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quarta-feira, 31 de julho de 2019

[Mobilidade no DF] Dona Zefinha - 93 anos de caminhada



Já pensou em como é a vida de quem tem 93 anos e precisa se movimentar pela cidade? Moradora do Paranoá desde as ocupações e lutas por moradia na região, te apresentamos Dona Zefinha! O vídeo faz parte do projeto Mapa das Desigualdades, que nesta terceira edição discute mobilidade e gênero no Paranoá e Itapoã: duas cidades – ou Regiões Administrativas, como prefere o discurso oficial – que integram o Distrito Federal. 
 
Longe das imagens modernistas associadas à Brasília, Paranoá e Itapoã nascem de um histórico de luta por moradia, a partir da ocupação dos territórios por famílias provenientes de diversas partes do país, especialmente do Nordeste, e que foram expulsas do centro da capital por sua lógica segregadora. 
 
Hoje vivem no Paranoá 66.138 habitantes e no Itapoã, 60.325 habitantes, sendo as duas cidades majoritariamente negras. Boa parte dos postos de trabalho do/as moradores/as dos dois locais encontram-se em outras regiões: 81,3% dos/as habitantes do Itapoã e 73,9% dos/as habitantes do Paranoá trabalham fora de suas cidades, fazendo com que longos trajetos em um transporte público caro e de baixa qualidade sejam cotidianos (dados da PDAD, 2018). 
 
Há também pouca infraestrutura para o transporte por bicicleta e a pé nas duas cidades. A falta de investimento em políticas que garantam o direito à mobilidade urbana pesa de forma distinta na vida das mulheres e da população LGBT, para quem locomover-se implica também em encarar outros perigos e discriminações. 
 
É sobre essas dificuldades, mas também sobre como elas são enfrentadas todos os dias, que o Mapa das Desigualdades se dedicou a conversar. Assista:
 
 
Realização: Movimento Nossa Brasília e Inesc Apoio: Oxfam Realização audiovisual: COMOVA
 

SAMBA NA COMUNIDADE CEILÂNDIA-DF, DIAS DE FELICIDADE 7 0


O Projeto Samba na Comunidade reúne sambistas de forma livre e espontânea, com intuito de disseminar a cultura do Samba de Raiz, principalmente nas localidades do DF e Entorno, onde esse ritmo musical ainda é pouco conhecido e pouco divulgado, pretendendo também privilegiar as comunidades com limitações de acesso a bens culturais gratuitos e de qualidade. 
 
Com mais de 4 anos de existência a primeira roda de Samba aconteceu em junho de 2014 e não parou mais, a primeira formação de Sambistas que encabeçaram o projeto foi, Mirinho do Banjo, Michael Santos, Negro Vatto, João Henrique e Jonas. Que logo após ao inicio do projeto ganhou forças de vários músicos da cidade, artistas de renomes e anônimos do público fazem o coro que ecoam na roda de samba. 
 
A Cidade Ceilândia-DF foi escolhida como uma das casas do projeto, por ser conhecida como um dos celeiros culturais no DF, com larga produção artística nas áreas cinematográficas, fotografias, musicais, especialmente com temáticas ligadas aos movimentos Hip Hop, contendo também forte preservação das tradições como: Quadrilhas juninas, cordeis e repentes. nesse contexto, o Samba na Comunidade pede passagem para apresentar o Samba - cultura secular e um dos estilos mais ouvidos no país e no mundo, dando ênfase, especialmente ao Samba de Raiz. Assista:
 
 
O projeto acontece na Praça da Bíblia, no Setor P Norte, CIDADE CEILÂNDIA-DF, todos os terceiros ( 3º ) sábados de cada mês. 
 
O QUE É? 
Samba na Comunidade 
 
QUANDO? 
3º Sábado de cada mês 
 
ONDE?
QNP 19 PRAÇA DA BÍBLIA 
 
HORÁRIO ? 
De 16H às 23H 
 
CLASSIFICAÇÃO: 
LIVRE 
 
ACESSO : 
GRATUITO 
 
O SAMBA NA COMUNIDADE Agradece a todos que contribuem direto e indiretamente aja visto que é um projeto que se mantem com recursos próprios, sem ajuda governamental, sem ajuda de empresários e comerciantes, o samba é mantido por músicos e pessoas da própria comunidade que não deixam que essa cultura passe por despercebida.

Está na hora de o Brasil cair na realidade

Ocupado com ofensas, mentiras e absurdos, o presidente ignora a mudança climática. Uma das desvantagens do sistema presidencialista é uma só pessoa poder definir a agenda de todo um país. E se ela é um psicopata?

Por Philipp Lichterbeck , na DW
Ultimamente tenho um certo receio de olhar as notícias. Quase diariamente se ouve mais uma crueldade, um comentário infantil, uma mentira ou uma ameaça do presidente Jair Bolsonaro ou de um de seus ministros. É desesperador, é frustrante, é de sentir vergonha alheia. É também de dar medo.

O trágico é que estamos vivendo um momento-chave da história. Se a humanidade não agir depressa e coletivamente, dentro de não muito tempo viveremos uma reviravolta inimaginável. O mundo como existe hoje se transformará dramaticamente.

Quem diz isso não são teóricos da conspiração, mas sim instituições científicas de todo o mundo. É consenso entre os especialistas: a mudança climática global está chegando! A questão é só com que força vai se abater. Ela é a maior ameaça a nossa segurança. A situação é de emergência.

É claro que a mudança climática também atingirá o Brasil. No entanto, a maioria dos brasileiros age como se vivesse em outro planeta. Os especialistas dizem que as condições meteóricas extremas vão se agravar no Brasil. Ficará mais quente e mais seco, vai haver mais secas e carência d’água. Também as tempestades fortes e chuvas apocalípticas aumentarão; graves inundações serão cada vez mais frequentes. Tudo isso já se faz sentir, de forma incipiente.

Nas democracias ocidentais, o consenso é que se atingiu um ponto crítico, e seria necessário agir de forma rápida e decidida. Consenso, com duas grandes exceções: os Estados Unidos e o Brasil. Lá, quem governa é a vulgar nova direita, que declarou a mudança climática uma invenção da esquerda.

