e Decolonialidade no Brasil
Prof. Breitner Tavares (UnB)
Coordenador: Prof. Emerson Ferreira Rocha (UnB)

Das 10h30 às 12h30
Conferência: Descolonizando a Raiva: teoria feminista negra e a prática nas universidades do Reino Unido.
Profa. Shirley Tate (Leeds University)
Coordenador: Prof. Joaze Bernardino-Costa (UnB)

Almoço


Das 14h15 às 15h45

Conferência: Encontro de Saberes nas Universidades: das ações afirmativas à descolonização epistêmica”
Prof. José Jorge Carvalho (UnB)
Coordenador: Prof. Nelson Inocêncio (UnB)

Das 16h às 18h

Mesa Redonda: Descolonizando as Ciências Sociais

Descolonizando a Antropologia: em busca de metodologias emancipatórias
Prof. Osmundo Araújo Pinho (UFRB)
Convergências entre Intelectuais do Atlântico Negro: Guerreiro Ramos, Frantz Fanon e Du Bois
Prof. Joaze Bernardino-Costa (UnB)

Em busca da Sociologia Negra Brasileira
Prof. Ivair Augusto Alves dos Santos
Coordenadora: Profa. Nilma Lino Gomes (UFMG)
 
 
 
Sexta-feira, dia 07 de outubro
Das 9h às 10h15
Mesa Redonda: Descolonizando Outras Áreas do Conhecimento
Modernidade e (De)colonialidade na Formação de Professores de Artes: o caso da licenciatura em dança do IFB.
Profas. Eloísa Marques Rosa, Suselaine Serejo Marinelli, Glauco Vaz Feijó (IFB)

Uma Análise do Campo Ayahuasqueiro a partir da Perspectiva Decolonial: o duplo papel de pesquisador e nativo na UDV
Patrick Walsh (Doutorando/UnB)
Coordenador: Prof. Breitner Tavares (UnB)

Das 10h30 às 12h30
Mesa Redonda: Pensando a Produção Audiovisual e o Livro Didático a partir da Decolonialidade
Economia Política do Audiovisual, Convenção da Unesco sobre Diversidade Cultural e as Políticas Públicas para o Setor no Brasil (2001-2015).
Prof. Rafael Santos (UERJ)

A Experiência de Produzir um Texto Didático sobre Antropologia Cultural: uma perspectiva decolonial?
Prof. Pedro Alexander Cubas Hernández (Doutor em Antropologia)
Práticas Político-culturais e Intelectuais Negras de Enfrentamento ao Racismo Epistêmico e de Descolonização do Conhecimento no Brasil
Nádia Cardoso (Doutoranda/UFBA)
Coordenadora: Profa. Haydée Caruso (UnB)

Almoço

Das 14h15 às 15h45
Mesa Redonda: Políticas Públicas Antirracistas: um projeto decolonial
Descolonizando os Currículos: desafio para uma educação antirracista
Profa. Nilma Lino Gomes (UFMG)

Racismo e Políticas Públicas: a experiência brasileira
Prof. Mario Theodoro (Senado Federal)
Coordenadora: Profa. Christiane Girard
(UnB)

Das 16h às 18h
Conferência: Desaprendendo as Lições da Colonialidade: escavando saberes subjugados e epistemologias marginalizadas.
Profa. Oyeronke Oyewumi (Stony Brook University).
Coordenadora: Profa. Antonádia Borges (UnB)

Serviço
Seminário Internacional: Decolonialidade e Perspectiva Negra
Data: 05, 06 e 07/10/2016
Hora: 09:00 às 18:00hrs.
Local: Auditorio do Instituto de Ciências Sociais - Universidade de Brasília (UnB).

Em São Paulo, a Reforma na Educação deve resultar em ocupações na próxima semana

Escola ocupada no final de 2015 em São Paulo, contra o projeto de reorganização escolar 
Foto: Reinaldo Meneguim/Democratize

ATUALIZAÇÃO: os estudantes da E.E. Domingos Mignoni decidiram, em assembleia, adiar a ocupação da escola. Mais uma assembleia será realizada na segunda-feira (26), para determinar ou não a ocupação em definitivo.

O estado de São Paulo deve ser sacudido por mais ocupações nas escolas estaduais. E pelo jeito, não será apenas aqui.

