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terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Ceilandense Marcelo Café usa a música para falar de empoderamento


 
Marcelo Café: "Temos de tomar posição, celebrar nossa negritude com o que é nosso de direito. A música brasileira é negra, a cultura é negra, o carnaval é negro, o samba é negro" (foto: Vinicius Cardoso/Esp. CB/D.A Press )

Café também se utiliza do poder da música para defender o lugar de fala dos negros


“Falar sobre a beleza negra, o empoderamento, o assumir a negritude, tudo isso é fator de existência.” Com essas palavras, Marcelo Fernandes Rocha — conhecido como Marcelo Café — defende o poder de fala e a importância de se posicionar em uma sociedade racista. Destaque na cena artística brasiliense, o cantor e compositor de 46 anos passeia pelos estilos do samba e do samba-rock com forte militância. “Temos de tomar posição, celebrar nossa negritude com o que é nosso de direito. A música brasileira é negra, a cultura é negra, o carnaval é negro, o samba é negro.”

Marcelo nasceu em Niterói (RJ). Aos 10 anos, veio para Brasília com a família para acompanhar o pai, funcionário da Rádio Planalto. Ainda criança, teve contato com instrumentos musicais. “Comecei a tocar de 7 para 8 anos. Minha mãe deu meu primeiro violão, me ensinou os primeiros acordes”, lembra. Na infância e em parte da adolescência, tocava na igreja acompanhando a mãe, que era do coral. Já adulto, fez apresentações em barzinhos e, em 2007, assumiu o vocal da banda autoral Casa-Grande, que misturava bossa-nova e rock. “Esse foi um dos momentos mais importantes da minha carreira, para me aceitar como compositor.”


O morador de Ceilândia se consolidou na carreira e coleciona prêmios por suas composições, a exemplo de A Revolução é Preta, ganhadora do Festival Universitário de Música Candanga (Finca), em 2017. No ano seguinte, Marcelo foi finalista do festival de música da Rádio Nacional como melhor intérprete.

O artista conta que a letra da canção premiada veio por inteira após ler a frase “I have seen God and she’s black” (em português, “Vi Deus, e ela é negra”), usada pelo movimento Black Powers, nos Estados Unidos. “A Revolução é Preta foi composta em um momento mágico. Estava na Universidade de Brasília, andando do ICC Norte para o ICC Sul, quando tive a visão de uma mulher sob as nuvens e, ao redor dela, ogans negros tocavam tambores. E ela vinha trazendo o samba, a cura. É uma música muito forte, que fala de empoderamento, de amor”, relata.

E empoderamento tem de sobra nas canções de Marcelo Café. A primeira composição de cunho étnico e político foi Preto Empoderado. A letra, feita em parceria com Cristiane Sobral, fala sobre a beleza do negro, de se aceitar como é, com o cabelo black, a cor de pele. “Tem músicas minhas que eu toco hoje que existem há pelo menos 10 anos, mas a gente sempre fica na dúvida de colocar para jogo. Especialmente quando é uma música política como a minha. Eu demorei muito para começar a revelar”, expõe o artista, que pretende lançar um disco apenas com canções que enaltecem a negritude. No novo EP, programado para ser lançado no meio do ano que vem, haverá sete músicas autorais, entre elas, A Revolução é Preta, O Samba Cura e Monalisa é Negra.

A inspiração para essa reverência de fala por meio da música veio de um outro artista influente. “O Luiz Melodia foi importante para o meu reconhecimento como negro. Quando eu vi esse cara cantando Pérola Negra e a forma como ele se movimentava no palco, vestido todo de vermelho, eu pensei: ‘olha só esse cara, eu também posso fazer isso’”.

Preconceitos

Para Marcelo Café, dificilmente um negro não tenha passado por algum episódio de preconceito no Brasil. Um gesto, um olhar, uma fala, que, às vezes, nem se percebe. “Quando você desperta para isso, é fácil notar como a televisão te invisibiliza. Apesar de ser maioria na população, o negro é minoria em muitos lugares e nos espaços de poder. O Brasil não assume que é um país racista, não assume que existe essa segregação, que existe o racismo institucional que nos mata todos os dias, nos tira direito.”

Uma das frases destacadas pelo músico durante a entrevista ao Correio foi que “a gente não nasce negro no Brasil, a gente se torna negro”. De acordo com ele, todo o sistema colabora para isso. “Quando uma criança negra sai de casa para ir à escola, ela se depara com uma realidade em que a cor de pele dela não é aceita, o cabelo não é o bonito. E principalmente o ensino de história não favorece. E, nesse processo, você se torna realmente negro, começa a perceber como as pessoas te olham. Com isso, vem o empoderamento, o orgulho e o entender o que é ser negro no país.”

Projetos

Com 20 anos de carreira como músico, Marcelo Café também movimenta a cena artística da cidade com vários projetos independentes, principalmente em regiões da periferia. Um deles é o Tardezinha do Samba, que ocorre em Ceilândia e, em 28 de dezembro, terá sua segunda edição. Será na Casa do Cantador, das 12h às 23h. Onze artistas do DF vão se apresentar, e a entrada é gratuita.

Outra iniciativa é o Baile do Café, realizado sempre em maio, para comemorar o aniversário do cantor. O evento, aberto à população, mistura várias vertentes da cultura negra, como o soul, charme e o rap.

Sacerdote

No candomblé, ogan é o nome do sacerdote escolhido pela divindade ancestral orixá, que permanece lúcido durante todos os trabalhos. Não entra em transe, mas, ainda assim, recebe a intuição espiritual. Geralmente toca instrumentos de percussão.