De que o presidente do Brasil se ocupou nas últimas duas semanas? Uma seleção aleatória:

– Ele elogia o trabalho infantil.

– Ele nega a fome no Brasil.

– Ele ofende o Nordeste.

– Ele não conhece os dados das repartições governamentais sobre o desmatamento da Amazônia. Quando é informado sobre eles, diz que são falsos.

– Ele quer tornar seu filho embaixador nos Estados Unidos, “porque pretendo beneficiar filho meu, sim”.

– Ele distribui “abraços héteros”.

– Ele divulga o Instagram da esposa para ter “alguma recompensa hoje em casa”.

– Ele ameaça o jornalista de renome mundial Glenn Greenwald de “pegar cana no Brasil”.

– Ele tacha de “idiotas” as perguntas sobre o uso de verbas públicas no casamento de seu filho.

– Ele anuncia que quer explorar as terras indígenas protegidas pela Constituição.

– Ele ataca da pior maneira possível o presidente da OAB e sua família.

– Ele corta os cabelos ao vivo.

Com seu sadismo, sua infantilidade, sua fanfarronice, sua preguiça intelectual e suas mentiras, Bolsonaro domina o discurso no dia a dia do Brasil. Uma das muitas desvantagens dos sistemas presidencialistas do continente americano é uma só pessoa poder definir a agenda de todo um país. Pois: e se essa pessoa não bater muito bem da bola?

O ser humano é um animal altruísta, que deve seu sucesso no planeta, acima de tudo, à cooperação. Provavelmente, todos os leitores concordam com essa frase. Portanto, a grande questão é: por que somos cada vez mais governados por psicopatas?

Uma sociedade é sempre bem-sucedida quando reconhece desafios, procura soluções e as implementa – essa sempre é uma enorme chance de progresso e crescimento. A mudança climática é um desses desafios, ela exige que raciocinemos diferente. Faz parte da tragédia de nossa época as duas maiores e mais populosas nações das Américas serem governadas por homens condicionados pelo velho raciocínio, respectivamente, raciocínio nenhum. Eles vivem em mundos paralelos, onde a mudança climática não acontece.

Em sua obra Colapso, o biólogo e evolucionista americano Jared Diamond enumera alguns fatores importantes que contribuíram para o ocaso de sociedades, na história. Entre eles: ignorância diante de problemas existenciais como carência d’água ou desflorestamento; fanatismo religioso ou político; conflitos internos graves; líderes com mais interesse na manutenção de poder no curto prazo do que em mudanças de longo prazo. Soa familiar?

O Brasil é o quinto maior emissor de gases do efeito estufa do mundo, atrás apenas de China, EUA, Rússia e Índia. Cerca de 75% das emissões do Brasil estão associadas a usos da terra, como agropecuária e sobretudo desmatamento. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que o desmatamento avança rapidamente em 2019. A devastação das florestas cresceu 54% entre janeiro e julho, em relação ao mesmo período em 2018.

O governo do Brasil não quer reconhecer isso. Jair Bolsonaro prefere chamar os dados de “mentiras”. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, diz: “Não podemos cair nessa histeria.” O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirma que a Amazônia tem “desmatamento relativo zero” e faz propaganda no Twitter para a montadora americana Chevrolet.

Na mudança climática, a questão não são as asneiras e vaidades de Jair Bolsonaro ou Donald Trump. Os interesses especiais dos seus ministros. Ou esquerda ou direita. A questão somos todos nós.

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Philipp Lichterbeck queria abrir um novo capítulo em sua vida quando se mudou de Berlim para o Rio, em 2012. Desde então, ele colabora com reportagens sobre o Brasil e demais países da América Latina para os jornais Tagesspiegel (Berlim), Wochenzeitung (Zurique) e Wiener Zeitung. Siga-o no Twitter em @Lichterbeck_Rio.

A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.

Imagem: Christopher Ulrich, O Tolo

terça-feira, 30 de julho de 2019

Roda de Conversa: Pós Graduação nos EUA para Estudantes Negras/o



Olá gente! 
 
Como sabemos a entrada e permanência de pessoas negras nas universidades tem sido um grande objeto de lutas e conquistas dos movimentos negros brasileiros. Entretanto, ainda temos inúmeras dificuldades em efetivar essa demanda. Estudar fora do Brasil é ainda considerado um privilégio que é amplamente acessado por uma parcela da população brasileira que a maioria da população negra não faz parte. 
 
Além disso, a conjuntura atual, com cortes de bolsas e ataques às universidades tem tornado ainda mais difícil o acesso à pós-graduação. Pensado nessas questões, e diversas outras, o objetivo dessa roda de conversa é divulgar informações sobre o processo de entrada num curso de pós-graduação numa universidade americana baseado na experiência de estudantes negras e negros. 
 
A ideia não é esgotar o tema, mas introduzi-lo para pessoas que ainda não sabem como é o processo, ou que nunca se imaginaram estudando nos Estados Unidos. Sejam bem vindas/os, e chamem os parentes!


Serviço: Roda de Conversa: Pós Graduação nos EUA para Estudantes Negras/o
Data/Hora: 07 de ago às 19:00 às 21:00
Local: Simbaz
CLS 412 Bloco D, 70278-540 Brasília

16ª Conferência Nacional de Saúde (8ª+8)











A 16ª Conferência Nacional de Saúde (8ª+8) será o maior evento de participação social no Brasil. Organizada pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS) e realizada pelo Ministério da Saúde, a conferência vai reunir milhares de pessoas de todo o país, em Brasília, de 4 a 7 de agosto de 2019, para traçar de forma democrática as diretrizes para as políticas públicas de saúde no país. O tema principal da 16ª Conferência é “Democracia e Saúde” e os eixos temáticos são: Saúde como direito, Consolidação dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) e Financiamento do Sistema Único de Saúde (SUS).

Os participantes serão eleitos em etapas municipais, estaduais, territoriais e livres, obedecendo uma série de regras regimentais que garantam a diversidade da população brasileira. Além da sociedade em geral, as etapas da conferência devem contar com participação de conselheiros de saúde municipais, estaduais e nacionais, representantes de movimentos sociais e entidades do Brasil, seja em territórios urbanos ou rurais.