O alvo da vez é a Reforma no Ensino, anunciada pelo governo de Michel Temer (PMDB) nesta semana. A primeira mudança importante determinada pela medida provisória é que o conteúdo obrigatório será diminuído para privilegiar cinco áreas de concentração: linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e formação técnica e profissional.

Conteúdos como Artes, Educação Física, Filosofia e Sociologia não serão mais obrigatórios.

Além disso, a reforma tem como matéria o aumento da carga horária, ampliada progressivamente até atingir 1,4 mil horas anuais. Atualmente, o total é de 800 horas.

Considerado um retrocesso, a medida do governo federal foi duramente criticada durante a semana, principalmente nas redes sociais.

Alunos, professores e pais não foram sequer consultados sobre a matéria, incluindo os próprios sindicatos dos professores das redes estaduais.

Com a polêmica, o governo federal recuou e publicou o texto da MP com alterações, mantendo a obrigatoriedade das aulas que inicialmente seriam deixadas de lado. Mesmo assim, o texto é repleto de polêmicas.

E a polêmica reforma já tem sinais de esgotamento: alunos da E.E. Domingos Mignoni, localizada no Taboão da Serra, tentaram ocupar a escola nesta sexta-feira. Após uma assembleia realizada pelos secundaristas, a decisão foi de adiar a mobilização para a segunda-feira (26), onde uma nova assembleia será realizada para determinar a ocupação ou não em definitivo.
 
Neste ano, estudantes das ETECs protagonizaram uma jornada de protestos e 
ocupações em São Paulo pela merenda | Foto: Felipe Malavasi/Democratize

A primeira onda de ocupações, ocorrida em São Paulo no ano passado, começou de forma semelhante, quando estudantes ocuparam uma escola estadual em Diadema, cidade que faz parte da Grande São Paulo. A partir dai, em questão de meses, mais de 200 escolas foram ocupadas pelos secundaristas, causando a derrota do governador Geraldo Alckmin (PSDB), que no final do ano passado foi obrigado pela opinião pública a abrir mão da reorganização escolar, que fecharia mais de 90 escolas estaduais em São Paulo.

A mobilização secundarista teve continuidade em outros estados, como Rio de Janeiro, Goiás, Rio Grande do Sul e Ceará.

Agora, com uma causa em comum, todos os estados devem viver novamente uma mobilização secundarista ainda mais forte.

Protestos também estão sendo marcados por organizações estudantis contra a medida de Temer na Educação. Para a segunda-feira, um ato convocado por um grupo autônomo e sem ligações partidárias já conta com milhares de confirmações no Facebook. A manifestação terá concentração no vão livre do Masp, às 17 horas, na Avenida Paulista.

Fonte: Medium.

A TODAS ÀS MULHERES NEGRAS DE TODOS OS HOMENS NEGROS


Eldridge Cleaver
(Tradução: Gilza Marques)

Rainha-Mãe-Filha de África

Irmã de Minha Alma
Esposa Negra de Minha Paixão
Meu amor Eterno

Te saúdo, Rainha minha, não com o gemido obsequioso de um Escravo temeroso ao qual já te acostumaste, e tampouco te saúdo com a nova voz, com as insinuantes súplicas da suntuosa Burguesia Negra, nem com o uivo intimidador do rude Liberto, senão que com minha própria voz te saúdo, com a voz do Homem Negro. E ainda te saúdo de novo, minha saudação não é nova, senão tão velha como o sol, a lua e as estrelas. E mais que assinalar um novo começo, minha saudação significa unicamente meu retorno.

Regressei de entre os mortos. Te falo desde o Aqui e o Agora. Estive morto durante quatrocentos anos. Durante quatrocentos anos foste uma mulher sozinha, despojada de seu homem, uma mulher sem companheiro. Durante quatrocentos anos nem fui teu homem, nem meu próprio homem. O branco se interpunha entre nós, gravitada sobre nós, andava ao nosso redor. O branco era teu homem e meu homem. Não tome rapidamente esta verdade, Rainha minha, pois ainda que o feito do qual te falo esteja entranhado até o tutano dos ossos e tenha diluído nosso sangue, temos que trazê-lo até à superfície da mente, ao reino do conhecimento, fixar nele o nosso olhar e contemplá-lo como uma serpente enroscada no berço de um menino, ou entre as frescas flores da tumba de uma mãe. Tem que ser ponderado e compreendido com o coração, pois a bota do homem branco é nosso ponto de partida, nosso ponto de Resolução e Retorno, o pivô ensanguentado de nosso futuro. (Porém quero que recordes que antes que pudéssemos sair da escravidão tivemos que ser rebaixados do nosso trono.)

