por Gabriel Silva,
Em um país que chegou ao estágio de desenvolvimento capitalista por meio de uma acumulação que se deu principalmente sobre a exploração dos povos negros e indígenas, a questão racial ganha uma conotação de classe de grande relevância para nossa luta. A escravidão serviu como elemento lucrativo de acumulação pré-capitalista para os países europeus. O tráfico de escravos negros carregados para Brasil, vindos da África, foi a outra ponta dessa rota infame de massacre do nosso povo e de concentração de riquezas nos países europeus. Essa forma de acumulção de riquezas e de exploração e opressão racial foi o que marcou a estrutura dependente do capitalismo que se desenvolveu em nosso país.
Mas o povo negro não aceitou pacificamente a condição de objeto na que a escravidão o havia colocado, resistiu com fugas, rebeliões nas senzalas nas quais eram explorados, e a principal forma de organização construída para fugir da condição escrava foram os Quilombos. Os quilombos eram agrupamentos militares na África, formados por diversos agrupamentos menores chamados Mocambos. Por meio deles os negros resistiram negando a escravidão e criando territórios livres nas matas e montanhas brasileiras, nos quais existiram outras formas de vida com economia coletiva, armamento popular, e liberdades sexuais como a poliandria. O mais forte desses quilombos foi Palmares, que até hoje nos faz lembrar outras experiências de controle e autogoverno nos territórios, como Canudos, a ocupação Pinheirinho, e diversas outras ocupações espalhadas por nosso território. Muitos desses quilombos ainda resistem até os dias de hoje, assim como o povo indígena que tem feito inúmeras retomadas de território.
Em um país que chegou ao estágio de desenvolvimento capitalista por meio de uma acumulação que se deu principalmente sobre a exploração dos povos negros e indígenas, a questão racial ganha uma conotação de classe de grande relevância para nossa luta. A escravidão serviu como elemento lucrativo de acumulação pré-capitalista para os países europeus. O tráfico de escravos negros carregados para Brasil, vindos da África, foi a outra ponta dessa rota infame de massacre do nosso povo e de concentração de riquezas nos países europeus. Essa forma de acumulção de riquezas e de exploração e opressão racial foi o que marcou a estrutura dependente do capitalismo que se desenvolveu em nosso país.
Mas o povo negro não aceitou pacificamente a condição de objeto na que a escravidão o havia colocado, resistiu com fugas, rebeliões nas senzalas nas quais eram explorados, e a principal forma de organização construída para fugir da condição escrava foram os Quilombos. Os quilombos eram agrupamentos militares na África, formados por diversos agrupamentos menores chamados Mocambos. Por meio deles os negros resistiram negando a escravidão e criando territórios livres nas matas e montanhas brasileiras, nos quais existiram outras formas de vida com economia coletiva, armamento popular, e liberdades sexuais como a poliandria. O mais forte desses quilombos foi Palmares, que até hoje nos faz lembrar outras experiências de controle e autogoverno nos territórios, como Canudos, a ocupação Pinheirinho, e diversas outras ocupações espalhadas por nosso território. Muitos desses quilombos ainda resistem até os dias de hoje, assim como o povo indígena que tem feito inúmeras retomadas de território.
Grafite da Rua da Abolição
Quando olhamos esse cenário de lutas e de exploração e opressão do capital contra nós, não o vemos como algo que ficou no passado, pois esse processo ainda vive sobre nós e ainda reflete a forma com a qual o capital nos massacra diariamente, e como nosso povo resiste até hoje contra a violência da exploração e opressão. Quandos nos referimos a opressão, ela se direciona aos setores mais explorados entre os explorados e mais oprimidos entre os oprimidos, e não podemos deixar de ver entre esses os homens e mulheres negras, assim como os indígenas que, junto a povo negro, compõem as parcelas mais pobres e mais violentadas pelo genocídio e pela miséria do capitalismo.