Diante da EC nº 95/2016, a realização da conferência se faz ainda mais necessária como uma grande ação em defesa do SUS e da democracia. A proposta temática para o evento é um resgate a memória da 8ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986, considerada histórica por ter sido um marco para a democracia participativa e para o SUS.

Por isso, traz a ideia de “8ª + 8 = 16ª”, já que a 8ª Conferência foi o primeiro evento de participação social na saúde, em âmbito nacional, aberto à sociedade. O resultado desse grande encontro da população brasileira em Brasília gerou as bases para a seção “Da Saúde” da Constituição Brasileira em 1988.

A participação social no Brasil é muito importante. É através desse processo que a população pode contribuir ativamente no desenvolvimento de políticas públicas de saúde. O relatório final da 16ª Conferência Nacional de Saúde (8ª+8) deve gerar subsídios para a elaboração do Plano Plurianual 2020-2023 e do Plano Nacional de Saúde.



Serviço: 16ª Conferência Nacional de Saúde (8ª+8) 
Local: Pavilhão de Exposições do Paque da Cidade
SHCS - Brasília, DF, 70346-090 Brasília
Data/Hora: 04 de ago às 08:00 – 7 de ago às 16:30
Saiba mais: http://conselho.saude.gov.br/16cns

Luciana Barreto é a nova contratada da CNN Brasil

Reprodução/Instagram

A jornalista Luciana Barreto é a nova contratada da CNN Brasil. Ela comandará um telejornal diário e terá participações nas demais plataformas. Antes de assinar com a emisora, ela estava no Canal Futura, do Grupo Globo.

Vencedora do Prêmio Nacional de Jornalismo Abdias Nascimento, em 2012, Luciana Barreto conta com passagens pelos canais GNT, BandNews e Band. Até janeiro deste ano, era a principal apresentadora da TV Brasil.

“Sentimento de gratidão me acompanha. É um desafio muito grande chegar na maior emissora do mundo. Fico olhando para trás e vejo que fomos longe e ainda temos muito o que crescer juntos. Digo fomos porque eu sempre tenho esse sentimento de coletividade. Eu tenho o desejo de agregar muito com olhar mais atento às pautas sociais, sempre dentro de um jornalismo que respeita a diversidade do brasileiro”, diz.

Formada em Jornalismo e com mestrado em ciências sociais, Luciana Barreto passa a integrar o time de excelência reunido pela CNN Brasil, que já conta com William Waack, Evaristo Costa, Mari Palma e Philipe Siani.

“Há algum tempo temos acompanhado com atenção o trabalho desenvolvido pela jornalista Luciana Barreto, o que nos chamou muita atenção. Ela faz parte da nova geração de talentos do jornalismo e certamente, com o seu conhecimento, vai colaborar para o fortalecimento do nosso projeto”, destaca Douglas Tavolaro, CEO e fundador da CNN Brasil.

Fonte: O Dia

segunda-feira, 29 de julho de 2019

Nosso Adeus à Ruth de Souza, a grande dama negra do teatro, do cinema e da TV

Reprodução

Ela foi a primeira brasileira indicada a um prêmio internacional e abriu caminho para o artista negro no Brasil 
 
Ruth de Souza, que morreu neste domingo 28 aos 98 anos no Rio de Janeiro, foi a primeira atriz negra a se apresentar no Theatro Municipal do Rio, em 1945.

A quebra de tabu a fez ser considerada a primeira-dama negra do teatro, do cinema e da televisão. Com seu papel na peça “O Imperador Jones”, escrita por Eugene O’Neil, 74 anos atrás, Ruth abriu caminho para o artista negro no País.

Foi também a primeira brasileira indicada ao prêmio de melhor atriz em um festival internacional de cinema, com o papel no filme “Sinhá Moça”, no Festival de Veneza, em 1954.


 
A atriz morreu no Hospital Copa D’Or, em Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro. Ela estava internada no Centro de Tratamento Intensivo desde a última segunda-feira 22 para tratar de uma pneumonia.

O último trabalho da atriz foi na minissérie “Se eu fechar os olhos agora“, da TV Globo, filmado em 2019. Ela foi homenageada no Carnaval de 2019 pela escola de samba Acadêmicos de Santa Cruz durante desfile da Série A.
Repercussão

O ator Paulo Betti disse que a morte de Ruth é uma grande perda para a cultura do País. “Ela é uma figura muito importante para a cultura brasileira. Fez o Teatro do Negro. Foi uma pioneira”, disse Betti.

O cineasta e imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) Cacá Diegues destacou que Ruth de Souza não foi só uma grande atriz, “como também foi um símbolo da ascensão da qualidade do trabalho dos negros, todos grandes atores”.

Lázaro Ramos emociona ao se despedir da atriz Ruth de Souza: ''Um de seus filhos''
 
Ator emocionou seguidores ao dizer adeus à amiga Ruth de Souza: "Te amo profundamente" Ontem, às 16:11
 
Lázaro Ramos e Ruth de Souza Foto:Reprodução/Instagram

Lázaro Ramos prestou uma homenagem emocionante à atriz Ruth de Souza.

O ator publicou um texto com algumas fotos junto com a atriz, falecida na manhã deste domingo (28) aos 98 anos de idade. Os dois trabalharam juntos na série Mister Brau e o texto mostra como Lázaro Ramos tem um super carinho pela veterana.

"Mãe Ruth, fui procurar uma foto nossa pra publicar neste dia tão triste e eis que sempre nos encontrei assim, sorrindo e oferecendo carinho um para o outro. Tô bem confuso com este momento, me faltam palavras pra te agradecer por tudo que me ofereceu, de ensinamento, de amor a cada encontro mas principalmente por ter me escolhido como um dos seus filhos. A familia que você formou continuará. Nós seguiremos em honra a você. Te amo profundamente", escreveu Lázaro na legenda.