Através do abismo escancarado da masculinidade negada, de quatrocentos anos sem Testículos, nos enfrentamos um ao outro, Rainha minha. Sinto uma dor profunda e aterradora, a dor da humilhação do guerreiro vencido. A vergonha do corredor de pés ligeiros que tropeça ao começar a corrida. Não tenho justificativa. Não posso suportar olhar-te nos olhos. Não havias notado (sem dúvida, já o tenha notado: quatrocentos anos!) que durante quatrocentos anos havia sido incapaz de olhar-te nos olhos? Me tremo por dentro cada vez que me olhas. Descubro…desde o raio de seu olhar, desde o profundo lugar em que ele está escondido, um segredo há muito tempo guardado. Tal é a verdade, sem adornos. E não que eu tenha que me sentir justificado dadas as circunstâncias, em tomar tais liberdades contigo, senão que quero que saibas que temia olhar-te nos olhos porque sabia que neles encontraria refletidos uma denúncia despida da minha impotência e um desafio inevitável a redimir minha masculinidade vencida.

Rainha minha, me custa dizer-te o que guarda meu coração pra ti hoje – que é o que guardam em seu coração todos meus irmãos negros para você e para todas as suas irmãs negras – e temo que fracassei a menos que venha até mim, a menos que te ponhas em harmonia comigo com a antena de seu amor, o amor sagrado que não me pudeste dar porque, estando eu morto, era indigno de recebê-lo; esse perfeito e radical amor do negro do qual se alimentaram nossos Antepassados. Deixa-me beber do rio do teu amor em sua fonte, que as linhas de força de seu amor corram por seu centro à minha alma e curem a ferida de minha Castração, deixa que meu convexo exílio termine sua dolorosa Odisseia em sua essência côncava que recebe para dar. Flor da África, somente mediante o poder libertador de seu re-amor minha virilidade pode se redimir. Pois é perante teus olhos, perante você, que minha necessidade deve justificar-se. Só você, você, você e só você pode condenar-me ou me dar a liberdade.

Convença-te, Irmã de Ébano, que o passado não é uma paisagem proibida, à qual não devemos nos atrever a olhar, por um medo fantasmagórico de ficarmos convertidos, como a mulher de Ló, em estátuas de sal. Mas bem, o passado é um espelho onisciente: voltamos até os nossos olhos e vemos refletidos: o que fomos, o que somos agora, como chegamos a este estado e em que nos estamos convertendo. Negar-se a olhar no Espelho de Então, coração meu, é não querer ver a face da Aurora.

Morri a sétima morte de um gato, vi o Diabo cara a cara e dei as costas a Deus, comi na Panela do Porco, e desci até o mais baixo do Poço, me meti na pocilga e livrei meus Testículos das faces do leão que os tinha apanhado com os dentes!