Preto Empoderado
Preto de cabelo black não é homem de bem
Preta de cabelo black não tem a aparência que convém
Elas são negras, o manual da melanina
Então abaixa, alisa, corta e investiga
Não sabe que tem que clarear
Que ousadia
Pois espere o inesperado
É o preto empoderado
Eu tenho orgulho da minha cor, do meu cabelo e do meu nariz
Porque eu sou crioulo

Monalisa Negra
Eu fiz o samba só pra ela
Num domingo de manhã, que o céu acordou o dia
Lá na feira eu vi você soltar o pixaim
Renascença ébano, um Da Vince negro pixe
Um sorriso, um enigma
Me encantando e convidando
Me senti privilegiado quando ela me fitou
Uma tela feita óleo
Que oxalá me regalou
Monalisa negra dominando tudo
Na cor de tua pele, escrevi o meu futuro
 

Do racismo ao antirracismo racista: desafios para a educação


Por Marcio André dos Santos*,
No Brasil de hoje é praticamente consenso considerar o racismo e adiscriminação racial como mecanismos combinados que estruturam as relações sociais, cujos resultados diretos se expressam em prejuízos econômicos e ocupacionais para os negros (pretos e pardos de acordo com a classificação oficial do IBGE). Análises estatísticas produzidas por agências de pesquisa do governo federal, como o Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada — IPEA sustentam de forma concreta o abismo social existente entre brancos e negros ao longo do tempo. Apesar de verificadas melhorias nos índices sociais para praticamente todos os grupos sociais nas últimas décadas, as desigualdades raciais continuam a figurar como um dos principais desafios brasileiros. As distâncias sociais entre os dois grupos evidenciam-se especialmente no campo da trajetória escolar e da educação em todas as suas fases: ensino básico, fundamental, secundário e superior — incluindo a pós-graduação (mestrado, doutorado, pós-doutorado).

A desigualdade provocada nos primeiros anos de vida escolar tende a surtir efeitos permanentes ao longo da vida. Os sociólogos Carlos Hasenbalg e Nelson do Vale e Silva desenvolveram uma teoria que chamaram de “ciclo cumulativo de desvantagens” para explicar como esse fenômeno se manifesta na vida das pessoas a cada geração. O argumento é basicamente o seguinte: por causa das condições de pobreza geradas pelo racismo estrutural, famílias negras terminam por deixar como “herança” baixos índices de escolaridade aos seus filhos que, por sua vez, irão determinar o lugar de subalternidade social destes no mercado de trabalho. Consequentemente, os filhos de uma geração precedente terão muito mais dificuldades em deixar como herança condições adequadas a sua prole, reproduzindo a dinâmica cíclica de desvantagem ao mesmo tempo social e racial (na realidade a dimensão racialdas desigualdades está “colada” a lógica estrutural da reprodução social). Portanto, mesmo que se verifique mobilidade social individual, a imensa maioria dos negros continua a herdar as desvantagens geradas no passado e reproduzidas no presente por causa da continuidade (intencional) do racismo estrutural.





Esse é um dos motivos pelos quais o debate sobre a superação do racismo no campo da educação é tão importante atualmente. É necessário que haja transformação profunda neste campo para que se construa uma sociedade mais igualitária e para isso é preciso que um conjunto de políticas públicas específicas seja desenvolvido. Neste sentido, este texto tem como objetivo travar um breve diálogo com educadores(as) sobre o papel do racismo em nossa formação social e maneiras de enfrentá-lo no cotidiano escolar. Não existem respostas fáceis a estas questões. Inicio com uma breve contextualização de algumas características de nossa formação social ou, mais apropriadamente, da formação racial brasileira.

Formação Racial Brasileira: breves apontamentos

A formação social brasileira é caracterizada pelo conjunto de relações de variados grupos nacionais, étnicos e raciais constituidores de nosso país. Europeus, indígenas, africanos, asiáticos e povos árabes tiveram aqui uma gama de relações e conflitos, seja no campo político, comercial, religioso ou afetivo-sexual. Inicialmente os colonizadores portugueses, homens em sua maioria, tiveram seus primeiros transcursos sexuais com as mulheres indígenas e depois com as africanas e negras brasileiras, geralmente com base na violência sexual e no estupro. Este “(des)encontro colonial” resultou uma imensa população mestiça. Entre o final do século 19 até meados dos anos 30 do século 20, ideias de superioridade racial eram comuns entre os membros das elites brasileiras, considerando aqui elites intelectuais, políticas e econômicas. Devido à influência das teorias racistas vigentes na Europa, reinava entre nós a noção de que os brancos eram superiores aos negros. Aos brancos eram atribuídos a capacidade de constituir grandes civilizações, contrário do que se pensava sobre os negros, vistos como selvagens e bárbaros, incapazes de realizações civilizacionais.





A mestiçagem, largamente praticada no país, foi vista como empecilho ao progresso que se desejava. Os pensadores sociais e políticos das décadas finais do século 19, influenciados pelo racismo científico e pelas ideias evolucionistas e deterministas comuns nos círculos intelectuais da época, eram céticos quanto ao futuro racial brasileiro. Dessa forma, limpar o “sangue negro e mestiço” da população em prol do “sangue branco” europeu parecia a solução mais lógica a ser considerada.

O branqueamento por meio da promoção da mestiçagem transforma-se em novo projeto político de engenharia racial. Além do mais, o embranquecimento significava passaporte e condição necessária para transformar o Brasil em uma nação digna desse nome. Embranquecer tinha o mesmo significado que modernizar. Todo o aparato estatal da época foi mobilizado a fim de possibilitar a importação de imigrantes europeus, considerados racialmente superiores e mais aptos ao trabalho agrícola e ao desenvolvimento industrial. Era comum imaginar datas para que este processo tivesse fim. No final do século 19, João Batista de Lacerda acreditava que em cem anos a mestiçagem transformaria todos os brasileiros “de cor” em brancos adaptados as condições especiais dos trópicos.