Seguidores se emocionaram. A atriz Mariana Xavier escreveu: "Que lindeza. Merece todas as homenagens". A jornalista Flávia Oliveira destacou a importância de Ruth: "Meu abraço, Lazinho. Dia triste para todos nós. Dona Ruth, agora ancestralizada, era a evidência viva de que 'nossos passos vêm de longe'. Ela nos ensinou a direção", citando o livro de Jurema Werneck.

LUTO


A atriz Ruth de Souza faleceu neste domingo (28) aos 98 anos de idade às 11h20.

Ela estava internada há seis dias no Hospital Copa D'Or, em Copacabana, na zona sul do Rio, e faleceu em decorrência de complicações de um quadro de pneumonia. Em seus últimos dias, a artista teve que ser sedada e recebia tratamento médico. O último trabalho dela na TV foi em uma participação na minissérie Se Eu Fechar os Olhos Agora, de 2019. 
 

Adeus a grande diva Ruth de Souza! Eterna em nossos corações...

Autora brasiliense lança obra sobre a solidão das mulheres negras

Após associar o fracasso dos namoros ao racismo, Gabriela Rocha decidiu transformar as desventuras em livro e ampliar debate sobre o tema
 
Vinícius Santa Rosa/Metrópoles

Como muitas mulheres na faixa dos 40 anos, Gabriela Rocha não sabe dizer ao certo quantos romances teve ao longo da vida, mas sobram dedos para contabilizar os relacionamentos sérios. Ela passou anos perguntando para o espelho se tinha dito algo errado ou sido inconveniente no último encontro, até compreender que o fato de nunca ser pedida em namoro poderia ter raízes no preconceito.

Foram tantas desventuras amorosas que a brasiliense resolveu documentá-las no livro Gabyanna Negra e Gorda, lançado em sua cidade natal, na última quarta-feira (24/07/2019), véspera do Dia da Mulher Negra. Uma escolha simbólica, tendo em vista que as aventuras de protagonista envolvem um tema complexo e ainda pouco debatido: a solidão de mulheres negras e que não se encaixam em padrões específicos de beleza.

Embora Gabyanna seja uma personagem, as histórias contadas por ela fazem parte das memórias da autora. Como quando, aos 22, se apaixonou por um rapaz branco e ficou com ele por cerca de seis meses, sempre escondido. Até que um dia o jovem apareceu num churrasco de mãos dadas com uma namorada – loura, magra e “oficial”.

Poderia ter sido apenas um episódio ruim, mas lembranças como essa acompanharam a autora por boa parte de sua vida e se tornaram mais frequentes depois que ela se mudou para o Rio de Janeiro.

“Sempre estudei em escolas particulares e tinha uma boa condição financeira, então meus amigos eram na maioria brancos. Demorei para entender o racismo. Em Brasília, ele tem uma dinâmica diferente. Se você tem dinheiro, você consegue ser inserido de alguma forma. Aos 23 me mudei para o RJ e lá percebi que o que importava era a minha cor. Era comum receber um entregador na minha própria casa e ele pedir para eu chamar a patroa”, recorda.
 
Ilustração/Airá O CrespoIlustração/Airá O CrespoIlustração/Airá O CrespoIlustração/Airá O Crespo 
 
As experiências de Gabriela foram ilustradas pelo amigo Airá O Crespo

“Me apaixono fácil e mergulho fundo”

As frustrações amorosas continuaram na Cidade Maravilhosa, até que uma oportunidade profissional surgiu e ela se mudou para Oslo, na Noruega. Lá, imaginou que estaria livre do preconceito, o que não aconteceu. “Virei o estereótipo da mulher brasileira, que eles pensam que só quer sexo.”

Na inverno norueguês, com temperaturas entre -3/-4ºC, e ainda sem um núcleo de amizades estabelecido, a brasiliense começou a escrever sobre os romances que teve ao longo da vida. Com ajuda da jornalista Érika Freire e do desenhista carioca Airá O Crespo, ambos seus amigos, ela lançou a obra ilustrada.

Em Gabyanna Negra e Gorda, temas complexos, como solidão e intolerância, são abordados de maneira leve e, na medida do possível, bem-humorada. Aliás, a própria personagem se descreve como alguém que nunca gastou muito tempo sofrendo por amor, nem lamentando adversidades:

“Mesmo tendo o coração partido inúmeras vezes, eu insistia em buscar algo maior e que pudesse funcionar pra mim. Me envolvi tantas vezes. Continuo sozinha e carrego duas características marcantes: o corpo e a cor da minha pele. Estou entre a porcentagem de mulheres negras solitárias, quase condenadas a um celibato forçado. Como mulher persistente, venho tentando furar as estatísticas”, escreve. “Mas tenho um defeito: me apaixono fácil e mergulho fundo diante de um homem alto, de mãos fortes e decidido.”
 
 
 
As memórias de Gabriela são repletas de referências à capital e às aventuras que viveu na cidade. Aos 23, a brasiliense se mudou para o Rio de Janeiro
Catarse e gravidez

“Escrever o livro foi uma catarse. Como se eu precisasse colocar no papel as experiências que vivi para, então, me libertar de vários fantasmas. Os feedbacks têm sido positivos, minha família diz que conheceu uma outra Gabriela no livro. Também recebi relatos de pessoas que não acreditavam nessa hipótese da solidão da mulher negra e, a partir do livro, puderam refletir sobre o tema”, conta.

De fato, o projeto autoral inaugurou uma nova fase na vida de Gabriela. Além da satisfação pessoal de assinar a obra e poder inspirar outras mulheres negras, os ventos começaram a mudar, também, na área afetiva. Seis meses depois de colocar Gabyanna Negra e Gorda à venda, a escritora conheceu o seu atual marido, assim como a experiência de ser amada.

“Aconteceu de uma forma supernatural e parece que ele sempre esteve na minha vida. Diz que sou linda todos os dias e é superparceiro. Tem sido incrível viver este momento, trazê-lo à minha cidade, apresentá-lo aos amigos”, relata.

O casal está junto há um ano. E, em em meio a planos de um futuro em comum, Gabriela teve mais uma grata surpresa: está grávida do seu primeiro filho. “Ainda não sabemos o sexo, mas quero prepará-lo para todas as situações que envolvem ser negro. Se for menina, quero que ela saiba que não está sozinha, que vamos falar sobre esse assunto, tentar mudar e dar visibilidade ao tema. Hoje, muitas mulheres não saem de casa por causa de sua aparência e o problema não é nosso, mas de quem carrega esse preconceito”, pondera.