Beleza Negra, em silêncio impotente escutei, como se compusesse uma sinfonia de lamentos, seus gritos de auxílio, suas vozes angustiadas de terror que reverberam pelo Universo e pela mente, como um milhão de gritos dispersados por anos de dor , que se fundem em um só som de pesar que transpassa e sangra minha alma, uma voz à vermelha branca ferida, que me queima o cérebro e faz estalar o foguete do pensamento, um som de garras e dentes afilados para desgarrar o coração, um som de lamas crepitantes, um som ardente, ardente, queimante, um som para fundir o aço de meus Testículos, um som de fogo Blue, um som Blueseado, o som do moribundo, o som de minha mulher transpassada de dor, o som da dor de minha mulher, O SOM DE MINHA MULHER CHAMANDO-ME, A MIM, OUVI QUE ME PEDIA AUXÍLIO, OUVI ESSE LAMENTOSO SOM, MAS ABAIXEI A CABEÇA E NÃO FUI ATÉ ELE, OUVI O PRANTO DE MINHA MULHER, O GRITO DE MINHA MULHER, OUVI A MULHER SUPLICAR À BESTA POR MIM, OUVI MINHA MULHER MORRER, OUVI O SOM DE SUA MORTE, UM SOM DE ALGO QUE SE QUEBRA, UM SOM DE ALGO QUE SE ROMPE, UM SOM QUE SOAVA A COISA ÚLTIMA E FINAL, O SOM PÓSTUMO, O SOM DA MORTE, O OUVI, OUÇO-O TODOS OS DIAS, OUÇO-O AGORA, TE OUÇO AGORA… TE OUÇO… Te ouvi então… teu grito me chegou como uma queimante centelha que deixou uma cicatriz branca em minhas costas. Num estupor covarde, com coração palpitante e joelhos vacilantes, contemplei o chicote de morte do Escravista estalar no ar e cortar com finos dentes tua delicada carne, a terna carne da Maternidade Africana, arremessando prematuramente a Vida sobressaltada de seu desgarrado e ultrajado ventre, o ventre sagrado que embalou o primeiro homem, o ventre que encubou a Etiópia e povoou a Núbia, que deu faraós ao Egito, o ventre que pintou o Congo de negro e pariu os Zulus, o ventre de Meroé, do Nilo, do Niger, o ventre de Songai, do Mali, de Gana, o ventre que sentiu o poder de Chaka antes de existir o sol, o Ventre Sagrado, o ventre que conhecia o futuro de Jomo Kenyatta, o ventre dos Mau Mau, o ventre de todos os negros, o ventre que deu a vida a Toussaint L’Overture, que acalentou Nat Turner, e Gabriel Prosser, e Denmark Vesey, o ventre negro que entregou desfeito em lágrimas a cadeia interminável da Flor e Nata de África, o Sal Negro da Terra, essa anônima e interminável cadeia negra que se afundou gemendo no ouvido do grande abismo, o ventre que recebeu e alimentou e reteve firmemente a semente e deu a mudança à Verdade Estabelecida, e à irmã Tubman e a Rosa Parks, e a Bird, e a Richard Wright, e às demais obras de arte que levam os nomes de Marcus Garvey, Dubois, Kwame Nkrumah, Paul Robeson, Malcolm X e Robert Williams e que pariu com dor e amou Elijah Muhammad, porém sobretudo a esse anônimo ser que arrancaram de seu ventre com um rio de sangue assassinado que salpicou o lodo e se afogou nele. E a Patrice Lumumba, e a Emmet Till e a Marck Parker.

Oh, alma minha! Me converti num choroso covarde, num inútil asqueroso, em um lambe botas vil e abjeto, estando minha vontade de oposição petrificada por um medo cósmico ao Amo. Ao invés de incitar os escravos à revolução com oratória eloquente, pus panos em suas feridas e cantei eloquentemente o Blues! Ao invés de lançar desdenhosamente minha vida na cara do meu Atormentador, derramei seu precioso sangue. Quando Nat Turner tratou de libertar-me do meu Medo, meu Medo me entregou ao Carniceiro e se converteu em monumento martirizado de minha Castração. Meu espírito estava indeciso e minha carne era débil. Ó infâmia eterna!

Eu, o Eunuco Negro, privado dos meus Testículos, caminhei pela terra com a mente congelada e guardada em um Frigorífico. Me importava menos matar um homem ou mulher negros do que esmagar uma mosca, ainda que, para o branco, era capaz de recolher até mil libras de algodão por dia. Que proveito pode haver nos esforços cegos, frenéticos dos (Culpados!) Eunucos Negros (Justificadores!) que ocultam suas feridas e se burlam da verdade para mitigar sua culpabilidade mediante os sofismas aguados que postulam uma Democracia Universal de Covardes, que assinalam que na história ninguém pode se esconder, e que se não em um momento, indubitavelmente em outro, o calcanhar de ferro do Conquistador esmagou os Testículos de Todo e Cada Um dos Homens! As memórias de ontem não pararam as torrentes de sangue que fluem agora do meu inglês. Sim, a história é uma espécie de texto escarlate, cujo título está escrito com sangue humano. Mais exércitos do que os que se mencionam nos livros plantaram as bandeiras em solo estrangeiro e deixaram como rastro a Castração. Mas nenhum Escravo deveria morrer de morte natural. Há um ponto que termina a Prudência e começa a Covardia. Que uma bala do opressor me transpasse a cabeça na noite do cerco. Por que se dança e se canta no Dormitórios dos Escravos? Um escravo que morre de causa natural pesará menos do que os moscas mortas na Balança da Eternidade. A esse homem, mais que chorar por ele, haverá que ter compaixão.