Apesar do intenso influxo de “sangue europeu”, em especial para os estados do sul e sudeste, a população mestiça não diminuiu conforme o esperado. A mestiçagem e/ou o embranquecimento não pareciam mecanismos suficientes para frear o crescimento demográfico da população negra. Em meados dos anos 30 inicia-se um processo de reversão no pensamento racial brasileiro. A mestiçagem deixa de significar um problema para a identidade brasileira e passa a ser vista como o principal atributo da nacionalidade. Torna-se um valor. O mestiço e/ou mulato passam a ser vistos como o brasileiro por excelência. Tal transmutação, é claro, não se deu de forma imediata, tampouco tranquila. Uma série de fatores teriam influenciado essa guinada no pensamento racial brasileiro: o modernismo literário; o culturalismo antropológico; e as condenações às teorias racistas na Europa.

Um dos principais expoentes desta mudança de paradigma do “dilema racial brasileiro” foi o sociólogo pernambucano Gilberto Freire. Em sua principal obra, Casa Grande & Senzala, publicada em 1933, Freire desenvolveu uma complexa explicação da formação nacional brasileira e do papel dos diferentes povos em tal formação, especialmente portugueses, indígenas e africanos. Atribui-se a este autor a ideia segundo a qual o contato íntimo entre estes três “povos”, juntamente com as características típicas de uma sociedade patriarcal teria gerado uma espécie de “democracia étnica e social” singular. Na verdade, jamais tivemos algo semelhante a uma democracia racial. Pelo contrário, o consenso acadêmico, político e estatístico continua a reforçar a tese de que os padrões de desigualdades raciais entre brancos e negros resistem em ser revertidos. Desde pelo menos os anos de 1930 com a emergência da Frente Negra Brasileira e o surgimento dos movimentos negros organizados que a democracia racial é denunciada como estratégia ideológica que mantém os brancos na condição de dominantes em todas as dimensões sociais, políticas e econômicas no país.





Devido a estes aspectos que é fundamental entender as dinâmicas da formação racial brasileira como continuidade de padrões sociais e econômicos em benefício do grupo racial branco e, ao mesmo tempo, como fracasso de um processo de modernização que se revelou incapaz de romper e superar as assimetrias sociais do passado.

Do racismo ao antirracismo racista

O racismo anti-negro típico do final do século 19 e início do século 20 vai dando lugar a um tipo de antirracismo institucional ou no que passo a chamar de antirracismo racista. Em outros termos, após os anos 30 defender ideias abertamente racistas já não era mais tão politicamente correto quanto antes, ainda que muitos cientistas e intelectuais continuassem a defender princípios eugenistas, pregando a purificação racial dos não-brancos como, por exemplo, cientistas sociais como Renato Kehl, Oliveira Vianna e literatos como Monteiro Lobato. Estudiosos das relações raciais contemporâneos designam essa mudança como o surgimento do “mito da democracia racial”. A crença de que o pertencimento racial das pessoas não era razão suficiente para impedir os processos de mobilidade social influenciou vários estudiosos das relações raciais, como Donald Pierson e Arthur Ramos.

De construção intelectual da formação social brasileira o “mito da democracia racial” vai lentamente ser incorporado a um tipo bastante específico de ideologia estatal. Praticamente todas as instituições sociais passaram a sustentar e a defender o antirracismo como um valor nacional. No imaginário das elites políticas, racismo de verdade era o que se praticava nos Estados Unidos e África do Sul, já que nestes países havia leis rigorosas de proibição de casamentos interraciais, de separação física entre brancos e negros dentre inúmeras outras regras de restrição de contato e convívio. Aqui o que teríamos era no máximo um preconceito social. Se os negros eram os mais pobres dentre os pobres não era por causa de práticas racistas presentes nas relações sociais e sim devido a herança de desigualdades sociais geradas pelo arcaísmo de uma sociedade que durante séculos foi escravocrata, rural, logo, atrasada.

Do ponto de vista político-ideológico, o antirracismo racista brasileiro só veio a perder força na segunda metade dos anos 90 do século 20, ainda que seja comum representantes de instituições governamentais declararem que não temos um problema propriamente racial. A partir do reconhecimento estatal de que o racismo e a discriminação racial operam como mecanismos de manutenção de distâncias socioeconômicas entre brancos e negros é que ações de superação das desigualdades raciais começaram a ser desenhadas e postas em prática. Evidentemente que o reconhecimento oficial desses mecanismos não significou imediatamente mudanças de comportamento e mentalidades. O racismo institucional continua a ser largamente praticado em nosso país, ainda que ninguém goste de reconhecer-se racista ou preconceituoso.

Benefícios para uns, prejuízo para todos

O antirracismo racista brasileiro não tem nada de cordial e amistoso como muitos imaginam e sustentam. Pelo contrário. O antirracismo racista que impera entre nós é exatamente aquele que continua a impedir o avanço de iniciativas que tentam superá-lo. Apesar dos avanços verificados nas últimas décadas no campo das políticas em prol da igualdade racial, ainda temos muito o que fazer. A persistência de índices elevados de discriminação racial no acesso à educação em todos os níveis têm como resultado direto baixos níveis de qualificação profissional de negros em detrimento de brancos. Ainda que brancos também amarguem elevados índices de desigualdade social, a situação é bem pior para os negros em todos os campos da vida: acesso a saúde, exposição à violência urbana, desemprego, déficit de moradia, chances educacionais, etc.