Apesar de culturas distintas, Gabriela conta que a relação flui bem. "Não me considero insegura, mas tem feito muito bem para a minha autoestima. Ele diz todos os dias que sou linda"
 
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Ela está grávida pela primeiro vez. Pretende debater com o (a) filho (a) as nuances de ser negro (a). "Quero que saiba que não está sozinho (a), que seus sentimentos não são invisíveis"
 
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Gabbyana Negra e Gorda está à venda no Brasil e no exterior. É possível consultar os pontos disponíveis no site da autora
 
 
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Hoje, ela relata estar vivendo uma experiência especial ao lado do companheiro, Jan Fredrik. Os dois esperam o primeiro filho do casal
 
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Apesar de culturas distintas, Gabriela conta que a relação flui bem. "Não me considero insegura, mas tem feito muito bem para a minha autoestima. Ele diz todos os dias que sou linda"

Ela está grávida pela primeiro vez. Pretende debater com o (a) filho (a) as nuances de ser negro (a). "Quero que saiba que não está sozinho (a), que seus sentimentos não são invisíveis"
Debate

A socióloga brasiliense Bruna Pereira abordou as vivências afetivo-sexuais de mulheres negras em sua tese de doutorado, na Universidade de Brasília (UnB). No estudo, constatou que histórias de vida como a de Gabriela sempre foram compartilhadas por mulheres negras, especialmente àquelas que, por algum outro motivo, não se encaixam em um padrão estético.

Segundo Bruna, um dos grandes obstáculos para superar o problema é a negativa do racismo (e do machismo). “Boa parte dessa ideia de democracia racial está amparada na questão sexual, em que o homem considera a mulher negra uma boa parceira sexual, mas pouco interessante para um relacionamento afetivo”, explica.

“As pessoas dizem que o amor não tem cor, mas isso não é verdade. Ele tem sim. A afetividade é uma construção de vários fatores e um deles é o social. A quem associamos a beleza, a afetividade, o desejo de constituir uma família”.

Nesse contexto, a estudiosa acredita que o ingresso de mulheres negras nas universidades e a possibilidade de debate propiciado pelas redes sociais são importantes ferramentas de desconstrução. “Estamos vivendo uma nova fase do ativismo negro e isso é muito positivo. É justamente dando voz para homens e mulheres negros, deixando de silenciar temas como esse, no núcleo familiar, nas escolas, que podemos caminhar em direção a uma sociedade menos preconceituosa”, destaca.
 
Fonte: metropoles

Maitê Lourenço – Se permita


Conversamos com Maitê Lourenço, fundadora e CEO da BlackRocks Startups.

Maitê conta como se permitiu a ingressar no empreendedorismo criando uma empresa que potencializa empreendedores negras e negros que atuam no universo tecnológico

Confira:



Conheça a BlackRocks Startups

sexta-feira, 26 de julho de 2019

Roda de conversa de Homens Negros - Tem: Afrofuturismo (31/07)


Nós, Homens Negros, estamos desmontando a forma imposta pelo regime colonial - patriarcal - de estar no mundo através de encontros entre nós. Este é um dos objetivos da roda de conversa de Homens Negros de Brasília.

Recorremos aos que vieram antes de nós e a toda produção que diz o que é ser um homem negro na diáspora. Recorremos as nossas histórias, ao corpo que fala na entrada de um shopping e aos ensinamentos de nossas mães. Precisamos entender a formatação de uma sociedade anti-negra que normatiza corpos aprisionados, mortos e animalizados e com isso entendermos o que NÃO É SER UM HOMEM NEGRO. Precisamos reconfigurar palavras como Djonga fez com a palavra "Ladrão". Precisamos reconfigurar o amor como fez Mano Brown quando lançou Boogie Naipe.

No processo de construção e reavaliação de práticas hegemônicas acabamos fazendo um movimento de ir e vir, pensar e repensar em nossa condição e nas condições impostas ao nosso povo: o alto índice de corpos negros mortos, o extermínio direcionado a juventude negra e o genocídio do povo preto. A saída da escola para ajudar em casa pelas crianças e adolescentes negros. O sub-emprego e as atualizações do sistema político. Tudo, absolutamente tudo fala conosco e nos da direcionamentos na construção de um futuro melhor.

O conceito de Sankofa nos ensina a olhar pra trás e construir um futuro caminhando pra frente. Refazer as lógicas anterior ao tráfico do trans Atlântico é vida pra cada um de nós.

Em nossa última roda falamos sobre ancestralidade e nessa tomamos o desafio de conversar sobre AFROFUTURISMO . Projetar sonhos embasados na nossa história, pensar em tecnologias que nos religue para além do conceito de religião. Continuar...

Na tentativa de pistas endurecidas transcrevemos literalmente o escritor Fábio Kabral que nos auxiliará neste pensar.

"Para o afrofuturista, é importantíssimo resgatar esse vínculo com a sabedoria ancestral das nossas anciãs e anciãos da aldeia."
E ainda:
"(...)o desejo de ter como referência seus ancestrais africanos, o estudo das concepções filosóficas e culturais elaboradas pelos nossos, e não pelo outro, todo esse movimento em transformar o presente, recriar o passado e projetar um novo futuro através da nossa própria ótica é, para mim, a própria definição de Afrofuturismo." (Kabral, 2016)

Serviço: Roda de Conversa de Homens Negros
Data: 31 de Julho de 2019
Horário: 19:30
Local: Simbaz - Culinária Afro e Bar
412 sul - Bloco D, loja 15


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Fontes e referências:

"[Afrofuturismo] O futuro é negro - o passado e o presente também" de Fábio Cabral, retirado do link: https://medium.com/@ka_bral/afrofuturismo-o-futuro-é-negro-o-passado-e-o-presente-também-8f0594d325d8

