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segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Para alem do Outubro Rosa, conversando sobre câncer de mama


Por *Lilian Marinho e **Emanuelle Goes,
Nós mulheres vivemos aterrorizadas a partir de um certo momento das nossas vidas com a possibilidade de ter câncer de mama. E em tempos de “Outubro Rosa”, somos lembradas pela mídia e por iniciativas diversas entre elas a iluminação de monumentos importantes com convites das instituições para realização da mamografia. É o exame pelo exame? Parecem faltar algumas informações e consequentemente questionamentos que vamos aqui pontuar.

· Entre todos os tipos de câncer o de mama é o que ocorre com maior frequência e o que mais mata mulheres brasileiras, exceto as da região Norte. O que pouca gente sabe é que é possível prevenir e controlar a ocorrência e as mortes por esse tipo de câncer, como em outros tipos também.

· Duas estratégias são adotadas no Sistema de Saúde do Brasil em relação aos cânceres: diagnóstico precoce e rastreamento (screening). A primeira submetepessoas com sinais e sintomas à realização de exames para identificar câncer em estágios iniciais, enquanto no rastreamento as pessoas assintomáticos(sem sintomas) e aparentemente saudáveis são convidadas à realização de exames para identificar lesões precursoras ou câncer em estágios iniciais.

· A realização do rastreamento é feita mediante critérios, a saber: número elevado de casos; evolução da doença conhecida; teste ou exame para detecção simples, fácil aplicação e seguro; fase inicial da doença possível de ser detectada e possibilidade de cura se tratado nesta fase; disponibilidade e acesso ao tratamento e continuidade das ações.

Ah! É preciso falar dos benefícios e dos riscos (malefícios). É tudo de bom descobrir precocemente o câncer e poder tratar logo, mas, não dá para deixar de falar da possibilidade de resultados incorretos: Falso-positivo – dizer que há suspeita de câncer quando não existe - e gerar ansiedade / excesso de exames, entre outros aspectos; e, Falso-negativo – dizer que não há câncer quando de fato existe- levando a uma falsa tranquilidade. As duas situações podem levar a diagnóstico em excesso e mais tratamento em pessoas que não tem câncer.

Bem é preciso dizer também que falhas na atenção integral à saúde da mulher tem feito com que muitas mulheres descubram que tem câncer de mama tardiamente e que morram.Por isso, é preciso discutir acesso à ocorrência de falhas: na identificação da necessidade de rastrear ou aconselhar; na prevenção primária; na detecção; durante a avaliação diagnóstica; no tratamento; na vigilância dos casos reincidentes; no cuidado paliativo.

Se nos disserem no “Outubro Rosa” que temos suspeita de Câncer de mama, existe uma rede preparada para confirmar ou descartar o diagnóstico? Serão necessários outros exames para tal. Seguimos perguntando, caso seja que uma mulher tem câncer de mama ela será atendida no prazo preconizado pela LEI Nº 12.732, DE 22 DE NOVEMBRO DE 2012.? A lei diz que uma vez diagnosticado o câncer, o paciente precisa ser tratado em, no máximo, dois meses.

Sabendo que o Ministério da Saúde definiu, por consenso, o rastreamento como estratégia para alcançar as mulheres que tem maior vulnerabilidade para câncer de mama, com base nos benefícios e malefícios. O Ministério da Saúde recomenda as seguintes estratégias:

População-alvo
Estratégia
Mulheres entre 50-69 anos
Exame clínico das mamas anual Mamografia a cada dois anos
Mulheres entre 40-49 anos
Exame clínico das mamas anual (se o exame for alterado, realizar mamografia)

Mulheres com risco elevado de Câncer de Mama devem, a partir dos 35 anos, realizar o exame clínico das mamas e a mamografia anual. Risco elevado de câncer de mama inclui: história familiar de câncer de mama em parente de primeiro grau antes dos 50 anos ou decâncer bilateral ou de ovário em qualquer idade; história familiar de câncer de mama masculino; e, diagnóstico de lesão mamária proliferativa com atipia ou neoplasia lobular in situ.

Em outubro de 2013 o Movimento Organizado de Mulheres aprovou uma carta aberta, defendendo que todas as mulheres não devem por falta de diagnostico e tratamento morrer de câncer de mama, considerando o Consenso do Câncer de Mama, que prevê a realização de exames clínicos a partir dos 40 anos e a mamografia de rastreamento em mulheres dos 50 aos 69 anos. E a investigação profunda de todos os casos quando da descoberta de sinais e sintomas. Alem do reconhecimento das desigualdades regionais, raciais e de gênero que atinge as mulheres negras no que se refere ao acesso e ao acesso precoce, assim como ao tratamento adequado.

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Nós, da rede feminista de Saúde temos consciência de que as mulheres precisam ser informadas para ter o direito de escolher se vão se submeter a exames desnecessariamente.

*Professora, Enfermeira, Rede Feminista de Saúde, Doutora em Saúde Pública
**Blogueira, Enfermeira, Odara Instituto da Mulher Negra, Doutoranda em Saúde Pública

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