Depois de dito isso tudo, como fazer para trabalhar com este tema em sala de aula? Não temos espaço suficiente aqui para propor metodologias e alternativas para trabalhar com esta temática. Entretanto, já temos disponíveis alguns instrumentos que podem auxiliar educadores(as) de todo o país neste sentido. A Lei n. 10.639/03, que estabelece o ensino de história da África e da cultura afro-brasileira, conta hoje com um conjunto de iniciativas desenvolvidas a fim de auxiliar os profissionais da educação nesta direção





Em suma, o combate ao racismo institucional e a todas as formas de preconceito associadas a cor da pele e ao pertencimento racial deve ser encarado por todos nós — educadores(as), formadores de opinião, acadêmicos, cidadãos comuns — como um dever coletivo em prol de um país melhor que valoriza e respeita as diferenças, sejam étnicas, raciais ou de gênero.

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*Marcio André dos Santos é cientista político e professor da UNILAB, campus dos Malês, Bahia.

Fonte: Medium

“Hair love”: filme de animação sobre o amor pelo cabelo crespo é sucesso no YouTube

Cena do filme “Hair love” da Sony (Foto/Reprodução YouTube)

No último dia 05 de dezembro, a Sony Pictures Animation disponibilizou em seu canal no YouTube o curta de animação “Hair love”, que fala sobre o amor pelo cabelo crespo. Estrelado por uma família negra, o filme conta a história de um pai que tenta pentear os cabelos crespos de sua filha. 
 
O pai da garota começa a penteá-la (Foto/Reprodução YouTube)

Na obra, a criança escolhe um determinado tipo de penteado. Seu pai, porém, escolhe outro que, apesar de ser mais fácil, acaba escondendo o cabelo afro e volumoso da garota. A partir disso, tem-se um confronto entre a criança, seu gato de estimação, seu cabelo e o pai.
 
 Garota mostra ao pai como ela quer seu cabelo (Foto/Reprodução YouTube)

Por fim, a garota consegue ir com o penteado que ela deseja visitar sua mãe. A autoconfiança da criança motiva até mesmo sua mãe que, por estar careca, usa um lenço para esconder a calvície. Ao vê-la, a mãe tira o lenço que cobre sua cabeça, deixando a careca à mostra.
 
 Cena em que a mãe tira o lenço e deixa careca à mostra (Foto/Reprodução YouTube)

O longa é do cineasta Matthew A. Cherry e, nos EUA, foi exibido antes do filme Angry Birds 2. No YouTube, a animação já foi vista mais de 5 milhões de vezes. Assista:



Fonte: todosnegrosdomundo

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Educação Para as Africanidades: formação para a Cidadania (Unicamp)


A educação para a temática étnico-racial, bem como para as africanidades perpassa as diferentes áreas do conhecimento humano. Neste curso, trabalharemos três eixos considerados fundamentais para a construção de uma educação cidadã, pautada na equidade social e racial: eixo política, eixo epistemologia e eixo práticas. Embora distintos eles se completam e se atravessam num movimento de ida e vinda, produzindo reflexões e transformações no bojo da composição educativa. Assista:



Curso de Extensão da Faculdade de Educação da Unicamp
Acesso ao curso: https://moocs.ggte.unicamp.br

Negros, os credores que incomodam

Negros, os credores que incomodam / Imagem: Reprodução - YouTube - Divulgação
 
A presença negra que cresce e fica mais visível gera medo e se torna alvo da violência 
 
por Cida Bento,
Nesta semana em que se comemora o Dia Internacional dos Direitos Humanos, a forte mobilização social da sociedade civil na luta pela manutenção e pela ampliação de seus direitos e conquistas vem acompanhada do medo e de respostas institucionais de extrema violência.

Um exemplo é, de um lado, o Mês da Consciência Negra, marcado por vibrante profusão de iniciativas por todo o país, em áreas tais como a literatura, com debates e lançamento de livros e revistas, a dramaturgia, com belíssimas peças fazendo releituras do Brasil, a dança e os cantos, na comunicação digital com coletivos jovens e periféricos trazendo novos conteúdos e formas e na intensificação do debate sobre feminismos negros.

Debates e iniciativas focaram o SUS enquanto estrutura fundamental para a qualidade de vida da população pobre e negra, bem como a permanência deles nas universidades e a entrada qualificada no trabalho.

Igualmente o empreendedorismo como resposta criativa, e não só precarizada, à exclusão no trabalho. Instituições pressionadas pelo movimento negro vêm fazendo diagnósticos e buscando formas de serem mais equânimes.

Em todos os cantos do país, os ventos de novas perspectivas sociais, econômicas e políticas são assuntos inevitáveis.

De outro lado, chega também a indignação e o horror ante a violência extrema que se intensifica e que explodiu no massacre em Paraisópolis: um ataque frontal aos direitos humanos da juventude.

A presença negra que cresce e fica mais visível gera medo e se torna alvo da violência. Esse é um tema central da “Coalizão Negra por Direitos”, coletivo que reúne dezenas de organizações negras e que protagoniza nacional e internacionalmente iniciativas visando mudar essa realidade.

“Onda Negra, Medo Branco”

Tentando resolver o problema de “um ameaçador país, majoritariamente negro”, a elite branca brasileira, do fim do século retrasado, se perguntava: “O que fazer com o negro?”.

Célia Marinho de Azevedo destaca essa situação em seu livro “Onda Negra, Medo Branco”: “Toda uma série de brancos ou esfolados bem-nascidos e bem-pensantes que, durante todo o século 19, realmente temeram acabar sendo tragados pelos negros malnascidos e mal pensantes...”.

No livro “O Espetáculo das Raças”, Lilia Moritz Schwarcz ressalta o Censo de 1872, no qual negros eram 55% dos brasileiros, o que era um problema para cientistas da época. Eles tinham de contar a história de um Brasil majoritariamente negro e mestiço, nascido e prosperado sob o sistema de escravidão negra, e, ao mesmo tempo, manter-se próximo aos modelos europeus de civilização que consideravam negros não civilizados e não civilizáveis.