Álbum "Mothership connection" - 1975- De Parliament

"O corpo como filosofia - Sentir, pensar e agir em Maat" , retirado do site Rekhet (https://rekhetyoga.wixsite.com/rekhet )

"Afrofuturismo: fantasia, tecnologia e ancestralidade" retirado de Revista Cult (https://revistacult.uol.com.br/home/afrofuturismo-tecnologia-ancestralidade/#.XTeEjAZK5Zo.whatsapp)

"A escrita em primeira pessoa de Octavia Butler" retirado de Revista Cult ( https://revistacult.uol.com.br/home/octavia-butler-kindred-lacos-de-sangue/#.XTeFFCE7vvE.whatsapp )

Thiago Elniño - Os Pretinho Bem (part. Tássia Reis)

Resultado de imagem para Thiago Elniño - Os Pretinho Bem (part. Tássia Reis)

Com vocês o no lançamento de Thiago Elniño - Os Pretinho Bem (part. Tássia Reis). Parte integrante do disco "Pedras, Flechas, Lanças, Espadas e Espelhos!" Assista:


VIDEO 
Produção: Monomito Filmes 
Direção, filmagem e Edição: Lincoln Pires 
Roteiro: Lincoln Pires e Thiago Elniño 
Fotografia Making of e Still: Larissa Souza Identidade 
Visual: Guilherme Kozlowski 
Figurino: QG Van Nobre 
Elenco: Ben, Luz Ribeiro, Gilberto Costa , Thiago Elniño, Tássia Reis 

MÚSICA 
Letra e Voz: Thiago Elniño e Tássia Reis 
Beat: Scooby Beatz 
Violão: Leandro Vilela 
Baixo: Wagner Bala 
Sintetizador: Martché 
Percussão: Tolen 
Produção e Mixagem: Martché 
Masterização: Jorge Luiz Almeida 

Africanos postam imagens positivas sobre o continente para combater o estereótipo mostrado pela mídia


Abra o jornal. Vá até a seção Internacional. Procure pela África. Você provavelmente vai encontrar matérias falando sobre guerra, fome, doenças, entre outras tragédias.

Inconformados com essa exposição negativa de seu continente, um grupo de jovens lançou a campanha #TheAfricaTheMediaNeverShowsYou no Twitter (em tradução literal, a África que a mídia nunca mostra para você).

A ideia é que todos possam compartilhar imagens poderosas e positivas desse continente e mostrar suas belezas, quebrar estereótipos e, nós, quanto brasileiros, entendemos bem isso.

De grandes estádios, arquitetura contemporânea até a alta moda, a campanha já ganhou milhares de tweets e ganha mais a cada segundo.

Diana Salah, que ajudou a organizar a campanha, disse: “Eu me envolvi porque cresci me sentindo envergonhada de minha terra natal, com imagens negativas que pintaram da África como um continente desolado.” Ela então acrescentou: “É tão importante mostrar a diversidade e a beleza da África que a grande mídia não mostra, e a mídia social foi a saída perfeita. Claro, a guerra e a pobreza continuam a ser questões reais para muitos em um continente de mais de 1 bilhão de pessoas. Mas isso não significa que a África não seja mais do que isso”.

Dê uma olhada nas fotos abaixo e veja que é impossível discordar da Diana:







 







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Postado por Ana Victorazzi

Fonte: razoesparaacreditar

quinta-feira, 25 de julho de 2019

25 de julho: A visibilidade da mulher negra e a luta para romper o silêncio

Por Fabiana Reinholz,
A data oportuniza a discussão sobre os meios para superar a opressão histórica sobre as mulheres negras

  
25 de julho: Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha (Foto: Imagem retirada do site Brasil de Fato)

Mesmo pertencendo a maior parcela da população, uma vez que vivemos em um país no qual temos uma maioria de negros e mulheres, as mulheres negras permanecem sendo as mais exploradas e negligenciadas socialmente. Realidade que pode ser constatada nos dados que tratam do mercado de trabalho, no mapa da violência ou na representatividade política. A frente e por trás disso, o racismo e preconceito, cada vez mais arraigados. O dia 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Afro-Latina, Americana e Caribenha e também Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, é uma boa oportunidade para a reflexão sobre essa situação.

No país, elas são 55,6 milhões, chefiam 41,1% das famílias negras e recebem, em média, 58,2% da renda das mulheres brancas. Os dados foram extraídos do Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, de 2015, feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Já no Estado do Rio Grande do Sul, de acordo com o último Censo, em 2010, a população negra é de 22%. Sendo esse percentual baseado na autodeclaração, a estimativa variável é que haja 17% de mulheres negras. Cabe observar que ao falar de mulheres negras, estão as mulheres pretas, pardas (de diversas miscigenações).

Quando observamos os dados de homicídios, os dados não são nada animadores. De acordo com o Atlas da Violência 2019, foram registrados 4.936 assassinatos de mulheres em 2017, sendo que 66% das vítimas é negra, morta por armas de fogo, tendo boa parte acontecido dentro de casa. Na política, dados da campanha Mulheres Negras Decidem apontam que, em 2018, dos 513 parlamentares, apenas 10 eram mulheres negras.

No mercado de trabalho, de acordo com Lucia Garcia, economista do Dieese e especialista em mercado de trabalho, em 2017, quando ultrapassávamos o período em que a crise brasileira e latina se tornou crônica, se observa que as mulheres negras voltam a enfrentar taxas de desemprego (21,1% da Força de Trabalho negra feminina) muito mais altas que as mulheres não negras (11,1%) e do que os homens não-negros (9,4%), tornando-se assim o grupo mais vulnerável ao desemprego.

“Além disso, quando obtiveram ocupações, as negras estavam em maior proporção em inserções vulneráveis, como o assalariamento ilegal (sem a CTPS assinada), 6,6% das ocupadas negras, enquanto entre as não-negras essa proporção era de 3,8%. Enclaves produtivos associados ao trabalho pesado e pouco valorizado também tradicionalmente são os lugares da mulher negra, como o emprego doméstico, que absorvia 23,4% das negras ocupadas, ao passo que apenas 11,5% da não negras. Como resultante desse quadro, a remuneração das negras tem ficado muito aquém de outros segmentos populacionais (68% do rendimento médio dos homens não negros)”, aponta.