Mulher negra, sem que perguntes como, simplesmente sobrevivemos a nossas marchas forçadas e nossas penas e fadigas pelo Vale da Escravidão, do Sofrimento, e da Morte. Por esse vale que oculta a nossa vista, esse nevoeiro errante. Ah, que espetáculo, que sons, e que sofrimentos envolvem esse nevoeiro! E tínhamos pensado que nossa áspera subida para sair desse cruel vale nos levaria a algum lugar fresco, verde e suave, banhado de sol, mas encontramos uma selva, uma solidão selvagem e feroz povoada de ruínas.

Porém coloque tua coroa, Rainha minha, e levantaremos uma Cidade Nova sobre essas ruínas.

Fonte: Pensamentosmulheristas.


sábado, 17 de setembro de 2016

Educando nossas crianças negras para a autoaceitação


por Patricia Anunciada,
Primeiro dia na sala de aula: os olhos grudados na professora, prestando atenção a todos seus gestos, todas as suas palavras, buscando sua aceitação. É assim que muitos de nós nos sentimos no primeiro dia de aula, esperamos ansiosamente por esse momento e estamos preocupados, mesmo tão pequenos, com o que o futuro nos reserva nessa nova etapa de nossa vida. Nos perguntamos quem serão nossos melhores amigos, quem vai sentar sempre ao nosso lado, quais as brincadeiras que aprenderemos, quando será o horário do lanche etc.

O início dessa etapa na vida de muitas de nós, mulheres negras, tem suas particularidades e pode ser extremamente marcante, interferindo na formação de nossa personalidade e no nível de autoconfiança que temos na adolescência e na idade adulta. O ambiente escolar pode ser tanto um espaço de acolhimento da diversidade quanto um espaço de opressão que reproduz preconceitos e a manutenção da desigualdade social.

A educação das crianças negras perpassa necessariamente por questões de identidade e autoestima, visto que em nossa sociedade o padrão do belo e aceitável está relacionado ao branco e temos um currículo escolar voltado para uma visão eurocentrada do mundo que desconsidera a contribuição dos povos africanos para a formação da nação, retratando-o apenas como mão de obra escrava. Sendo assim, geralmente as crianças negras não se veem representadas positivamente no contexto escolar e isso tem consequências na formação de sua autoestima e identidade.

Na realidade escolar, é muito comum observar crianças negras inseguras, com dificuldades para tomar iniciativas, dificuldades de autoaceitação. Muitas vezes a experiência escolar é marcada por preconceito, exclusão, comentários vexatórios vindos de colegas de classe e até mesmo descaso de professores que acreditam no mito da democracia racial e que vivemos harmoniosamente independentemente da questão racial, desconsiderando em sua prática a questão étnico-racial e fechando os olhos para questões de preconceito e discriminação.

Sendo assim, percebemos a necessidade de adequar as propostas curriculares para que elas sejam de fato inclusivas e contribuam para que todas as crianças se sintam acolhidas nas escolas e tenham todos os seus direitos assegurados. Atualmente podemos observar mudanças nesse sentido. Criou-se uma lei, 10.639, que torna obrigatório o ensino de história e cultura africanas e afro-brasileiras. Dessa forma, procura-se criar uma representação positiva e valorizar a contribuição dos povos africanos na formação de nossa identidade.

A questão da representatividade positiva é extremamente importante na formação de nossas crianças negras. Quando elas vêm apenas pessoas brancas sendo as personagens principais em todas as estórias e histórias, enquanto os negros estão sempre ocupando o pano de fundo, elas desenvolvem um complexo de rejeição que afeta fortemente sua autoestima. Já quando são expostas a diferentes narrativas, em que a população negra é valorizada, sua cultura é exaltada, essas crianças tendem a desenvolver uma autoimagem positiva.