No documento “Estrutura Social para o Brasil Moderno e Democrático no Século 21”, da Escola Superior de Guerra, Dennis de Oliveira aponta a preocupação com o fato de que, em algumas décadas, o Brasil seria majoritariamente negro, a exclusão social e a miséria aumentariam, criando conflitos e arriscando a estabilização social, e que “Executivo, Legislativo e Judiciário poderão pedir o concurso das Forças Armadas para neutralizar essa orla de bandidos, matá-los e destruí-los”.

Esse medo da maioria negra que sempre aparece na história do Brasil e gera violência pode vir da consciência que muitos brasileiros têm de que, dos pouco mais de 500 anos de história, quase 400 foram de escravidão negra. Nesse tempo, trabalho “era coisa de preto”, e as riquezas geradas nesse período não ficaram com a população negra.

Assim é que negras e negros são os credores que incomodam.

Fonte: ceert

Genial essa intervenção urbana nos bueiros da cidade

por Deise Aur
A arte urbana está sendo um meio para conscientizar e despertar a atenção dos cidadãos contra o descarte inapropriado de lixo em vias públicas.

Uma ação que aconteceu em Santos-SP há alguns anos, atualmente está acontecendo em Itapema-SC através da pintura de bueiros.


Um show de intervenção, porque muito simples, e porque consegue chamar a atenção para o problema do descarte errado do lixo, lembrando que embalagens de papéis, isopor, plástico, latinhas, e todo tipo de resíduo, pode acabar indo escoar para o mar.

A Fundação Ambiental Área Costeira de Itapema (FAACI) é a responsável por essa iniciativa de pintar os bueiros do Centro e da Meia Praia desse município. Essa medida faz parte das implementações da campanha Mares Limpos da ONU que tem a adesão de Itapema desde 2018.

A presidente da FAACI explicou o propósito dessa ação dizendo:

“Nosso objetivo é alertar a população sobre a necessidade do correto descarte dos lixos, pois o que é jogado nos bueiros entra na rede pluvial e acaba indo para o mar,”

Mais uma vez a arte é usada para instruir e melhorar nossas vidas! Genial!


Pintura artística em bueiros alerta contra o descarte irregular de lixo em Santos

Divulgação/ Prefeitura de Santos

SANTOS - A arte urbana está contribuindo para conscientizar contra o descarte irregular de lixo em vias públicas. Desde o último sábado (11) teve início a pintura artística de bueiros da Cidade. O trabalho já contemplou 11 pontos da região central e irá se estender para mais 50 lugares em outros bairros. A iniciativa da Prefeitura é chamada 'Esta boca não é lixo! - Os populares bueiros de Santos', numa parceria entre a Secretaria Municipal de Cultura (Secult) e a Santos Film Commission dentro da campanha Cidade Sem Lixo.

“A intervenção urbana contribui para a reflexão sobre a relação com a Cidade e chama a atenção para a boca de lobo, que passa despercebida e tem grande importância para a dinâmica das águas da chuva”, explica o secretário municipal de Cultura, Fábio Nunes.

“O intuito é que as pessoas fiquem alertas para não jogarem papel, latinhas e outras coisas nas ruas, porque elas vão acabar parando dentro dos bueiros. O lixo tem lugar certo para jogar”,
explica o coordenador do projeto, o publicitário Érico Bomfim.
 

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

REUNIÃO DO MOVIMENTO SOCIAL NEGRO DO DF (12/12)


 










NOTA DE REPÚDIO - HISTORIADORXS NEGRXS: RACISMO CONTRA A PROFA. DRA. ISABEL REIS NA UFRB



NOTA DE REPÚDIO

“Minha colega de quarto tinha uma única história sobre a África, uma única história de catástrofe, nessa única história não havia possibilidade de os africanos serem iguais a ela, de jeito nenhum, nenhuma possibilidade de sentimentos mais complexos do que piedade, nenhuma possibilidade de uma conexão como humanos iguais”. (Chimamanda Adichie)


A Rede Nacional dxs Historiadorxs Negrxs vem se solidarizar profundamente com a professora Dr.a Isabel Reis, docente do Departamento de História da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), pelo ataque racista ocorrido ontem, segunda-feira (09), em sua sala de aula. Torna-se especialmente doloroso para nós, Historiadorxs Negrxs, termos que ainda protestar contra situações verdadeiramente criminosas como esta, que insistem em nos desumanizar, deslegitimar e nos calar.

A atitude ousada, debochada e desprezível encarnada por este estudante demonstra o quanto o racismo tem ganhado impulso nos últimos anos, mostrando- se descaradamente, depositando sua confiança na impunidade.
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Nós, Historiadorxs Negrxs, esperamos que o caso seja apenado exemplarmente para que crimes como este não se repitam. Este estudante escancara o que muitos tentam dissimular: um pensamento patriarcal, baseado em hierarquia de raça, na qual a sua (branca), ocupa o topo, deixando as demais ao rés do chão. Pois saiba ele e suas/seus companheirxs, que o chão do Recôncavo foi fértil não só de cana-de-açúcar e chibatadas, mas também de um povo que sabia quem era, de onde vinha e para onde queria chegar. Em honra dxs nossxs mais velhxs, hoje ocupamos vários espaços (e vamos ocupar ainda mais) inclusive como professoras e professores como a Dra Isabel Reis, que tem toda a nossa solidariedade, apoio e afeto.
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Seguimos reiterando nosso compromisso com a luta antirracista.

Aumento da população em situação de rua reflete desemprego e falta de políticas de habitação



Segmento não é contabilizado em censo; “carência de dados oficiais gera invisibilidade”, diz pesquisador

por Leonardo Valle,
Há um aumento aparente da população em situação de rua, que vive nos grandes centros, no último ano. Essa é a opinião do pesquisador do Laboratório Espaço Público e Direito à Cidade (LabCidade), da Universidade de São Paulo (USP), Aluízio Marino. A falta de dados oficiais, contudo, dificulta o mapeamento do fenômeno.

