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quarta-feira, 16 de março de 2016

Tempo e vivência: Auto estima da mulher negra


Quando se trata de abordar sobre a auto estima negra , abre-se um viés de possibilidades,de assuntos.Quando eu escolhi o tema quis falar um pouco da minha vivência. Sei, que assim como várias negras como eu, tiveram sua auto estima abalada ou fragilizada em algum momento da vida. Seja pelo corpo, seja pelo cabelo, pelos lábios grossos e grandes, quadril largo e por aí vai.

Em minha casa minha mãe sempre cuidou da gente com máximo capricho,trançava nosso cabelo, ajeitava aqui e ali, nos sentíamos bem mas era só chegar na escola que nosso bom humor ia pro brejo.

As pessoas zoavam, hostilizavam, por um bom tempo as pessoas me chamavam de bicuda porque realmente era uma coisa que me incomodava, não dava pra ficar sorrindo. Alisar os cabelos foi uma opção de me sentir aceita e inclusa no ambiente que eu vivia e estudava, eu ficava mais na escola do que em casa, estudava em período integral. Como estudei no mesmo colégio durante anos fui conquistando o respeito das pessoas e fui começando a não ligar muito pro que diziam. Minha mãe sempre foi muito parceira nesse tocante de tá nos estimulando a não desistir, a não entristecer, a não ligar.

Como disse com o tempo comecei a “cagar” pra opinião das pessoas, essa era a minha reação quando falavam algo ofensivo. A mídia não me ajudava muito com a questão da auto estima não, eu achava que tinha que ter cabelo grande e liso, coloca a toalha na cabeça e tudo, não gostava de colocar batom porque me achava com a boca gigante, não achava tom de maquiagem pra minha pele quando mais velha (graças que hoje tenho tudo isso ao meu dispor).

Apesar de na infância não ter muita representatividade além da família, tive referências musicais todas as divas do soul,do blues meu pai ouvia e a gente ouvia também (até hoje ouvimos), isso foi algo muito importante porque foi na música que anos mais tarde nos achamos e nos desenvolvemos. Foi na música que a gente viu a representação da nossa luta também. Hoje minha mãe usa turbante e não fica esteriotipando como fazia antes, hoje ela tem uma visão cultural e histórica muito maior de conscientização. Minha irmã mais nova ama o cabelo dela cheio de cachos e se sente bem. Hoje eu sei que, se eu quiser ser a Frida eu vou ser, se eu quiser ser a mulher maravilha eu vou ser. Eu posso ser o que eu quiser.

Me aceitar hoje, como eu sou com todas as minhas características não foi fácil, me prendia em trocentos aspectos e ainda estou em desconstrução. O empoderamento me ajudou absurdamente nesse quesito. Às vezes as pessoas falam que eu sou séria ou me classificam como metida, mas não sou não. Isso foi um pouco de resultado por conta da falta de auto estima, até hoje não sei lidar com elogios e alguns afetos, às vezes acho que as pessoas tão zoando comigo e isso é algo que eu tenho lidado também, quem convive comigo sabe que sou uma matraca ambulante e dou uns sorrisos também!

Emponderar-se é saber da sua história, do seu trajeto e se orgulhar do que está se tornando. Eu sempre falo que o tempo é rei, porque eles nos conscientiza e transforma. Hoje eu não fico nessa de não ligar pra opinião dos outros, só ouvir e não falar. Eu problematizo, explico, exemplifico. Não dá pra engolir qualquer coisa, qualquer argumento raso ou equivocado. Agradeço a cada dia as lindas que estão se ajudando, se unindo no empoderamento, na luta que vai muito além de estética e modinha. Vai ter negra empoderada sim,vai ter nega se achando a top da galaxia também.


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*Imagem: Exposição “Todos podem ser frida” da fotógrafa Camila Fontenele de Miranda.


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