“No período recente, as mulheres negras conheceram melhoria em sua condição no mundo do trabalho, sobretudo entre 2005 e 2014, mas tão logo o esgotamento do modelo do governo democrático-popular se apresentou, sendo substituído pelo austericídio, a condição dessa população piorou rapidamente”, conclui.

Para além dos números

Além de confrontar os números, há a realidade subjetiva que precisa ser analisada quando falamos da luta e resistência das mulheres negras, subjetividade observada no silenciamento e abafamento de suas vozes. Para a doutoranda em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Winnie Bueno, o pacto narcísico da branquitude e as novas formas de silenciamento da violência racial são duas características contemporâneas que aprofundam os desafios do combate ao racismo no Brasil. “Estamos sendo governados por um presidente que nega a existência do racismo. Isso é grave, isso é bastante sério e isso faz com que o governo possa se omitir de enfrentar o racismo enquanto problema social”, ressalta.
 
 Winnie Bueno: “Estamos sendo governados por um presidente que nega a existência do racismo. Isso é grave, isso é bastante sério” / Foto: Arquivo pessoal

Ela destaca que as mulheres negras vivem uma tensão dialética entre ativismo e opressão, o que faz com que os momentos de maior violência sejam também momentos de ampliação de formulações políticas, educacionais e estratégicas. “É um momento onde direitos dos grupos oprimidos estão sendo mais diretamente atacados, e isso impacta na vida de mulheres negras, mas é também nesses momentos que as formulações e estratégias políticas desenvolvidas por essa coletividade adquirem complexidade”.

No que diz respeito ao Sul do país, para além de todos os desafios relacionados ao racismo e ao sexismo, temos a questão da invisibilidade, frisa Winnie. “A narrativa que não existem pessoas negras no Sul faz com que a nossa atuação seja mais dificultada. A primeira organização de mulheres negras do Brasil nasceu aqui, a ONG Maria Mulher, da educadora Maria da Conceição Fontoura. Entretanto, não é nacionalmente reconhecida e celebrada como é Sueli Carneiro, por exemplo. Essas mulheres são contemporâneas, ativistas fundamentais para a luta de mulheres negras, mas a dinâmica de marginalização das mulheres negras no sul oculta trajetórias”, conclui.

Pioneira

A ONG Maria Mulher, foi a primeira organização a juntar feminismo e movimento negro no país. Ela foi construída 1987, momento da redemocratização do país. Na época, de acordo com Sandra Maciel, uma das coordenadoras da ONG juntamente com Maria Conceição Lopes Fontoura, o movimento negro tinha as suas pautas mas as mulheres negras estavam construindo as suas próprias formas de enfrentamento ao racismo e ao machismo. Ao se analisar a situação das mulheres negras no estado, afirma, “Estamos por nossa própria conta, fazendo os caminhos, criando oportunidades, porque ainda somos as últimas da pirâmide em uma sociedade racista e sexista”.

Em relação aos avanços, Sandra destaca a conquista em postos de trabalho, onde eram vistos somente pessoas não negras. “Colorimos as universidades do Brasil afora”. Em contrapartida os retrocessos, aponta, são os a sociedade está vivendo na questão da reforma da aposentadoria, nas mudanças das leis trabalhistas, nos ataques na educação. Ao abordar a questão dos números de violência às mulheres negras, Sandra, frisa que a precariedade das condições sociais, econômicas, psíquicas faz da mulher negra uma vítima potencial de quase todos os tipos de violência e nisso está incluso os homicídios e feminicídios.

Mídia (jornalismo), judiciário e mercado editorial

Esses três segmentos, assim como em tantos outros, refletem a imagem e presença da mulher negra na sociedade como um todo, onde a estética não é aceita, a história é invisibilizada e a voz abafada.
 
 Jeanine Ramos: “As novas jornalistas negras estão abrindo mais espaço. Os tempos são outros” / Foto: Fabiana Reinholz

Para a jornalista Jeanice Dias Ramos, as dificuldades não terminaram para as mulheres negras jornalistas, mas apesar de todos os percalços, ela acredita que a nova geração traz uma nova esperança e perspectiva. “Nós, jornalistas negras, com eu, a Vera Daisy, a Vera Cardozo, a Delcinara Nascimento, passamos por uma etapa muito difícil. Éramos muito solitárias nas redações, uma no meio de uma multidão. Isso está alterando, é um grãozinho de areia, mas está alterando. As novas jornalistas negras estão abrindo mais espaço, e não é um processo tão doloroso como foi o nosso. Os tempos são outros, as mentalidades não estão tão enraizadas”, acredita.

A também jornalista e repórter, Fernanda Carvalho, enfatiza que ainda se está muito aquém do ideal. “Temos que seguir caminhando e abrindo espaços”, afirma. Tratando da presença das mulheres na mídia e no jornalismo, Fernanda pontua que duas questões precisam ser vistas: a visibilidade e a representatividade. “Visibilidade é bacana, é bom vermos mais profissionais negras diante da tela, por exemplo, mas ainda precisamos estar nos outros espaços: redatores, editores, pauteiros.. Aí entra a representatividade. Temos que ter voz ativa nos espaços decisórios”, analisa.

De acordo com ela, na prática, infelizmente, depende-se de uma profissional negra em muitas redações para que as pautas ganhem espaço. “De uma maneira geral, quem pensa o jornalismo não é ainda sensível neste sentido. E quando é, parece que ainda não o suficiente. Ainda temos muito a avançar, mas também é importante vermos que já caminhamos neste sentido”, observa.

Ao se falar de espaços de poder, a juíza Karen Luise Vilanova Batista de Souza Pinheiro, da 1ª Vara do Júri de Porto Alegre, relata que as mulheres negras não ocupam esses espaços, que a ausência é visível em todos eles: executivo, legislativo e judiciário. “Essa condição gera um saldo negativo de vocalização de demandas próprias, precarizando condições de sobrevivência. Quem melhor pode dizer sobre a escola, o saneamento básico, o sistema de saúde, a habitação, o salário para uma mulher negra do que ela própria? Ninguém. Portanto, vivemos um quadro dramático”, analisa.
 