“O censo é um levantamento que leva em conta um universo amostral domiciliar, ou seja, é necessário ter moradia fixa para a pessoa ser contabilizada”, explica o doutorando em planejamento e gestão de território. “Isso é um problema grave, pois, sem dados, essa população continua invisível e não há embasamento para políticas que a atendam. Torna-se um ciclo vicioso”, acrescenta.

Opinião semelhante possui a doutora em sociologia e professora do Centro Universitário Farias Brito, de Fortaleza (CE), Lídia Valesca Pimentel. “O aumento é notório, visível e pode ser percebido de forma empírica, quando se caminha pelas regiões centrais da cidade”, diz ela, que é moradora da capital cearense. “Sem serem contabilizados, é como se não fossem brasileiros”, acrescenta.

Alguns dados municipais, contudo, já trazem algumas informações sobre essa população. Entre 2016 e 2018, o número de indivíduos em situação de rua abordados por assistentes sociais do município de São Paulo aumentou 66%, chegando a 105,3 mil pessoas.

O Observatório das Metrópoles da Universidade Estadual de Maringá (UEM) registrou, em um ano, um crescimento de 27% nas pessoas em situação de rua da cidade paranaense, passando de 357 para 452.

Já no Rio de Janeiro (RJ), um levantamento da prefeitura de 2016 apontava quase 15 mil indivíduos nessa situação. Porém, houve uma mudança de metodologia e, em 2018, o órgão anunciou como número oficial 4.628 pessoas. “Ou seja, mesmo quando há dados, nem sempre eles são confiáveis porque há uma disputa de narrativa entre as gestões”, destaca Marino. 
 
 
Reflexo da pobreza

Segundo Pimentel, uma das explicações para o possível aumento das pessoas em situação de rua é o crescimento da pobreza e do desemprego nos últimos três anos. “A população pobre se torna mais vulnerável a não ter emprego, renda e não conseguir arcar com um aluguel formal, além de problemas com álcool, drogas e conflitos familiares. Quanto mais pobre, mais vulnerável”, sintetiza.

“Há pessoas que são trabalhadoras, mas não conseguem pagar um aluguel, permanecendo em centros de acolhida ou procurando moradias precarizadas, como as ocupações”, acrescenta Marino.

De acordo com o pesquisador, uma segunda questão é a ausência de políticas habitacionais que contemplem grupos de baixa renda.

“A moradia não é vista como um direito constitucional, mas como uma mercadoria. Os programas como ‘Minha Casa, Minha Vida’ disponibilizavam a casa por financiamento, o que excluía uma parte significativa da população que vive em situação de rua. Eles não têm conta corrente, comprovante de residência, emprego formal ou autonomia financeira para assumir um compromisso a longo prazo”, lamenta.

Em 2009, foi instituída a Política Nacional para a População em Situação de Rua pelo Decreto nº 7.053. Entre as diretrizes, está a responsabilidade compartilhada entre governo federal e entes da federação para lidar com a questão. 
 
 
Fenômeno urbano

A população em situação de rua é heterogênea. “Viver dessa forma é uma saída para muita gente”, diz Pimentel. Porém, algumas características são comuns, como seu caráter nômade e de deslocamento pelos pontos da cidade. Isso também é considerado um fenômeno urbano.

“A população de rua se desenvolve nas grandes cidades, porque são locais de produção de riqueza, de oportunidade de trabalho. Essas pessoas vivem daquilo que o sistema joga fora, do que é ‘excedente’, como resíduos – caso dos catadores de materiais reciclados – comida, mendicância etc.”, analisa.

“Um grande percentual deixou suas cidades ou locais de origem para viver no centro. Apesar de haver adultos que foram menores em situação de rua”, complementa.

Ao viver na rua, outros direitos são negados, como acesso à educação e à saúde. “Se o posto de saúde não atende porque o sujeito está malvestido ou não tem documento, está negando um direito a esse cidadão”, lembra Pimentel.

Para a socióloga, o problema melhoraria com políticas de habitação e geração de empregos. “São necessárias medidas a longo prazo, mas também emergências, como aumento dos atendimentos e das vagas em abrigos”, acrescenta.
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Crédito da imagem: Photos Danny – iStock

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Roda de Conversa de Homens Negros | Tema: "Combate a objetificação da Mulher Negra"


Desde que os povos africanos foram traficados para o Brasil, as mulheres negras tiveram um papel de extrema importância na resistência negra.
No papel de mães, trabalhadoras, escritoras, espiãs, generais e líderes de comunidade elas foram parte indispensável na luta por direitos e por liberdade.

Durante a história do negro no Brasil a mulher negra fez de tudo um pouco. Mesmo assim, o racismo e o machismo tentam reduzir a mulher negra a objeto sexual e ferramenta de trabalho. Toda vez que um homem negro coopera com isso, ele está cooperando com a objetificação das suas mães, suas irmãs, suas filhas, suas companheiras e suas amigas.

Se precisamos combater o racismo em todas as frentes, o homem negro precisa refletir sobre o que oprime a mulher negra para que ambos se fortaleçam.

LANÇAMENTO DO LIVRO: INTELECTUAIS NEGRAS BRASILEIRAS HORIZONTES POLÍTICAS POR ANA CLAÚDIA JAQUETTO PERREIRA (13/12)



Imperdível!
Na próxima sexta-feira, a Ana Claudia fará o lançamento de seu livro na Cardabelle Padaria. Todas e todos estão convidados!

Orixá OXUM Animação: "Òpárá de Òsùn: quando tudo nasce"


O curta de animação “Òpárá de Òsùn: quando tudo cria" conta a história da Orixá das águas doces, que no Candomblé é Òsùn a deusa da fertilidade onde tudo cresce na força do Axé.