O processo de formação e desenvolvimento de crianças negras precisa levar em conta suas necessidades e especificidades. Quando desconsidera a diversidade, a escola reforça o preconceito e a ideologia de supremacia racial, mas quando insere todas as crianças em um contexto em que se sentem acolhidas, valorizadas, rompendo com estereótipos e visões de mundo eurocentradas, ela não só cria as condições adequadas para a aprendizagem, como contribui para que as crianças aceitem o diferente e aceitem a si mesmas em suas singularidades.
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Patricia Anunciada

Patricia Anunciada é formada em Letras Português/Inglês pela PUCSP e pós-graduada em Língua e Literatura pela UNICAMP. Trabalha como professora de Português e Inglês. Atualmente desenvolve estudos na área de Literatura Afro-brasileira e Educação para as Relações Étnico-Raciais.
 

Quem viu Daiane chorar? Racismo e o adoecimento psíquico

 
por Emanuelle Goes,

“A minha mãe sempre costurou a vida com fios de ferro”
Conceição Evaristo .

Falamos pouco sobre a saúde e o adoecimento psíquico da população negra, falamos pouco das dores negras causada pelo racismo cotidianamente. Motivada pela campanha de prevenção do suicídio e aguardo o momento certo para abordar o tema, vou aqui tentar falar um pouco sobre o assunto, e destacando o suicídio como última fronteira causado pelo racismo e pelo seu enfrentamento, que nos mata todos os dias aos poucos ou nos leva de uma vez.

“Quando uma pessoa pensa em suicídio, ela quer matar a dor, mas nunca a vida” quando li esta frase pensei sobre a dor, este sintoma que é tão complexo de ser medido, avaliado e tratado, e como se imagina que os negros toleram mais as dores físicas e por isso não precisam de analgesia (medicamento para dor), neste sentido é impossível conceber a dor da alma de uma pessoa negra, pois disseram também que negras/os não tem alma. (DOR – Experiência sensitiva e emocional desagradável associada ou relacionada a lesão real ou potencial dos tecidos. – SBED).

Torna-se negra é saber que todo dia vamos levantar e lutar contra o racismo e que ele sofre mutações mas não cessa, é saber que vão nos colocar em situação limite todos os dias e que esta dor pode chegar a qualquer momento.

Segundo Neusa Santos em seu livro Torna-se Negro “Saber-se negra é uma experiência de ter sido violada em sua identidade, confundida em suas perspectivas, submetida a exigências e compelidas a expectativas alienadas, mas é principalmente a experiência do compromisso do resgate da história e a recriação de suas potencialidades”. É tudo junto mesmo, a afirmação da identidade como um lugar de alimento e o reconhecimento do racismo como a barreira para o alcance da dignidade da pessoa humana.

No título falo de Daiane, e quem foi Daiane? Jovem negra de 23 anos que estudava Engenharia na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, ela cometeu suicídio no dia 14 de maio em sua residência, para os colegas o racismo violento vivido nas Universidades tem causado adoecimentos e tentativas de suicídios como foi o caso de Daiane.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, a taxa mundial de suicídio é de 11,4 por 100 mil habitantes (15,0 para homens e 8,0 para mulheres) e no Brasil, o índice de suicídios na faixa dos 15 a 29 anos é de 6,9 casos para cada 100 mil (índice de mulheres é de 2,6 e de homens 10,7. Mas entre 2010 e 2012 um números de suicídio entre a população feminina aumentam em 18%).

Sobre a população negra temos poucas informações, mas os dados sobre suicídio tanto os homens negros (7,6/100 mil) como os brancos (9,5/100mil) apresentam maior taxa de mortalidade por este grupo de causa, e entre mulheres são as mulheres brancas (2,5 100 mil; negras 1,7/100 mil) a maior taxa. Vale destacar que o população negra tem a sua taxa de homicídio elevadíssima sendo a principal causa de morte em relação a causas externas.


Sobre acesso da população negra a serviços de saúde mental, a Pesquisa Nacional de Saúde realizada em 2013 pelo IBGE, revela que em relação à idade do primeiro diagnostico para depressão as mulheres pretas tem sido diagnosticada mais tardiamente quando comparada as mulheres brancas e pardas (Figura).

A fortaleza do corpo negro desumaniza todas as pessoas, sempre quando ouvimos que somos guerreiras, somos fortes e resistentes na luta, estão nos dizendo que não podemos chorar e nem adoecer e muito menos recuar para não sofrer, “engula o choro” quem de nós não ouviu isso? e siga. Daiane engoliu o choro, mas a alma não suportou a dor. Acredito que o suicídio é a dor visceral da alma.