 Juíza Karen: “Nosso Judiciário é branco e do gênero masculino. Não há pluralidade e diversidade” / Foto: Arquivo pessoal

No setor Judiciário, Karen aponta que a realidade é de um setor branco e do gênero masculino. “Realizamos a justiça com esse viés unidimensional sobre o mundo. Não há pluralidade e diversidade no Poder Judiciário. Represento menos de 1% da magistratura feminina preta brasileira”, afirma. A magistrada conta que na maioria das vezes, em encontros com estudantes, eles dizem nunca terem visto uma juíza negra.

“O que significa dizer que gerações não constituem sua identidade de forma positiva, compreendendo como possível estarem em determinados lugares e exercerem certas funções. Ao contrário, mulheres negras constituem-se de modo negativo, percebendo-se como incapazes de ocupação de espaços e de exercício de poder. Acaso as coisas permaneçam como estão, nada mudará”, reflete. Para ela, vive melhor a mulher negra e sua família quando lhe são garantidos direitos sociais e trabalhistas.

No mercado editorial a jornalista e editora literária Fernanda Bastos, da editora Figura de Linguagem, diz que o segmento é muito similar aos outros espaços. “O racismo é estrutural, e o mercado editorial reflete essas opressões de gênero, raça e classe. Avanços têm sido conquistados, especialmente a partir do século 21, por conta da organização das mulheres negras, mas os ganhos coletivos surgem lentamente”, observa. 
 
Fernanda Bastos: “O racismo é estrutural, e o mercado editorial reflete essas opressões de gênero, raça e classe” / Foto: Arquivo pessoal

Pode-se ter uma ideia das dificuldades enfrentadas, conforme Fernanda, ao pensar no fenômeno literário do século 20 que foi Carolina Maria de Jesus, em como foi difícil para ela se inserir e como, até hoje, tentam deslegitimar seus feitos e sua obra. “Mesmo sendo esse arrasa-quarteirão em vendas e trazendo a perspectiva dela, o lugar de fala, ainda assim houve estranhamento e rejeição do mercado”, pontua.

Na avaliação da editora, escritoras africanas que são sucesso de venda, como Chimamanda Ngozi Adichie, têm demonstrado que a experiência negra no mundo tem qualidade literária é vendável e contribui para uma nova perspectiva quando o assunto é literatura feita por mulheres negras. “Essas autoras mundialmente conhecidas alargam as possibilidades de consumo para outras mulheres negras, pois há um público que há muitos anos vinha sendo desprezado e que hoje começam a ser atendidos. Os êxitos de vendas e de projeto literário de Conceição Evaristo, Geni Guimarães e Ana Maria Gonçalves são exemplares do poder das narrativas de mulheres negras no Brasil”, afirma

Fernanda Carvalho sintetiza os desafios das mulheres negras em fazer com que suas pautas sejam vistas de maneira tão universal como outras pautas são. “Por exemplo, não vemos o genocídio da juventude negra ser tratado pela mídia – generalizando – como um problema do país. Parece que é um problema só nosso. Se é a mãe negra que chora, a gente que se resolva”, exemplifica. “Não há retrocesso maior do que voltarmos a dizer nos dias de hoje que somos todos iguais. Ou, pior ainda, que racismo nem existe. Não vamos deixar o mito da democracia racial, que só nos atrasou na luta por equidade, volte e ganhe força novamente. Vamos seguir em frente, honrando os passos daquelas que vieram antes de nós e pelas mulheres negras que darão continuidade a nossa luta”, finaliza.

Resistência e luta

“O 25 de julho nos lembra de nossos desafios, de nossas dores, mas também nos unifica. É um momento importante para debatermos os meios para superarmos a opressão histórica que opera em diversos níveis sobre as mulheres negras. Se o momento político é desfavorável para os ativismos, não é novidade para as mulheres negras, porque costumamos cavar nosso espaço sem contar com muita empatia”, conclui Fernanda Bastos.

Em 1992, na cidade de Santo Domingo, na República Dominicana no Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, criou-se a Rede de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, onde definiu-se o dia 25 de julho como Dia da Mulher Afro-latino-americana e Caribenha. No Brasil, oficializou-se a data em 2014, quando a então presidenta Dilma Rousseff sancionou a Lei nº 12.987 determinando o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.

Tereza de Benguela, foi uma mulher quilombola, rainha e chefe de estado, que viveu no século XVIII no Vale do Guaporé. Ela liderou o Quilombo de Quariterê, no estado do Mato Grosso, que resistiu da década de 1730 até o final do século.

Atividades alusivas ao dia 25

Nesta quinta-feira, acontece uma aula pública, na Esquina Democrática, no centro de Porto Alegre, a partir das 17h. O debate vai contar com a participação de Claudenice Rodrigues (moradora da Ocupação Lanceiros Negros e integrante do Movimento de Mulheres Olga Benario); Carla Zanella (coordenadora da Emancipa Mulher – Escola Feminista e Antirracista, cientista social, graduanda em direito); Tainah Motta do Nascimento (Advogada lesbofeminista antirracista e mestranda em Educação pela Unisinos, pesquisadora da trajetórias de professoras negras lésbicas no ensino público); e Lucia Garcia (Economista e especializada em teoria econômica, mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Economia/ UFRGS, técnica do DIEESE e rofessora da Escola Ciências do Trabalho do DIEESE, coordenadora dos estudos e informativos sobre a inserção da População Negra em mercados de trabalhos metropolitanos, bem como sobre a condição de inserção produtiva das Mulheres Negras).

No sábado (27), acontece o debate “Mulher Negra Latino-americana e Caribenha e Lei 10.639/03”, no Bar da Carla, na Lobô da Costa, 24, Porto Alegre, a partir das 14h30. A roda de conversa terá a participação de Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva (professora da rede municipal e criadora e coordenadora do Projeto Meninas Crespas); Perla Santos (professora da rede estadual, integrante do Coletivo Alicerce); e Karen Santos (vereadora de Porto Alegre pelo PSOL e Procuradora Especial da Mulher na Câmara de Vereadores).