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terça-feira, 14 de outubro de 2014

“Ser bicha no RAP”, por Bicha Nagô

Há algumas semanas, um texto sobre a homossexualidade no RAP, um tema que, infelizmente, quase nunca é comentado, foi bastante compartilhado nas redes sociais. Guardei ele nosfavoritos do navegador e, assim que consegui lê-lo, senti a necessidade de utilizar o Vai Ser Rimando pra amplificar a importante mensagem.

Não vou comentá-lo porque o texto já é completo por si só, apenas gostaria de ressaltar minha tristeza em mais uma vez perceber a profundidade dos preconceitos que existem numa cultura fundamentada para quebrá-los.

Retirei o texto na íntegra do tumblr Bicha Nagô sem a autorização dx donx, visto que não há um meio de contato com tal. Espero que não haja problemas e que o caráter de difusão do conteúdo seja percebido.

Ser bicha no RAP


A testosterona reinava no último show de rap que fui (para variar!). Ao chegar no lugar, é óbvio que os comentários “engraçadinhos”, olhares tortos e até risco de vida (Não, eu não estou sendo dramático! Basta ver as estatistificas de LGBTs mortos) fizeram parte do pacote. Ainda que eu curta o som, não consigo ficar completamente relaxado em nenhum segundo nestes shows. Sempre me sinto suscetível demais, e isso não me agrada nenhum pouco. Para minha surpresa, vários gays e lésbicas marcaram presença no show. Esse episódio fez com que eu problematizasse a nossa ausência nestes lugares.

Quantos gays, lésbicas, travestis, transsexuais e bissexuais cantorxs de rap você conhece? Você pode até ter pensado em alguns nomes, mas a questão é que somos a minoria da minoria nestes espaços. Espaços estes, que historicamente nos pertence! Visto que essas manifestações culturais são heranças do nosso povo. Assim como quando somos crianças, que aprendemos que isso é atividade de menino, e aquilo é atividade de menina, quando crescemos as coisas não são tão diferentes. E se você é gay, trate de andar com seus semelhantes e ouvir aquele tipo de música “x”.

Eu não tenho problema algum em escutar este tipo “x” de música, mas acontece que o rap também me pertence, senhor fiscal de cu! O rap canta a minha e a sua realidade! Somos da quebrada, e temos muitos dilemas em comum. Então por qual motivo sou tão indesejado nestes espaços? Estar nestes lugares é resistência dupla! Resistência negra e resistência LGBT.

Certa vez, em um show de rap, um rapaz que também assistia ao show disse para mim e para o cara com quem eu estava saindo na época, que deveríamos respeitar a cena do rap. Por que trocar carinhos com meu companheiro seria desrespeitar alguém? A misoginia é extremamente forte nesta cena, isso não é desrespeito né?! Ter um homem ou uma mulher que fuja dos esteriótipos héteronormativo, afronta a virilidade de todos aqueles machos alfa. Aceitar que um irmão negro empoderado, encontre prazer dando o cu, ainda é tabu sim, e dos grandes.

Dar o cu, não muda em nada a minha raiz periférica! E ouvir rap, é ouvir a minha realidade (e de tantxs outrxs) musicada. Nos querem longe, mas não vão conseguir. Eu não me importo se a minha sexualidade põe em risco a reputação que eles se esforçam tanto para manter. Juntxs somos muito mais fortxs! Precisamos SIM estar em todos os lugares. Representatividade é tudo.

Foto: Terry Richardson – Mykki Blanco (Califórnia) cantorx de hip hop.


À todos os irmãos e irmãs, força na caminhada.
Mensagem à todxs xs homofóbicxs:

“De vergonha eu não morri,
To firmão,
Eis-me aqui.”
RacionaisMC’s




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