O processo de produção do curta-metragem de animação envolveu a comunidade Barroca, em Paulo Afonso, através de oficinas de contação de história de Orixá, oficinas de Stop Motion, entre outras técnicas de animação.

O roteiro foi elaborado de maneira participativa com o Terreiro de Candomblé Abassà da Deusa Oxum de Idjemim para homenagear a Òsùm Òpárá. Para a Yalorixá Idjemim, “esse pequeno filme é para tocar os corações das crianças, jovens e adultos, animando a todos, para respeitar e quebrar as amarras do preconceito. Orixá é vida, é alegria, é Axé que contagia.

A Òsún oferece o Axé da fertilidade na criação do mundo”, esclarece a mãe do terreiro. O cenário é vivido no sertão do Rio São Francisco, conhecido pelos povos Indígenas como Opará – rio que corre para o mar ou grande fio d´água, e que em yorubá significa, espaço de criação, onde tudo nasce.

Ainda no roteiro, no Sertão do Caatinga, onde a paisagem semiárida encobre a vida, surge a deusa da fertilidade, que faz brotar o verde da esperança e as águas do rio que alimenta vidas, Òsùm oferece ajuda para o nascimento do filho da humanidade e é na pureza de suas águas que a vida se transforma.

O Projeto é promovido pelo Àbassá da Deusa Osùn de Idjemim, financiado pelo Calendário de Artes da Secretaria de Cultura do Governo do Estado da Bahia. Sob a direção da cineasta Pâmela Peregrino e Produção de Alzeni Tomáz, o filme contou com a parceria do Instituto Acção e da SABEH – Sociedade Brasileira de Ecologia Humana.

Assista:


quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

VOCÊ ACREDITOU SER UM NEGRO DE ALMA BRANCA, NÓS ACREDITAMOS QUE SEJA APENAS UM TRAIDOR QUE PREFERIU O LADO DO OPRESSOR


por ©Ògan Luiz Alves/Projeto Oníbodê
Hoje meu coração sangrou, pois tive de travar uma luta contra um irmão negro. Assim como eu outras pessoas estavam ali dizendo a um irmão negro que ele estava no lugar errado, e olhe que a Fundação Cultural Palmares é um espaço negro e para o povo negro! 
 
Então porque ali não é o lugar desse irmão negro? 
 
Porque nós o vemos enquanto irmão, mas ele não nos vê enquanto irmãos e referenda e aplaude tudo aquilo que nos oprime, nos ataca, nos fere. Estávamos ali gritando contra um irmão que simplesmente escolhera o lado do opressor que age contra o seu povo. 
 
Por outro lado dói na alma constatarmos que em nosso meio há também quem não preste, quem nos vire as costas, que age como um traidor preferindo afagar o opressor em vez de tentar curar as feridas que ele causa. 
 
A alma sangrou, mas ao mesmo tempo nos fez entender que quem escolhe o lado errado vai arcar com as consequências de sua escolha. Sérgio Nascimento a partir de hoje você é uma pessoa isolada do mundo, pois nós da comunidade negra não o queremos em nosso meio, pois quem trai uma vez, trairá novamente. 
 
Com certeza os que te usaram também não o quererão mais em seu meio, pois você perdeu a serventia é produto vencido em uma prateleira de uma loja de R$1,99. Teu pai onde estiver deve estar com uma enorme vergonha da atitude oportunista e traíra de seu filho. Por falar em seu pai sua atitude mostra que até a árvore mais linda e frondosa sempre terá um fruto podre. 
 
Não lhe desejo boa sorte, isso só desejo aos que me consideram e que eu também os considero. 
 
Siga sua jornada, uma vergonha que jamais será apagada da história e todos nós do movimento negro faremos questão que jamais caia no esquecimento. 
 
VOCÊ ACREDITOU SER UM NEGRO DE ALMA BRANCA, NÓS ACREDITAMOS QUE SEJA APENAS UM TRAIDOR QUE PREFERIU O LADO DO OPRESSOR. 
 
©Ògan Luiz Alves/Projeto Oníbodê

Lucas Santos: “Saí da favela, mas não posso ficar alienado enquanto matam negros e pobres”

Promessa do futebol brasileiro e cria da comunidade Para-Pedro, no Rio, o atacante que joga na Rússia se inspira em ativistas negros para contestar a violência policial em sua cidade

Lucas Santos em treino com a seleção brasileira.
Lucas Santos em treino com a seleção brasileira.Joe Klamar (Getty Images)

Criado na Para-Pedro, uma favela no bairro de Irajá, zona norte do Rio, Lucas Santos cortava o cabelo na mesma barbearia em que o mototaxista Kelvin Cavalcante, de 17 anos, foi morto a tiros durante uma operação policial, em outubro. A Polícia Civil ainda não concluiu as investigações para determinar se as balas que atingiram o adolescente partiram de agentes do Estado. “Eu conhecia o Kelvin, um moleque do bem”, conta Lucas. “A morte dele me deixou revoltado. Poderia ter acontecido comigo ou com algum familiar. Dizem que é por engano, mas morrem cada vez mais pessoas negras e pobres nas favelas. Cada vez mais o Rio é um lugar medonho para se viver, apesar das belezas naturais.”

Após o enterro de Kelvin, no cemitério de Irajá, moradores protestaram contra as ações violentas na região. Um policial sacou um fuzil, deu tiros para o alto e tentou dispersar o ato agredindo manifestantes. Ele foi afastado pela Polícia Militar por descumprir o protocolo da corporação. Na época, pelas redes sociais, Lucas Santos chegou a criticar o que chama de “espírito genocida” do governador Wilson Witzel (PSC). “As atitudes que ele toma me fazem acreditar que se trata de uma política de genocídio contra a população menos favorecida. Nenhuma pessoa deve comemorar a morte de um ser humano, independentemente do que estivesse fazendo. Entendo que é preciso ser duro com a criminalidade e o tráfico, mas não consigo ficar feliz com o assassinato de alguém. Essa postura do governador abala a confiança na polícia. Quem deveria proteger, na verdade, está matando muitos de nós.”