É sob um “gueto invisível” no qual o racismo brasileiro opera, tornando o genocídio policial e o desemprego comuns entre a população negra e, atribuindo ao próprio negro a culpa por seu insucesso na vida e pela violência que o atinge diariamente. Estar na mira das balas da polícia, na lotação dos presídios, na fila do desemprego e ser subjugado nos espaços públicos, de trabalho e nos comércios já se tornou a cena cotidiana da vida dos negros e negras. O racismo é muito claro para os que o sentem na pele, mas essa forma que o capitalismo brasileiro o opera sobre nós o faz parecer invisível para a sociedade como um todo. Essa forma de atuar com o racismo ficou conhecida historicamente como “Mito da Democracia Racial”, que não existe desde hoje, mas desde as primeiras alforrias recebidas por negros no tempo da escravidão.
O Movimento Negro, mesmo antes de ser compreendido como o entendemos hoje, sempre foi a negação da condição de opressão a qual o capitalismo subjugou os negros, e sobretudo à condição de classe na qual os negros se encontravam no passado como escravos e, atualmente, como trabalhadores explorados sob as piores condições possíveis. Ou seja, o movimento negro não é somente um movimento racial, é também um movimento de classe que organiza um dos setores mais oprimidos do nosso povo. Faz parte da identidade da nossa classe, a identidade racial,que dentro de um capitalismo tão racista, se torna até mesmo um identificador de classe, pois, quando um negro ou uma negra pisa em um território majoritariamente branco, ele ou ela não se reconhecem e criam uma percepção que os coloca como trabalhadores e parte da quebrada, e as pessoas daquele território como ricos e playboys. Essa percepção não é apenas abstração, é realidade concreta que privilegia os brancos direta ou indiretamente com o racismo, seja burguês ou não, a competição capitalista continua reproduzindo a posição miserável dos negros na composição social dos trabalhadores.
É dessa forma que o capitalismo opera também sua divisão sobre o povo trabalhador, isso porque nossa classe não se compõe apenas de negros, então dividir negros, brancos, indígenas, imigrantes e asiáticos faz parte do controle que o capitalismo estabelece sobre nós, nos mantendo separados e destruindo a identificação racial por meio do racismo. E isso acontece porque essa identificação de classe por meio do elemento racial também é perigosa para os capitalistas porque de fato os patrões, donos do dinheiro, das terras e empresas, são, de fato, brancos, e o potencial explosivo da luta antirracista pode desestabilizar a forma que esses patrões atuam. A luta racial pode tensionar esses setores mais oprimidos a se unirem ao conjunto do nosso povo, rompendo as divisões internas entre os trabalhadores e os unindo contra seu principal inimigo, os burgueses, verdadeiros donos do capitalismo, que apenas os beneficia, deixando para nós a desigualdade, a fome e a violência.
Não apenas nas lutas que mobilizam especificamente os negros, mas nas lutas do conjunto dos trabalhadores, enxergamos a importância do debate racial e do combate ao racismo. Se o povo negro hoje em dia está sob as condições que está, isso é a continuidade da formação escravista que o nosso povo sofreu e continua sofrendo. É com um grande exército de desempregados formados principalmente por negros, que o capitalismo enfraquece a capacidade de mobilização dos trabalhadores. Por isso, acreditamos que devemos, desde sempre, formular e atuar junto com os mais explorados entre os explorados, e mais oprimidos entre os oprimidos, porque quando eles se movem o conjunto dos trabalhadores podem se mover com mais força.
A divisão dos trabalhadores só interessa aos patrões!
O racismo só interessa aos donos do poder!
O genocídio negro só interessa ao Estado burguês terrorista!
A invasão das terras indígenas e quilombolas só interessa ao agronegócio!
Todo poder ao povo!
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Por Seixas – Nascido no Grajaú em São Paulo, atualmente morador da Zona Norte. Atua na luta nos territórios da periferia e nas escolas, sempre junto no combate ao racismo.
Por Seixas – Nascido no Grajaú em São Paulo, atualmente morador da Zona Norte. Atua na luta nos territórios da periferia e nas escolas, sempre junto no combate ao racismo.
Fonte: quilomboinvisivel
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