É na categoria da afetividade “que muitas vitórias racistas se acumulam, afetando nossa saúde psicológica por nos fazer carregar repetidas frustrações e aceitar reproduções de relacionamentos abusivos. Tudo isso em silêncio, como se não existisse um problema estrutural.” Stephanie Ribeiro
 
“A escravidão condicionou os negros a conter e reprimir muitos de seus sentimentos” bell hooks. A marca da escravidão em nossos corpos e almas, ainda presente nos dias de hoje, pelas práticas racistas fincadas com referência deste sistema, assim como a nossa memória ancestral que não nos deixar esquecer, o que pode ser chamado de Embodiment (termo utilizado na Epidemiologia Social) que descreve o nosso corpo como histórico, legado ancestral atravessa os tempos e corporifica em nós o legado, por isso que não esquecemos que somos beleza, temos historias e herdemos coroas de reis e rainhas africanas. Vivemos na dicotomia das coisas como nos disse Neusa Santos. 
 
Me abrigo nos braços de minha irmã – Para nós, por nós e entre nós

“O amor precisa estar presente na vida de todas as mulheres negras, em todas as nossas casas. É a falta de amor que tem criado tantas dificuldades em nossas vidas, na garantia da nossa sobrevivência. Quando nos amamos, desejamos viver plenamente.”  Bell Hooks.

Nos braços de minha irmã (sister) eu me curo, no colo das Iabás eu me curo, o amor que cura. Se a luta é coletiva, a dor, o amor e a cura também são, a irmandade cura a dor da alma e nos salva do assassinato lento e letal do racismo. Não estamos sós.

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Emanuelle Goes

*Blogueira, Enfermeira, Coordenadora do Programa de Saúde das Mulheres Negras – Odara Instituto da Mulher Negra, Doutoranda em Saúde Pública (ISC/UFBA).
 

Desmistificando a África (20/09)



Desmistificando a África

Vamos juntos desfrutar e enriquecer o nosso conhecimento sobre a cultura de alguns países africanos?

Temos uma grande novidade! Afrikanus está crescendo a cada dia, graças a vocês! Gostariamos de agradecer pelo apoio dos nossos queridos clientes. Através de vocês, conseguimos fechar grandes parcerias. Teremos um grande evento na semana que vem e vocês estão convidados para participarem conosco!

Estamos organizando um grande evento na proxima terça, dia 20/09, na Subsecão de Taguatinga (OAB) - QI 10, lote 54, Setor de Industrias, Taguatinga Norte. Fechamos essa parceria junto com a Presidente da Comissão de Igualdade Racial, Dra Denise Costa. Teremos uma palestra sobre Cabo Verde e algumas curiosidades entre outros países africanos e o Brasil, uma exposição de arte africana com a empresa Janela do Infinito, Oficina de Turbante gratuito junto com uma apresentação da história do turbante e suas origens com a palestrante Romisa Elkarim, uma pequena apresentação de danças africanas de 2 países e teremos produtos e decorações da Afrikanus.

No final do evento teremos um cocktel de encerramento.

Serviço
Desmistificando a África
Data: 20/9 - Terça-feira.
Hora: às 19:00 - 22:00hrs.
Local: Subsecão de Taguatinga (OAB) - QI 10, lote 54, Setor de Industrias, Taguatinga Norte.
Organização: Comissão de Igualdade Racial - OAB/DF

Encontro do Empoderamento (18/09)


Encontro de Crespas, Cacheadas e com Box Braids!
Será um encontro com o maior intuito de ser um "Abraço" a todas que tem ou tiveram dificuldades de assumir o nosso cabelo de origem, principalmente por conta de preconceito (e nem imaginávamos que ainda existia esse tipo de preconceito);


Um encontro pra trocar experiências entre quem já passou, quem está passando e quem deseja passar pelo processo de transição; Será feito, também, um ensaio fotográfico com todas!

ServiçoEncontro do Empoderamento (18/09)
Data: 18/09 - Domingo
Hora:a partir dàs 14:00 - 18:00hrs.
Local: Museu Nacional de Brasília/DF

Evento já confirmado em: Brasília e Recife.
*Logo logo confirmaremos em São Paulo.