Depois de eleito, Witzel já declarou que policiais iriam “mirar na cabecinha” de suspeitos armados com fuzil e celebrou o desfecho de um sequestro a ônibus na ponte Rio-Niterói, em agosto – o sequestrador acabou abatido por um atirador de elite. Morando em Moscou desde setembro, quando foi emprestado pelo Vasco ao CSKA, o atacante reafirma a intenção de usar sua visibilidade como jogador para questionar ações da polícia na favela. “Nunca tinha vivido em um lugar tão seguro quanto a Rússia. Eu poderia muito bem ficar calado, mas, pela minha raça e pela minha cor, não tenho o direito de esquecer da minha origem.”

Em novembro, ele comemorou a soltura do DJ Rennan da Penha, condenado por associação ao tráfico na Vila Cruzeiro. “Existe uma tentativa de criminalização do funk. Algumas letras são pesadas, mas retratam a realidade da favela”, diz o jogador, que cita o próprio exemplo para discordar da condenação do funkeiro devido à proximidade com traficantes. “Eu tenho amigos e até familiares que foram pro lado do crime, infelizmente. Nem por isso deixei de falar com eles. Quero que eles saiam dessa vida. E não é me afastando ou virando a cara que vou convencê-los.” Parte da família de Lucas Santos ainda mora na Para-Pedro. Embora se orgulhe das raízes, vislumbra alcançar a estabilidade financeira com o futebol para tirá-la da comunidade. “É desejo meu proporcionar uma situação de maior conforto aos meus familiares. Mas se engana quem acha que favela é só cenário de violência. Lá tem muita coisa boa.”

Lucas também viu com bons olhos a libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, favorecido pela mesma decisão do STF que livrou Rennan da Penha da prisão por vetar o cumprimento da pena após condenação em segunda instância. Ele se considera de esquerda e, apesar de ponderar sobre os escândalos de corrupção em governos do PT e o processos contra Lula, avalia que as gestões petistas beneficiaram a população mais pobre. “Não sigo cartilha nem bato palma para tudo que a esquerda faz. Mas a gente, na favela, percebe a diferença entre um governo de direita e um de esquerda. Para alguns, o Lula poderia ter feito mais. Só que ninguém nega que ele deu dignidade aos negros e pobres. Já o atual Governo faz o que pode pra dificultar nossa vida.”

Na última eleição, o atacante formado pelo Vasco conta que, em concentrações com os juniores do clube, tentou orientar colegas a não votar no presidente Jair Bolsonaro. Ainda assim, não só entre companheiros da base, muitos atletas optaram pelo ultradireitista. “A maioria dos jogadores de futebol saiu de baixo. Mas poucos buscam se informar sobre política. Resolvi me aprofundar porque muita coisa estava em jogo pra quem vem do mesmo lugar que eu vim. Os que escolheram a direita por querer uma mudança não pensaram nas consequências.”

Ativismo inspirado em ícones negros

 

Depois de uma aula de história, Lucas Santos teve curiosidade de pesquisar mais sobre a figura de Martin Luther King Jr., pastor e ativista norte-americano que dá nome à principal avenida de Irajá. Aos poucos, o interesse por personalidades do passado o levou a conhecer Nelson Mandela e Zumbi dos Palmares. “Eu achava que ser chamado de ‘macaco’ ou ‘pretinho’ era uma brincadeira. Meus pais me diziam que isso não era certo, mas só entendi o que significa racismo ao descobrir a história desses líderes negros.”

O gosto pelo rap também ajudou a moldar sua consciência social. “No começo eu ouvia só por ouvir. Com o tempo, passei a estudar as letras e aí, sim, entendi a mensagem.” Pela habilidade com a bola nos pés, Lucas ganhou bolsa em um colégio particular de Bento Ribeiro, onde estudou até o último ano do ensino médio. Se dividia entre as aulas, os treinos no Vasco e os jogos estudantis. “Foi um diferencial ter estudado numa boa escola. Tive essa sorte. Mas nem todos nascem com talento para o futebol. Por isso, oferecer educação pública de qualidade tinha que ser obrigação de qualquer governo.”
Emprestado pelo Vasco, o atacante defende o CSKA Moscou.
Emprestado pelo Vasco, o atacante defende o CSKA Moscou.
Na Rússia, sem ainda compreender o idioma local, diz não ter notado nenhum tipo de manifestação racista nos jogos. “Sei que outros jogadores já sofreram com isso por aqui, mas, diretamente, ninguém me hostilizou.” No Brasil, porém, a discriminação sempre foi perceptível. “Desde muito cedo, me insultam com racismo nos campos de futebol. Procuro me blindar da ignorância das pessoas.” O atacante defende que mais personalidades do esporte devem se mobilizar em torno do enfrentamento ao racismo. “Uma mobilização que inclua jogadores brancos nessa luta que é de todos. As pessoas famosas precisam se engajar contra o preconceito de raça, classe e gênero.”

Seu plano é permanecer na Europa, perto do objetivo de disputar uma Champions League. No entanto, se mostra motivado a retornar ao time que o revelou caso o CSKA não exerça a opção de compra ao fim do contrato de empréstimo, sobretudo pelo propósito de marcar o nome na galeria de craques notáveis em São Januário. “Para mim, a história do Vasco, que contribuiu para a inclusão de negros e pobres, é muito inspiradora. Espero ter a oportunidade de voltar e me tornar mais um ídolo negro do clube.”

Fonte: Elpais