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terça-feira, 9 de setembro de 2014

Sexo e as negas né...

É tão difícil fazer uma serie com negras e negros bem sucedidos, não estereotipados, ocupando cargos como o de Engenheira, Medicina, Matemática, Química, Administração, Artes Plásticas... Com uma narrativa que promova a valorização da imagem do negro, contra todos estes anos, de exclusão mídiatica e clichês de negritude? 

É triste ver que nossas maiores oportunidades de nos vermos na Tv, é através desta visão que eles tem de nós...

As três amigas pretas "Antonias", sem um puto no bolso, buscando fama no mundo da musica.
A Suburbia preta bonita, fodida e estuprada pelo namorado negro.
A da empregada preta gostosa que quer subir na vida e gosta de aparecer semi-nua.
O da caricatura de preto, vagabundo, bom de labia e comedor. 

Se realmente querem fazer algo por nós, nos deixem contar as nossas historias, sem o pretexto de que contratam por qualidade e não por cor.
Afinal, dentro de um sistema racista, se quem qualifica não gosta de preto, jamais vai aceitar a qualidade que um profissional preto pode oferecer. 

Onde estão os redatores pretos para escreverem com realidade, ou próximo dela, nosso dia a dia compartilhado, com embasamento em nossa historia, em nossas carências afetivas, nosso cotidiano e buscas?

Quando escritores como Cidinha Da Silva, Allan da Rosa, Elizandra Souza, Akins Kinte, Oswaldo Faustino, dentre vários talentosissimos, reconhecidos e respeitados serão convidados a dar vida a personagens negros em dramas globais? Coisa que não acontece em nenhuma emissora.

Coloquem no Google a frase: "Sexo e as negas" e depois, "Sex and City" que foi o seriado que inspirou Miguel Falabella e toda Rede Globo...
E vejam o que todos vão ver quando buscarem pelo nome nacional, entre adultos e crianças.

Sexo e as negas:

Essa relação "Sexo e as Negas" já vem de longa data, é o clichê da escrava fogosa que fazia sexo com o seu "Senhor" por que gostava de sexo e tinha prazer nisso ( Diferente da realidade de estupros e de prostituição em troca de sobrevivência após a "abolição". É simples, não precisa ser nenhum intelectual pra entender isso.

Queremos ter direito de fazer qualquer papel, eu não vejo problema de um preto ou uma preta fazerem papeis de ladrão, empregada gostosa, preto safado... Mas não quero que essas sejam as únicas opções. Quero que os pretos façam todos inclusive esses.

O maior problema da piada de preto para mim é não existir praticamente piada de branco... Afinal, quando você faz uma piada inútil de mulher, ela pode ser preta ou branca, e o machismo é machismo. De Gay, ele pode ser preto ou branco. De Loira, ela pode ser loira preta, loira japonesa, loira cambojana, a imbecil piada funciona para todos os casos. De gordo, tem gordo preto e de todas as outras etnias e cores... 

Piadas preconceituosas me enojam no hoje, mostram de forma evidente a estupidez de um ser humano. Mas dentre de todas essas a única piada desferida a um homem branco é a de que ele tem pinto pequeno em relação ao preto. Quer dizer, a única piada que se faz contra um homem branco, faz da sexualidade do homem negro um mito de virilidade e prestação de bons serviços sexuais.

Sendo assim, duvido muito que este seriado ira nos ajudar com nossa "auto-imagem" no que diz respeito a medidas afirmativas ao povo preto.

O que quero dizer com tudo isso? 
Se você chegou até aqui, afinal Facebook não foi feito para escrever essa quantidade de coisas... Bom se você chegou vai me entender...rs

A mídia aberta é responsável pela perpetuação de nossa condição de cidadãos de segunda classe, transformando mulheres negras em segunda opção para o sexo e homens negros em homens não confiáveis para relacionamentos, muito menos profissionalmente.

O dia que voltarmos o foco para contestar o desserviço que a mídia televisiva nos presta, muitas coisas vão mudar relacionado ao racismo dentro do Brasil.

E esse grito de basta precisa vir de nós.

Hoje, que os clipes de rap e funk, estão nas mãos de condicionados pelo sistema, ou de burgueses... As mulheres pretas pouco figuram com suas belezas nos mesmos. Pode até ser questionável do ponto de vista feminista a exposição destas mulheres em clipes desta natureza, mas uma coisa é certa, cerca de 51.328.069 jovens estão comprando como referência o que Mc Guimé e tantos outros Rappers e Funkers mostram em seus clipes por exemplo... Meninos pretos e pobres, assim como brancos e ricos,seguem a cartilha... Querem carros caros, bebidas caras, correntes de ouro e mulheres brancas.

Entenda, uma mulher branca pode e deve estar num clipe de Rap ou Funk, agora dar mais essa oportunidade somente para as brancas faz as pretas continuarem a ser tratadas como segunda opção apenas para fins sexuais.

E para mim isso não tem nada haver com o fato de pretos terem que namorar somente pretos. É política visual e a gente precisa compreender isso para conseguirmos dar voz e rosto a nosso povo, principalmente quando é nosso povo que mostra a cara.

Não sei como será esta serie da emissora Globo, juro que desejo que seja tão bem cuidada como foi a novela "Lado a Lado" como descreveu Cidinha da Silva em seu livro "RACISMO NO BRASIL E AFETOS CORRELATOS".
Mas duvido muito disso, infelizmente.

Precisamos encarar a responsabilidade da mídia e o tanto que ela influencia jovens como "Patrícia Moreira" a se expressaram de maneira racista dentro de nossa sociedade. Ou mesmo dos pretos que aceitam isso por acharem que não tem problema, uma vez que aprenderam durante centenas de anos a não reclamar.

Entendam que não estou insuflando um ódio racial como muitos já me disseram que faço... Muitos me chamam de racistas por exigir justiça para o povo negro. Dizem que lutar por uma "raça" é racismo, mas se quer, essas pessoas movem uma palha para que nossa sociedade embranquecida culturalmente se redima e respeite um povo que foi escravizado por cerca de 400 anos e excluído por outros mais de 100 anos.

Porque não nos dão o poder da voz?

A serie "Sexo e as Negas" é apenas a pontinha do Ice Berg, temos que sair do silencio para gritar contra os abusos que a mídia causa contra nossa identidade corporea e social.

E por favor, não encham o saco das lindas atrizes negras que escolheram fazer os papeis, caso a serie seja recheada de clichês, afinal, elas estão ali batalhando por um espaço, buscando por reconhecimento e grana como todos nós. Pois até onde sei, são talentosas e competentes.

Sigamos!

"Peço que compartilhe para fortificar a corrente que nos uni e não a que nos prende."

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